Apesar do cenário adverso, com o segmento de produção do aço – assim como os demais – sofrendo forte queda na produção, algumas empresas ainda acreditam na potencialidade do setor. Mas não será nada fácil. Em 2015, segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr), houve uma significativa redução de 16,3% nas vendas no mercado interno de aço em relação ao ano anterior.
Mais que isso, de acordo com Leonardo Vieira, gerente técnico da SSAB, mesmo antes da crise atual o consumo de aço per capita no Brasil – tendo como base informações do próprio IABr – já estava muito aquém, quando comparado a outros países. “No longo prazo, no entanto, com o constante avanço tecnológico e considerando o maior uso de aço, podemos ter aumento do mercado”, comenta Vieira.
Para tanto, é preciso haver estímulo, ainda mais tendo em vista a extrema competitividade do mercado mundial da siderurgia. Segundo Carolina Fonseca, gerente executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço, o Brasil está estruturado internamente para ser competitivo, mas depende de medidas emergenciais de d
Apesar do cenário adverso, com o segmento de produção do aço – assim como os demais – sofrendo forte queda na produção, algumas empresas ainda acreditam na potencialidade do setor. Mas não será nada fácil. Em 2015, segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr), houve uma significativa redução de 16,3% nas vendas no mercado interno de aço em relação ao ano anterior.
Mais que isso, de acordo com Leonardo Vieira, gerente técnico da SSAB, mesmo antes da crise atual o consumo de aço per capita no Brasil – tendo como base informações do próprio IABr – já estava muito aquém, quando comparado a outros países. “No longo prazo, no entanto, com o constante avanço tecnológico e considerando o maior uso de aço, podemos ter aumento do mercado”, comenta Vieira.
Para tanto, é preciso haver estímulo, ainda mais tendo em vista a extrema competitividade do mercado mundial da siderurgia. Segundo Carolina Fonseca, gerente executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço, o Brasil está estruturado internamente para ser competitivo, mas depende de medidas emergenciais de defesa comercial e incentivo às exportações. “Diferentemente de outros segmentos industriais, entre 2009 e 2014 a indústria brasileira do aço investiu 19 bilhões de dólares e manteve seu parque produtor tecnologicamente atualizado”, destaca.
Isso é fato para empresas como a fabricante de origem russa NLMK, por exemplo, que iniciou suas atividades no Brasil no final de 2014 e, com a abertura de um escritório comercial em São Paulo (SP) e outro de logística em São Francisco do Sul (SC), posicionou-se com mais força no país. Como ressalta Paulo Seabra, diretor da NLMK para a América do Sul, o objetivo também é fortalecer a atuação na região, “com a expectativa de triplicar o faturamento em três anos”.
Outro exemplo foi a recente criação da Steel Warehouse Cisa, uma companhia que fornece tecnologia de processamento e beneficiamento do aço para aplicação em vários setores, como agricultura, construção, mineração e automotivo. Resultado de uma parceria entre a Cisa Trading (que oferece soluções logísticas, operacionais, tributárias e financeiras para o comércio exterior) e a norte-americana Steel Warehouse (voltada ao processamento de bobinas de aço de maior espessura), a marca trouxe ao Brasil a linha Temper Pass Cut to Length, que fornece chapas de aço com tolerâncias e planicidade superiores e livres de tensões residuais. “Somos a única empresa a oferecer essa tecnologia no país”, afirma o diretor da companhia, David Sánchez.
POTENCIAL
Segundo ele, existem somente 20 linhas semelhantes em operação no mundo, o que pode garantir um bom retorno, mesmo que no longo prazo. “Estamos aqui a pedido dos próprios clientes, que já são atendidos pela empresa nos EUA e México e queriam uma atuação direta no Brasil”, complementa.
Evidentemente, a empresa vê no país – mesmo com as dificuldades atuais – um campo promissor de atuação, permitindo uma “maior diversificação do risco e melhor aproveitamento de cada segmento do mercado”. Em termos de produção, o executivo explica que o plano de negócios prevê a venda de 35 mil a 40 mil toneladas no primeiro ano de atividade, com perspectivas de elevação para 110 mil toneladas até 2018, chegando as 165 mil toneladas entre 2025 e 2027. “É o equivalente a 70% da capacidade total de produção”, diz.
