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Revista M&T - Ed.209 - Fevereiro 2017
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Aterros

Soluções ecológicas para os resíduos

Considerados uma solução ambientalmente correta para a destinação de resíduos, aterros sanitários ganham em longevidade com uma compactação massiva e uso dos equipamentos certos
Por Santelmo Camilo

A destinação de resíduos é um problema que o Brasil ainda não conseguiu resolver. Enquanto as cidades tentam viabilizar aterros sanitários, os lixões continuam sendo local de descarte e assim devem permanecer até meados de 2021, segundo o projeto de lei 2289/ 2015 em tramitação na Câmara dos Deputados, que prorroga o prazo para os municípios se adequarem à destinação ambientalmente correta dos rejeitos. Na prática, isso representa um salvo-conduto para os resíduos continuarem a ser despejados a céu aberto, em locais sem proteção do solo, colocando em risco o meio ambiente e as condições sanitárias.

Os lixões já deveriam ter sido extintos em 2014, conforme determinado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. A situação piora com o aumento da quantidade de resíduos gerados pela população brasileira, que de 2014 a 2015 passou de 78,6 para 79,9 milhões de t. Os dados são da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e surpreendem por terem sido obtidos num período em que o país já atravessava um período de crise econômic


A destinação de resíduos é um problema que o Brasil ainda não conseguiu resolver. Enquanto as cidades tentam viabilizar aterros sanitários, os lixões continuam sendo local de descarte e assim devem permanecer até meados de 2021, segundo o projeto de lei 2289/ 2015 em tramitação na Câmara dos Deputados, que prorroga o prazo para os municípios se adequarem à destinação ambientalmente correta dos rejeitos. Na prática, isso representa um salvo-conduto para os resíduos continuarem a ser despejados a céu aberto, em locais sem proteção do solo, colocando em risco o meio ambiente e as condições sanitárias.

Os lixões já deveriam ter sido extintos em 2014, conforme determinado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. A situação piora com o aumento da quantidade de resíduos gerados pela população brasileira, que de 2014 a 2015 passou de 78,6 para 79,9 milhões de t. Os dados são da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e surpreendem por terem sido obtidos num período em que o país já atravessava um período de crise econômica.

A maneira sustentável de lidar com esse problema seria reduzir a geração de resíduos e planejar uma coleta seletiva eficiente, de forma que vá para os aterros sanitários – e nunca para lixões – somente o rejeito, o lixo que realmente não faz parte da cadeia da reciclagem. Ao contrário dos lixões, os aterros sanitários são atualmente a saída ambientalmente correta para a destinação dos resíduos, com solo impermeabilizado para evitar que o chorume gerado pela decomposição do lixo atinja o lençol freático.

O local tem estrutura apropriada para receber o lixo, confiná-lo sob camadas de terra compactada e transformá-lo em matéria orgânica (chorume e gás metano). “O aterro é terraplenado, compactado, recebe uma camada fina de pedra, impermeabilizante e lona”, explica Gleidson Gonzaga, especialista de produto da Case CE, que fornece para o segmento o modelo de trator de esteiras 2050M, lançado no Brasil no ano passado. “Somente depois desse preparo estará em condições de receber as várias camadas de lixo e terra, sendo constantemente compactado. Quando atinge determinada altura, são feitos drenos para a saída do gás metano e do chorume, que recebem destinação específica, conforme o projeto do aterro”, conta o especialista, acrescentando que, em geral, o chorume é canalizado para uma lagoa construída no local e, em seguida, segue para estações de tratamento, sendo transformado em água e utilizado para funções específicas, como contenção de poeira em estradas.

Do mesmo modo, o gás metano não deve ser solto na atmosfera sem passar por um processo de combustão e se tornar menos agressivo ao ambiente. De acordo com o engenheiro operacional do aterro sanitário da Recicle Catarinense, Galdino Eloi Savi, se for solto sem queimar, esse gás contamina 21 vezes mais. “Alguns experimentos da Universidade Federal de Santa Catarina sugerem a aplicação do metano gerado no aterro da Recicle na geração de energia, destinada ao funcionamento de aeradores da estação de tratamento do chorume”, explica.

TRANSIÇÃO

Savi acredita que o Brasil caminha para o fim dos aterros sanitários, principalmente na região de Santa Catarina, devido à dificuldade de se obter licenciamento ambiental de áreas para essa finalidade. “Com o fim dos lixões municipais, o caminho tem sido licenciar áreas para aterros regionais que atendam a diversas cidades, ou fazer consórcio intermunicipal. De modo que, daqui a 15 anos, quase não existirão aterros sanitários”, enfatiza. “Os que restarem servirão para o material orgânico, sem valor comercial atraente, sendo utilizados também incineradores, como hoje é feito em países como a Alemanha, por exemplo.”

