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Revista M&T - Ed.122 - Março 2009
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Terceirização

Quando e como optar pela manutenção externa

Construtoras, locadoras e prestadores de serviços falam sobre o eterno dilema dos profissionais do setor: quando optar pela terceirização da manutenção e quais os critérios a adotar na contratação do serviço

Um negócio, para ser bom, precisa satisfazer às duas partes envolvidas – o cliente e o fornecedor – proporcionando a sensação, a ambas as empresas, de que representou a melhor solução para o que se buscava naquele contrato específico. No mercado de manutenção de equipamentos para construção, por exemplo, seria como o cliente ter a percepção de que firmou o melhor contrato possível para os reparos em sua frota, por meio de serviços de qualidade oferecidos a preços justos. Para o fornecedor, a contrapartida seria a sensação de estar fechando um negócio com boa margem de rentabilidade.

Este seria o mundo perfeito, o que nem sempre corresponde à realidade do setor. Ao se realizar uma rápida pesquisa no mercado, o que muitas vezes se encontra no mundo real são construtoras e demais empresas usuárias de equipamentos reclamando do alto custo cobrado pelos serviços de manutenção, enquanto os fornecedores apontam as condições draconianas impostas pelos clientes. Seja como for – e, em geral, o bom-senso indica que a solução estaria num ponto entre os dois extremos – tal situação acaba emperrando o avanço da terceirização da manutenção no mercado, uma soluç


Um negócio, para ser bom, precisa satisfazer às duas partes envolvidas – o cliente e o fornecedor – proporcionando a sensação, a ambas as empresas, de que representou a melhor solução para o que se buscava naquele contrato específico. No mercado de manutenção de equipamentos para construção, por exemplo, seria como o cliente ter a percepção de que firmou o melhor contrato possível para os reparos em sua frota, por meio de serviços de qualidade oferecidos a preços justos. Para o fornecedor, a contrapartida seria a sensação de estar fechando um negócio com boa margem de rentabilidade.

Este seria o mundo perfeito, o que nem sempre corresponde à realidade do setor. Ao se realizar uma rápida pesquisa no mercado, o que muitas vezes se encontra no mundo real são construtoras e demais empresas usuárias de equipamentos reclamando do alto custo cobrado pelos serviços de manutenção, enquanto os fornecedores apontam as condições draconianas impostas pelos clientes. Seja como for – e, em geral, o bom-senso indica que a solução estaria num ponto entre os dois extremos – tal situação acaba emperrando o avanço da terceirização da manutenção no mercado, uma solução inegavelmente vantajosa para clientes e prestadores de serviços.

Todos os profissionais do setor concordam que a terceirização da manutenção reduz os custos de operação dos equipamentos, eliminando investimentos em mão-de-obra especializada e em ferramentas muito específicas. O cliente ganha com a redução de ativos-fixos, de gastos com pessoal e com a flexibilidade para atendimento às frotas de vários canteiros simultaneamente. Ao se especializar em determinado tipo de serviço, o fornecedor adquire condições de investir em mão-de-obra e maquinário, ganhando uma capacidade de atendimento que dará escala a suas operações e garantirá as margens de retorno.

Opção ditada pela escala

O problema, na opinião de alguns clientes, é o preço cobrado pelo prestador de serviços, embora todos concordem que ele também precisa realizar seu lucro. “É como ir a um restaurante: nunca terá o mesmo custo de almoçar em casa e, dependendo da escolha feita, isso também poderá representar uma opção pouco segura”, compara Eurimilson João Daniel, diretor da locadora de equipamentos Escad. Na sua avaliação, muitas empresas ainda realizam a maior parte dos serviços internamente porque os fornecedores não conseguem cobrir os custos da manutenção própria. “Em termos de qualidade, o mercado evoluiu muito e já dispomos de fornecedores oferecendo ótimos serviços. O problema é que isso custa caro.”

No caso de empresas que operam com frotas menores, ele pondera que a realização das manutenções externamente pode ser vantajosa diante da baixa escala na demanda de reparos. Como exemplo, Daniel cita que um mecânico especializado chega a representar um gasto mensal de cerca de R$ 8 mil, incluindo encargos trabalhistas, o que implica alto custo unitário de manutenção se ele atender apenas uma ou duas ordens de serviço diariamente.

Para empresas com frotas maiores, a escala na demanda de serviços acaba tornando mais vantajosa a opção pela manutenção interna. Sem contar que a solução caseira geralmente representa maior rapidez na solução dos problemas. Esse é o caso da Escad, que dispõe de um parque de cerca de 400 equipamentos para locação. Mesmo assim, a empresa realiza alguns serviços externamente, como a retífica de motores e reparos em trem de força, cuja execução interna representaria alto investimento em ferramental e o emprego de mecânicos que ficariam subutilizados diante da baixa demanda de trabalho.

