Revista M&T - Ed.162 - Outubro 2012
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Gestão de Ativos

Em que nível nossas construtoras estão?

As empreiteiras brasileiras têm avançado na aplicação de novas tecnologias na gestão de ativos, mas ainda estão (muito) defasadas em relação à manutenção industrial
Por Camila Waddington

Em busca dos padrões de excelência já atingidos pela indústria, na qual a manutenção como relata a reportagem com início na página 12 está focada em uma gestão de ativos capaz de assegurar níveis seguros de confiabilidade para o parque de máquinas, as construtoras brasileiras têm desenvolvido tecnologias próprias e procurado por sistemas que permitam conjugar com eficiência a gestão da manutenção, operação e produtividade dos equipamentos móveis nos canteiros de obras.

Nesta reportagem, duas das principais construtoras nacionais expõem as estratégias utilizadas para gerir seus equipamentos, mostrando até que ponto é possível validar a confiabilidade em suas frotas de máquinas. Tais experiências, como se supõe, servem de termômetro para o cenário brasileiro como um todo.

Práxis

A Galvão Engenharia, segundo Durval Barrile, gerente corporativo de equipamentos, desenvolveu um sistema de gestão próprio, chamado SPCM (Sistema de Planejamento e Controle de Manutenção). O sistema trabalha em conjunto com um software de gestão empresarial da marca Protheus, se


Em busca dos padrões de excelência já atingidos pela indústria, na qual a manutenção como relata a reportagem com início na página 12 está focada em uma gestão de ativos capaz de assegurar níveis seguros de confiabilidade para o parque de máquinas, as construtoras brasileiras têm desenvolvido tecnologias próprias e procurado por sistemas que permitam conjugar com eficiência a gestão da manutenção, operação e produtividade dos equipamentos móveis nos canteiros de obras.

Nesta reportagem, duas das principais construtoras nacionais expõem as estratégias utilizadas para gerir seus equipamentos, mostrando até que ponto é possível validar a confiabilidade em suas frotas de máquinas. Tais experiências, como se supõe, servem de termômetro para o cenário brasileiro como um todo.

Práxis

A Galvão Engenharia, segundo Durval Barrile, gerente corporativo de equipamentos, desenvolveu um sistema de gestão próprio, chamado SPCM (Sistema de Planejamento e Controle de Manutenção). O sistema trabalha em conjunto com um software de gestão empresarial da marca Protheus, sendo capaz de processar dados referentes aos planos de manutenção de cada máquina e da frota em conjunto. “A nossa tecnologia utiliza como base as informações de manutenção preventiva regidas pelos fabricantes dos equipamentos, além das informações coletadas diariamente por meio das ordens de serviço”, detalha o especialista. Ele reforça que, de modo geral, o sistema emite ordens de parada para manutenção a cada 250 horas, podendo variar de acordo com o equipamento monitorado.

Após a manutenção, o mecânico ou responsável preenche a ordem de serviços com informações das tarefas que foram executadas, incluindo peças trocadas e insumos agregados à máquina. “As informações são registradas no sistema, que gera relatórios para os controles internos, detalhando custo por conjunto, custo de insumos, revisões a vencer, entre outras possibilidades”, diz Marcelo Sleiman, engenheiro de planejamento e controle de frotas da Galvão Engenharia.

As informações coletadas pelo sistema próprio da construtora são então integradas ao software de gestão empresarial, para que esse emita relatórios apontando níveis de investimentos necessários em estoque, mão de obra disponibilizada para a manutenção e outras informações. “Com isso, as áreas de almoxarifado e suprimentos detêm controle completo de quanto a construtora efetivamente gasta mensalmente com sua frota, incluindo itens como óleo de motor, óleo hidráulico, filtros, serviços terceirizados e outras necessidades da manutenção”, completa o engenheiro.

Na visão da Galvão Engenharia, tal volume de informações permite uma gestão bastante acurada da manutenção efetuada nos equipamentos. “Todavia, para que apontemos índices de confiabilidade para a frota, é preciso utilizar tecnologias que forneçam outros níveis de informações, como a produção e a operação”, sublinha Barrile.

Incompatibilidade

Satisfeito com o nível de informações que o sistema de gestão da manutenção oferece, que ademais possibilita a realização de upgrades constantes no controle de manutenção, Barrile admite que os passos para realizar os outros níveis de gestão da frota não são tão simples quanto podem parecer. Muito por conta da incompatibilidade dos sistemas. “Para um controle total de gestão da frota, avaliamos que o sistema ideal deve, primeiramente, processar informações dos equipamentos das mais diferentes marcas, algo que não ocorre porque os fabricantes de equipamentos nem sempre liberam acesso aos protocolos de comunicação dos seus sistemas”, diz. “Ou seja, isso impede que uma escavadeira da marca X seja gerenciada pelo sistema da marca Y.”

