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Fim de subsídios para bens de capital deve acentuar retração

Além da desaceleração da economia, empresas que produzem no Brasil terão que trabalhar com taxas mais elevadas nos financiamentos do BNDES para vender

DCI

13/01/2016 14h03 | Atualizada em 20/01/2016 11h25

Sem horizonte de crescimento no curto e médio prazo, a indústria de bens de capital terá que atravessar a crise econômica com mais um obstáculo: o fim dos financiamentos subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Vamos ter uma queda ainda maior da produção no país", afirma Hiroyuki Sato, diretor de assuntos tributários, relações trabalhistas e financiamentos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

O chamado Programa de Sustentação do Investimento (PSI) foi criado em meados de 2009 dentro do BNDES Finame – linha de financiamento de máquinas e equipamentos – para incentivar as vendas da indús

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Sem horizonte de crescimento no curto e médio prazo, a indústria de bens de capital terá que atravessar a crise econômica com mais um obstáculo: o fim dos financiamentos subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Vamos ter uma queda ainda maior da produção no país", afirma Hiroyuki Sato, diretor de assuntos tributários, relações trabalhistas e financiamentos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

O chamado Programa de Sustentação do Investimento (PSI) foi criado em meados de 2009 dentro do BNDES Finame – linha de financiamento de máquinas e equipamentos – para incentivar as vendas da indústria de bens de capital (ônibus, caminhões e seus implementos, máquinas agrícolas e de construção).

O pacote oferecido pelo BNDES incluía taxas pré-fixadas e condições de pagamento diferenciadas para os compradores. "Estes subsídios são necessários porque o custo do sistema financeiro é extremamente alto no Brasil, o que inviabiliza o investimento", pondera Sato.

Com algumas mudanças pelo caminho, após mais de seis anos em vigor, o governo federal anunciou o fim do programa no final do mês passado. "Recebemos a notícia com muita preocupação porque o setor já era dependente do Finame antes do PSI e acabou se tornando ainda mais", destaca.

O momento não poderia ser pior para a indústria de bens de capital, que vem acumulando perdas sucessivas. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal Produção Física, divulgada nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda em 9 dos 14 locais pesquisados foi particularmente influenciada, entre outros segmentos, pela retração em caminhões e implementos rodoviários.

Taxas variáveis

Com o fim do PSI, o Finame volta a operar pelo sistema de Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), fixada trimestralmente pelo Conselho Monetário Nacional e atrelada à taxa básica de juros (Selic), atualmente em 14,25%. "A oscilação da Selic inibe o investimento", diz.

Em meados de 2012, os juros do PSI Finame chegaram a ser "negativos", de 2,5% ao ano. Na nova modalidade, fabricantes estimam oscilação entre 14% e 16% ao ano, dependendo do porte da empresa.

Vale ressaltar que a exigência de 60% de conteúdo local para obtenção do Finame também gerou uma corrida para fabricação local, com investimentos em diversas linhas, já que o financiamento é por produto e não por empresa.

É o caso da BMCHyundai, que fabrica máquinas de construção em Itatiaia, RJ. Hoje, a empresa possui dez produtos finamizados. "O Brasil não é competitivo e este financiamento acaba servindo para cobrir essa deficiência", pondera o CEO da BMC, Felipe Cavalieri.

Ele conta que o segmento de máquinas para construção se tornou altamente dependente do PSI ao longo dos últimos anos. "Hoje, cerca de 80% das vendas de fabricantes locais são feitas pelo financiamento do BNDES", salienta o executivo.

Para a Mercedes-Benz, entretanto, o que mais prejudica o mercado é a instabilidade. A montadora afirma que as mudanças constantes das regras impedem a tomada de decisão por parte dos clientes.

O setor é um dos que mais sofre com a retração econômica, tendo amargado queda de quase 50% em 2015. E de acordo com a Mercedes, hoje cerca de 90% das vendas de caminhões no país são feitas através do Finame. Mas mesmo com a mudança para TJLP, a empresa acredita que essa proporção não deve mudar, já que as taxas praticadas por bancos comerciais ainda são maiores.

Com o fim do PSI, o diretor da Abimaq acredita que parte dos clientes deva migrar para outras modalidades como leasing (arrendamento mercantil), bancos comerciais e financiamentos dos próprios fabricantes.

Já no caso do segmento de caminhões isso não é possível, explica o dirigente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) para a área, Luiz Carlos Moraes. "O mercado é totalmente dependente do Finame. É muito difícil vender caminhões e ônibus através de outros tipos de financiamento."

Na área de máquinas agrícolas, Ana Helena de Andrade, vice-presidente da Anfavea, explica que os fabricantes também se tornaram muito dependentes do PSI. "Foi um mecanismo importante devido às taxas atraentes", conta.

Mas com o fim das condições do PSI, ela acredita que o setor voltará a usar o programa do BNDES de incentivo à aquisição de máquinas agrícolas.

"O Moderfrota caiu em desuso depois da implantação do PSI. Mas acreditamos que o setor não passará por um choque de adaptação, como outros mercados, porque o programa do BNDES para máquinas agrícolas tem taxas fixas, o que dá tranquilidade ao investidor", avalia Ana Helena.

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