Outra situação na qual a opção externa mostra-se mais vantajosa, na opinião do locador, é quando a empresa precisa atender um contrato que envolva a rápida mobilização dos equipamentos no canteiro de obras. “Nesses casos, é melhor contratar uma empresa para a manutenção dessa frota nos primeiros meses, até que se monte a estrutura própria no local”, ele pondera.

Abrangência limitada

Para Silvimar Fernandes Reis, superintendente de suprimentos da construtora Galvão Engenharia, o avanço da terceirização da manutenção ainda esbarra na pequena abrangência do portfólio de serviços oferecido pelos distribuidores de equipamentos. Como principais players do mercado de manutenção, eles investem em mão-de-obra e ferramental para a assistência técnica aos clientes, inclusive com oficinas e estoque de peças no próprio canteiro do cliente, mas o problema é que esse suporte se restringe apenas à marca que representam.

Na visão do executivo, esse apoio das distribuidoras só faz sentido quando o serviço se estende a toda a frota de equipamentos em operação no canteiro, independentemente da marca de cada unidade. “Isso se pratica muito bem fora doBrasil, mas ainda não atingimos tal estágio de maturidade no mercado interno.” Como exemplo, ele cita uma obra realizada na Bolívia pela Galvão, onde o dealer local de um grande fabricante de equipamentos de terraplanagem assumia a manutenção de todo o parque mobilizado pela construtora – inclusive máquinas de outras marcas – disponibilizando mecânicos, ferramentas e peças para a execução dos serviços no canteiro de obras.

Na ausência de um suporte com esse nível de abrangência por parte de empresas altamente estruturadas, a Galvão Engenharia prefere realizar a gestão da manutenção e a maior parte dos serviços internamente. “Só terceirizamos reparos muito específicos, como a retífica de motores, mas sempre por meio de ordens de serviços individuais e não por contratos de longo prazo”, diz Silvimar.

Avaliação dos custos

Ele explica que os serviços externos se restringem à manutenção corretiva de determinados sistemas dos equipamentos, cabendo à construtora todas as ações preventivas, assim como as montagens e desmontagens de componentes maiores. “Tivemos a experiência de um contrato de manutenção preventiva com uma retífica de motores e, depois de alguns meses, percebemos que o custo do serviço era o mesmo de uma intervenção corretiva, algo desvantajoso para nossa empresa.”

Silvimar avalia que o custo da manutenção preventiva deve ser inferior ao da corretiva, diante da complexidade e do volume de serviços envolvidos em cada um desses tipos de serviços. A premissa não vale, obviamente, para algumas modalidades de assistência técnica praticadas por vários fabricantes, que já estão oferecendo ao mercado seus equipamentos com garantia de disponibilidade. Para isso, a venda das máquinas é acompanhada de um contrato de manutenção integral - ações preventivas, corretivas e até mesmo pró-ativas – cujo valor aumenta de acordo com o nível de disponibilidade acordado entre as partes.

Para uma construtora ou locadora, por exemplo, cujos equipamentos trabalham sob diferentes condições de operação, de acordo com peculiaridades específicas de cada obra, e ainda ficam sujeitos a períodos de ociosidade, entre um projeto e outro, essa modalidade pode não ser muito vantajosa. Mas para uma mineradora cuja frota trabalha sempre sob as mesmas condições e dentro de uma demanda de produção preestabelecida e linear ao longo do tempo, trata-se de uma boa alternativa. Por esse motivo, os contratos de garantia de disponibilidade avançam rapidamente no mercado de mineração.

Para uma construtora que disponha de uma carteira de obras com longo prazo de execução, essa modalidade de serviço também pode ser uma alternativa à montagem de uma estrutura própria no canteiro. “Na nossa visão, a seleção do fornecedor de serviço deve se basear no critério de parceria e não apenas no de menor preço”, diz Ameríco Renê Giannetti Neto, diretor da construtora Barbosa Mello. Na visão da empreiteira, que trabalha com alto índice de terceirização da manutenção da frota, essa postura abre margem para ações voltadas a premiar a eficiência e comprometimento do fornecedor. “Mais caro do que contratar um serviço é ter um equipamento parado ou com baixo índice de produção”, afirma Giannetti Neto.

Dealers x retíficas

Esse princípio, baseado na parceria entre clientes e fornecedores de serviços, é a espinha dorsal do raciocínio seguido por José Anselmo Laguna, presidente do Conselho Nacional de Retíficas de Motores (Conarem). Ele ressalta a baixa cooperação entre os fabricantes de equipamentos e seus distribuidores  em relação às empresas associadas a sua entidade. “Eles oferecem serviços aos empreiteiros em condições mais vantajosas que as retíficas, mas geralmente recorrem à subcontrataçãona hora de consertar o motor, sempre em contratos com baixa margem de retorno para as retíficas.”

