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Revista M&T - Ed.72 - Ago/Set 2002
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ARTIGO

Indignação

Quantas e quantas vezes nós nos sentimos indignados como técnicos e engenheiros ao nos depararmos com o comodismo de soluções velhas e ultrapassadas que insistentemente vemos acontecer ao nosso redor. Lembro de uma entrevista há já alguns anos em que um engenheiro mostrava alguns vários casos de curvas, em nossas estradas, com inclinação invertida, praticamente jogando o veículo para fora da pista. Um dos casos em questão fica ao lado do Palácio de Governo do Estado de São Paulo. Não sabemos fazer pistas? Não queremos fazer correto? O cliente aceita qualquer coisa? Não há controles? Quantas perguntas, quanta indignação.
Lembro de acidentes com escavação de estacas e fundações, utilizando os "tubulões com ar comprimido". E esta ainda é uma solução empregada e aceita apesar de todos os riscos que apresenta.
Lembro ou sou lembrado por fotos e notícias de soterramento de operários em valas para colocação de tubos, por deficiências ou inexistência de escoramento. Fico ofendido quando recebo visitas de técnicos europeus que me relatam que valas mais profundas que um metro é obrigatoriamente escorado nos países desenvolvidos.
É um absurdo a fácil e usual aceitação de valas abertas prejudicando o trânsito e destruindo a compactação do piso de rolamento. Não há como recuperar uma pista destruída desta maneira. É de entusiasmar a crescente utilização do método não destrutivo para colocação de tubos, dutos, cabos, mas é de assustar como ainda são aceitos métodos comprovadamente errados. Todo engenheiro trabalhando com obras de saneamento básico tem um certo orgulho com os avanços tecnológicos nos métodos de instalação de tubulações de água e esgoto especialmente dentro da Grande São Paulo. O MND (método não destrutivo) foi introduzido há já alguns anos, e é uma tecnologia muito difundida em p


Quantas e quantas vezes nós nos sentimos indignados como técnicos e engenheiros ao nos depararmos com o comodismo de soluções velhas e ultrapassadas que insistentemente vemos acontecer ao nosso redor. Lembro de uma entrevista há já alguns anos em que um engenheiro mostrava alguns vários casos de curvas, em nossas estradas, com inclinação invertida, praticamente jogando o veículo para fora da pista. Um dos casos em questão fica ao lado do Palácio de Governo do Estado de São Paulo. Não sabemos fazer pistas? Não queremos fazer correto? O cliente aceita qualquer coisa? Não há controles? Quantas perguntas, quanta indignação.
Lembro de acidentes com escavação de estacas e fundações, utilizando os "tubulões com ar comprimido". E esta ainda é uma solução empregada e aceita apesar de todos os riscos que apresenta.
Lembro ou sou lembrado por fotos e notícias de soterramento de operários em valas para colocação de tubos, por deficiências ou inexistência de escoramento. Fico ofendido quando recebo visitas de técnicos europeus que me relatam que valas mais profundas que um metro é obrigatoriamente escorado nos países desenvolvidos.
É um absurdo a fácil e usual aceitação de valas abertas prejudicando o trânsito e destruindo a compactação do piso de rolamento. Não há como recuperar uma pista destruída desta maneira. É de entusiasmar a crescente utilização do método não destrutivo para colocação de tubos, dutos, cabos, mas é de assustar como ainda são aceitos métodos comprovadamente errados. Todo engenheiro trabalhando com obras de saneamento básico tem um certo orgulho com os avanços tecnológicos nos métodos de instalação de tubulações de água e esgoto especialmente dentro da Grande São Paulo. O MND (método não destrutivo) foi introduzido há já alguns anos, e é uma tecnologia muito difundida em países desenvolvidos há muito tempo. Esse método de escavação subterrânea veio como solução para construção de coletores de grandes diâmetros em áreas densamente ocupadas evitando transtornos à população tais como: ruas interditadas, grande movimentação de solo, etc...

