Revista M&T - Ed.162 - Outubro 2012
Voltar
Gestão de Ativos

Um passo à frente no controle de equipamentos

Por meio de planos de confiabilidade, as máquinas já podem alcançar os mais altos níveis de produção na indústria e na mineração. Como o setor de construção pode tirar lições dessas práticas?
Por Camila Waddington

Em 2004, o Instituto de Gestão de Ativos do Reino Unido e a Instituição Britânica de Padrões de Especificação (BSI) lançaram um documento de orientação para a gestão de ativos fixos nas indústrias. A ideia principal da iniciativa foi determinar pontos-chave para o correto acompanhamento de equipamentos, a fim de que aspectos como planos estratégicos de produção, cuidados operacionais, manutenções corretiva, preventiva e preditiva e outros convergissem em um só ponto: a confiabilidade. Apesar de óbvia, a premissa não deixa de ser desafiadora: quanto mais confiável for o equipamento, mais a empresa poderá contar com ele para elevar sua produção.

Em 2008, o documento foi revisto com a inclusão de outras 50 instituições espalhadas por 10 países do mundo, dentre eles o Brasil, que ajudaram a aperfeiçoar as sugestões originais. A partir de então, os direcionamentos da PAS 55, como foi nomeado, vieram ganhando força nos processos de gestão de equipamentos – ou gestão de ativos, como o setor de manutenção industrial prefere denominar – até que, em 2011, o seu texto foi finalmente aceito pela


Em 2004, o Instituto de Gestão de Ativos do Reino Unido e a Instituição Britânica de Padrões de Especificação (BSI) lançaram um documento de orientação para a gestão de ativos fixos nas indústrias. A ideia principal da iniciativa foi determinar pontos-chave para o correto acompanhamento de equipamentos, a fim de que aspectos como planos estratégicos de produção, cuidados operacionais, manutenções corretiva, preventiva e preditiva e outros convergissem em um só ponto: a confiabilidade. Apesar de óbvia, a premissa não deixa de ser desafiadora: quanto mais confiável for o equipamento, mais a empresa poderá contar com ele para elevar sua produção.

Em 2008, o documento foi revisto com a inclusão de outras 50 instituições espalhadas por 10 países do mundo, dentre eles o Brasil, que ajudaram a aperfeiçoar as sugestões originais. A partir de então, os direcionamentos da PAS 55, como foi nomeado, vieram ganhando força nos processos de gestão de equipamentos – ou gestão de ativos, como o setor de manutenção industrial prefere denominar – até que, em 2011, o seu texto foi finalmente aceito pela Organização Internacional de Normalização (ISO) como base para a formatação da ISO 5001, processo que ainda está em andamento.

O procedimento fez com que a Associação Brasileira de Manutenção (Abraman) – representante brasileira no debate – lançasse a tradução da PAS 55 para o português durante o seu 27º Congresso Brasileiro de Manutenção, realizado em setembro no Rio de Janeiro (leia mais na pág. 16). Na ocasião, a reportagem da M&T conferiu de perto o lançamento para entender como algumas das tecnologias voltadas para o cumprimento dos pontos da PAS 55 poderiam ser transferidas para a gestão de equipamentos móveis no setor da construção.

Mais que possível, trata-se de mera questão de tempo para tal hipótese concretizar-se. “Os direcionamentos da PAS 55 servem para a gestão de qualquer tipo de equipamento, desde um telefone celular até um caminhão fora de estrada”, sintetiza Juventino de Matia, especialista em gestão de ativos da IBM. Segundo ele, a IBM trabalha com alguns dos conceitos que agora estão sendo discutidos desde 1968, quando lançou seus primeiros softwares para manutenção industrial. “Porém, foi somente em 2006, com a aquisição da MRO, que ampliamos essa oferta, que já alcança mais de 6 mil empresas no mundo todo”, explica.

