INFRAESTRUTURA
G1
30/07/2019 11h00 | Atualizada em 31/07/2019 18h00
Um dos setores mais afetados pela crise, a construção também tem sido um dos que enfrentam a maior dificuldade para sair dela – o que afeta a retomada econômica como um todo.
Nesse cenário,o setor se tornou um dos pontos de discussãoem torno da decisão do governo deliberar o saque de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Os recursos do FGTS são usados para financiar programas de habitação, a exemplo do Minha Casa Minha Vida, e de obras de infraestrutura com juros mais baixos. Por isso,representantes do setor vinham se posicionando contra a liberação dos saques.No ano passado, a constr
...Um dos setores mais afetados pela crise, a construção também tem sido um dos que enfrentam a maior dificuldade para sair dela – o que afeta a retomada econômica como um todo.
Nesse cenário,o setor se tornou um dos pontos de discussãoem torno da decisão do governo deliberar o saque de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Os recursos do FGTS são usados para financiar programas de habitação, a exemplo do Minha Casa Minha Vida, e de obras de infraestrutura com juros mais baixos. Por isso,representantes do setor vinham se posicionando contra a liberação dos saques.No ano passado, a construção civil representou 4,46% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Dados
Tomando como referência dos dados de antes da recessão, iniciada em 2014, os números apontam para o encolhimento do setor.
Em 2013, ele estava em plena expansão: as empresas de construção realizaram incorporações, obras e/ou serviços no valor corrente de R$ 357,7 bilhões, registrando, em termos reais, expansão de 3,7% na comparação com o ano anterior.
Já o dado anual mais recente, de 2017, é de que a atividade da construção gerou R$ 280 bilhões em valor de incorporações, obras e serviços – um recuo em relação aos R$ 318 bilhões do ano anterior.
Os números são da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A redução da atividade se refletiu no mercado de trabalho. Desde o período pré-crise, em 2013, o setor da construção civil já perdeu mais de 800 mil postos de trabalho formais, considerando dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) até maio de 2019.
Especialistas comentam que uma das dificuldades em retomar os empregos nessa área vem da falta de confiança dos empresários do setor.
O primeiro motivo são as dúvidas em relação ao potencial de reaquecimento do mercado imobiliário.
Em cidades como São Paulo, por exemplo,os números de vendas de imóveis novos vêm subindona comparação com o ano anterior. Com o desemprego ainda em alta, no entanto, a consistência dessa recuperação ainda gera incertezas.
Mas os analistas acrescentam que o principal fator que explica a demora para a indústria da construção começar a ganhar força é a trava nos investimentos públicos. Isso porque, com as contas públicas em dificuldades, o governo não investe em obras de infraestrutura e saneamento.
“Por isso que a gente fala que o investimento é o indutor do processo de crescimento da economia”, analisa o economista Otto Nogami, do Instittuo de Ensino e Pesquisa (Insper).
Essas incertezas explicam a falta de confiança dos empresários da construção. Na comparação com o pior momento da recessão, a confiança do setor voltou a subir, mas ainda não se recuperou do abalo da crise.
É o que mostram dados do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV). O índice que mede a confiança do setor começou o ano de 2013 acima do patamar de 100 pontos. Atingiu mínimas na casa dos 60 pontos em 2016, até chegar aos 82 pontos do dado mais recente, de junho de 2019.
“Em 2016 a gente observou uma certa melhora depois de ter chegado ao ponto mínimo, mas a recuperação estava sendo muito mais lenta do que costuma ser. Até que a gente percebeu que em 2018 parou de subir”, aponta Rodolpho Tobler, economista da FGV/IBRE, completando que o cenário atual mostrado pelo índice é o de que “está havendo um aumento do pessimismo”.
“Até o final do ano passado, tinha a perspectiva de melhora, com expectativas de leilões, reformas. Só que as coisas demoraram um pouco mais para acontecer, a atividade veio muito fraca”, diz o especialista.
Os resultados das empresas do ramo também mostram a lentidão da recuperação do setor. Dados da Economatica mostram os efeitos da crise sobre as empresas do ramo de construção que têm ações negociadas na bolsa: Cyrela Realty, MRV, Eztec, Even, Direcional, JHSF, Trisul, Helbor, Tecnisa, Gafisa, Rni, Viver, Rossi Residencial, PDG Realty e Cr2.
Ao final de 2018, a soma das receitas das empresas do ramo de construção era de aproximadamente metade da registrada antes da crise: R$ 30 bilhões em 2013 contra R$ 15 bilhões no ano passado.
Já a soma do resultado (lucro) das empresas, que em 2013 chegou a R$ 3,5 bilhões, saiu do positivo em 2015 e ainda não se recuperou. Em 2018, foi negativo em R$ 2 bilhões (uma piora em relação ao R$ 1,6 bilhão do ano anterior).
