Já não é novidade para ninguém que o mercado de equipamentos para construção vem ganhando um importante impulso do setor agrícola. Nos últimos anos, com a expansão da mecanização e, consequentemente, da utilização de máquinas da Linha Amarela no campo, os fabricantes passaram a contar com uma opção substancial para a comercialização de seus produtos, justamente em um dos segmentos mais promissores da economia nacional. As estatísticas, inclusive, mostram que a agricultura já absorve 4,5% dos equipamentos de construção vendidos no mercado nacional.
No Brasil, os exemplos dessa sinergia são cada vez mais abundantes. Nos arredores de Valparaíso (SP), a 565 km da capital paulista, encontra-se um deles. Encravada na região mais importante do mundo para o cultivo de cana, a Usina Da Matta Açúcar e Álcool demonstra como o uso de tecnologias conjugadas pode favorecer a produtividade do negócio, principalmente em um cenário desafiador para o setor sucroalcooleiro como agora, reunindo na mesma operação um maquinário composto por pá carregadeira, motoniveladora, escavade
Já não é novidade para ninguém que o mercado de equipamentos para construção vem ganhando um importante impulso do setor agrícola. Nos últimos anos, com a expansão da mecanização e, consequentemente, da utilização de máquinas da Linha Amarela no campo, os fabricantes passaram a contar com uma opção substancial para a comercialização de seus produtos, justamente em um dos segmentos mais promissores da economia nacional. As estatísticas, inclusive, mostram que a agricultura já absorve 4,5% dos equipamentos de construção vendidos no mercado nacional.
No Brasil, os exemplos dessa sinergia são cada vez mais abundantes. Nos arredores de Valparaíso (SP), a 565 km da capital paulista, encontra-se um deles. Encravada na região mais importante do mundo para o cultivo de cana, a Usina Da Matta Açúcar e Álcool demonstra como o uso de tecnologias conjugadas pode favorecer a produtividade do negócio, principalmente em um cenário desafiador para o setor sucroalcooleiro como agora, reunindo na mesma operação um maquinário composto por pá carregadeira, motoniveladora, escavadeira hidráulica, tratores, colhedoras, carretas de transbordo, semirreboques e caminhões off-road.
PROJETO
Iniciativa conjunta dos grupos AGP e Brasif, a Usina Da Matta foi fundada em 2006 e abrange 29 mil hectares de área colhida, em um raio de 15 km. Além de etanol e açúcar, a Da Matta atua na geração de energia a partir de bagaço de cana e produz ainda levedura, matéria-prima totalmente exportada para outros países. No ano passado, foi inaugurada uma fábrica de açúcar na usina, com capacidade de produzir 35 mil sacas por dia.
Com 1.400 funcionários e colheita totalmente mecanizada (o plantio está em 75%, mas em breve deve chegar a 100%), a usina está em processo acelerado de crescimento – a moagem avança 8 mil hectares ao ano – e possui atualmente capacidade de esmagamento de 2,4 milhões de toneladas de cana, almejando chegar a 4 milhões de toneladas dentro de dois anos, com a implantação de nova moenda, caldeira e turbogerador, mas também de novos equipamentos e simuladores de operação.
E, nesse cenário, os ativos móveis exercem uma função primordial. “Buscamos crescer tanto na eficiência da lavoura como na indústria, ganhando escala, produtividade e melhorando a condição do senso varietal agrícola como um todo”, afirma o coordenador da usina, Newton Chucri. “Já a mecanização é obrigação de lei, pois há uma determinação que não se queime mais a cana, de modo que a Da Matta já nasceu para ser mecanizada, até para a proteção do solo e perenização da planta, obtendo seis, sete, oito cortes.”
FROTA
Diversificada, a frota de equipamentos da Usina Da Mata reúne, dentre outros, 52 equipamentos da CNH Industrial, incluindo 20 caminhões Iveco Trakker 6x4, sete pás carregadeiras 721E Canavieira, três motoniveladoras 865B e uma escavadeira hidráulica CX220B, além de colhedoras A8800 Multi-Row e tratores Case 225 Puma. Completam a frota mais 20 caminhões terceirizados e de diferentes marcas, além de carretas de transbordo e caçambas da Antoniosi e semirreboques da Randon.