Informação

Matia ressalta que as todas as novas tecnologias de gestão têm como objetivo maior a confiabilidade dos equipamentos. Por isso mesmo, os projetos da IBM são baseados no fundamento de condensar dados para gerar informações estratégicas. “Esses dados incluem ciclo de vida do equipamento, planejamento de produção, informações sobre compra, manutenção etc.”, diz ele. Isso quer dizer que a gestão do ativo leva em conta toda e qualquer informação operacional, de produção e de manutenção disponível, de modo que, quanto maior for a quantidade e a qualidade dos dados coletados, melhores poderão ser os resultados alcançados.

Como exemplo prático, o especialista cita uma mineradora que utilize informações de equipamentos móveis – coletadas remotamente por meio de sistemas fornecidos pelos próprios fabricantes de máquinas como escavadeiras, caminhões e carregadeiras – e as disponibilize para um software da IBM capaz de sugerir decisões baseadas nelas. “Nesse caso, ao se coletar informações fidedignas sobre paradas de manutenção e dados operacionais da máquina torna-se possível prever o intervalo médio entre falhas no equipamento, bem como determinar qual é a marca de escavadeira mais confiável para aquele tipo de serviço em uma frota, entre outras análises”, diz ele, salientando que para tais projetos a IBM oferece software, hardware, pessoas, instalação, acompanhamento e até telemetria, quando necessário.

Claudio Spanó, diretor executivo da Reliasoft, também é especialista na utilização de sistemas avançados para gestão de ativos. Ele relata que nos Estados Unidos, onde fica a sede da empresa, 98% dos projetos da Reliasoft são focados na gestão de produtos. “Ou seja, nossos sistemas são utilizados desde a fabricação dos equipamentos até a sua venda e pós-venda”, diz. No Brasil, todavia, as necessidades são substancialmente diferentes e a Reliasoft teve de desenvolver uma operação mais adaptada à nossa realidade, atestando a capacidade de adequação de nossa engenharia. “Quando começamos a operação brasileira, deparamos com uma demanda totalmente diferente, pois os clientes já detinham um parque de máquinas trabalhando, mas precisavam melhorar a sua performance”, explica. “Isso nos levou a desenvolver tecnologias para atuar na gestão desses equipamentos, formatando um modelo de negócio que hoje representa 80% da nossa atividade local.”

O fato de atuar na gestão de ativos já existentes rendeu reconhecimento internacional à operação brasileira da Reliasoft, como descreve o executivo. “Quando começamos a relatar os casos de sucesso, passamos a receber convites para palestrar sobre gestão de ativos em diversos locais do mundo, nos quais os profissionais de manutenção invariavelmente ficam maravilhados com a engenharia brasileira no que tange ao apontamento de confiabilidade para um parque de máquinas que já existia, mas ainda não possuía um plano de controle adequado”, diz.

Potencial

Para surpresa de muitos, Cláudio Spanó relata que os grandes projetos da Reliasoft no Brasil envolvem o setor de mineração, onde já há uma gestão completa do parque de máquinas, sejam fixas ou móveis. “Isso demonstra o potencial de aplicação de confiabilidade que podemos alcançar na gestão de equipamentos de construção, um mercado que ainda está muito aquém do ideal na utilização dessas soluções”, diz ele (confira o que as construtoras brasileiras aplicam na pág. 19).

Na mineração, inclusive, o cenário mais comum encontrado em empresas que ainda não adotam tecnologias específicas para a gestão de ativos é a presença de um Sistema de Gestão Empresarial preparado para receber diariamente dados dos equipamentos e da operação. Segundo o especialista, esses dados são coletados por meio do preenchimento das ordens de serviço ou até mesmo transferidos por sistemas de gerenciamento remoto instalados pelos fabricantes dos equipamentos. “O problema, geralmente, é a péssima qualidade dos dados coletados, o que ocorre por um motivo bem simples: eles não são usados diariamente”, diz Spanó. “E tudo o que não tem uma utilização constante perde a importância, pois se deixa de cobrar o operador, o gestor de operação, o mecânico etc.”

