Como a BW Expo Summit | Digital – 3ª Biosphere World deixou claro, a sustentabilidade é a nova commodity da cadeia produtiva global, o diferencial competitivo que está construindo um novo ambiente de negócios mundo afora. Estrategicamente comprometido com as metas de descarbonização e redução do desperdício, o avanço sustentável ressoa o alerta para a necessidade de ações efetivas que garantam o porvir das futuras gerações e – consequentemente – a continuidade do mercado.
O conceito de construção sustentável é um bom exemplo desse movimento, que vem ganhando força a partir do impulso das certificações. Segundo Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo de projetos da Fundação Vanzolini, a construção sustentável tornou-se uma condição para o desenvolvimento de negócios, estabelecendo parâmetros de sustentabilidade compartilhad
Como a BW Expo Summit | Digital – 3ª Biosphere World deixou claro, a sustentabilidade é a nova commodity da cadeia produtiva global, o diferencial competitivo que está construindo um novo ambiente de negócios mundo afora. Estrategicamente comprometido com as metas de descarbonização e redução do desperdício, o avanço sustentável ressoa o alerta para a necessidade de ações efetivas que garantam o porvir das futuras gerações e – consequentemente – a continuidade do mercado.
O conceito de construção sustentável é um bom exemplo desse movimento, que vem ganhando força a partir do impulso das certificações. Segundo Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo de projetos da Fundação Vanzolini, a construção sustentável tornou-se uma condição para o desenvolvimento de negócios, estabelecendo parâmetros de sustentabilidade compartilhada. “É a grande tendência do momento, mas falta caminhar muito ainda”, comentou o especialista, com a experiência de quem já certificou mais de 600 edifícios no Brasil por meio do projeto AQUA.
“A percepção de sua importância começou a aparecer somente agora”, ponderou o professor.
Na base do conceito está a busca de soluções técnico-econômicas inovadoras e sustentáveis, que imprimam inteligência aos projetos de construção, tanto em processos como em sistemas, com efeitos diretos na qualidade de vida da população, no bom manejo de recursos naturais e na valorização dos empreendimentos. “Isso significa ter um ambiente construído com baixo impacto, durabilidade e uso racional de água e energia”, ilustrou Martins. “Com isso, o empreendimento mantém o valor ao longo do tempo, ao passo que há menor uso de recursos finitos e se contribui para a economia circular.”
A mudança é necessária, tendo em vista que a humanidade consome atualmente 75% a mais de recursos naturais do que a Terra pode prover. Além de um risco óbvio, essa realidade vem abrindo um novo mercado, que gera negócios a partir de uma série de ações relacionadas ao conceito de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). “Para reduzir custos e riscos, o foco está em três frentes: gerar e fortalecer a confiança de stakeholders, desenvolver produtos de carbono neutro e implementar modelos de economia circular”, explicou Matthew Govier, diretor da Accenture, apontando que esse novo mercado pode chegar a 4,5 trilhões de dólares até 2030.
EFICIÊNCIA
Bem mais adiantada neste processo, a Europa vivenciou um crescimento exponencial do conceito nas últimas duas décadas. De acordo com Maria Gabriela Costa, consultora BREEAM da Sweco e membro do comitê do CIBSE (Grupo de Simulação para Construções), no Reino Unido há tempos foram estabelecidos parâmetros de eficiência energética (L1A) na construção, sendo que a liberação dos novos projetos depende de aprovação neste e em outros critérios, incluindo bem-estar e biofilia, previstos em documentos como o Sustainable Development Goals (SDG), que estabelece 17 metas de desempenho. “Aos poucos, a construção quer criar outra visão, para ter mais impacto”, afirmou a especialista, que vê uma conscientização maior e repentina na sociedade britânica.
Privilegiando o espectro solar, a luminotécnica avança em conceitos de circularidade e compartilhamento
Em 2015, recordou ela na BW, foi criado o conceito de ‘Science Based Target’ (metas baseadas em ciência, em tradução livre), estimulando projetos em direção à emissão de baixo carbono, com programas como o WELL. Três anos depois, surgiu o EPC (Energy Performance Certificate), uma iniciativa do governo britânico que impede que projetos com baixa avaliação sejam vendidos ou mesmo alugados. Finalmente, em 2020 foi lançado o RIBA 2030 Climate Challenge, um projeto do Royal Institute of British Architects que trata especificamente de energia, água, materiais e bem-estar, com metas renováveis a cada cinco anos. “A LETI (London Energy Transformation Initiative) também está implantando passos para o carbono zero em Londres, atuando na avaliação do ciclo de vida útil das edificações e no monitoramento da reciclagem, extração, produção e transporte de materiais”, contou Costa.
