Na China, a sopa de barbatana de tubarão é uma iguaria tradicionalíssima. O prato dessa especialidade chega a custar 150 dólares nos bons restaurantes e, como um dos tesouros da culinária milenar chinesa, é apreciado pela maioria da população do país.
Até aí tudo bem, no que pesem o valor proibitivo e a restrição de paladar para muitas pessoas. O problema maior é que, para preparar a sopa, os pescadores cortam as barbatanas dos tubarões e os relançam ao mar, onde acabam morrendo por não poderem mais nadar. Foi justamente essa situação dramática que comoveu Chris Fischer, um cientista norte-americano que há anos dedica seus dias de trabalho à pesquisa e proteção desses animais em vias de extinção.
No comando da expedição Ocearch, o pesquisador singra os oceanos ao redor do mundo a bordo de um navio-laboratório equipado para mapear a localização e os hábitos daqueles que são tidos como os leões do mar.
ESTRATÉGIA
Entre 21 de julho e 14 de agosto, a expedição esteve no Brasil a fim de – além de reunir dados para a própria
Na China, a sopa de barbatana de tubarão é uma iguaria tradicionalíssima. O prato dessa especialidade chega a custar 150 dólares nos bons restaurantes e, como um dos tesouros da culinária milenar chinesa, é apreciado pela maioria da população do país.
Até aí tudo bem, no que pesem o valor proibitivo e a restrição de paladar para muitas pessoas. O problema maior é que, para preparar a sopa, os pescadores cortam as barbatanas dos tubarões e os relançam ao mar, onde acabam morrendo por não poderem mais nadar. Foi justamente essa situação dramática que comoveu Chris Fischer, um cientista norte-americano que há anos dedica seus dias de trabalho à pesquisa e proteção desses animais em vias de extinção.
No comando da expedição Ocearch, o pesquisador singra os oceanos ao redor do mundo a bordo de um navio-laboratório equipado para mapear a localização e os hábitos daqueles que são tidos como os leões do mar.
ESTRATÉGIA
Entre 21 de julho e 14 de agosto, a expedição esteve no Brasil a fim de – além de reunir dados para a própria pesquisa global da Ocearch – encontrar respostas para a frequência atipicamente alta de ataques fatais por tubarões nas praias do Recife (PE) e de outras regiões costeiras do Nordeste do país. É preciso alertar ao leitor de M&T que a expedição tem patrocínio da Caterpillar, fornecedora dos motores e dos grupos geradores que equipam a embarcação. A empresa também disponibiliza seus dealers para apoio mecânico e estrutural, além de financiar as viagens com um valor apreciável.
Nesta expedição, por exemplo, a fabricante global de equipamentos desembolsou 700 mil reais e disponibilizou a manutenção necessária aos motores e geradores por meio da Sotreq, dealer da marca para o Nordeste e outras regiões do Brasil. “Como parte da sua estratégia corporativa, esse trabalho vem ao encontro das ações de sustentabilidade que desde 2010 a Sotreq propõe-se a desenvolver”, ressalta Renato Pimentel, chief of operation officer (COO) da Sotreq ao explicar a relação de apoio com a expedição Ocearch.
No Brasil, o Ocearch percorreu os 20 km de área costeira da Região Metropolitana do Recife e também fez incursões por Aracajú (SE) e Natal (RN). Além da Caterpillar e Sotreq, outras empresas e instituições apoiaram a expedição, incluindo o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões de Pernambuco (Cemit), que ficará com o legado das pesquisas realizadas nesse período.
APARATO
Antes de chegar ao Recife, a expedição esteve em Galápagos, no Chile, local que no século XIX serviu de campo de amostras para os estudos evolutivos de Darwin e no qual a Ocearch acaba de realizar suas mais recentes pesquisas sobre comportamento animal.
Até então, cerca de 200 tubarões haviam sido capturados e mapeados pela equipe de Fischer, sendo que a expectativa no Brasil era de aumentar esse número com a inclusão dos tubarões martelo e cabeça chata, espécies reconhecidamente abundantes no litoral pernambucano. “Do total que já capturamos há várias espécies, inclusive tubarões brancos, que são os mais difíceis de localizar”, pontua o cientista.