Por praxe, as motoniveladoras executam atividades de manutenção de estradas, construção de curvas-de-nível e abertura de valas e valetas, além de – ao lado da escavadeira hidráulica – atuarem na drenagem, preparo e sistematização do solo destinado ao plantio, isso exclusivamente na entressafra. “A motoniveladora faz o acabamento nas ‘costas’ das curvas, permitindo a passagem da plantadeira e da colhedora”, explica José Luiz Vieira, gerente agrícola da Usina Da Matta. “E, claro, a produtividade tende a ser maior com uma área mais bem nivelada.”
Isso ocorre, porque, como enfatiza o especialista, a atividade tem um custo muito alto, sendo que só a colhedora representa aproximadamente 35% do investimento total, exigindo que a terra seja trabalhada da melhor forma possível para viabilizar sua operação em grau máximo de eficácia. Responsáveis por grande parte dos resultados, as colhedoras são capazes de realizar a colheita em mais de uma linha, com um sistema de ajuste da frente da máquina que permite colher em diferentes espaçamentos.
As pás carregadeiras realizam principalmente atividades de terraceamento, mas também abastecem as caldeiras para geração de energia e fazem a movimentação de terra, insumos e outros produtos, como adubos, corretivos de solo, bagaço de cana e açúcar.
Já os tratores recebem a cana diretamente das colhedoras e encaminham-na para o transbordo, enquanto os caminhões fazem a ligação da lavoura com o parque industrial, onde a planta é processada.
Um detalhe revelador é que, com tantas tecnologias disponíveis, a usina utiliza muito pouco o arado, que é empregado apenas em áreas declivosas – onde não se pode usar a máquina –, trechos de pasto ou com erosão e, principalmente, quando surgem pragas de solo. Nesse caso, o recurso mais usual é utilizar o subsolador canavieiro, um implemento específico para a atividade. “O nosso subsolador, inclusive, tem uma mangueirinha atrás que permite colocar o produto para controle de Migdolus fryanus, cujas larvas destroem o sistema radicular da cana”, detalha Vieira.
PRECISÃO
Ainda na toada tecnológica, a agricultura de precisão é outro aspecto que vem sendo aperfeiçoado na usina, que acaba de adquirir recursos de geoposicionamento e piloto automático, todos fornecidos pela Tracan, concessionário da Case IH em Ribeirão Preto (SP) que já disponibiliza equipamentos à usina, como tratores e colhedoras.
Cada colhedora possui um sistema de leitura de posição por satélite. Quando o transbordo termina de carregar, transfere as informações para a carreta, que por sua vez transfere para a balança. “Em toda essa estrutura já não existe papel”, diz Chucri, explicando que quando o caminhão entra na balança, os computadores de bordo georrefenciados já estão trocando informações a 150 m de distância. “Ao subir na plataforma da balança, o computador já identificou o trajeto e o número de cada conjunto de equipamentos, incluindo qual foi a máquina que colheu, o caminhão, o operador e o motorista”, descreve o coordenador.
Com os novos recursos, a meta de praticamente duplicar a capacidade de esmagamento torna-se mais plausível. “A máquina utilizada na colheita também é dotada de copiador de solo, um equipamento que faz a leitura da ondulação, de forma a manter o corte de base do toco da cana em um nível ideal”, pontua o coordenador. “Agora, vamos colocar o piloto automático, com GPS, para ler a rua, sendo que o operador apenas posiciona a máquina no talhão, fazendo praticamente sozinha o trabalho.”
MANUTENÇÃO
Com a mecanização, também surgiram dificuldades para encontrar mão de obra local, sendo que a usina tem recorrido ao material humano de outras regiões, além de instalar um simulador de operação de colhedoras. No entanto, esse gargalo já não ocorre com a manutenção das máquinas, para a qual a usina mantém uma oficina completa com cerca de duzentos profissionais, incluindo mecânicos, eletricistas, soldadores, borracheiros e outros.
