As prefeituras brasileiras têm dificuldades para conciliar a gestão eficiente dos resíduos urbanos com a conservação ambiental. Isso pode ser constatado por números: entre os anos de 2014 e 2015, enquanto o PIB retraiu 3,8%, o total de resíduos urbanos gerados no país subiu apenas 1,7%, saltando de 78,6 milhões para 79,9 milhões de toneladas. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Um estudo realizado pelo Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre) também mostra uma realidade preocupante. Em algumas cidades brasileiras houve redução na reciclagem de resíduos entre os anos de 2014 a 2016. Em Brasília, por exemplo, essa atividade diminuiu de 3.700 t para 2.600 t de lixo por mês, queda empurrada pela crise econômica. O estudo também mostra que apenas 18% das cinco mil cidades brasileiras são atendidas por coleta seletiva.
Se os resíduos forem classificados por categoria, os percentuais reciclados também são díspares. Cerca de 3% do lixo orgânico das áreas urbanas vão para c
As prefeituras brasileiras têm dificuldades para conciliar a gestão eficiente dos resíduos urbanos com a conservação ambiental. Isso pode ser constatado por números: entre os anos de 2014 e 2015, enquanto o PIB retraiu 3,8%, o total de resíduos urbanos gerados no país subiu apenas 1,7%, saltando de 78,6 milhões para 79,9 milhões de toneladas. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Um estudo realizado pelo Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre) também mostra uma realidade preocupante. Em algumas cidades brasileiras houve redução na reciclagem de resíduos entre os anos de 2014 a 2016. Em Brasília, por exemplo, essa atividade diminuiu de 3.700 t para 2.600 t de lixo por mês, queda empurrada pela crise econômica. O estudo também mostra que apenas 18% das cinco mil cidades brasileiras são atendidas por coleta seletiva.
Se os resíduos forem classificados por categoria, os percentuais reciclados também são díspares. Cerca de 3% do lixo orgânico das áreas urbanas vão para compostagem e 47% das resinas pets são reaproveitados, enquanto 96% da produção de latas de alumínio são reprocessadas. O valor pago por esses materiais dita a diferença – em São Paulo, por exemplo, paga-se R$ 3.200 em média por tonelada de latinhas limpas e prensadas e R$ 1.650 por tonelada de garrafas pets na mesma condição, enquanto o preço do composto orgânico oscila entre R$ 100 e R$ 150 a tonelada.
Hoje, o mercado de reciclagem no Brasil movimenta cerca de R$ 3 bilhões. Mas, segundo o Cempre, há potencial para gerar valores bem maiores. O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) destaca que, anualmente, o Brasil perde cerca de R$ 8 bilhões ao destinar aos lixões e aterros muitos materiais que poderiam ser reaproveitados.
GESTÃO
O fato é que as obrigações municipais com limpeza urbana aumentam a cada ano, devido ao volume cada vez maior de resíduos e aos compromissos trazidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. Na contrapartida, os orçamentos estão escassos. Nos últimos meses, 43 prefeituras decretaram estado de calamidade financeira e, desde o ano passado, prefeitos de 77 cidades em 13 estados brasileiros declararam ter entrado nessa situação. “Essa nova realidade mostra que serviços essenciais como a limpeza urbana não podem mais ficar vinculados ao orçamento geral das cidades”, analisa o diretor-presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho. “Mas devem ser custeados individualmente pelos geradores, o que garante a sustentabilidade financeira dos serviços e mais justiça social, com aplicação efetiva do princípio do poluidor-pagador.”
Na cidade de Santos (SP), por exemplo, a administração municipal está tomando medidas para aumentar a reciclagem e reduzir a quantidade de resíduos destinados a aterro. Nesse sentido, foi implantada em 2 de janeiro de 2017 a lei complementar 952, que cria o Programa Socioambiental de Coleta Seletiva Solidária Recicla Santos, disciplinando o gerenciamento do lixo e da coleta. A lei – que entrará em vigor em junho – obriga a separação entre resíduos secos recicláveis (papel-papelão, metais, plásticos, vidros etc.) e orgânicos (restos de comida, por exemplo), proibindo que os contentores destinados aos orgânicos sejam utilizados para receber recicláveis. Nos dois casos, os infratores estarão sujeitos à intimação e multa.