A captura é uma operação delicada e trabalhosa. Os tubarões são fisgados com o uso de isca e molinetes apropriados, mas tão parrudos e vistosos como as próprias presas. Ainda no anzol, os animais são conduzidos a um compartimento específico do navio. Aliás, esse ponto merece uma pausa, pois o que possibilita o sucesso nas pesquisas de Fischer é justamente o aparato tecnológico do navio.
Denominado M/V, o navio possui dois motores de 800 hp de potência trabalhando em conjunto para a propulsão. Já os geradores movidos a diesel dão autonomia de energia elétrica por até 60 dias à embarcação. O M/V tem 37 metros de comprimento e leva, a cada expedição, uma equipe composta por marinheiros, cientistas e pescadores. “O diferencial desse trabalho é que temos o navio e o laboratório em uma só embarcação”, explica Fischer. “E não existe algo igual no mundo.”
O principal aparato é um compartimento hidráulico capaz de elevar até 25 toneladas. A estrutura é acionada por duas bombas hidráulicas instaladas no porão do navio, onde também estão os motores e geradores. Quando um tubarão é capturado, esse compartimento é deslocado pelos cilindros hidráulicos do centro da embarcação para a lateral do navio, criando uma espécie de viveiro provisório.
Com todo esse aparato, Fischer garante que, da captura à realização de todas as pesquisas, levam-se apenas 15 minutos, sem maltratar os tubarões.
PESQUISAS
A propósito, depois de capturados, os tubarões são submetidos a 12 pesquisas científicas. Uma delas é a inserção de um chip na barbatana, que emite um sinal de satélite toda vez que o tubarão sai da água, permitindo a localização precisa do animal em tempo real.
Com isso, é possível que qualquer pessoa acompanhe a movimentação, ao vivo, pelo site da expedição Ocearch. Lá, inclusive, são definidos nomes para cada um dos tubarões mapeados e, desse modo, o espectador pode escolher o seu favorito para acompanhar a rotina diária.
Outra pesquisa consiste na inserção de uma tag no tubarão para detectar a profundidade. Uma marca acústica também é instalada na barriga do animal, ampliando os ruídos do organismo e transmitindo o sinal sonoro, que pode ser capturado por antenas especiais instaladas nas praias. No Recife há antenas dessa natureza e os pesquisadores locais acreditam que a tecnologia da Ocearch ampliará o nível de reconhecimento dos animais que se aproximam da costa e atacam os banhistas e surfistas.
Exames de sangue, estudo genético com um pedaço da barbatana, amostra muscular para identificar o tipo de alimentação e também o recolhimento de parasitas para estudos diversos completam a lista de pesquisas realizadas. “Mas, sem dúvida, a emissão de sinal satelital, em tempo real, é o maior avanço”, destaca Fischer. “Antes dessa tecnologia, só conseguíamos ter informações dos locais pelos quais os tubarões já tinham passado, o que provocava certo delay nas pesquisas.”
RESULTADOS
Trata-se da primeira expedição do tipo em águas brasileiras e, para os pesquisadores, é importante estudar o histórico comportamental de espécies não só para a sua proteção, mas também para entender atitudes agressivas e, desse modo, reduzir a quantidade de ataques a seres humanos.
Essas informações servem ainda para entendimento e preservação do ecossistema marinho, já que os tubarões são os maiores predadores do ecossistema e, não por menos, conhecidos como leões do oceano. “É uma honra que minha organização entregue esses dados a cientistas e autoridades no Brasil para ajudar a resolver problemas de coexistência de banhistas com uma espécie ameaçada e capaz de afetar a segurança pública”, diz Fischer.
No Brasil, pelo levantamento do Cemit, ocorreram 59 ataques de tubarões a seres humanos somente na Região Metropolitana do Recife entre 1992 e 2013. Esses ataques mataram 24 pessoas (40,7% dos atacados) e diversos outros banhistas perderam membros do corpo ou ficaram paralíticos. Por outro lado, mais de 1 milhão de tubarões são mortos no mundo anualmente, fazendo com que, segundo a Ocearch, o animal esteja perto de uma extinção definitiva.
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