No início, este tipo de obra foi um grande desafio à engenharia nacional, pois não conhecíamos muito bem os equipamentos e não contávamos com mão-de-obra especializada para operar os "Shields" também conhecidos como "tatuzinhos". Enfrentamos grandes dificuldades na construção dos poços de serviços..., enfim, foi uma grande conquista e, após algum tempo, nós engenheiros brasileiros já podíamos instalar coletores de esgoto sobre uma movimentada avenida de São Paulo sem a interrupção do trânsito.
Com o passar dos anos começamos a observar que a durabilidade destes coletores não era muito boa, pois os Shields de primeira geração eram equipamentos de frente aberta (sem sustentação da face de escavação) e só construíam micro túneis com anéis segmentados, o que não garante uma estanqueidade adequada, exigindo manutenção constante, assentamentos e desníveis na superfície e, as vezes, geravam grandes crateras nas ruas. O prejuízo maior, porém, está oculto, lá embaixo.


São as infiltrações, para dentro do coletor, carreando material para estes verdadeiros tubos de drenagem, e vazamentos, para fora das tubulações do material que deveria estar confinado, contaminando assim o solo. Estes fatos foram muito danosos para este tipo de obra, o que fez muitas pessoas questionarem este tipo de tecnologia, mas para o bem da engenharia nacional foi trazido para o Brasil a segunda geração de Shields.
Esta nova geração de equipamentos tem condições de sustentar a frente de escavação impedindo que a frente "escoe" para dentro do equipamento causando o assentamento ou mesmo o colapso na superfície e permite, ainda, a cravação de tubos de concreto de alta resistência e perfeita estanqueidade, reduzindo os problemas de manutenção constante e os riscos de recalques do pavimento, que as obras executadas pelo equipamento da geração anterior causavam. O número de juntas reduziu-se à face entre tubos e o controle de "grade" é infinitamente mais preciso. Mas como nem tudo é explicável em nossa terra tupiniquim vemos com surpresa que o método antigo continua sendo aceito e que os novos avanços são esquecidos.


Depois de todo este passado de conquistas tecnológicas e investimentos em equipamentos de última geração por empresas sérias que procuram sempre a melhor tecnologia disponível no mundo, as empresas de saneamento ou órgãos contratantes ainda permitem que se use tecnologia obsoleta como está acontecendo agora com o Coletor Tronco Pirajussara, diâmetro de 1.500mm, na movimentada Av. Eliseo de Almeida. Lembro, com pesar do acidente em obra da Av. Água Espraiada, na zona sul de S. Paulo onde dois operários morreram soterrados.
Recentemente também uma obra de instalação de coletores tronco no Rio de Janeiro ficou embargada por vários meses, além de causar a queda de um edifício em suas proximidades. E realmente muito frustrante para qualquer pessoa de formação técnico - científica, preocupada com a melhoria constante da nossa tecnologia, ver recursos públicos serem desperdiçados em obras que ainda empregam o uso de anéis segmentados como revestimento final, que a própria SABESP, sempre ciosa pela qualidade, condenou há muitos anos atrás.


Onde está o erro? Em função do que temos, poderíamos argumentar: se o órgão contratante não aceita esse método, ele não seria aplicado, portanto o erro está na especificação. Isto não deixa de ser verdade, mas não exclui o executante de sua parcela de responsabilidade. Caráter e Honestidade deveriam levar às empresas a se recusarem a "Fazer Errado" o que sabem e podem fazer bem. O executante que normalmente tem mais acesso às novidades e evoluções do mercado, pode e deve empreender uma campanha de esclarecimento aos órgãos contratantes.