Em termos de faturamento, o plano estratégico de negócios prevê atingir a cifra de 220 milhões de reais até 2018 e, nos anos seguintes, alcançar 400 milhões de reais, desde que o planejamento de vendas seja cumprido.
Outro exemplo recente de investimento no Brasil foi o anúncio de uma joint-venture do Grupo Gerdau com as japonesas Sumitomo Corporation e The Japan Steel Works (JSW) para atender à expansão da indústria eólica local. Com essa parceria, a siderúrgica brasileira deverá aportar ativos para a construção de torres. Instalada na usina da empresa em Pindamonhangaba (SP), a unidade fornecerá já a partir de 2017 aços especiais utilizados na produção das peças que compõem as torres e as pás, como eixos e rolamentos.
Além de equipamentos para a indústria eólica, a joint-venture produzirá cilindros para a indústria de aço e alumínio, em linhas de produtos já fornecidas pela Gerdau. A partir de 2018, a capacidade total de peças para a indústria eólica e cilindros deve alcançar 50 mil toneladas por ano.
MÁQUINAS
Na NLMK, os planos também incluem fornecimento de aço para equipamentos de construção, como escavadeiras, guindastes, pavimentadoras e implementos rodoviários, dentre outros.
São equipamentos produzidos por meio de processos de manufatura que consistem basicamente de corte, dobra, usinagem e solda das ligas metálicas. De forma geral, como explica Seabra, os equipamentos de construção podem ser produzidos tanto com aços convencionais quanto com a utilização de aços especiais de alta resistência. “Normalmente, os aços especiais são aplicados nas peças e componentes expostos a severas demandas de carga ou desgaste”, explica. “Já os aços comerciais são aplicados nas demais partes dos equipamentos, que são submetidas a forças e tensões mais baixas.”
O portfólio inclui produtos de alta resistência como o Quard (alta resistência ao desgaste) e o Quend (alta resistência estrutural devido ao elevado limite de escoamento). As ligas são produzidas em linhas modernas, que incluem desde laminadores especiais até tratamento térmico de tempera e revenimento – aplicado nos aços para corrigir a dureza excessiva, elevando sua tenacidade. Os processos mais utilizados são o corte a plasma e a laser, mas em menor escala também são utilizados o oxicorte e o jato d’água. “Os aços da NLMK possuem um bom desempenho durante a soldagem, resultando em zonas menos afetadas termicamente e com altíssima resistência na junta soldada”, comenta Seabra.
Comumente, o departamento de engenharia dos próprios fabricantes estabelece as especificações para escolha do aço a ser utilizado. Tais especificações incluem tolerância na variação de dureza, espessura, largura, comprimento e planicidade, mas também valores mínimos de limite de escoamento, alongamento do aço, acabamento superficial com jateamento e pintura. “Com base no estudo do processo de fabricação das peças, principalmente no aproveitamento do corte, define-se em conjunto com a área técnica e de compras quais as medidas indicadas nas chapas, visando à menor perda”, diz o especialista. “Além disso, muitas vezes se faz necessária a fabricação de chapas com medidas especiais.”
RESISTÊNCIA
A empresa siderúrgica escandinava SSAB também fornece aços temperados de alta resistência para a indústria da construção, incluindo chapas, placas e produtos tubulares padronizados.
De acordo com Vieira, os mais utilizados são equivalentes ao ASTM A36, um aço carbono de média resistência mecânica, e o ASTM A572, de alta resistência mecânica e baixa liga. No entanto, alerta o especialista, quando o objetivo é desenvolver equipamentos com peso reduzido e maior durabilidade, produtos como Strenx e Hardox passam a ser essenciais. “O primeiro é utilizado em aplicações estruturais, apresentando valores de limite de escoamento de 700 a 1300 MPa e espessuras de 0,5 a 160 mm, variando de acordo com a especificação do material”, enfatiza o gerente.
