Nas próximas décadas, é quase certo o advento de uma severa escassez de recursos minerais em terra, uma perspectiva sombria que vem estimulando a procura por riquezas em outras fontes aparentemente insólitas, como o fundo dos oceanos. Os esforços precursores da derradeira fronteira de extração mineral envolvem territórios como Alasca, Chile, Argentina, Rússia, Nova Zelândia, Namíbia, Papua Nova Guiné, Japão e outros retardatários, como o Brasil.
No Brasil, nos últimos quatro anos o governo federal investiu R$ 70 milhões nesse setor. No quadriênio anterior, o aporte foi menos da metade disso. Esses investimentos aplicados pelo Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia têm financiado projetos para inferir os tipos de minérios existentes no subsolo dos nossos mares (confira mapa na pág. 18). Mas ainda não há qualquer extração e, tampouco, a confirmação dos tipos de jazidas mapeadas. “Ainda estamos aperfeiçoando as pesquisas”, confirma Roberto Ventura Santos, diretor de geologia e recursos minerais do CPRM, em apresentação no Congresso Anual do
Nas próximas décadas, é quase certo o advento de uma severa escassez de recursos minerais em terra, uma perspectiva sombria que vem estimulando a procura por riquezas em outras fontes aparentemente insólitas, como o fundo dos oceanos. Os esforços precursores da derradeira fronteira de extração mineral envolvem territórios como Alasca, Chile, Argentina, Rússia, Nova Zelândia, Namíbia, Papua Nova Guiné, Japão e outros retardatários, como o Brasil.
No Brasil, nos últimos quatro anos o governo federal investiu R$ 70 milhões nesse setor. No quadriênio anterior, o aporte foi menos da metade disso. Esses investimentos aplicados pelo Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia têm financiado projetos para inferir os tipos de minérios existentes no subsolo dos nossos mares (confira mapa na pág. 18). Mas ainda não há qualquer extração e, tampouco, a confirmação dos tipos de jazidas mapeadas. “Ainda estamos aperfeiçoando as pesquisas”, confirma Roberto Ventura Santos, diretor de geologia e recursos minerais do CPRM, em apresentação no Congresso Anual do Underwater Mining Institute (UMI), evento realizado no Rio de Janeiro em outubro do ano passado.
Segundo o especialista, sabe-se que a costa brasileira apresenta muita areia carbonática com agregados ricos em fosfato, além de crostas de ferro manganês em águas mais profundas e algumas concentrações pontuais de cobalto. “Acreditamos que essa é a mineração do futuro para o Brasil, pois ainda contamos com grandes reservas minerais em terra e a serem exploradas, mas com valor reconhecidamente menor, como é o caso do manganês em Carajás”, diz ele. “Por isso, é estratégico obtermos maior conhecimento das riquezas de nossa costa.”
POTENCIAL
No país, os exemplos mais bem-sucedidos até o momento são os arquipélagos de São Pedro e São Paulo e o Continente Submerso do Alto do Rio Grande. Ambos estão localizados em águas profundas e, apesar de possuírem geologias diferentes, demonstram grande potencial de pesquisa e extração de materiais metálicos e não-metálicos. “Conforme avançam as pesquisas, torna-se mais evidente a abundância de materiais não-metálicos, como o fosfato e o potássio”, diz Carlos Augusto Fonseca, gerente de Unidade Operacional de Instrumentação Oceanográfica da CP+ (prestadora de serviços para pesquisas oceanográficas e que também atende ao CPRM).
A observação do especialista é fundamentada no potencial econômico desses materiais, utilizados principalmente na produção de fertilizantes agrícolas. “A agricultura brasileira já sofre com a escassez de fertilizantes e, por isso, mapear outras fontes de matéria-prima é realmente fundamental para a nossa economia”, complementa Marcelo Bacci, presidente da empresa. “A provável presença desses materiais é um indício interessante, mas daí para a extração há um longo caminho a ser percorrido, que começa pela viabilidade econômica da operação”, diz.