A lei também cria a figura do gerador comercial, ou seja, aquele que gera acima de 200 l/dia ou 120 kg/dia de resíduos sólidos urbanos. Estes deverão implantar serviços próprios de coleta, transporte, separação e destinação final dos resíduos de forma independente do serviço público, assumindo, inclusive, os custos desse processo.
VARRIÇÃO
Em outro patamar estão as ruas, infelizmente. Para Thiago Sebber Romanelli, coordenador de vendas da Romanelli, há problemas sérios na gestão de limpeza urbana, reconhecidamente danosos ao meio ambiente e à qualidade de vida nas cidades. “A maioria dos municípios brasileiros ainda utiliza 100% de mão de obra humana para varrição de ruas, direcionando verbas para salários e encargos trabalhistas”, considera. “Mas as prefeituras não têm dinheiro para manter esses salários ou fazer os repasses para as companhias terceirizadas, muitas vezes atrasando os pagamentos, o que acarreta paralisações frequentes na área de limpeza pública. E quem sofre as consequências é o contribuinte.”
Segundo ele, para manter uma gestão eficiente de resíduos, sem desequilibrar o orçamento, as prefeituras precisam implantar tecnologias mecânicas na limpeza urbana. “Os sistemas de varrição mecanizada, por exemplo, substituem o trabalho de cerca de 50 pessoas, dependendo de motorista, encarregado de manutenção, combustível e peças, além de uma ou duas pessoas para acessar determinados pontos de limpeza e desentupir bueiros, quando necessário”, explica.
O executivo de vendas da XCMG, Marcio Ozair da Silva, concorda com a análise e acrescenta que os serviços urbanos municipais demandam novos focos de planejamento para obter melhoria em qualidade, produtividade e redução dos custos. “O emprego das varredeiras mecânicas nos serviços de limpeza pública, industrial e rodoviária gera maior produtividade na remoção dos resíduos e reduz custos com mão de obra”, observa.
Para recolher poeira e detritos, o sistema utiliza um veículo equipado com vassouras adaptadas e bocais, que fazem a aspiração. “O equipamento possui vários artifícios, como um gatilho de alta pressão, que permite a lavagem de calçadas, e um mangote de sucção, para limpeza de bocas de lobo e canaletas”, explica Silva.
Diversos países já empregam essas varredeiras. De acordo com o executivo, sua utilização está relacionada à densidade populacional da região, de modo que o dimensionamento da máquina é feito da seguinte forma: cada varredeira tem capacidade para cobrir 30 mil m² por dia, atendendo ao equivalente a 50 mil habitantes. Assim, numa região como São Paulo, com população aproximada de 12 milhões de habitantes, seria necessário utilizar 240 varredoras mecanizadas. “Mas atualmente a cidade possui apenas 12 dessas máquinas, o que mostra o tamanho do mercado a ser explorado”, considera Silva.
Sebber, da Romanelli, sublinha que esses equipamentos são mais utilizados na capital paulista e em polos urbanos dos estados de SP, SC, RS, RJ e ES. Os estados das regiões Norte e Nordeste ainda consomem pouco. “As prefeituras ainda não adquirem as varredeiras mecânicas devido à falta de informação e desconhecimento sobre suas vantagens”, aponta.
MERCADO
Oferta de vassouras mecanizadas não falta no país. A Romanelli, por exemplo, fornece três modelos: a vassoura de arrasto VMR 244 (que varre a sujeira para a lateral), a AVHR 1800T (que possui escovas lateral e central, varrendo a sujeira para o interior de um compartimento) e a vassoura de sucção a vácuo CVR 600 (com um tanque para armazenar até 6 m³ de sujeira). “Este equipamento possui duas cerdas laterais e uma central”, explica Sebber. “E sua vazão de sucção chega a 13.800 m³/h.”
A XCMG, por sua vez, fabrica o modelo SLH6 ABR, que possui quatro vassouras e capacidade para armazenar 4 m³ de sujeira, em um ângulo de descarga de 45 graus. Já o modelo XS5ABR traz duas vassouras e armazena até 9 m³ de sujeira, em 43 graus de ângulo de descarga. “Quando desgastadas, as cerdas podem ser substituídas individualmente, evitando a troca de todo o conjunto da escova sem necessidade”, informa Geovanni Silva, assistente de produto da XCMG.
