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A necessidade em investir na intermodalidade de transporte

A paralisação desta semana expôs o problema dos gargalos de infraestrutura e a falta de investimento em intermodalidade de transporte

Exame

30/05/2018 08h47 | Atualizada em 30/05/2018 12h41

O último levantamento da Empresa de Planejamento e Logística do governo federal (EPL) mostra que 65% da carga do país é transportada por meio das rodovias e só 15% circulam por ferrovias.

Outros 11% são transportados por cabotagem (quando um navio se desloca entre portos do mesmo país); 5% por hidrovias; 4% por dutovias; e só 0,2% por via aérea.

Não é de se espantar, portanto, que uma única categoria – a dos caminhoneiros – tenha tamanha influência no funcionamento da dinâmica econômica do país.

Esse é um problema que se arrasta desde a década de 1960, segundo Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, especialista em mo

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O último levantamento da Empresa de Planejamento e Logística do governo federal (EPL) mostra que 65% da carga do país é transportada por meio das rodovias e só 15% circulam por ferrovias.

Outros 11% são transportados por cabotagem (quando um navio se desloca entre portos do mesmo país); 5% por hidrovias; 4% por dutovias; e só 0,2% por via aérea.

Não é de se espantar, portanto, que uma única categoria – a dos caminhoneiros – tenha tamanha influência no funcionamento da dinâmica econômica do país.

Esse é um problema que se arrasta desde a década de 1960, segundo Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, especialista em mobilidade urbana do Mackenzie Campinas.

Desde os “50 anos em 5” (lema de Juscelino Kubitschek, que enfatizou a construção de estradas em seu governo, entre 1956 e 1961) o país não consegue abandonar a predominância do modal rodoviário para o  transporte de cargas.

Mello Filho explica que, na época, o desenvolvimento acelerado do país só foi possível porque é cerca de três vezes mais rápido construir uma estrada do que uma ferrovia.

Mas esse modelo vai na contramão do que fizeram (e fazem) os principais países desenvolvidos do mundo. Estados Unidos, Canadá, Japão e a maior parte da União Europeia priorizam o transporte de carga por trilhos, tanto dentro quanto fora das cidades.

“A gestão dos trilhos, nesses países, normalmente é descentralizada, o que faz com que, quando há greve ou paralisação, o impacto não seja tão dramático quanto o que está acontecendo agora no Brasil com os caminhoneiros”, diz.

As consequências

A aposta nas rodovias não é uma escolha sem custos. Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da USP, usa o exemplo da soja para explicar as consequências:

“A soja brasileira é considerada uma das melhores do mundo e tem produção barata. A dos Estados Unidos é a segunda mais competitiva. Nos últimos anos, no entanto, o aumento do custo dos transportes tem feito os especialistas acreditarem que, em pouquíssimo tempo, perderemos o posto de maiores exportadores de soja para os Estados Unidos. O transporte aumenta demais o custo da soja aqui”, explica.

Mello Filho, do Mackenzie, ainda destaca que, por causa do modelo de logística brasileiro, um aumento no imposto dos combustíveis impacta toda a cadeia produtiva, gerando o efeito cascata. Além disso, há os custos de pedágio, a precariedade das estradas no Brasil e a alta frequência dos acidentes e roubos de carga.

O advogado Carlos Sanseverino, da Comissão de Infraestrutura e Desenvolvimento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), chama atenção para outro aspecto negativo da dependência brasileira das rodovias: o uso excessivo de combustíveis fósseis, que faz o Brasil caminhar na contramão das tendências mundiais de substituição da matriz energética.

A única saída para o país, segundo os especialistas, é investir na diversificação da infraestrutura brasileira, especialmente nas ferrovias.

No ano passado, o Brasil investiu apenas 1,4% do PIB – Produto Interno Bruto em infraestrutura. A China, por exemplo, tradicionalmente investe cerca de 8%; e a Índia, 5%.

Segundo Luiz Vicente Mello Filho, do Mackenzie, as empresas brasileiras têm capacidade técnica para expandir a malha ferroviária. Só precisam de investimentos e incentivos, como concessões e parcerias público-privadas (PPPs).

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