Uma das ações da iniciativa é a regulação Part L, atualmente em consulta e que estabelece critérios para edificações, incluindo redução do carbono, eficiência na envoltória e proteção contra radiação solar, dentre outros. Para atender às exigências, acentuou a especialista, as empresas precisam inovar, começando a planejar os “prédios do futuro” com o uso de ciência aplicada. “Hoje, a simulação computacional permite criar uma arquitetura bioclimática adequada, que preveja o uso racional de eletricidade e água, ventilação e bem-estar, como é o caso do uso de vidros ‘micro snails’, que bloqueiam a radiação”, disse ela. “Mas isso precisa ser feito no início do projeto, como uma ferramenta de projeto, e não como mero check-list.”
O ponto de vista foi reforçado pela arquiteta e designer de iluminação da BuroHappold Engineering, Paula Longato, que atestou na BW a mudança de mentalidade que vem ocorrendo na construção europeia. Segundo ela, a análise de impacto de materiais, economia de energia, uso de recursos naturais e durabilidade de materiais estão na ordem do dia no Velho Continente. “Na iluminação, por exemplo, os sistemas atuais têm uma vida útil muito maior em comparação à tecnologia anterior, chegando a cinco mil dias de duração, ou 20 anos, com média de uso de 10 h/dia, 250 dias/ano.”
Essa maior durabilidade, disse ela, permite repensar a integração do espectro de luz solar natural (essencial para o equilíbrio físico e psicológico humano) com os sistemas inteligentes de iluminação elétrica. “A ideia é promover um uso mais flexível de espaços, privilegiando a entrada de luz natural e sua adaptabilidade aos diferentes tipos de uso, sem ter de redesenhar todo o espaço a cada mudança de design”, comentou.
Gestão de áreas degradadas valoriza ativos com passivos ambientais
Com maior vida útil, os sistemas também permitem a modularidade, com uso de componentes substituíveis e possibilidade de reforma, por exemplo, assim como de adoção do modelo de locação. “Já estão sendo aprovadas novas leis na Europa que garantem o direito de reformar”, apontou Longato, acrescentando que a sustentabilidade começa na mudança de mentalidade. “Cada um de nós tem de dar uma contribuição, pois juntos podemos fazer a diferença”, conclamou.
Assim como a luminotécnica, a construção sustentável também abrange a área de acústica de interiores, outro ponto de atenção crescente das certificações. De acordo com Andrea Destefani, líder de acústica da Ca2, a preocupação com a percepção auditiva em edificações tende a avançar no Brasil, “onde grande parte das estruturas não foi projetada para o conforto acústico”.
Mais que isso, ela observou, o país não conta sequer com estudos mais aprofundados sobre os impactos das fontes sonoras nos empreendimentos. “Uma abordagem multidisciplinar na área deve incluir estratégias de controle de ruído aerodinâmico e de vibrações, assim como sobre isolamento e mascaramento sonoro”, frisou. “Tudo isso deve ser considerado já nas etapas de projeto, senão fica mais caro remediar depois.”
ÁREAS DEGRADADAS
Se a edificação caminha para um cenário de transformação, a recuperação de áreas degradadas (brownfield) também segue preceitos para garantir que as novas construções sejam sustentáveis desde a fundação. “Áreas abandonadas, contaminadas, ou subutilizadas, que geralmente têm baixo valor econômico no mercado, podem ser valorizadas com o trabalho de remediação”, comentou Ulysses Mourão, head de engenharia da EBP Brasil. “Mas a atividade precisa de incentivos fiscais.”
Nesse aspecto, o especialista citou a necessidade de isenção, financiamento, redução de impostos pós-obra e carência de pagamentos, por exemplo. “Isso é necessário para revitalizar e aumentar a atratividade imobiliária dessas áreas, levando à valorização dos ativos e gerando emprego, renda e receitas, além de melhorar a infraestrutura local”, disse.
Para Talita Nocetti, gestora da EBP Brasil, a evolução tecnológica permite o reaproveitamento do solo urbano, aumentando sua atratividade imobiliária. Mas para que ativos com passivos ambientais possam servir de base para novos empreendimentos, também é necessário prospectar eixos econômicos atrativos. “O desafio é entender onde estão essas áreas e quais são seus pontos fortes”, disse ela na BW.
