Revista M&T - Ed.147 - Junho 2011
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Hidrelétrica Belo Monte

A obra precisa começar

A distribuidora Sotreq começa a montar a estrutura de peças e manutenção para suporte aos equipamentos que vão operar na maior obra de geração de energia do Brasil nos últimos trinta anos

A construção da hidrelétrica Belo Monte na bacia do Rio Xingu, no Pará, trará um novo impulso de desenvolvimento para a região de Altamira e municípios vizinhos. Com uma capacidade instalada de 11,2 mil MW, ela vai gerar uma energia assegurada de 4,5 mil MW, operando com um reservatório de 516 km². Segundo o Consórcio Norte Energia, que venceu a licitação para construir e operar a usina, essa elevada capacidade em relação à área alagada se deve ao arranjo da usina, que aproveita uma queda natural de 90 m entre o município de Altamira e a volta do rio Xingu, contando com duas casas de força, vertedouro e barragem distribuídos em três sítios diferentes do projeto.

Com isso, Belo Monte pode ser classificada como uma usina tipo “fio d’água”, cuja potência está diretamente associada à vazão do rio e não à queda d’água, viabilizando um reservatório de menor extensão. Os planos da empresa são de iniciar a obra ainda este ano, gerando pelo menos 5 mil empregos nessa etapa inicial de terraplenagem e movimentação de solos. A construção deve avançar em um ritmo mais acelerado a partir de 2012 e atingir o pico em 2015, ano em que a primeira turbina deve


A construção da hidrelétrica Belo Monte na bacia do Rio Xingu, no Pará, trará um novo impulso de desenvolvimento para a região de Altamira e municípios vizinhos. Com uma capacidade instalada de 11,2 mil MW, ela vai gerar uma energia assegurada de 4,5 mil MW, operando com um reservatório de 516 km². Segundo o Consórcio Norte Energia, que venceu a licitação para construir e operar a usina, essa elevada capacidade em relação à área alagada se deve ao arranjo da usina, que aproveita uma queda natural de 90 m entre o município de Altamira e a volta do rio Xingu, contando com duas casas de força, vertedouro e barragem distribuídos em três sítios diferentes do projeto.

Com isso, Belo Monte pode ser classificada como uma usina tipo “fio d’água”, cuja potência está diretamente associada à vazão do rio e não à queda d’água, viabilizando um reservatório de menor extensão. Os planos da empresa são de iniciar a obra ainda este ano, gerando pelo menos 5 mil empregos nessa etapa inicial de terraplenagem e movimentação de solos. A construção deve avançar em um ritmo mais acelerado a partir de 2012 e atingir o pico em 2015, ano em que a primeira turbina deve entrar em operação. A previsão de operação com capacidade total deve ocorrer somente em 2019.

Para que a usina atinja plena capacidade até lá, com o início da operação de sua última turbina, o Consórcio Construtor Belo Monte, contratado pela Norte Energia para a execução da obra, já começou a montar o parque de equipamentos a ser mobilizado no canteiro. Em março, ele anunciou a aquisição dos equipamentos de movimentação de solos e dos caminhões basculantes a serem utilizados. A Caterpillar foi à escolhida para fornecer os equipamentos de terraplenagem, em um total de 685 unidades, enquanto os caminhões serão da Mercedes-Benz, totalizando 540 veículos, conforme divulgou na ocasião o consórcio construtor.

Primeira entrega
“Nesse primeiro momento, temos que entregar 362 unidades até dezembro de 2011, mas o total de equipamentos destinados para a obra de Belo Monte é bem maior, principalmente entre os anos de 2012 e 2013.”, afirma Fábio Benedicto, consultor de vendas de máquinas da Sotreq, distribuidora da Caterpillar. Segundo ele, a definição dos demais equipamentos a serem entregues ainda depende de aspectos relacionados ao projeto e ao histograma da obra que estão sendo alinhados com o consórcio construtor.

Na avaliação de Benedicto, é muito difícil dimensionar o total de investimento na frota de máquinas, pois os volumes tratados até o momento correspondem aos equipamentos adquiridos pelo consórcio construtor, sem computar as aquisições das locadoras para atendimento às demais demandas da obra. “A negociação não contemplou um valor unitário para cada equipamento, na medida em que fechamos um pacote de soluções que agrega produtos e serviços”, ele explica.

Uma particularidade marcante da construção da hidrelétrica está atrelada ao seu layout “espalhado”, cujas obras irão ocorrer simultaneamente em quatro áreas distintas (sites), cada uma delas equipada com uma estrutura remota para a manutenção dos equipamentos, assim como suas respectivas oficinas volantes e comboios de lubrificação e abastecimento. Por esse motivo, a Sotreq está montando uma grande estrutura para atender às demandas de manutenção do canteiro de obras.

Dificuldades logísticas
A construção de Belo Monte enfrenta os desafios típicos de uma obra de grande porte instalada em local distante dos principais centros urbanos. De acordo com Edgard Reis, gerente de suporte ao produto da Caterpillar para a América Latina, a infraestrutura da região se caracteriza pela precariedade. “A logística do local é complicada, incluindo deficiências de hotelaria, de comunicações e também de transporte de cargas, pois o aeroporto mais próximo não comporta o pouso de aviões de grande porte.”

Ele explica que o transporte por balsa, de Belém a Altamira, consome o prazo de uma semana. “Para atender aos pedidos de emergência, contamos apenas com o transporte aéreo, ainda assim com limitações de carga.” Augusto Azevedo, gerente corporativo da Caterpillar para grandes contas da América Latina, segue a mesma linha de raciocínio e aponta outro problema no que diz respeito ao transporte fluvial dos equipamentos. “Para se ter uma dimensão das dificuldades, o transporte pelo Rio Xingu se dá apenas na época de cheia”, conta.