A queixa de Barrile revela um impasse que já há alguns anos persiste no setor nacional de equipamentos móveis. Cada fabricante dispõe de uma tecnologia diferente, baseada em linguagens distintas de comunicação, impossibilitando a unificação dos padrões de informação na gestão de uma frota mista, por exemplo. “Mas essa não é a única dificuldade para se obter uma gestão completa dos ativos”, pontua o gerente. “Também é preciso encontrar um elemento integrador que unifique as informações sobre a operação com os índices de produtividade da máquina.”

Integração

O especialista explica que há sistemas de telemetria voltados para a gestão operacional dos equipamentos, bastante comuns na mineração, que captam e analisam informações sobre partes vitais da máquina como rotação, vibração e temperatura do motor. Segundo ele, esses sistemas podem fazer indicações importantes para o dia a dia da operação, relacionando, por exemplo, um superaquecimento do motor com uma ação incorreta do operador ou com a aplicação incorreta do equipamento em determinada frente de serviço ou tarefa.

“Por outro lado, há sistemas que gerenciam a produtividade das máquinas, ou seja, eles são capazes de medir o ciclo de carregamento ou escavação de uma escavadeira, o tempo médio de viagem de um caminhão basculante etc.”, diz. “De modo que, agora, a nossa missão é encontrar um integrador desses dois níveis de informações em uma única frota mista.”

Na avaliação de Barrile, quando a Galvão Engenharia encontrar o modelo ideal de integração, será possível unir as informações sobre produtividade e operação com as informações sobre manutenção, que a empresa já processa satisfatoriamente. “Isso nos permitirá realizar cruzamentos de informações para obtermos níveis de confiabilidade das máquinas, algo que proporcionará inúmeros benefícios, como, por exemplo, uma gestão controlada de estoques, dados para a produção e planejamento de uma obra, melhorias no sistema, aumento da vida útil do equipamento, apontamento fidedigno dos tempos de máquina parada, análise do tempo médio de falha em determinado componente e diversos outros indicadores”, projeta.

Mapeamento

Na Camargo Corrêa, as tecnologias utilizadas são semelhantes às relatadas pela Galvão. Ou seja, a construtora também detém um software próprio de manutenção e um sistema de gestão empresarial da SAP. Dessa forma, como relata Pedro Luiz Giavina Bianchi, da gerência corporativa de equipamentos da empresa, o módulo de manutenção acompanha o custo real dos equipamentos.

“Qualquer intervenção nessas máquinas, seja na obra ou no pátio, gera uma ordem de serviço que é integrada ao histórico de manutenção desse ativo”, diz ele. “Essas informações são disponibilizadas também para o SAP, que permite avaliar a quantidade e os valores das peças gastas na vida útil dessa máquina, mão de obra aplicada nas intervenções e outros dados.”

Para alcançar esse detalhamento, todos os equipamentos da construtora, assim como as peças de reposição, possuem uma identificação exclusiva. Cada máquina ou componente possui um prefixo, pelo qual é possível resgatar o seu histórico de manutenção no sistema. “As informações são completas, com dados sobre as manutenções corretivas, preventivas e preditivas efetuadas no equipamento, tempo que a peça ficou no estoque até ser utilizada etc.”, descreve. Essas informações, segundo ele, também possibilitam ao sistema realizar um mapeamento por tipo de falha, o que permite saber quais componentes são mais críticos em cada tipo de equipamento.

Segundo Bianchi, quanto mais detalhadas forem as informações colhidas na manutenção, melhores poderão ser as medidas de gestão, ajudando a ampliar a confiabilidade da frota. “Diferentemente da mineração, no segmento de construção os equipamentos mudam constantemente de canteiro de obras e, por consequência, também mudam de gestor”, diz. “E isso é um fator prejudicial para o controle dos ativos, pois nem sempre os gestores têm o mesmo cuidado na apuração das informações.”

Para sanar esse problema, a Camargo Corrêa aplica treinamentos periódicos para conscientizar os gestores de frota sobre a importância da integridade e completude das informações coletadas durante a manutenção em campo.

Na sede da construtora em São Paulo, uma equipe de profissionais realiza a gestão do módulo de manutenção. Eles também são os responsáveis por aplicar os treinamentos citados por Bianchi. “Esses profissionais são responsáveis por fazer com que os gestores de manutenção informem corretamente as intervenções realizadas, gerando os dados necessários para uma melhor avaliação do ativo”, diz ele.