Projeto integrado promove a inovação aberta no setor agropecuário e florestal
Isso demanda uma “visão holística”, como ressaltou Mourão. “Requer uma preocupação com todos os pontos que envolvem o projeto, desde o social e ambiental até o econômico”, disse ele, referindo-se a estudos de viabilidade e metas de implantação, encerramento e operação do ativo.
Ademais, a valorização da área, assim como a performance do produto final, são aspectos que os fundos imobiliários olham com bastante atenção.
“O ideal é unir conhecimento técnico com interesse de mercado, criando sinergia entre as fases e buscando suporte técnico para entender o quadro ambiental”, orientou Joyce Cruz di Giovanni, diretora técnica da JC Consultoria.
Segundo Nocetti, o próprio passivo direciona o zoneamento da área. “Um investimento inteligente precisa identificar os passivos, criar um plano de intervenção, definir o uso futuro e o tipo de empreendimento, promovendo essa sinergia entre remediação e implantação do empreendimento.”
Nesse processo de desativação, descomissionamento e execução, é fundamental fazer a caracterização da situação ambiental e o mapeamento de campo, para identificar, quantificar e inventariar materiais, resíduos, insumos e ativos. Atualmente em consulta, a NBR 16901 estabelece os parâmetros para essas atividades, que podem incluir desmontagem e demolição. “A atividade vai da investigação e análise de asbestos até a descontaminação de máquinas, ferramentas e sucatas, passando pela definição de destinação e receptores dos resíduos”, relatou Ariani Faria, também gestora da EBP Brasil.
AGRONEGÓCIO
Deslocando-se para o campo, o cenário também é de reinvenção sustentável. O país se comprometeu voluntariamente a adotar uma agricultura de baixo carbono, reduzindo em 37% as emissões até 2025 e em outros 43% até 2030, tendo por base o ano de 2005. E diversas iniciativas estão trabalhando para isso.
O projeto ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), por exemplo, é um sistema integrado e customizado desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para promover a inovação aberta no setor. “Esse projeto altera a gestão da propriedade, apostando em uma agricultura de baixo carbono, lançando certificação de propriedades e prospectando mecanismos financeiros para adoção de tecnologias”, delineou Renato do Aragão Ribeiro Rodrigues, pesquisador da Embrapa Solos.
Apoiada na Plataforma TrustScore, a metodologia avalia 120 indicadores de produção em qualquer tipo de bioma, obtendo descontos no financiamento para os produtores. Até 2030, o objetivo é um acréscimo de 50% na produtividade, saltando de 17,5 milhões para 30 milhões de ha, apenas com áreas já abertas. “A ILPF aumenta a produção, reduz riscos, agrega valor e garante a qualidade ambiental”, assegutou o pesquisador.
Recuperação de áreas inclui definição de destinação e receptores dos resíduos
Projetando avanço de 400% na produção e 200% na produtividade, Rodrigues ressaltou que a técnica gera um efeito ‘poupa-terra’ do setor de grãos, que ocupa apenas 7,8% do território. “Trata-se da revolução produtiva do século XXI, permitindo obter mais comida em uma área menor.”
Por outro lado, o pesquisador vê um problema nas pastagens, que ocupam 20% do território. A atividade, acentuou, traz passivos e gera desmatamento, provocando aumento das emissões. “Temos 180 milhões de hectares com pastagens, para um rebanho com 218 milhões de cabeças de gado”, apontou. “Essa produtividade baixa mostra que estamos aproveitando mal o setor.”
O pesquisador informou na BW que em 2021 será lançado o ILPF digital, uma ferramenta de capacitação com cursos a distância. “Produzir e preservar é possível”, ressaltou Rodrigues. “Mas é justo que o investimento seja distribuído ao longo da cadeia produtiva, recompensando o produtor.”
Produtor que anda preocupado com a imagem ambiental do Brasil. Segundo Marcello Brito, presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), uma pesquisa realizada em 79 mil publicações internacionais mostra que tem ocorrido abalos na imagem do país, decorrentes do que ele chama de “trinca maldita”: desmatamento/incêndios, questão indígena e agrotóxicos. “A sociedade brasileira ainda não encontrou um modelo adequado do uso da terra”, afirmou. “Isso é lamentável.”