Segundo Ventura, do CPRM, a presença de tecnologia nacional é um fator central e o avanço nas pesquisas visa justamente a fomentar essa cadeia. “O acesso à tecnologia vem melhorando, mas temos diversos entraves para o desenvolvimento de soluções nacionais”, diz ele. “A importação de peças para montar uma tecnologia local, por exemplo, é complicada e demorada, o que inviabiliza o custo de produção e desfavorece o competidor nacional.”
TESOUROS
Enquanto o país ainda engatinha nas fases de pesquisas, outros locais no mundo já usufruem ativamente das vantagens das reservas minerais submarinas. E não se trata da mítica Atlântida, descrita por Platão nos diálogos “Timeu” e “Crítias”, no século IV a.C. Nas Ilhas Cook, um arquipélago localizado ao sul do Pacífico, entre a Nova Zelândia e o Havaí, foi mapeada a existência de 10 bilhões de toneladas de nódulos de manganês no fundo do mar da sua Zona Econômica Exclusiva.
Privilegiada, a região também contém níquel, titânio, cobre, cobalto e minérios raros utilizados em eletrônicos. Se forem devidamente explorados, esses materiais podem render dezenas de bilhões de dólares para a economia do país. Até por isso, em entrevista ao jornal inglês The Guardian, o Ministro das Finanças do país (de apenas 14 mil habitantes) afirmou que, com essa descoberta, as Ilhas Cook podem se tornar no futuro uma das nações mais ricas do mundo em índices de PIB per capita.
Segundo James Hein, pesquisador sênior do Centro de Ciências Marinhas do Pacífico dos Estados Unidos, os nódulos de manganês encontrados em 700 pontos das Ilhas Cook estão depositados em argila vermelha – no fundo do oceano – e possuem de 2 a 10 cm em diâmetro. “Aproximadamente 25% da área estudada serão passíveis de mineração”, afirma ele.
Para explorar os recursos da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) nas Ilhas Cook, o governo local está negociando com diversas mineradoras para fornecer licenciamento, incluindo empresas da China, Coreia do Sul, Japão e Noruega. Os primeiros direitos devem ser entregues antes de junho de 2014.
Antes disso, a primeira companhia a explorar as Ilhas Cook foi a UK Seabed Resources, em 1970. A companhia é uma subsidiária da Lockheed, desenvolvedora norte-americana de tecnologias militares. Não coincidentemente, a empresa utilizou equipamentos de projetos bélicos e de espionagem adaptados para explorar uma área de 58 mil km² de solo oceânico no Pacífico, garantidos ao Reino Unido pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, um corpo regulatório criado pelas Nações Unidas.
Realizada há mais de 40 anos, até hoje essa experiência rende frutos para o Reino Unido. Afinal, segundo o primeiro-ministro britânico, David Cameron, a indústria de mineração submarina ainda pode render mais de R$ 140 bilhões para a economia local. “Estamos envolvidos em uma corrida global e precisamos competir com as potências econômicas emergentes do Sul e Leste”, afirma Cameron.
ELDORADO
Dividida politicamente entre o Chile e a Argentina, a Terra do Fogo é historicamente marcada pela exploração do ouro em águas rasas, pelo menos desde a virada para o século XX. Localizada ao sul do estreito de Magalhães, a região possui uma ilha principal com 48 mil km² de extensão. A área ainda é atravessada pelo Canal de Beagle, que se encontra com o arquipélago da Baía de Nassau. Devido à erosão glacial, o ouro da região acabou sedimentado nas praias e águas rasas. Essa descoberta causou, entre 1883 e 1906, um “rush” de garimpeiros na região, principalmente de mineradores chilenos, argentinos e europeus.
Evidências encontradas nas praias mostram que diferentes técnicas e equipamentos foram utilizados para extrair o ouro, tais como máquinas hidroelétricas de bombeamento, baldes de dragagem, enxadas e plantas de lavagem. A dragagem contou com a produção mecânica de grandes empresas, principalmente na Ilha de Lennox, ao sul do Canal de Beagle. Fotos da época mostram plantas de grande escala produtiva para processar o ouro extraído.
No início da década de 1990, a Anglo American – mineradora na época licenciada para explorar a região – coletou mais de 1.400 amostras de areia escura (rica em minérios), a uma densidade de 1,1 km² por amostra. Algumas consistiam ainda de 25 subamostras, retiradas por caçambas clamshell.