Nesta estrutura, as atividades mais pesadas são realizadas na entressafra, mas devido ao ambiente de muita poeira e resíduos em que os equipamentos atuam, há uma sistemática de acompanhamento mais frequente. “Fazemos uma verificação contínua, incluindo um check-list do operador no qual as pendências da máquina são pontuadas diariamente”, explica Juliano Henrique Paduan, supervisor de manutenção da Usina Da Matta. “A partir disso, os mecânicos vão à frente de trabalho e fazem a manutenção.”
O supervisor acrescenta que a vida útil dos equipamentos oscila entre seis e sete anos, praticamente o mesmo período da safra da cana. O grosso do trabalho é realizado in loco, mas muitas vezes os técnicos são obrigados a chamar as concessionárias, principalmente para intervenções na parte eletrônica. “Fora isso, temos a manutenção preventiva, na qual a cada 150 horas uma determinada quantidade de itens é verificada no equipamento, desde a troca de óleo do motor, troca de filtro, filtro de ar, até regulagem de válvulas e limpeza de bicos de injetores”, diz Paduan. “Essa manutenção vai até 1.500 horas, que é basicamente o período de uma safra. Quando gira o ano, temos as manutenções de entressafra, quando é feito o complemento daquilo que vem sendo implantado durante o ano todo.”
Na usina, há ainda um almoxarifado próprio com peças cadastradas, discriminando o volume máximo e mínimo de acordo com o tipo de uso do equipamento. Além disso, ao lado do estoque há um espaço chamado de “Agregados”, com componentes recicláveis, para reutilização. “Existe um histórico: se um rolamento quebra a cada 80 horas, por exemplo, sei que preciso ter no máximo dez e no mínimo cinco unidades”, explica Paduan. “De acordo com esse levantamento diário, vamos colocando peças no estoque, senão o valor agregado parado fica muito grande.”
MINIRREVISÃO
Ainda para aumentar a disponibilidade das máquinas, a Da Matta vem introduzindo um procedimento um pouco diferente. “Temos um projeto de preventivas chamado ‘minirrevisão’, em que se traz o equipamento para dentro da oficina a cada 600 horas e se realiza uma revisão equivalente a do final de entressafra, com o objetivo de chegar à próxima entressafra com trabalho e custo menores que antes”, detalha Paduan.
A oficina realiza qualquer tipo de intervenção. Em geral, é feita a troca de óleo, verificação de chassi e de toda a parte de caldeiraria e rolos, verificando se há trincas. No material rodante, em caso de desgaste, é feito o giro. “Manter o controle do contexto total da máquina é o mais importante”, diz o supervisor. “Numa colhedora, por exemplo, quando quebra uma engrenagem da caixa de corte de base, você leva para o estoque, abre e coloca as engrenagens. Com isso, não se compra a peça inteira, pois é cara.”
Já um motor Char-lynn (que equipa as colhedoras) danificado e com perda de vazão deve ser levado para a oficina de agregados, desmontado, reparado e deixado na prateleira. “Depois disso, está pronto para voltar à lavoura”, finaliza o especialista.
CNH Industrial atua nas duas frentes
No Brasil, a CNH Industrial é um dos players mais atentos ao crescimento do uso de máquinas de construção no campo. Além de produzir caminhões Iveco e motores FTP, o grupo atua nas duas frentes com produção local de equipamentos. Na Case CE, uma das duas marcas do grupo voltadas para a construção (a outra é a New Holland Construction), o índice de produtos direcionados ao agronegócio já chega a 6,5% da produção, o que lhe garante 24% de market share no segmento. “Hoje, não há fazenda ou usina que não demande uma máquina de construção, seja nas operações mais corriqueiras ou na produção”, destaca o gerente de marketing da Case CE, Carlos França.
Para o grupo, aliás, a tendência é amplamente favorável, uma vez que possui fábrica no país para os dois segmentos, incluindo uma unidade da Case CE em Contagem (MG) que é fonte global de motoniveladoras e outra da Case IH em Piracicaba (SP), plataforma mundial de colhedoras de cana. “Toda a tecnologia desenvolvida aqui é exportada”, afirma Leonardo Barbieri, gerente global de marketing para colhedoras de cana da Case IH.
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