Gonzaga, da Case, diverge dessa opinião. “O que vai se extinguir serão os lixões, para o bem da qualidade de vida e do meio ambiente. Porque até 2020, pelo menos 500 aterros sanitários devem ser construídos no Brasil”, estima, com base na necessidade de readequação dos municípios. Algumas áreas, diz ele, têm vida útil com licença para até 30 anos e as equipes de engenharia fazem várias conjecturas, baseadas na quantidade de lixo recebida. “Acredito que antes de fazer como na Alemanha, o Brasil passará por um período de transição, no qual os aterros sanitários regularizados serão a saída sustentável para a destinação dos resíduos. Daqui a 30 anos, o país estará preparado para lidar com o lixo de maneira correta e depender menos dos aterros, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido”, diz o engenheiro.

Em países como Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia e Noruega existem poucos aterros sanitários e os resíduos são incinerados. Em alguns locais, os aterros são utilizados temporariamente em caso de quebra das instalações de incineração ou para enviar as cinzas resultantes da queima. Segundo Detlev Wickert, gerente de produto de compactadores de resíduos da Bomag, alguns aterros operam com resíduos inertes na Europa. “Mas a França, o Leste e partes do Sul possuem poucas instalações de incineração, devido ao custo elevado”, explica. “Nesses locais, os resíduos vão para os aterros sanitários.”

Em razão disso, as vendas de equipamentos de aplicação específica em aterros sanitários sofreram queda. “Os países da Europa oriental continuam utilizando regularmente, porque essa região tem uma atividade intensa voltada para a gestão de resíduos”, conta Wickert. “Mas os maiores mercados para a entrada desses equipamentos são, ainda, Europa e EUA.”

EFICIÊNCIA

Na Bomag, nos últimos dois anos os países emergentes do Oriente e do continente africano foram os responsáveis pelo crescimento das vendas de compactadores para aterros. No Brasil, existe uma perspectiva de aumento do uso dos compactadores da classe de 21 a 26 t, que atualmente é inexpressivo. “Em geral, as empresas operam os aterros com tratores de esteira, que não realizam o trabalho de compactação do material”, explica Walter Rauen, CEO da Bomag Marini Latin America.

São equipamentos com aplicações e resultados totalmente diferentes, sendo que um não substitui o outro, mas algumas empresas optam pelo trator devido ao preço. “A principal característica do compactador de aterro é o poder de compactação, enquanto o trator de esteiras é projetado para empurrar material”, detalha Rauen. “Isso pode ser facilmente explicado pela área de contato com o lixo de um compactador e de um trator de esteira: enquanto o trator possui largas e longas sapatas que reduzem a pressão sobre o solo, o compactador gira sobre rodas com pontas agudas, que esmagam e compactam o lixo.”

Essas rodas têm raspadores ajustáveis entre as linhas de pontas, que fazem a autolimpeza. Dessa forma, ao manter as rodas limpas, o equipamento também mantém a tração e o grau de compactação. Além disso, a produtividade na compactação – medida em t/m³ – faz a diferença. É o que ocorre na Recicle Catarinense, que utiliza um compactador de 32 t da Bomag. Em termos de custo operacional, a solução consome o dobro de combustível de um trator de esteiras de 17 t (que nessa atividade gasta menos quando comparado com terraplenagem, por exemplo, por trabalhar com carga aquém do limite em material desagregado). Porém, enquanto um trator compacta 800 kg/m³, o rolo pode chegar a 1.200 kg/m³, fazendo a diferença em aterros de grande porte.

Outra diferença está na durabilidade das rodas desses compactadores, compostas por aço Premium e projetadas para durar até 10 mil horas, enquanto o rodante do trator tem vida útil mais reduzida. Para Savi, a única ressalva é o fato de os compactadores ainda não serem produzidos no Brasil e, assim, haver pouca capilaridade de mercado, o que acaba por atrapalhar numa emergência por peças. “Já tivemos problemas nesse sentido, contudo as vantagens em utilizar esse equipamento superaram as dificuldades e a máquina se pagou”, diz.

Savi ressalva que alguns modelos de rolos utilizados em terraplenagem também podem ser aplicados em aterros, desde que passem por algumas adaptações, como mudanças na roda e proteção da estrutura interna para evitar a entrada de resíduos, por exemplo. “O detalhe é que, muitas vezes, isso pode dobrar o preço da máquina”, diz.

PREFERÊNCIA

Gonzaga acrescenta que a técnica mais eficiente de compactação possibilita aumentar em dois terços a vida útil do aterro. “O material bem comprimido abre espaço para maior quantidade de lixo”, pontua. Não obstante, na prática isso ainda não acontece no Brasil.