Segundo Laguna, essa prática está fazendo com que muitas retíficas deixem de prestar serviços para os dealers, que exigem que o reparo utilize apenas peças fornecidas por eles. “Na retífica de um motor de grande porte, as peças representam até 70% do valor total do serviço. Com isso, nossos associados ficam com 30% do faturamento do contrato, mas são responsáveis em 100% pela garantia de desempenho do motor, conforme determina a norma NBR 13032, ou seja, eles ganham menos de um terço para serem responsabilizados pela totalidade do serviço”, afirma Laguna.

Ele ressalta que essa postura adotada por algumas grandes distribuidoras está dificultando o relacionamento entre os diferentes personagens envolvidos nesse mercado. “Estamos aguardando a validação de uma nova norma, na qual a responsabilidade pelo desempenho do motor será integralmente de quem faz sua montagem final, o que certamente deverá mudar esse cenário.” Vale ressaltar que a NBR 13032 regula todos os procedimentos para a retífica de um motor, desde seu recebimento até a entrega final ao cliente. “Com as mudanças em curso, toda a revisão ficará por conta de quem monta o motor no equipamento.”

Para Silvimar, da Galvão Engenharia, as reivindicações de Laguna são pertinentes e passíveis de melhor avaliação por parte dos clientes finais. “Acho que tanto a nossa empresa quanto outras construtoras de grande porte estão abertas a debater esse assunto para o melhor desempenho de todos os elos do setor de equipamentos.” Enquanto as conversas não avançam, porém, ele ressalta que, em geral, a maioria dos serviços de manutenção disponíveis no mercado ainda deixa a desejar. “Por esse motivo, a única modalidade de garantia extra que acionamos na manutenção dos equipamentos é a extensão do contrato, ou seja, a ampliação da garantia normalmente oferecida pelos fabricantes de um ano para dois ou de seis meses para um ano.”

No caso de equipamentos de uso muito específico, como carretas de perfuração e carregadeiras subterrâneas para obras de túneis, que a construtora mobiliza apenas em regime de locação, a manutenção fica por conta de quem aluga, em geral um distribuidor da marca. “Como não temos mão-de-obra especializada para as intervenções nesse tipo de equipamento, garantimos que todo o serviço seja feito de acordo com as recomendações do fabricante, de forma a obter seu máximo aproveitamento.”

Visão das distribuidoras

Na ótica das distribuidoras de equipamentos, cujo faturamento já não depende exclusivamente da venda de máquinas novas, mas também da assistência técnica aos clientes e do mercado de peças, o atendimento ao mercado passa por uma ampla carteira de serviços, que inclui até mesmo o suporte do fabricante para o monitoramento remoto dos equipamentos do cliente. Com o apoio dos fabricantes, dealers como a Sotreq (Caterpillar), Tracbel (Volvo) e Bauko (Komatsu), entre outros, oferecem esse serviço, incluindo a equipe deslocada no campo para atendimento de qualquer ocorrência.

Carlos Arantes, do departamento de inteligência de produto da Sotreq, explica que o monitoramento remoto dos equipamentos ocorre em tempo real e, diante de qualquer ocorrência, dispara um alarme informando o gestor da frota sobre o problema. “Caso ocorra o aquecimento do motor ou qualquer outra anomalia, um chip instalado na máquina transmite o sinal para nosso centro de controle, em São Paulo, onde quatro especialistas ficam monitorando as frotas constantemente”, diz ele.

Diante de um alarme, essa central dispara a equipe da filial mais próxima da Sotreq para atendimento da ocorrência. O detalhe é que os técnicos já vão equipados com as peças e ferramentasadequadas para solucionar o problema, uma vez que o código de falhas do sistema permite antecipar qual a natureza do problema. “Além disso, o sistema gera relatórios enviados automaticamente aos gestores das frotas com as possíveis causas do problema, dicas para que ele não ocorra mais e custo do reparo caso ele se agravasse sem uma solução imediata.”

Segundo Arantes, a distribuidora oferece um variado leque de serviços, desde a simples manutenção corretiva até uma solução completa, envolvendo análises de óleo (manutenção pró-ativa), ações preventivas e a montagem da oficina no canteiro de obras, equipada com mecânicos, ferramental apropriado e peças de reposição. “Na modalidade de contrato mais completa, o cliente se preocupa apenas em produzir com o equipamento e tem a certeza de que ele estará disponível pelo período de tempo acordado, pois caso isso não ocorra, o contrato também prevê sua substituição imediata.”

Obviamente, cada modalidade de contrato tem um custo diferenciado, que deve ser analisado diante do que o contratante quer de seu fornecedor em termos de assistência técnica e de quanto está disposto a pagar por esse serviço. Em resumo, trata-se da velha relação custo/benefício, que pode mudar de acordo o tipo de operação do cliente, de suas margens de lucro e outras variáveis. “A pior armadilha para uma empresa que opera com frota de equipamentos é não conseguir identificar qual o melhor tipo de contrato.

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