Um tour pelos pavilhões do Parc de Expositions Paris-Nord Villepinte, junto com integrantes da Missão Técnica organizada pelo SOBRATEMA
Wilson Bigarelli
Área externa de exposição: um dos pontos altos da feira
A Intermat’2000, (Exposição Internacional de Equipamentos e Técnicas para Obras Públicas e Construção), realizada entre 16 e 21 de maio, em Paris, principal feira de equipamentos do ano, confirmou as expectativas da maioria dos 1350 expositores, provenientes de 32 países, e do público estimado pelos organizadores em 190 mil visitantes. Terceiro maior evento mundial no segmento de equipamentos de construção (atrás de Bauma, na Alemanha, e aConexpo, em Las Vegas), a Intermatreuniu,nos quatro pavilhões (290 mil m2) e na arena de demonstrações com 25 m2 do Paris-Nord Villepinte. o “estadoda arte” atual em equipamentos e processos construtivos.
Um testemunho importante do que foi afeira, e o que ela representou em termosde novidades para os usuários de equipamentos do Brasil e da América Latina,pode ser dado pelos integrantes da "Missão Técnica” organizada pelaSOBRATEMA - Sociedade Brasileira deTecnologia para Equipamentos e Manutenção, e integrada por profissionais daárea,ligados a fabricantes e às principaisconstrutoras do país. ”Um evento desse porte realmente só pode ser ententidopelo usuário, que vai em busca de alguma necessidade específica em seu dia-a-dia. Para qualquer outra pessoa, sem interesse direto no setor, tudo pode parecer novidade”, diz Afonso Mamede, da áreade equipamentos da Odebrecht e presidente da SOBRATEMA.
Carlos Pimenta, diretor de Comunicaçõesda SOBRATEMA e da Intech Engenharia, lembra que a Intermat tem uma característica local, européia — diferente de Bauma, na Alemanha, que temum enfoque realmente mundial. "Isso podeser notado pela grande ênfase dada naIntermat aos equipamentos para serviços, recuperação, e manutenção, em relação aos específicos para implantação de novas obras”.
De qualquer modo, diz Pimenta, e cado europeu é tão sofisticado que e - ário brasileiro pôde ver na Interna: terminados equipamentos para nica. mercado ainda em desenvolvimcr. Brasil. ”Na minha área de atuação furação direcional horizontal, dev. uma variedade muito maior de e, mentos em relação ao que temos, nível”.
Sergio Palazzo, representante Vermeer e Gomaco no Brasil, diz que a feira refleteas expectativas do mercado europeu,mesmo porque, no geral, é uma feira de dealers(distribuidores locais) e não das fábricas. “O mercado é globalizado, mas particularidades a serem observadas".
“Um exemplo é o grande número de equipamentos de demolição, inclusive umacaçamba muito interessante com britador incorporado. A demolição pode ser uma prioridade para os europeus, mas não para nós, que ainda estamos em fase de construção”, diz Petrônio Fenelon, responsável pela divisão de equipamentos da Andrade Gutierrez.
Para ele, a feira em si foi muito boa, com equipamentos de menor porte, em relação a Bauma e a Conexpo, mas com todos os segmentos bem representados”. O que mais lhe chamou a atenção foi o avanço do movimento de fusões e aquisições entre empresas. Uma tendência mais uma vez confirmada durante a Intermat. Exemplos: a Wirtgen comprou a Hamm, a Caterpillar comprou a Bitelli, a New Holland e a Case mostram que realmente passaram a caminhar juntas e a Demag passou a ser controlada pela Siemens/ Bosch. Mas isso é bom para o usuário?
O próprio Fenelon responde: “depende de onde você estiver. Na Europa ou nos Estados Unidos, talvez diminua o leque de opções. Mas para nós, na América Latina, pode ser um ótimo negócio. Eu, por exemplo, gostaria de poder contar com as pavimentadoras Bitelli, com o suporte de toda a rede Caterpillar”.
Afonso Mamede considera o processo de fusões positivo em qualquer caso, já que os fabricantes, juntos, podem ganhar escala e oferecer melhores condições aos usuários. Jader Fraga dos Santos, superintendente da Constran e diretor técnico da SOBRATEMA, também acredita que esse processo deve resultar em melhores condições de financiamento e maior suporte ao usuário. “Esses são os verdadeiros diferenciais, já que todos equipamentos tendem a tornar-se tecnologicamente símilares”.