Na maioria dos aterros, os caminhões desejam o lixo sobre as camadas já compactadas, enquanto os tratores de esteira espalham e compactam o material. “Em algumas operações, se o trator não consegue fazer a compactação adequada, um compactador pode ser utilizado para atingir o nível desejado”, observa Roberto Marques, líder da divisão de construção e florestal da John Deere Brasil. “Embora a densidade média do material seja baixa e a carga imposta ao trator consideravelmente inferior à de uma operação na construção, a aplicação em aterros é bastante agressiva ao equipamento. O trator está em contato constante com o lixo, que é altamente corrosivo para as esteiras.”

Os modelos da John Deere mais utilizados neste tipo de aplicação são o 750J e o 850J, que possuem transmissão hidrostática avançada. Para Marques, o desaquecimento desencadeado pela crise econômica atingiu também as vendas de equipamentos para este setor, mas há boa perspectiva de crescimento nos próximos anos, “na medida em que a Política Nacional de Resíduos Sólidos avance”.

A Caterpillar também fornece equipamentos configurados para essa aplicação, como os modelos de tratores D6N, D6T e D8T, e os compactadores de aterro sanitário 816K, 826K e 836K. Mas este mercado ainda tem um largo caminho para emplacar. Para Hugo Magno, consultor de desenvolvimento de mercados da Sotreq, não há um volume considerável de compactadores de aterro sendo utilizado no Brasil, persistindo uma predileção pelos tratores de esteira no segmento. “Os tratores de esteira de fato são máquinas versáteis e capazes de empurrar e espalhar material, porém, dependendo do porte do aterro, é recomendável a utilização de compactadores, até pela alta capacidade de compactação e menor custo de manutenção, quando comparado aos tratores”, assinala.

Em virtude da necessidade do cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Magno espera um aumento nas vendas. “A tendência é que, à medida que aterros sejam construídos, a demanda por equipamentos como tratores de esteira e compactadores também cresça”, atesta.

Na New Holland, também há perspectivas de aumento da demanda, uma vez que os clientes estão renovando a frota para reduzir custos e obter maior produtividade. Com o fim dos lixões e a necessidade de aterros sanitários, o uso de equipamentos modernos e de grande porte pode crescer. “Até 2022, cerca de 2.800 cidades converterão seus lixões em aterros, aumentando a demanda para tratores modernos de maior porte”, projeta Fernando Neto, especialista de marketing de produto da New Holland Construction. “Além disso, a vida útil de um trator nessa aplicação é mais curta. Em grandes aterros são comuns jornadas de trabalho em três turnos, com os equipamentos operando em torno de 20 horas diárias, e a agressividade do ambiente gera muito desgaste abrasivo, quebra por impacto ou rompimento causado por materiais cortantes. Temos observado tratores com mais de 4.000 horas trabalhadas em apenas um ano de operação.”

A marca fornece dois modelos de tratores para o segmento – o D150B e o D180C. Neto explica que o segundo é mais procurado devido ao porte, com quase 23 t de peso operacional. “Antes do lançamento deste modelo, fornecíamos o trator D170 totalmente mecânico, que foi descontinuado em 2014, mas amplamente vendido para aterros e lixões em todo o país”, conclui o especialista.

Ambiente agressivo impõe cuidados na manutenção

Os equipamentos aplicados em aterros sanitários são vulneráveis ao chorume e materiais heterogêneos, como vergalhões de aço, plástico, resíduos orgânicos e outros. Assim, quando comparado à aplicação em terraplenagem, o desgaste das esteiras acaba sendo prematuro, principalmente porque resíduos plásticos tendem a impregnar qualquer peça em contato direto com o material. “No trator de esteiras, é preciso implantar uma rotina de limpeza, se possível lavar semanalmente, para a retirada do material acumulado, que acaba forçando as esteiras, e também fazer o reaperto dos parafusos sempre que necessário”, orienta Gleidson Gonzaga, especialista de produto da Case CE.

Na parte inferior do trator, onde há contato com o lixo, geralmente são soldadas barras de desgaste, substituídas quando necessário. Essas proteções evitam avarias como perfuração por vergalhões e contato direto do chorume com componentes internos da máquina. Segundo Fernando Neto, especialista da New Holland Construction, os materiais metálicos podem levar à quebra de componentes como roda motriz e esteiras, ou mesmo provocar cortes nas mangueiras e em outros itens de borracha. “Por isso, a parada do equipamento para limpeza e lubrificação deve ser mais frequente quando comparada a uma aplicação de terraplenagem”, comenta.

Além de barras de desgaste, Neto sugere outras proteções especiais, como raspadores laterais, frontal e traseiro, assim como coberturas metálicas nas mangueiras, grade metálica para proteção de vidros e tela de proteção de pré-filtro, para evitar a sucção de plástico e materiais em suspensão. Os especialistas recomendam ainda um acompanhamento contínuo do desgaste da lâmina e dos componentes que formam o material rodante – sapatas, elos, pinos, roletes, roda guia e comando final –, permitindo uma gestão adequada na manutenção dos equipamentos.

 

 

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