Para Brito, a mudança de comportamento em relação à questão ambiental tem levado à detração. Considerando que o Brasil sempre foi ‘Top 3’ entre as lideranças ambientais, as implicações para as empresas brasileiras são graves. “No exato momento em que o mundo debate a descarbonização, temos nossa pauta ambiental criticada”, observou. “A única coisa que precisamos é juízo e um entendimento geocomercial do mundo.”
Segundo o dirigente, o país está em um “processo dicotômico” de provocação. “É um processo de desinteligência, que está nos tornando um pária ambiental”, advertiu Brito, para quem o agronegócio brasileiro é mais sustentável do que nunca, unindo ciência, inovação e tecnologia. “Por isso, é preciso ter um cuidado tremendo”, aconselhou.
Compostagem termofílica traz ganhos ambientais
Aos poucos, a chamada compostagem termofílica vem ganhando escala industrial e abrindo oportunidades para o tratamento de resíduos urbanos não recicláveis. A Tera Ambiental, por exemplo, processa uma média de 7.500 t/mês de resíduos, gerando 3 mil t/mês de insumos orgânicos para a agricultura, como fertilizantes e condicionadores de solo. A empresa utiliza um processo oxidativo biológico natural e controlado, tendo como matéria-prima desde lodo de estações de tratamento de esgoto até camas aviárias, passando por resíduo agroindustrial e alimento pós-consumo. As leiras podem ter conceito por revolvimento (com o uso de aditivos) ou estático (com aeração forçada por meio do uso de injetores de ar). “O volume e consistência do material podem ser aumentados com adição de estruturantes, como o cavaco de madeira, assim como é possível dispor de uma camada superior como filtro estabilizador”, explicou Fernando Carvalho, conselheiro da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo).
Compostagem termofílica abre oportunidades para o tratamento de resíduos urbanos
Quando a compostagem conquista espaço no ambiente de negócios, os resíduos orgânicos viram commodities. A dica foi dada na BW por Marco Aurelio Salvaro de Souza, consultor em projetos de tratamento biológico da Composul Compostagem. Em 2016, a Composul teve a primeira linha de compostagem ‘Gore Cover’ com sistema encapsulado, para evitar intempéries externas e aeração. Dessa forma, os odores são totalmente controlados. “Ainda há desafios pela frente, como a necessidade de implementar coleta seletiva nos bairros, aumentar as podas de árvores, fazer cumprir a Lei dos Grandes Geradores, conforme exige o PGRS-12.305, e melhorar o tratamento de lodos das ETEs”, sustentou Souza.
A compostagem também está no cerne de uma nova indústria, a chamada biorefinaria. Com centenas de plantas ao redor do mundo, o setor já produz em torno de 2% a 4% do total do material utilizado no mundo, obtendo bioplásticos compostáveis de diversas fontes renováveis, como produtos agrícolas ricos em carboidratos, derivados de celulose e resíduos orgânicos, que ‘sequestram’ carbono na produção e fecham seu ciclo de vida por biodegradação. “O mercado de biopolímeros está sendo escalado de maneira rápida, como alternativa aos derivados do petróleo”, afirmou João Carlos Godoy, diretor da Oeko Bioplásticos, lembrando que o Brasil ainda não conta com um sistema de regulação na área.
‘O cliente precisa entender o valor do projeto sustentável’, diz especialista
Com base em sua experiência de arquiteto, o fundador da CA2 Construtores, Marcelo Nudel, destacou na BW dois aspectos – por ele chamado de ‘bordões’ – que permeiam as discussões sobre construções sustentáveis no mundo corporativo. “O primeiro diz que ‘o mercado consumidor não valoriza a sustentabilidade, que ninguém quer pagar por isso”, citou. “Já o outro assinala que ‘custa muito caro, a conta não fecha’.”
Para Nudel, muitas empresas querem fazer a coisa certa, mas esbarram nesses bordões. “O grande problema é a falta de informações precisas sobre o que representa sustentabilidade”, comentou. “O mercado da incorporação é bastante especulativo, constrói sem saber para quem vai vender. Isso acaba atrapalhando na argumentação com o cliente, pois não se dispõe de dados que justifiquem os custos ambientais.”
Construção sustentável é a grande tendência do momento, mas falta caminhar muito ainda
Na sua visão, é preciso evidenciar o que um projeto sustentável representa. Afinal, além de um projeto ambientalmente amigável, há redução de custos para o consumidor. “É preciso pôr na conta a economia de água e de energia que será usufruída pelo ocupante do imóvel”, frisou Nudel.
“Esse é um benefício que ele vai ter ao longo da vida e precisa ser mencionado.”
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