INFRAESTRUTURA
Folha de S. Paulo
27/05/2019 11h00 | Atualizada em 27/05/2019 17h25
O governo alterou atribuições de vários órgãos responsáveis pela gestão da área de infraestrutura federal, dando nova direção ao jogo de forças nesse segmento considerado vital para a retomada do crescimento.
No rearranjo, explicam especialistas, ganham força o Ministério da Infraestrutura, sob o comando de Tarcísio de Freitas, e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Com atribuições mais definidas, cresce também o espaço do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) – especialmente no que se refere a privatizações. Entre os que perdem com as muda
...O governo alterou atribuições de vários órgãos responsáveis pela gestão da área de infraestrutura federal, dando nova direção ao jogo de forças nesse segmento considerado vital para a retomada do crescimento.
No rearranjo, explicam especialistas, ganham força o Ministério da Infraestrutura, sob o comando de Tarcísio de Freitas, e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Com atribuições mais definidas, cresce também o espaço do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) – especialmente no que se refere a privatizações. Entre os que perdem com as mudanças está a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Há também uma redefinição no papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A instituição, que historicamente se destacou na concessão de crédito, assume a responsabilidade de elaborar projetos de infraestrutura, um antigo calcanhar de Aquiles na esfera pública.
As novas medidas constam de MP (medida provisória) publicada no Diário Oficial da União em 3 de maio, e, na avaliação geral do setor, buscam destravar obras, ampliar as concessões, agilizar as privatizações e até mesmo melhorar a interlocução com os caminhoneiros descontentes.
O principal avanço, dizem os especialistas, é o reposicionamento do BNDES. Pelo novo arcabouço, estados, municípios e estatais passam a poder contratar o BNDES sem licitação para realizar estudos de projetos de infraestrutura, PPPs (parcerias público-privadas) e concessões à iniciativa privada.
No final de semana, o governo do Rio Grande do Sul firmou acordo com o banco para contratação de consultores para fazer estudos e modelagem técnica para processos de privatizações, concessões e PPPs (Parcerias público-privadas) para o estado.
A medida permite, ainda, que o banco subcontrate consultorias e profissionais para estruturar os projetos por meio de uma nova forma de concorrência, a colação.
Pela modalidade recém-criada, o BNDES poderá enviar convites para ao menos três potenciais participantes, escolhidos com base em um cadastro de capacitados a prestar o serviço.
Ao final, o banco definirá a proposta vencedora de acordo com critérios preponderantemente técnicos, segundo a norma, e não necessariamente a mais barata.
Antes, cidades até poderiam contratar o BNDES ou consultorias para fazer a estruturação de uma concessão, mas os modelos de licitação eram mais engessados, segundo a advogada Letícia Queiroz.
Para Luíz Felipe Valerim, professor da FGV Direito, a colação é um avanço. “As formas mais tradicionais de licitação privilegiam o menor preço, e não a capacidade técnica. Uma eventual economia nessa etapa de estruturação, que custa entre 2% e 5% do total, pode sair pela culatra”, afirma ele.
Esses estudos verificam a viabilidade operacional, econômica e ambiental de uma obra, por exemplo. Quando malfeitos, segundo Valerim, podem gerar depois aditivos contratuais que aumentam o preço do projeto ou mesmo travam a sua execução.
“A MP se inspirou na contratação de agências internacionais reconhecidas, como a IFC (Cooperação Financeira Internacional, do Banco Mundial), que já era possível, mas era mais morosa. É um ganho de competitividade”, diz ele.
“Não é fácil fazer os estudos para que uma obra aconteça ou um edital atraia investidores. O BNDES tem uma equipe dedicada a fazer essa modelagem e pode fazer isso para municípios e estados que não sabem como fazê-lo”, diz Lucas Santa’Anna, sócio do escritório Machado Meyer.
A MP permite ainda que a remuneração da atividade do BNDES de estruturar contratos e parcerias seja vinculada ao êxito da licitação.
Para financiar essas atividades, o banco usará o Fundo de Apoio à Estruturação de Parcerias (Faep), criado em 2016, mas que ainda não havia sido operacionalizado.
“O banco vai usar o fundo para pagar a estruturação. A depender do contrato, só receberá o pagamento se o projeto der certo. O banco assume um risco, mas também fomenta estudos técnicos de qualidade”, afirma Queiroz.
Outra novidade da MP é que o ministro da Infraestrutura passa a presidir o Conselho Nacional de Trânsito. Já a ANTT deixa o órgão que regula normas e fixa multas.
No fim de abril, o ministro Freitas costurou um acordo com lideranças dos caminhoneiros, que ameaçavam fazer paralisações.
Ao contrário da ANTT, o Dnit ganha poder: passa a ser responsável por instalações portuárias e obras de dragagem, por exemplo. “Pode ser uma preparação para a privatização das autoridades portuárias”, afirma Queiroz.“
Na privatização, essas obras podem passar a ser responsabilidade da concessionária ou ficar com o Dnit para atrair investidores”, diz Valerim.
O PPI também cresce. Criado em 2016 para viabilizar PPPs e concessões federais, ganha as secretarias de obras estratégicas e apoio a licenciamento ambiental.
O conselho do programa, que era presidido pelo presidente, agora será chefiado pelo ministro Santos Cruz, da Secretaria de Governo.
O PPI será o responsável pela integração entre ministérios e agências do governo e órgãos como o Ministério Público. Passou ainda a poder propor integração de modais de transporte e a analisar planos de estados e municípios.
“Durante a elaboração do projeto, o PPI poderá fazer adequações necessárias antes da publicação do edital, o que representa um ganho na articulação”, diz Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).
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