Por esse motivo, a Sotreq vai inaugurar uma filial próxima ao canteiro de obras, dotada de estoque de peças, mecânicos e ferramental para assistência às necessidades do projeto. “As atividades da nova unidade serão focadas na obra da hidrelétrica, entretanto, ela também irá atender aos subcontratados do projeto, além de outros clientes da região”, afirma Rogério Bresan, consultor de suporte ao produto da Sotreq.

Estrutura de apoio
De acordo com o consultor da Sotreq, a filial vai contar com uma estrutura de oficina para reparos parciais em componentes e máquinas, estoque de peças, área de hidráulica, recuperação de material rodante, caldeiraria, solda, área de reciclagem de filtros, montagem de mangueiras, refeitório e vestuário. “O estoque de peças não ficará restrito apenas aos itens de maior giro, como filtros e mangueiras, contemplando também os conjuntos completos e demais componentes que assegurem uma boa disponibilidade para os equipamentos.”

No pico das obras, esse ponto de atendimento terá entre 110 a 120 mecânicos, sendo que 54 deles já estão contratados e em fase de treinamento. Todos passaram por formação técnica nos centros de treinamento da Sotreq e a contratação de mão-de-obra local será priorizada, por meio de uma parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Para o reparo de grandes componentes, segundo Bresan, a empresa vai se utilizar de suas centrais de recuperação de componentes (CRC) localizadas nas filiais de Belém e Marabá, ambas no Pará.

Rogério Bresan afirma que a filial de Belo Monte também contará com um laboratório de análise de óleo, fato inédito entre as principais obras em andamento no Brasil, o que reduzirá custos e tempo com a logística de transporte das amostras. Ele explica que as amostras colhidas nos equipamentos são tradicionalmente enviadas, via Correios ou transportadora, para o laboratório de análise de óleo que fica sediado em Contagem (MG). No caso de Belo Monte, as amostras serão analisadas no laboratório da própria filial e serão enviadas, por meio de um link de dados, para a Central de Monitoramento de Condições, que, por sua vez, interpretará as informações e as retornará em tempo real para a obra, otimizando todo o processo.

Postos avançados
Os equipamentos também serão gerenciados via satélite pela Central de Monitoramento de Condições da Sotreq. Por meio dos hardwares instalados nos equipamentos (Product Link) a concessionária vai acompanhar o desempenho da frota e os principais sinais vitais dessas máquinas, emitindo alertas para as equipes técnicas locais mediante um eventual imprevisto no campo. Com isso, ela atuará de forma proativa se antecipando a possíveis problemas nas máquinas.

A Sotreq está se programando para instalar postos avançados de serviços em cada um dos sites do canteiro. O tamanho desses postos avançados irá variar conforme o local cedido pelo consórcio e a movimentação das obras. Esses postos funcionarão como um ponto de apoio para os mecânicos e contarão com escritórios, ferramentas e peças de reposição de alto giro. De acordo com Bresan, cada posto avançado contará ainda com uma equipe de mecânicos, sendo que o número de profissionais estará condicionado ao andamento da obra e às necessidades de cada site, tendo como parâmetro a concentração de equipamentos naquele ponto.

Edgard afirma que o trabalho nos postos avançados estará focado nas ações preventivas. Os reparos mais sofisticados e delicados, segundo ele, que demandam mão-de-obra mais especializada, serão realizados na filial. “A manutenção dessas máquinas requer muita atenção, pois uma parada delas para reparos não programados resulta em perda de produtividade para o cliente.” Ele explica que a estrutura de suporte vai contar ainda com veículos de apoio e oficinas móveis que irão percorrer todos os sites da obra.

Mão-de-obra treinada
Como muitos equipamentos adquiridos para a obra são de última geração, dotados de tecnologias para a maior produtividade e segurança da operação, Edgard Reis diz que os profissionais da Sotreq e da Caterpillar deverão ser treinados para suporte à operação e manutenção. Em julho, as duas empresas enviarão equipes para treinamento na Europa e Estados Unidos, que funcionarão como multiplicadores desse conhecimento no Brasil. “Isso será útil não somente para o projeto Belo Monte, mas também para outros do mesmo porte onde certamente estaremos atuando”, avalia o executivo.

No caso da hidrelétrica Belo Monte, o consórcio construtor, liderado pela Andrade Gutierrez, pretende capacitar até sete mil pessoas nos centros de treinamento da companhia espalhados por dez municípios do Pará. Tal formação se dará em parceria com instituições como o Senai, Senar e Senac, cujos cursos de um a dois meses englobam diversos tipos de ocupações, desde carpinteiro até operadores de diversos tipos de equipamentos.

“A Sotreq e a Caterpillar doaram seis simuladores de operação ao consórcio construtor para apoio à formação destes profissionais”, completa Reis. De acordo com Rogério Bresan, a Sotreq também possui instrutores de operação, certificados pela própria Caterpillar, que podem contribuir em todo esse processo.

Visando ainda a fomentar a formação de mão-de-obra local, o Instituto Social Sotreq encontra-se em fase final de ajuste para firmar convênio de cooperação técnica com o Senai para a implantação do curso de Aprendizagem Industrial em Manutenção de Equipamentos de Terraplanagem no município de Altamira. Com duração de 12 meses, o curso será composto por três módulos e terá uma carga horária total de 800 horas. “O pré-requisito para que o profissional participe do curso é que ele seja residente em Altamira ou cidades vizinhas, que possua idade entre 17 e 23 anos e tenha concluído o ensino fundamental”, explica Raquel Marques, responsável pelo Instituto Social Sotreq.

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