Inovação
O Estado de S.Paulo
29/08/2018 09h45 | Atualizada em 29/08/2018 13h07
Diferentemente do segmento de transportes, por exemplo, que está perto de pôr nas ruas os primeiros carros sem motorista, o setor de construção inova pouco.
“É um dos menos digitalizados”, diz estudo recente da consultoria McKinsey. Perde apenas para o agronegócio no ranking dos setores que menos usam tecnologia.
Tudo parece favorável para uma mudança. A tecnologia tem evoluído. Além disso, projetos grandes normalmente demoram 20% a mais para serem terminados. Alguns são concluídos com orçamento até 80% acima do previsto.
A produtividade da construção diminuiu em alguns mercados desde os anos 90 e os retornos financ
...Diferentemente do segmento de transportes, por exemplo, que está perto de pôr nas ruas os primeiros carros sem motorista, o setor de construção inova pouco.
“É um dos menos digitalizados”, diz estudo recente da consultoria McKinsey. Perde apenas para o agronegócio no ranking dos setores que menos usam tecnologia.
Tudo parece favorável para uma mudança. A tecnologia tem evoluído. Além disso, projetos grandes normalmente demoram 20% a mais para serem terminados. Alguns são concluídos com orçamento até 80% acima do previsto.
A produtividade da construção diminuiu em alguns mercados desde os anos 90 e os retornos financeiros para empreiteiros costumam ser baixos e voláteis. Até hoje, as margens não pareceram um grande problema para construtoras, já que as perdas eram compensadas na hora da venda, e inovar parecia um desafio grande demais diante da característica cíclica das obras.
Afinal, quando uma nova construção começa, em outro local e equipe diferente, perde-se boa parte do aprendizado.
Mas há quem esteja empenhado para mudar essa realidade. Em março deste ano, o magnata inglês Richard Branson, do conglomerado Virgin, lançou um fundo de US$ 12,7 milhões para empresas que querem inovar no setor.
Grandes construtoras do Brasil, por sua vez, como Andrade Gutierrez e Tecnisa tentam se aproximar de startups para driblar a morosidade de grandes empresas e trazer inovação a seus processos – a primeira selecionou dez empresas, em 2017, para testar em suas obras; já a Tecnisa promove há anos o Fast Dating, um evento onde startups apresentam suas ideias.
Parcerias
Com um envolvimento mais direto, a empresa de software de gestão catarinense Softplan, que tem alguns de seus principais clientes no setor de construção, decidiu varrer o mercado.
Ao analisar o setor, descobriu que há hoje 400 startups voltadas ao segmento no país. Era hora de trazer a inovação para dentro de casa.
Assim nasceu, em abril de 2017, a Construtech Ventures, fundo de investimentos com recursos da Softplan que detecta oportunidades de negócio no setor e busca empreendedores para que, juntos, criem startups.
Dez empresas compõem hoje o portfólio do Construtech. “Ficou evidente que a tecnologia poderia romper o ciclo desse setor que historicamente inova muito pouco”, diz Bruno Loreto, líder do fundo.
A Softplan, porém, não está sozinha: quatro empresas do setor – Engeform, Grupo GPS, Temon e Athié Wohnrath, que juntas somam receitas de R$ 4,5 bilhões – fecharam uma parceria com o fundo latino-americano Nxtp Labs e criaram o Okara Hub, um espaço em São Paulo destinado a hospedar e incentivar startups voltadas para o setor.
“Queremos acabar com vilões da construção, como o desperdício de materiais, que chega a 8% do valor total da obra”, afirma Paulo Homem de Melo, líder da frente de inovação da Athié Wohnrath.
Hoje, o centro já abriga 13 empresas, de diversas cidades brasileiras, como a Construcode, de Salvador (BA), e CoteAqui, que tem sede em Recife, PE, e Florianópolis, SC. “(A união) das quatro empresas ajuda muito. Seria mais difícil encontrar ou desenvolver essas soluções inovadoras se estivéssemos sozinhos.”
Mão na massa
Com foco no local da obra, estão empresas como a paranaense Tecverde e a Âmbar, de São Carlos. As duas usam a ideia de transformar partes da construção em peças, como as do brinquedo de plástico Lego, que podem ser facilmente montadas na obra.
A Tecverde diz ser capaz de fazer com que a montagem seja quatro vezes mais rápida do que a alvenaria convencional. Já a Âmbar é especializada na construção de imóveis populares e diz que seu processo também é mais ecológico. “Ao olhar para o processo e criar componentes, eliminamos resíduos das nossas obras”, conta Bruno Balbinot, presidente da startup.
A estratégia da empresa, que atende 8 das 10 maiores construtoras do País, foi entrar no meio da cadeia de valor. “Temos uma fábrica, na qual pegamos a matéria prima e criamos partes da construção de forma padronizada”, diz Balbinot.
Desde 2014, a Âmbar construiu 100 mil unidades habitacionais. Em outra frente de negócios, com 180 famílias, a empresa desenhou uma casa que custa R$ 30 a mais na parcela mensal de pagamento do imóvel, mas permite economia de R$ 90 em energia ao mês, graças à combinação de painéis solares, lâmpadas de LED e um software de monitoramento de consumo. “É um combo de eficiência”, afirma o fundador.
A inovação atraiu fundos como a TPG Ventures, que já investiu em nomes como Spotify e Uber – os americanos investiram cerca de R$ 100 milhões na startup de São Carlos.
É um começo para que, com cimento, criatividade e tecnologia, essas startups possam diminuir o déficit habitacional global – até 2025, diz a McKinsey, serão mais de 106 milhões de famílias de baixa renda em busca de habitação acessível no mundo todo.
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