Em casos como esses, a estratégia da Reliasoft é oferecer softwares capazes de utilizar as informações coletadas para gerar níveis avançados de desempenho. Nessa linha, o executivo destaca um módulo capaz de fazer a curva de confiabilidade para cada tipo de equipamento em uma frota off-road, por exemplo. Dessa forma, como ele explica, é possível prever intervalos médios de falhas nos equipamentos, componentes mais passíveis de avarias, principais problemas operacionais e outras informações. “Há ainda módulos que cruzam essas diversas informações para apontar melhorias e indicadores de performance, com apontamentos de gestão da produção baseada na confiabilidade da manutenção e operação dos equipamentos”, relata.

No rol de softwares da Reliasoft, inclui-se também um módulo para a gestão do estoque de peças. Do mesmo modo, o programa utiliza as informações sobre a confiabilidade dos equipamentos para apontar o tempo médio necessário para substituição de determinado componente.

“Mesmo trabalhando com uma margem de segurança ao estocar um pouco mais do que o necessário para o caso de eventualidades, esse controle consegue reduzir efetivamente o estoque de sobressalentes”, destaca Spanó, lembrando de casos nos quais foram obtidos até 30% de redução de custos com estocagem de peças e serviços na mineração.

Requisitos

É importante salientar que as tecnologias de gestão da confiabilidade, como as da IBM e da Reliasoft apontadas na reportagem, não são exigências da PAS 55, que em breve tende a virar ISO 5001. Contudo, elas fazem cruzamentos e apurações de informações que auxiliam as empresas no atendimento aos objetivos da especificação.

Quando concluída, a ISO 5001 definirá requisitos para um sistema de gestão de manutenção, da mesma forma como a ISO 9001 especifica um sistema de gestão da qualidade e a ISO 14001 cobre um sistema de gestão de cunho ambiental. “A produtividade será o grande ganho para as empresas que alcançarem essa certificação, pois ela tende a unir dois mundos hoje dispersos: o estratégico e o da manutenção”, finaliza Spanó.

O que é a PAS 55

A PAS 55 (Publicly Available Specification) é um conjunto de ações desenvolvidas pelo Instituto de Gestão de Ativos do Reino Unido e pela Instituição Britânica de Padrões de Especificação (BSI) – com apoio de instituições de manutenção de várias partes do mundo voltado para a otimização de ativos físicos. A Associação Brasileira de Manutenção (Abraman) é a entidade representante do Brasil na elaboração desse documento, que especifica 28 requisitos para se estabelecer e verificar um sistema eficiente de gestão de ativos. Confira abaixo os principais pontos de desempenho do ativo (KPA - Key Performance Areas) sugeridos na PAS 55 e que podem levar a gestão de equipamentos ao seu mais alto nível de confiabilidade:

Gestão Estratégica;

Gestão da Informação;

Informação Técnica;

Organização e Desenvolvimento;

Gestão de Terceiros;

Gestão Financeira;

Gestão de Risco;

Segurança, Saúde e Meio Ambiente;

Planejamento e Controle do Serviço;

Gestão de Materiais;

Ferramentas e Recursos de Suporte;

Gestão de Ciclo de Vida;

Gestão de Paradas e Projeto;

Medições de Desempenho;

Melhoria Focada.

Evento debate - Gestão de Ativos

Entre 11 e 14 de setembro, a Associação Brasileira de Manutenção realizou o 27º Congresso Brasileiro de Manutenção, que ocorreu simultaneamente à Expoman – Exposição de Produtos, Serviços e Equipamentos para Manutenção, no Centro de Convenções Sul América, no Rio de Janeiro. O evento, realizado bienalmente, reuniu especialistas de diversos segmentos da indústria para discutir a aplicação da engenharia da confiabilidade na gestão de ativos. Durante o evento, a associação também lançou a tradução do PAS 55 para o português.

 

 

P U B L I C I D A D E

ABRIR
FECHAR

P U B L I C I D A D E

P U B L I C I D A D E