Para ele, o ponto alto da feira foram as apresentações na área externa de demonstrações e a visita que os profissionais brasileiros fizeram às obras de ampliação do Aeroporto Charles de Gaulle. Muito mais que nos pavilhões internos, que considerou mal sinalizados e nos stands, onde todos tinham que identificar-se para conseguir um simples catálogo, nessas duas ocasiões sentiu-se à vontade como profissional da área de equipamentos. ”Na obra do aeroporto, o empreiteiro instalou um dispositivo na acabadora, que dispensa o uso do espargidor na aplicação de emulsão ligante. Eles também adaptaram uma caçamba articulada em um trator agrícola, uma solução mais barata e ágil em relação a um dumper convencional”.
Para Rui Toniollo, diretor da Toniollo Busnelo, a Intermat é uma oportunidade para se “botar o pescoço para fora”, e saber o que existe no exterior, em caso de necessidade. “Éimportante inclusive para melhorarmos a nossa auto-estima, ao ver que não estamos tão defasados assim. Me chamou a atenção, por exemplo, a grande diversidade de fresadores de asfalto, com tambores de vários tipos e bits de desgaste melhores, e dois equipamentos na minha especialidade, que é a execução de túneis: os jumbos da Tamrock, maiores, e com martelo hidráulico de maior potência e rendimento, e as escavadeiras para túneis, com basculamento lateral”.
Público estimado pelos organizadores: 190.000 visitantes
Para Lédio Augusto Vidotti, da Camargo Corrêa, as maiores novidades em uma feira do porte da Intermat geralmente estão nos detalhes de um ou outro equipamento. O que mais lhe chamou a atenção, por exemplo, foi uma caçamba de basculamento da Bennes Guilhaulme. “Em formato tipo meia cana, feita todo em aço especial e com um peso próprio muito menor que as convencionais, ela parece ser ideal para carga de rocha”. Gervásio Edson Magno, gerente de manutenção e equipamentos da Queiroz Galvão, no Rio de Janeiro, também prefere destacar equipamentos mais simples, mas extremamente úteis em seu dia-dia. Ele cita, por exemplo, um rolo rebocado por um trator agrícola e uma máquina de armação de ferragens. ”Nós já temos essa máquina, que é coreana, e na Intermat eu tive oportunidade de retomar o contato com os representantes da fábrica”. Outro aspecto que chamou a atenção dos brasileiros foi o grande número de máquinas compactas e a grande variedade de acessórios. O caso mais curioso era o de uma mini-carregadeira, que poderia ser transformada numa mini-patrol, para ma-nutenção de pátio.
Pavimentação
A pavimentação parece ter sido mesmo uma das principais áreas de interesse de Petrônio Fenelon, da Andrade Gutierrez. “Fica nítido o maior rigor da escola européia em matéria de pavimentação. Isso pode ser percebido até pela
qualidade das emendas nas avenidas e no próprio aeroporto de Paris. Talvez por isso, a maioria dos equipamentos apresentados contem com elevado poder de compactação incorporados. Uma acabadora com a apresentada pela Blow
Know, que faz 12 m de largura, também era algo impensável há alguns anos atrás”.
Também chamaram a sua atenção os novos jumbos da Tamrock, com sistema eletrônico de perfuração, com correção automática de direcionamento, e uma caçamba com um segundo sistema hidráulico, em exposição no stand da Caterpillar, que despeja mais alto, sem perder carga de tombamento.
Integrantes da Missão Técnica da SOBRATEMA
Na parte de usinas, o destaque foi a KMA, para todos os tipos de misturas a frio e de asfalto com espuma (foam betumen) — asfalto quente, água e ar comprimido. ”Esse processo é uma alternativa mais barata do que a emulsão na produção de bases".