Tecnologia obsoleta no projeto de despoluição do Rio Tietê

Mesmo excluído como alternativa construtiva pela própria SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, que é talvez, entre as empresas de saneamento, a mais exigente tecnicamente, ainda hoje existem coletores-tronco de esgoto sendo executados com tecnologia ultrapassada e utilizando anéis segmentados inadequados, comprometendo a durabilidade do conduto, bem como o pavimento na superfície. O método de escavação subterrânea utilizando anel segmentado de concreto como revestimento já teve sua importância na década de 80 no Brasil como a única maneira mecanizada de escavação subterrânea para pequenos diâmetros. Nesta década, em que o mercado brasileiro era ainda fechado, com custos de importação proibitivos, justificava-se a cópia de tecnologia dos países mais avançados, mesmo que com desempenho muito inferiores. Da década de 80 para cá, houve um enorme salto tecnológico nos métodos de escavação subterrânea e mesmo com a abertura do mercado, no entanto, o Brasil continua utilizando a mesma tecnologia "adaptada", de uma maneira indiscriminada, com grandes prejuízos para a população, despendendo recursos públicos em obras de pequena durabilidade. Novas tecnologia apareceram como o tubo cravado e novas gerações de máquinas de frente balanceada, com o objetivo de evitar problemas de assentamento na superfície durante a execução do projeto, além do aumento significativo da vida útil da obra com diminuição da manutenção e uma maior segurança aos operadores.

As limitações do anel segmentado

1 - Os segmentos não são armados comprometendo significativamente sua resistência estrutural, problema que dificilmente é sanado com qualquer outro tipo de revestimento posterior.
2- Juntas longitudinais e transversais sem a vedação adequada, que não garantem a estanqueidade aumentando muito as áreas de vazamentos.
3- Como o tipo de junta é deficiente, a pseudo vedação é dada pelo rejuntamento com argamassa de cimento, o que além de não conter o controle tecnológico do seu traço, não garante aderência da argamassa devido ao excesso de umidade nos pontos onde exista vazamento. A "estanqueidade" destes pontos é, normalmente, executada com aditivos de pequena durabilidade.
4- O formato das juntas é muito delgado e as paredes dos segmentos são muito lisas, isto faz com que o rejuntamento se solte e este por ser rígido não "trabalha" com as mudanças de temperatura ocasionando trincas de dilatação.
4- A injeção de argamassa em alguns tipos de terreno, aliado a um baixo controle de qualidade, quantidade e frequência tem uma ação quase inócua no sentido de diminuir os vazamentos.
6- Inexistência de borracha nas juntas transversais.
7- Necessidade de rebaixamento de lençol d'água em terrenos arenosos com presença de água.

Limitações do equipamento

O "Shields" de anel segmentado, "adaptado" às condições locais, utilizado no Brasil, pertence também a uma geração bem antiga de máquinas de escavação subterrânea. Estes equipamentos não possuem a frente balanceada (não existe controle do material escavado ou entrada de água pelo túnel) o que restringe bastante o seu uso em terrenos arenosos com lençol d'água elevado. A utilização deste tipo de equipamento neste tipo de terreno só pode ser feita com o rebaixamento de lençol freático, o que pode gerar recalques no terreno e ocasionar problemas na pavimentação e construções na vizinhança.
Em muitos países da Europa, o rebaixamento de lençol freático é proibido dentro de cidades. Apesar das críticas que se faz a este método, acrescidas do fato de expor os trabalhadores a condições muito insalubres, ele ainda é passível de utilização, dependendo das condições geológicas do terreno e na melhora da qualidade dos segmentos e suas vedações. A sua aplicação generalizada e indiscriminada compromete significativamente a durabilidade dos coletores, e deveria ser restringida a alguns tipos de solo, diminuindo significativamente o risco de recalques na pavimentação e em alguns casos aparecimento de enormes crateras causando sérios transtornos à população tanto no período de execução da obra como no período posterior.

Consequências

Atitudes impróprias afetam diretamente a durabilidade dos coletores, muitas vezes exigindo manutenção constante e de alto custo, causando vários transtornos à população, quando alguns dados não forem pesquisados e estudados corretamente, a começar por um estudo do solo, com a consequente seleção do equipamento e método apropriado para as condições do local.


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