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Valor
18/04/2011 14h06 | Atualizada em 18/04/2011 17h51
Desde que começou a trabalhar na indústria, em 1979, o economista paulistano Roberto Cortes passou por cinco empresas, mas nunca mudou de emprego. A situação enigmática ocorre porque todos os seus empregadores fizeram e desfizeram alianças ao longo desse tempo. Cortes entrou na Ford, que se transformou em Autolatina quando se juntou à Volkswagen. No divórcio das duas, o executivo escolheu a segunda. Foi, em seguida, para a divisão de caminhões da marca e agora está na MAN, que comprou a Volks Caminhões e Ônibus.
Talvez por isso, Cortes não se assuste agora com a tarefa de comandar a operação latino-americana da MAN, uma empresa alemã que já tem 252 anos, mas é praticamente desconhecida para a maioria dos brasileiros. "Eu já vivi
...Desde que começou a trabalhar na indústria, em 1979, o economista paulistano Roberto Cortes passou por cinco empresas, mas nunca mudou de emprego. A situação enigmática ocorre porque todos os seus empregadores fizeram e desfizeram alianças ao longo desse tempo. Cortes entrou na Ford, que se transformou em Autolatina quando se juntou à Volkswagen. No divórcio das duas, o executivo escolheu a segunda. Foi, em seguida, para a divisão de caminhões da marca e agora está na MAN, que comprou a Volks Caminhões e Ônibus.
Talvez por isso, Cortes não se assuste agora com a tarefa de comandar a operação latino-americana da MAN, uma empresa alemã que já tem 252 anos, mas é praticamente desconhecida para a maioria dos brasileiros. "Eu já vivi isso", afirma, com seu tradicional semblante de satisfação.
A compra da divisão de caminhões e ônibus do grupo Volkswagen pela MAN foi concluída há pouco mais de dois anos. Mas a organização da nova operação começa a ser percebida agora. O prédio da sede da empresa, no bairro Jabaquara, em São Paulo, já exibe um novo totem com dois logotipos: o azul arredondado da Volks ao lado do quadrado da MAN nas cores vermelha e preta.
Um concessionário de Santa Catarina foi o primeiro a mudar o logotipo da sua loja. Mas todos os 140 que compõe a rede vão fazer o mesmo, segundo Cortes. Ficam claros os desafios que vêm pela frente quando se sabe que há pouco tempo ainda não se conhecia, dentro da companhia, como o nome da empresa seria pronunciado no Brasil. Na Alemanha, sede da companhia, fala-se letra por letra: M, A, N. O mercado brasileiro mostrou-se propenso à pronúncia da palavra, de uma só vez.
A maior mudança porém, ocorre em Resende, na fábrica. A instalação, inaugurada pela Volkswagen no final e 1996, está sendo adaptada para não apenas acelerar o ritmo da produção como receber a primeira linha de um modelo de caminhão MAN, que começará a ser vendido no Brasil daqui a um ano.
Nos dois últimos anos, o ritmo diário de produção passou de 170 para 320 veículos e chegará a 342 quando o novo modelo chegar. A MAN estreará no Brasil com o modelo TGX. É veículo do segmento extra pesado, especialidade da MAN e novidade para Volkswagen.
Para abrir espaço em Resende, parte dos sete fornecedores de componentes que trabalhavam dentro da própria fábrica da montadora (no sistema chamado consórcio modular) está construindo novas instalações no terreno vizinho. Desde a criação da MAN Latin America, foram criadas 500 vagas para a fábrica de Resende, onde agora trabalham 6,4 mil funcionários.
Cortes é um tipo de workaholic que, além do prazer pelo trabalho, gosta de falar a respeito dele. Mas nos últimos dias, essa tarefa se tornou mais complexa. Ele usa a didática para esclarecer que a chegada da MAN não significa a fim da marca Volkswagen. Não se trata de uma transição, faz questão de destacar. Segundo ele, as duas marcas, cada uma com sua linha de produtos, vão permanecer no Brasil.
"A MAN comprou a Volks pelos seus valores. Era uma empresa de 100 mil veículos por ano que no dia seguinte à compra da Volks se transformou numa de 165 mil. Nesse caso, tamanho é documento", diz. A equipe de engenharia da operação brasileira será mantida e poderá trabalhar com a equipe da matriz, na Alemanha. "Desenvolvemos a especialização em produtos para países emergentes", afirma o executivo.
Nos tempos em que a Volks era dona, a filial brasileira era a única no grupo que produzia caminhões e ônibus. Essa condição acabou dando à equipe local mais liberdade de criação. Os fabricantes de caminhões que atuam no Brasil - quase todos da Europa - costumam ressaltar a sofisticação de seus produtos quando se trata de comparações com os produtos da Volks. Mas isso não impediu a marca de assumir a liderança no mercado brasileiro de caminhões, uma posição em que a Mercedes-Benz confortavelmente manteve durante décadas.
A decisão da direção da MAN, grupo que fatura € 10,5 bilhões por ano, de manter Cortes no cargo de principal executivo da operação latino-americana indica que a companhia aposta na continuidade. Em 2010, no primeiro balanço anual desde a aquisição, a filial obteve receita de € 3,140 bilhões, quase o dobro do ano anterior (€ 1,412 bilhão). Na mesma comparação, o lucro operacional passou de € 142 milhões para € 370 milhões.
Cortes diz que se considera um sujeito "esforçado". O trabalho faz parte da sua rotina desde os 13 anos de idade, quando, logo após a morte do pai, teve de começar a trabalhar como contínuo, durante o dia, para poder continuar estudando à noite. Foi um dos primeiros escolhidos quando representantes da Ford passaram pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, à caça de talentos.
Aos 55 anos, segue ritmo de trabalho acima da média. Pelo menos duas vezes por mês ele precisa estar em reuniões na Alemanha (antes na Volks e agora na MAN). Mas isso não significa que ele perca muito tempo fazendo as malas. O embarque costuma ser ao final de um dia de trabalho e o retorno logo depois das reuniões no dia seguinte. "Na volta, é o tempo de passar em casa para dar um beijo na esposa, tomar um banho e já ir direto para o escritório", afirma.
Com dois filhos trabalhando no mercado financeiro e a esposa, advogada, as conversas da família em torno da piscina, aos domingos, invariavelmente acabam em assuntos de negócio "Eu gosto disso; acho que não vou me aposentar nunca."
11 de junho 2013
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