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Chineses vencem Vale no Gabão

Valor Econômico

14/09/2011 10h55 | Atualizada em 14/09/2011 15h08

"Chineses batem os brasileiros; gaboneses perdem"'. É com esse título que um diplomata dos Estados Unidos detalhou a Washington em 2006 como a China ganhou da Vale o direito de exploração de uma das maiores minas de minério de ferro do mundo, no Gabão. Ele conta que a razão para os chineses ganharem o projeto faraônico, após seis meses de batalha com os brasileiros, foi uma só: o governo gabonês tinha dificuldades em dizer não a China.

O relato faz parte do pacote de 251.287 documentos diplomáticos americanos que o Wikileaks resolveu divulgar integralmente na internet desde o início do mês. O fato de o Wikileaks desta vez não ocultar a identidade das fontes causou fort

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"Chineses batem os brasileiros; gaboneses perdem"'. É com esse título que um diplomata dos Estados Unidos detalhou a Washington em 2006 como a China ganhou da Vale o direito de exploração de uma das maiores minas de minério de ferro do mundo, no Gabão. Ele conta que a razão para os chineses ganharem o projeto faraônico, após seis meses de batalha com os brasileiros, foi uma só: o governo gabonês tinha dificuldades em dizer não a China.

O relato faz parte do pacote de 251.287 documentos diplomáticos americanos que o Wikileaks resolveu divulgar integralmente na internet desde o início do mês. O fato de o Wikileaks desta vez não ocultar a identidade das fontes causou forte polêmica. O documento confidencial, datado de 6 de junho de 2006, ilustra como a China atua para garantir acesso a matérias-primas na África.

Calcula-se que a mina de Belinga tenha 1 bilhão de toneladas de reservas e possa fornecer 20 milhões de toneladas de produção da matéria-prima por ano por 20 a 25 anos. É tão remota, limítrofe a um grande parque natural, a mais de 500 quilômetros da capital Libreville, que o custo de infraestrutura sempre dificultara seu desenvolvimento.

Explorar a mina exige a construção de estrada de ferro de longa extensão, porto de águas profundas e barragem hidroelétrica para gerar energia para o local. O custo total do projeto era estimado em USS 3 bilhões.

Mas a crescente demanda por commodities, sobretudo por parte da China, mudou a análise do custo/beneficio do projeto. Em abril de 2005, o Gabão concedeu os direitos de desenvolvimento de Belinga para um consórcio formado pela Vale e pela Companhia Nacional de Maquinários e Exportação e Importação da China (CMEC).

A Vale, uma das lideres mundiais na produção de minério de ferro, obteve o direito de exploração e produção. A companhia chinesa, da área de engenharia, ficou com a construção da infraestrutura da obra.

Ocorre que a China não ficou satisfeita. No final de 2005, a CMEC voltou ao governo do Gabão exigindo para ter todo o projeto. O diplomata americano relata o que lhe contou Paul Antaki, então gerente da Vale no Gabão. O governo gabonês pediu uma contra-oferta dos brasileiros. A Vale fez oferta batendo tudo o que os chineses tinham proposto, e ainda oferecia ao governo do Gabão fatia de 5% no projeto.

Na disputa, segundo o telegrama americano, tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o presidente Hu Jintao teriam ativamente feito lobby junto ao presidente Omar Bongo em nome das companhias.

O ponto mais forte da proposta da Vale, relata o diplomata americano, era sua experiência, incluindo responsabilidade na área ambiental. Também podia estimular mais o desenvolvimento gabonês, já que a CMEC queria importar milhares de trabalhadores chineses e usar poucos produtos locais.

Mas ele admite que a superioridade técnica da companhia brasileira dificilmente poderia derrotar a força chinesa. Os vínculos entre a China e o Gabão são fortes. Pequim tem emprestado bilhões de dólares a juro barato e sem grandes exigências ao Gabão. Bongo se encontrou com cada líder chinês desde Mao Tsé-tung e sempre valorizou esses "símbolos de respeito".

Os ministros gaboneses estavam divididos. O ministro de Recursos Minerais apoiava a Vale, enquanto o das Relações Exteriores favorecia a China. O governo adiou o que pôde sua decisão. O presidente Bongo ainda teria tentado com os chineses dividir o projeto com os brasileiros. Mas a CMEC, confiando que ganharia, deixou claro que queria tudo ou nada.

Um diplomata da França, país com enorme influencia no Gabão, chegou a dizer ao americano que Paris apoiava a Vale. O diplomata americano não acreditou, lembrando artigos da imprensa apontando o contrário. A França tinha interesse em vender aviões Airbus e trens de alta velocidade para a China e apoiava discretamente a proposta chinesa no Gabão.

Paul Antaki, o gerente da Vale no país, contou ao diplomata americano que o ministro de finanças Paulo Toungui favoreceu os chineses por essa razão. Antaki teria então argumentado sobre as implicações de importação de trabalhadores chineses, ao que o ministro retrucou: "Quem se importa, gabonês não quer trabalhar mesmo".

Em maio de 2006, o governo do Gabão perguntou a Vale e a CMEC quando elas começariam a construção de infraestrutura. A Vale teria prometido começar no final de 2007, depois de estudos geológicos. A chinesa prometeu iniciar a construção um ano antes, no final mesmo de 2006, surpreendendo, já que sequer sabia a quantidade e a qualidade do minério de ferro que transportaria, por exemplo.

Em junho de 2006, o conselho de ministros do Gabão bateu o martelo e entregou o projeto aos chineses. A Vale, que já tinha obtido a concessão em 2005, podia reagir na Justiça. Mas preferiu ficar quieta, de olho em outros projetos, como manganês, no país, acredita o diplomata americano.

Em 2007, a concessão aos chineses foi assinada pelo presidente Bongo na presença de Wu Guanzheng, membro do birô político do Partido Comunista e secretário da comissão central de controle da disciplina. Entusiasmado, Bongo falou de "operação do século".

A partir daí, a companhia chinesa nunca cumpriu o que prometera. A operação foi várias vezes adiada. Em abril de 2010, depois de visita de uma delegação da Vale, o governo gabonês, num lance de audácia, sinalizou que estava pronto a rever o contrato assinado com os chineses.

Ao final de 2010, porém, a China entregou o estudo de viabilidade da exploração da mina. Mas a polêmica continua. Os chineses são acusados de não respeitar o meio ambiente e não avançar o projeto.

 

 

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