Já o Hardox é utilizado em aplicações nas quais a resistência ao desgaste é mais importante. Nessa linha, a marca conta com materiais com graus de dureza de 350 a 700 Brinell, em espessuras entre 0,7 a 160 mm, de acordo com a especificação. “Há espaço para aços de alta resistência sempre que exista a demanda por redução de peso e aumento da durabilidade do equipamento”, finaliza.
Perguntas para os players
Como avalia a crise da indústria siderúrgica no Brasil?
David Sánchez, diretor da Steel Warehouse Cisa – Houve uma grande queda no setor do aço, sendo que algumas usinas fecharam operações, visando a manter o resto da companhia em funcionamento. Acredito que 2016 será um ano de transição, um momento de recuperação e análise de produção, competitividade, infraestrutura, logística, processos cambiais etc. Por outro lado, também não vamos sofrer com a falta de aço, pois existe uma oferta bem superior à demanda.
Paulo Seabra, diretor da NLMK – A crise na siderurgia brasileira já vem ocorrendo há alguns anos, mas se agravou muito no último ano principalmente devido à queda na demanda por produtos que sempre representaram volumes importantíssimos para as usinas, como o segmento automobilístico e a linha branca. A redução da produção é inevitável frente à forte desaceleração da economia brasileira, algo sem precedentes. Isso apenas comprova que, dentre outros fatores também importantes, o protecionismo não resolve o problema das usinas. O aço importado sofre com barreiras tarifárias enormes, as quais apenas alimentam um cenário de competitividade artificial e em nada contribuem para a sustentabilidade das usinas siderúrgicas.
Qual é o impacto da desaceleração chinesa?
David Sánchez, diretor da Steel Warehouse Cisa – Nos últimos anos, a China ampliou sua participação no comércio mundial, principalmente na exportação do aço, mas ainda é uma indústria ineficiente e poluente, que conta com o apoio do governo para manter empregos sem visar à rentabilidade. Em consequência, mantém preços muito baixos, o que acaba afetando as outras siderúrgicas do resto do mundo, bem mais eficientes, com exigências ambientais e leis trabalhistas. A maior consequência é uma oferta excessiva, que acaba baixando ainda mais os preços. Tudo isso prejudica a exportação brasileira de produtos siderúrgicos, que teria uma oportunidade ideal para compensar a menor demanda local, aproveitando um momento com câmbio favorável. Nossos clientes, principalmente fabricantes de máquinas agrícolas, de construção e automotivas, que teriam condições de competir internacionalmente, encontram um mercado global inundado de produtos chineses com preços muito competitivos.
Paulo Seabra, diretor da NLMK – A queda no crescimento da economia chinesa, resultando em queda na demanda, tem um impacto muito forte no setor siderúrgico brasileiro e mundial, pois o excesso de oferta de aço na China está empurrando os preços para baixo, deteriorando margens do setor. Mas o setor no Brasil também está sendo mais afetado devido à baixa produtividade e baixo nível de inovação. A competitividade das usinas nacionais com os aços chineses está ameaçada mesmo com a atual situação de câmbio elevado e barreiras protecionistas, que vão desde sobretaxas antidumping até elevados impostos de importação.
Exportação cresce, mas receitas recuam
Segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr), o setor siderúrgico fechou 2015 com um volume recorde de exportações, somando 13,7 milhões de toneladas de aço exportadas, em uma alta de 40,3% em relação a 2015. Contudo, mesmo com esses dados positivos, as receitas das usinas recuaram 3,3% nas vendas para o mercado externo. Para tentar alavancar a demanda interna, no final de 2015 surgiu a possibilidade do aumento da alíquota de importação do aço. Segundo o governo, essa medida seria uma alternativa para proteger as indústrias do setor, devido ao excesso de produção de aço no mundo. No entanto, como afirma Marco Polo de Mello Lopes, presidente do IABr, a queda do consumo interno não será compensada com as exportações. “Globalmente, há um excedente de 700 milhões de toneladas de aço”, dimensiona. Para Carlos Pastoriza, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), caso esse aumento realmente ocorra, será um duro golpe na já baixa competitividade da indústria de transformação. “Basta vermos a queda na produção de máquinas, automóveis, caminhões e tantos outros segmentos”, diz.
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