Logística

Implantado na construtora em 1998, o sistema de gestão empresarial da SAP vem passando por atualizações desde então, apresentando como deficiências segundo Bianchi não apenas a falta de um módulo específico para manutenção, mas também a ausência de um módulo de logística eficiente para as demandas do dia a dia na gestão de frotas móveis. A solução, segundo ele, foi o desenvolvimento de outro sistema próprio, denominado GE-Web, para cumprir duas demandas principais. “A primeira diz respeito à tabulação do custo-horário do equipamento, algo que não conseguíamos com o SAP”, especifica. “Já a segunda, foi para viabilizar uma gestão logística na qual pudéssemos obter o status da mobilização, paradas para reforma e outros dados do equipamento.”

Desse modo, quando a construtora realiza o planejamento de uma nova obra e determina a quantidade de equipamentos que será mobilizada, o sistema aponta se há máquinas disponíveis na configuração necessária, onde elas se encontram e quanto tempo demorará até serem enviadas ao novo canteiro de obras.

O GE-Web, segundo o executivo da Camargo Corrêa, também permite a mensuração da produtividade, que é calculada a partir de relatórios diários gerados pelo operador, por meio de um aparelho remoto posicionado na própria cabine do equipamento. Em um exemplo desse procedimento, um operador de pá carregadeira pode, ao final de cada turno, informar quantos caminhões foram carregados naquele período de atividades. Ou, para citar outro exemplo, um motorista do caminhão pode informar quantas viagens e basculamentos foram feitos em determinado período.

O nível de detalhes fornecidos pode ser ainda maior, incluindo apontamentos sobre paradas do operador para almoço ou manutenção da máquina. “Com esses dados, começamos a fazer o acompanhamento da produtividade de forma automatizada, o que tem possibilitado avaliar a disponibilidade mecânica da máquina, a recorrência de manutenção e os níveis de efetividade alcançados”, diz Bianchi.

Potencial

O passo adiante que a Camargo Corrêa agora almeja é como muitas outras empresas no setor unir as informações de seu software aos sistemas de monitoramento remoto dos fabricantes de equipamentos. “Esbarramos no mesmo problema de restrição de acesso aos protocolos de comunicação, o que impossibilitou esse avanço”, corrobora Bianchi.

Uma vez superado tal empecilho técnico, os benefícios imediatos seriam o alinhamento das informações de produtividade e disponibilidade mecânica com os indicativos operacionais fornecidos pelos sistemas dos fabricantes. “As soluções deles trazem apontamentos operacionais interessantes, como desgaste em freio e embreagem, consumo médio de combustível, rotação média de operação do motor etc., além de ranquearem operadores de acordo com essas informações”, diz o gerente da Camargo Corrêa. “Lamentavelmente ainda não conseguimos unificá-las com o nosso sistema e, tampouco, obter uma linguagem única para as diferentes marcas.”

Mesmo sem aproveitar todo o potencial dos sistemas dos fabricantes, Bianchi e sua equipe utilizam algumas das tecnologias para avaliar equipamentos individualmente. No que tange à gestão de frotas, no entanto, a construtora avança no detalhamento cada vez mais apurado das informações do GE-Web. “Seja para as nossas máquinas como para as locadas, nossa regra é que os equipamentos tenham uma disponibilidade mecânica mínima de 85%, e isso o GE-Web mede”, diz o executivo.

Segundo ele, essa e outras informações coletadas pelo sistema têm recebido uma análise criteriosa nas obras de construção da Hidrelétrica de Jirau, lideradas pela Camargo Corrêa. “Lá, há uma equipe de telemetria responsável por analisar as informações coletadas sobre manutenção, operação e produção”, diz. “Esses dados são analisados em reunião mensal, onde cruzamos o tempo e o motivo pelo qual o equipamento ficou parado com a sua disponibilidade mecânica, a qualidade do operador etc.”

Apesar dos avanços obtidos em tecnologia no setor da construção, tanto a Camargo Corrêa como a Galvão Engenharia avaliam que a gestão de equipamentos móveis ainda precisa avançar muito para alcançar níveis próximos aos já registrados na mineração ou na indústria. Nesses segmentos, afinal, as informações coletadas são analisadas por sistemas capazes de direcionar curvas de confiabilidade e até mesmo prever, com precisão analítica, qual deve ser a próxima parada para manutenção corretiva em determinado tipo de máquina.

 

 

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