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Os possíveis efeitos da crise da Evergrande

Análise da Ex Ante Consultoria Econômica feita por solicitação da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração) para esclarecimento e orientação ao mercado

Sobratema

22/09/2021 11h00 | Atualizada em 24/09/2021 12h52

Por Andrea Câmara Bandeira

Ganhou destaque nesta semana a situação financeira da segunda maior empresa do setor imobiliário chinês, a Evergrande Real Estate, fundada em 1996 e responsável por centenas de projetos em andamento no país e pela geração de um número considerável de empregos.

Com uma dívida de pouco mais de US$ 300 bilhões, a empresa tem tido recentemente dificuldades de honrar compromissos, alimentando o receio de calote, seguido de falência, com repercussões financeiras importantes, bem como com implicações para o setor imobiliário do país. Segundo o notici&aac

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Por Andrea Câmara Bandeira

Ganhou destaque nesta semana a situação financeira da segunda maior empresa do setor imobiliário chinês, a Evergrande Real Estate, fundada em 1996 e responsável por centenas de projetos em andamento no país e pela geração de um número considerável de empregos.

Com uma dívida de pouco mais de US$ 300 bilhões, a empresa tem tido recentemente dificuldades de honrar compromissos, alimentando o receio de calote, seguido de falência, com repercussões financeiras importantes, bem como com implicações para o setor imobiliário do país. Segundo o noticiário, US$ 125 bilhões corresponderiam a dívidas escrituradas de curto prazo, sendo que a disponibilidade de caixa não chegaria a US$ 15 bilhões.

Apesar da reação negativa dos mercados de ações em diversos países, a avaliação geral parece apontar para uma solução organizada. Isso porque as dificuldades financeiras da Evergrande se relacionam, em grande medida, com a reorientação regulatória iniciada ainda no segundo semestre de 2020 pelo governo chinês, com o objetivo de conter o endividamento excessivo das incorporadoras, com medidas restritivas que abarcaram tanto a oferta quanto a demanda do mercado imobiliário, afetando, com isso, a geração de caixa das incorporadoras.

Como a Evergrande era uma das mais endividadas, suas dificuldades ficaram mais evidentes.

Assim, a expectativa de muitos agentes e analistas é de que não ocorra um colapso financeiro descontrolado da empresa, mas sim um acordo entre a Evergrande e seus credores para reestruturação da dívida da empresa, com a liderança ou não do governo chinês. O envolvimento do governo em um plano como esse segue em aberto até o momento, o que tem contribuído para os temores dos agentes nos últimos dias.

Como a falência de uma empresa do porte da Evergrande teria repercussões econômicas importantes, muitos acreditam que o governo se envolverá na questão, principalmente para a conter a propagação da insolvência da empresa a proprietários de imóveis, investidores, empresas associadas e outras incorporadoras imobiliárias.

Por outro lado, há analistas que acreditam que o governo chinês pode não intervir, fazendo da empresa um “exemplo” para as demais incorporadoras, de que as mudanças e restrições regulatórias de 2020 para reduzir as dívidas e a alavancagem do setor valem para todas.

Nesse contexto, os efeitos da crise financeira da Evergrande para a economia brasileira dependerão (i) do encaminhamento de uma solução organizada (reestruturação negociada da dívida) ou não e (ii) do consequente impacto sobre o ritmo de crescimento da economia da China e da duração desse impacto, isto é, se este ficaria concentrado no curto prazo. O setor chave é o da construção civil, cujo peso na economia chinesa é muito relevante (superior a 10% PIB).

Grande consumidor de produtos siderúrgicos (relevante para a demanda chinesa por minério de ferro) e grande empregador, os impactos sobre o setor da construção podem ter repercussões relevantes para o ritmo de crescimento economia do país, com desdobramentos para os mercados de commodities, dada a relevância da demanda chinesa por esses produtos, para os mercados financeiros globais e para o comércio internacional.

Assim, é possível delinear impactos diretos e impactos indiretos.

Impactos diretos:

  • Impacto negativo sobre o setor da construção civil chinês, com outras imobiliárias sofrendo os efeitos do colapso da Evergrande, o que poderia contribuir para a desaceleração do crescimento econômico do país, em particular no curto prazo.
  • O impacto acima poderia, por sua vez, afetar negativamente a demanda por commodities, em especial por minério de ferro, insumo do setor siderúrgico, e demandado em larga escala pela China.
  • De forma complementar, um crescimento mais contido da economia chinesa, ao menos no curto prazo, poderia afetar a demanda pelas demais commodities metálicas e por commodities agrícolas, tendo um efeito baixista sobre os preços desses produtos.

Impactos indiretos:

  • Esse se daria principalmente por meio do efeito sobre variáveis macroeconômicas e financeiras, notadamente o prêmio de risco e ativos financeiros. No caso brasileiro, a principal delas seria a taxa de câmbio, que poderia se desvalorizar no curto prazo em resposta a um aumento do risco global, decorrente das repercussões financeiras de um calote em larga escala da Evergrande.

Repercussões para a economia brasileira:

  • Uma desaceleração econômica substancial da China, puxada inicialmente pelo setor imobiliário, pode afetar negativamente as exportações brasileiras para o país, principalmente de minério de ferro e de produtos agrícolas, o que, combinado com algum efeito baixista sobre os preços dessas commodities, teria um efeito negativos sobre os setores do agronegócio e indústria extrativa mineral, cujas exportações para o país são bastante relevantes, particularmente em termos de participação de mercado e receitas.
  • Uma desvalorização acentuada e permanente da taxa de câmbio no Brasil poderia reforçar as pressões inflacionárias, ainda que estas possam ser atenuadas pela queda dos preços das commodities nos mercados internacionais. Nesse contexto, o Banco Central poderia ser levado a conduzir uma política monetária ainda mais restritiva do que aquela esperada atualmente, com impactos mais acentuados sobre as perspectivas de crescimento para 2022, com repercussões negativas sobre (i) o setor da construção civil, particularmente o segmento da construção residencial, e (ii) as obras públicas, no contexto de redução da arrecadação prevista em decorrência do menor crescimento econômico.
  • Finalmente, a depender do grau de desaceleração do crescimento econômico chinês e da duração dessa desaceleração, as exportações brasileiras do setor produtor de papel e celulose para a China, um dos principais destinos dos seus produtos, podem sofrer algum impacto.

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