Cláudio Schimdt, da Camargo Corrêa, foi um dos profissionais designados pela empresa para prospectar novas tecnologias de pavimentação. Ele gostou do sistema de controle de pavimentação incorporado aos rolos compactadores da Svedala. Trata-se de um sistema eletrônico que permite visualizar em um monitor na cabine o posicionamento do equipamento por GPS (o local exato da compactação com precisão de centímetros), o número de passadas do rolo e a temperatura. O sistema também emite um relatório que pode servir para a própria medição do trabalho. É um sistema opcional, que pode ser incorporado nos rolos tipo CC 422 e CC 522. “ É interessante, mas pode ser ainda aprimorado. Ele poderia também determinar o grau de compactação, uma informação que pode ser obtida externamente, mas não está integrada ao sistema computadorizado”.
Paulo Almeida, diretor da área de pavimentação da Svedala na América Latina, garante que o grupo está atento às expectativas dos usuários. Ele cita, como exemplo, a pavimentadora F7W, com larguras de 1,5 a 4,5 m e peso operacional de 10 t e potência de 54KW/73HP. “É uma máquina compacta que oferece as mesmas condições de uma máquina de maior porte”. Outra novidade, também apresentada na Intermat, é a PL 2000 S. Uma fresadora e recicladora para recuperação de pavimentos com largura de 2 a 2,1 m. “Dois protótipos foram testados em condições reais de trabalho durante dois anos pela Dynapac sueca”.
Aglemon Ribeiro, da Emparsanco, do Rio Grande do Sul, que também integrou a Missão Técnica da SOBRATEMA, no entanto, preferiu um outro modelo, a Vogele 1603 e já está providenciando a importação através da Ciber Wirtgen. ”Ele já conhecia a máquina através de catálogos, mas queria conferir in loco e saber mais detalhes do seu elevado poder de compactação”, diz Clauci Mortari, diretor comercial da Ciber Wirtgen.
Luís Carlos de Andrade Furtado, da C.RAlmeida. Engenharia e Construções, foi à feira para conferir as novidades nas áreas de pavimentação e guindastes. A empresa — depois de definir um pacote de equipamentos (R$60 milhões), incluindojumbos da Atlas Copco, caminhõesMercedes Benz, e bombas Aliva ePutzmeister e guindastes para as obrasdo novo trecho da Imigrantes - estudanovos investimentos para as equipe deasfalto de manutenção do próprio sistemaAnchieta/Imigrantes, e de Curitiba/Paranaguá e o Pólo de Pelotas. "Paratrazer o melhor resultado possível para a construtora e para as concessionáriastemos que contar com tecnologia de pontae isso eu encontrei nos stands da Vogele eda Dynapac.
Furtado lembra, no entanto, que as novas tecnologias só são viáveis, quando acompanhadas de suporte e treinamento depessoal e por isso diz ter uma grande expectativa em relação ao Congresso daSOBRATEMA e as ações da entidade nesse sentido.
Furtado também dedicou parte dotempo às escavadeiras, principalmente daCaterpillar e Liebherr. Ficou satisfeito
em saber que a Liebherr pretende fabricar a R924, de 25 t, no Brasil. “Já temos duasimportadas. Émais resistente principalmente para rocha e conta com sistema de proteção de lubrificação”.
Concretagem
Murilo Trevisan, responsável por equipamentos nas obras da hidrelétrica de Lajeado pela Odebrecht e Enio Tack, da CBPO/Odebrecht, responsável pelo programa equipamentos nas obras de Itá, embora considerem que, em termos de terraplenagem e britagem, tenham sido apresentadas poucas novidades em relação à Conexpo, eles destacam os equipamentos de última geração para a produção de concreto.
Em particular, os sistemas de dobra e imarração do aço computadorizados (ou seja, o formato desejado é definido por AutoCAD) e os misturadores horizontais e verticais. “Os misturadores horizontais também estão chegando agora ao Brasil, assim como as formas especiais. Uma das centrais (das obras da Hidrelétrica) de Lajeado já tem dois misturadores de eixos verticais e está tudo caminhando para que as concreteiras venham a usar misturadores horizontais”, diz Murilo Trevisan.
Para ele, o concreto produzido em misturadores ganha em qualidade, com melhor envolvimento, e é possível trabalhar melhor o seu traço. Além disso, o controle local gera maior economia de cimento.