O resultado obtido pelas amostras do Estreito de Magalhães mostrou que mais de 90% do material continham ouro. A maior densidade descoberta foi de 734 mg/m³, em um volume de 1,6 mil l. Além disso, 60% do granulado de ouro encontrado têm mais de 2 mm de diâmetro. Em outra área de coleta, na Bahia de Nassau, 382 amostras compostas apresentaram uma concentração de 286 mg/m³ em um volume de 1,3 mil l.
Em ambos os casos, a penetração das caçambas clamshell foi de apenas 24 a 25 cm de profundidade, enquanto em outra região de destaque em mineração off-shore de ouro, Nome, no Alasca, foi preciso penetrar 190 cm para encontrar uma densidade máxima de 445 mg/m³ por 1,5 mil l de amostra. Ou seja, a Terra do Fogo mostrou-se com maior potencial lucrativo em comparação a outro caso de sucesso (mesmo considerando que, historicamente, a produção de ouro em Nome foi muito maior).
BÁLTICO
Rico em minérios, o Golfo da Finlândia, no Mar Báltico, apresenta uma grande concentração de nódulos de ferro-manganês, importante insumo na composição de fertilizantes, solventes, catalisadores e ração animal. Algumas áreas, como a porção que banha a costa russa, estão sendo exploradas desde a década de 1990. De acordo com Georgy Cherkashov, pesquisador do Instituto de Pesquisas Científicas Russas em Geologia e Recursos Minerais Oceânicos (VNIIOkeangeologica), cerca de 20% a 30% da ZEE russa na região provaram ter nódulos no solo marítimo em profundidades de 6 a 85 metros.
Em 1990, teve inicio o estudo e mapeamento da região, mas apenas dez anos depois foi realizado o primeiro teste de mineração, com a retirada de 1,8 mil t de minério. Em 2004, foi concedido o direito de mineração em quatro depósitos do local, recuperando mais de 90 mil t de minérios. No entanto, as atividades se encerraram no ano de 2008 e a licença foi revogada pelo governo.
Após a exploração, foi constatada que a concentração dos minérios no solo marítimo apresentou uma média de 25 kg/m², com nódulos de 0,5 a 4 cm. Estima-se que as reservas totais cheguem a 10 milhões de toneladas de nódulos secos (após secagem), volume que pode ser dobrado dependendo do avanço das técnicas de extração.
ILHA INABITADA POSSUI RESERVAS DE OURO PRÓXIMAS À PRAIA
Na América do Sul, um caso interessante foi apresentado no Congresso Anual do Underwater Mining Institute por Richard Garnett, pesquisador da Minera Mares Australes. Trata-se da Ilha de Lennox, com 170 km² de território inabitado localizada no extremo sul do Chile.
Segundo o especialista, em 1982 um grupo de garimpeiros passou 27 dias escavando o local e conseguiu recuperar 115 kg de ouro na praia de Caleta Del Oro (Baía do Ouro), percorrendo até 2 km de terra. Posteriormente, um estudo de amostras revelou quantidades significativas de ouro nos penhascos em torno da praia (de 216 a 276 mg/m³), bem como ouro proveniente de dois rios que desaguam no mar, o Cascada e o Pirquineros. Por conta da erosão dos penhascos, grande parte das partículas de ouro foi trazida pelas águas até o mar, onde ficou depositada em uma área distante de 10 a 20 m da praia.
Anteriormente, a mineração na Terra do Fogo ficara parada desde o início do século XX em decorrência de diversos fatores. Entre eles, a intensa imigração dos garimpeiros para o Alasca, onde novas oportunidades estavam aparecendo para mineração de ouro. A inauguração do Canal do Panamá, em 1914, também contribuiu para o êxodo, pois deslocou o tráfego marítimo da região, gerando dificuldades no transporte. No mesmo período, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiu e trouxe os conflitos até a Baía de Nassau. Além disso, o fornecimento dos equipamentos provenientes de minas chilenas de carvão cessou durante a guerra. Por fim, os conflitos fronteiriços entre o Chile e a Argentina dificultaram a operação no local.
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