Além da crise econômica e seu efeito intenso sobre o setor de construção, analistas também apontam os efeitos das irregularidades descobertas pela Operação Lava Jato envolvendo empresas importantes do mercado.
Uma das principais atingidas foi a Odebrecht, que chegou a faturar R$ 107 bilhões em 2015, antes de se ver envolvida nas investigações – mas, em junho deste ano,pediu recuperação judicial,sob peso de dívidas de R$ 65,5 bilhões. A empresa perdeu cerca de80% do quadro de funcionários.
Os economistas também apontam que a dificuldade do governo em acertar as contas públicas atrapalha o setor da construção não apenas pela incapacidade de investimentos, mas também porque não estimula que empresas estrangeiras tragam investimentos para obras no Brasil.
Tobler diz que, mesmo com o avanço da reforma da Previdência no Congresso, “é difícil imaginar que a gente vá ter uma aceleração rápida” no setor de construção. “Por mais que a reforma possa destravar o setor público, isso não é imediato.”
Além disso, Nogami aponta que as concessões para empresas estrangeiras nem sempre têm efeitos diretos e significativos sobre a indústria de construção no Brasil.
“O que está acontecendo é que, na medida em que o governo vende algumas concessões para multinacionais, essas empresas estão trazendo insumos de seu país de origem em vez de adquirirem aqui. As concessões de transmissão de energia elétrica, que hoje estão nas mãos dos chineses, para a China é interessante ter a produção dela para a construção das linhas. A indústria local fica parada.”
Mesmo assim, a expectativa pela vinda de investimentos estrangeiros para reaquecer o setor existe.
“O que o setor está precisando mesmo é de investimento, seja estrangeiro ou nacional. E de financiamento para destravar essas obras”, resume Tobler.
“A partir do momento em que o governo consegue economizar, começa a liberar recursos para começar a investir. Não é rápido. Com a reforma da Previdência aprovada, a capacidade de geração de caixa deve ocorrer em um ou dois anos, mas pelo menos é um alento para a sociedade, os empresários e o investidor estrangeiro”, diz Nogami.
Indústria da construção mostra sinais de melhora, informa pesquisa da CNI
Os indicadores de nível de atividade e de emprego na indústria da construção cresceram em junho.
O índice de nível de atividade aumentou 1,3 ponto frente a maio e ficou em 48,2 pontos, o maior desde novembro de 2013. O índice de evolução do número de empregados cresceu 2,2 pontos na comparação com maio e alcançou 47,2 pontos, o maior desde outubro de 2013.
Foi o quinto mês consecutivo de crescimento dos dois indicadores, informa a Sondagem Indústria da Construção, divulgada na semana passada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Embora os dois índices continuem abaixo dos 50 pontos, mostrando o desempenho negativo da atividade e do emprego, o cenário é mais animador do que o projetado no início do ano, informa a pesquisa.
“O quadro ainda é difícil para o setor, mas há uma tendência de melhora futura”, avalia a CNI. O nível de utilização da capacidade operacional aumentou 1 ponto percentual em relação a maio e ficou em 57% em junho. Isso indica que a construção operou com 43% do pessoal, das máquinas e dos equipamentos parados no mês passado.
A exemplo dos demais setores da indústria, a construção também enfrenta dificuldades com a falta de demanda. No segundo trimestre, o principal problema relatado pelas construtoras continuou sendo a elevada carga tributária, que teve 37,9% das assinalações.
A demanda interna insuficiente veio em seguida, com 37,3% das respostas, o maior número de assinalações desde o segundo trimestre de 2017. Em terceiro lugar na lista dos obstáculos enfrentados pelo setor apareceu a falta de capital de giro, com 28,8% das menções, seguida da inadimplência dos clientes (25,6% das respostas) e o excesso de burocracia, com 24,2% das assinalações.
“Medidas que possam lidar com a falta de demanda e que facilitem o financiamento certamente seriam positivas para o setor”, afirma o economista da CNI Marcelo Azevedo.
Expectativas
As perspectivas para os próximos seis meses também melhoraram. Todos os indicadores de expectativas estão acima dos 50 pontos, mostrando que os empresários esperam o aumento do nível de atividade, de novos empreendimentos e serviços, da compra de insumos e matérias-primas e do emprego nos próximos seis meses.
O índice de intenção de investimentos cresceu 3,6 pontos em relação a junho e alcançou 36,6 pontos. Com isso, o indicador está 2,9 pontos acima da média histórica.
Além disso, o Índice de Confiança do Empresário da Construção (ICEI-Construção) subiu 1,7 ponto em relação a junho e alcançou 58,7 pontos em julho. Foi o segundo aumento consecutivo do indicador, que está 9,8 pontos acima do registrado em julho do ano passado. O índice varia de zero a cem pontos. Quando está acima dos 50 pontos mostra que os empresários estão confiantes.
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