A tendência, segundo ele, é a adoção de tecnologia com padrão BHS Sonthofen (Usurtec). A Odebrecht, aliás, já tem nas obras de Canabrava duas centrais Swing Stetter com o misturador BHS, com seis pás em posições diferentes. “O passo seguinte (tendência européia que a Lafarge está introduzindo no Brasil) é o misturador horizontal de alta velocidade com sete braços, com um motor hidráulico para cada braço”, acrescenta Murilo Trevisan.
Os misturadores, tanto verticais quanto horizontais, também foram destacados no stand da Liebherr. Hitoshi Honda, gerente comercial da Liebherr, também acredita que eles possam ser uma alternativa para grandes obras e podem vir a ser adotados também pelas concreteiras brasileiras - que até hoje tem preferido a configuração central dosadora e caminhão betoneira. A Liebherr, segundo ele, desenvolveu misturadores de 0,5 a 3 m3 por ciclo, que já estão sendo utilizados no Brasil, por exemplo, pela DM Engenharia, de Curitiba. “Outras novidades nessa área apresentadas na Intermat é o sistema de limpeza de alta pressão para uso nesses misturadores e equipamentos recicladores auxiliares para recuperação de material e água quando da lavagem de betoneiras”.
Ainda na área de concretagem, Diomar Martins, da Caiobá Equipamentos, prestadora de serviços de bombeamento de concreto, diz que o seu maior interesse foram as bombas de grande alcance e maior capacidade. Ele, no entanto, se considera atualizado em relação aos equipamentos vistos na feira. Mesmo porque a Caiobá trabalha com a maior bomba (tanto em alcance, quanto em metragem cúbica hora), com capacidade de 120 m3h de lança e alcance de 36 m, da Putzmeister, adquirida na M&T EXPO.
Guindastes
Um lançamento bastante elogiado pelos brasileiros presentes foi o novo guindaste Manitowoc. De Paulo Bertazzi, representante da marca no Brasil, através da Geomax, a usuários tradicionais como Fernando Rodrigues, da Makro Engenharia, do Ceará e Roberto Lourenção, da Lourenção Cranes, de São Paulo, todos foram unânimes em afirmar que Manitowok 999 representa um novo marco no segmento de equipamentos.
“A Manitook diversificou mais ainda a linha, com equipamentos de 100 a 1.000 t. Antes era mais enfocada no mercado americano. Agora, já há alguns anos, vem desenvolvendo equipamentos sobre 8 esteiras menores (ao invés de apenas 2, grandes e pesadas). Elas cobrem uma área maior, com menor peso sobre o solo e podem ser transportadas por carretas. O tempo de montagem também é menor”, resume Roberto Lourenção.
“A largura de fora a fora das esteiras foi reduzida de 3,4 para 3 m. Praticamente todos ganharam peças intercambiáveis e melhores condições de serem transportados, um dos pontos críticos da operação. Com novos complementos (jibs, por exemplo) você pode ganhar mais altura e acesso”, acrescenta Fernando Rodrigues.
Lourenção estranhou a ausência da Terex Crane, grupo norte-americano que adquiriu grandes marcas internacionais nos últimos anos (P&H, Lorain, American e a própria francesa PPM, a Peiner alemã, etc). Representada pela M&D Mood, na feira. “A Terex associou o melhor da P&H e da Lorain e passou a oferecer guindastes hidráulicos, telescópicos e de alta tecnologia, na faixa de 25 a 130 t, melhores, mais atualizadas e de menor custo operacional”. Infelizmente, eles ainda estão muito focados no mercado norte-americano, que consome quase toda a produção. A própria PPM, que pertence ao grupo e fica a 2 horas de carro daqui da Intermat não participou da exposição, pois está vendendo toda a sua produção para o mercado norte-americano”. Rodrigues, que é o maior frotista Liebherr no Nordeste, também elogiou o novo modelo para 60 m da marca com plano de jib computadorizado, e na mesma família de telescópicos, o guindaste de 100 t lançado pela Demag, que passará a usar a denominação Dematic na área de engenharia do grupo Siemens/ Bosch. “Ele passa a atender uma faixa muito interessante e com maior capacidade de deslocamento. A principal vantagem é que foram usadas extensivamente ligas mais leves em sua construção, permitindo que ele trafegue em condições normais pelas estradas. Basta dizer que, com 13 t de contrapeso, ele apresenta 12 t por eixo”, explica Paulo B. Freire, da Demag.