De acordo com o especialista, as vassouras oferecem ainda a opção de pulverizar água e lançar jatos de água para a lavagem de ruas. “Durante o trabalho de varrição, se a sujeira estiver muito grudada no solo, o equipamento pode espargir água e, em seguida, esfregar com as vassouras”, finaliza.
INCINERAÇÃO É PONTO POLÊMICO NO BRASIL
Em vez de desenvolver ações efetivas de educação ambiental, com campanhas de conscientização, incentivos fiscais e mecanismos legais que estimulem a reciclagem, alguns municípios brasileiros se unem para implantar a incineração de resíduos, medida utilizada em alguns países europeus para solucionar o problema do lixo, mas que gera polêmica.
A prefeitura de Barueri (SP), por exemplo, pretende implantar uma Unidade de Recuperação Energética, que fará a geração de energia com a queima de resíduos das cidades de Barueri, Santana de Parnaíba e Carapicuíba. Após a queima, as cinzas serão encaminhadas para aterro sanitário. Contudo, o projeto tem provocado reações e queixas da população, pois a incineração gera emissões tóxicas danosas à saúde pública e aos ecossistemas.
Entre os principais poluentes emitidos nessa queima estão as dioxinas, grupo composto de organoclorados bioacumulativos e tóxicos. Se o lixo contiver pilhas, por exemplo, pode gerar substâncias de metais pesados como mercúrio, chumbo e cádmio, que são carcinogênicas e causam danos mesmo quando inaladas em pequenas quantidades. “Os filtros utilizados nas usinas incineradoras para fazer o tratamento dos gases e evitar a emissão de material particulado possuem baixa vida útil e são muito caros, exigindo valores elevados de investimento”, diz Patrícia Blauth, educadora ambiental da Menos Lixo Projetos e Educação em Resíduos Sólidos.
Ela explica que as prefeituras brasileiras possuem verba limitada, sem condições de investir na manutenção das incineradoras. O resultado é uma usina operando com estruturas precárias, liberando gases nocivos. “A incineração impede o retorno do resíduo orgânico ao solo na forma de adubo e destrói um insumo importante para a produção de alimentos saudáveis, reforçando a dependência de agrotóxicos e fertilizantes químicos, que contaminam alimentos e o meio ambiente”, alerta a educadora.
MANUTENÇÃO GARANTE VIDA ÚTIL DE VARREDEIRAS
Segundo Geovanni Silva, assistente de produto da XCMG, as cerdas de nylon podem durar de oito meses a um ano. Contudo, ele orienta que, ao engatar marcha ré, o operador levante a vassoura para não correr o risco de danificá-la. “Embora ofereça flexibilidade, quando em operação a vassoura gira e joga a sujeira para o centro do caminhão”, explica.
Já Thiago Sebber, coordenador de vendas da Romanelli, explica que as cerdas de nylon e de aço são removíveis e devem ser lavadas diariamente. Normalmente, quando se desgastam até a metade, começam a perder a eficiência de varrição e precisam ser substituídas. “Além disso, se a varrição tiver maior conteúdo de material abrasivo, a cerda se desgastará com mais rapidez”, diz.
O especialista calcula que as varredoras possam chegar a 30 anos de trabalho, desde que a manutenção seja adequada. “A limpeza diária é primordial, para conferir se a máquina está bem engraxada e com nível suficiente de óleo”, instrui.
De acordo com ele, o engraxamento não precisa ser diário, mas deve ser feito ao menos uma vez por semana. “Em cidades litorâneas, a maresia provoca maior desgaste nos equipamentos e acelera o processo de oxidação. Nesse caso, as varredeiras devem ser lavadas diariamente”, conclui.
EMPRESAS TESTAM CAMINHÃO AUTÔNOMO DE LIXO NA EUROPA
Em parceria com a Renova, a Volvo Trucks está testando um caminhão Volvo FM equipado com sistemas GPS e LiDAR para coleta de lixo. O objetivo, segundo a fabricante, é avaliar como o uso de veículos automatizados pode contribuir para um manuseio mais eficiente e seguro de resíduos e, ainda, criar um ambiente de trabalho melhor para os motoristas.
Em termos técnicos, os sistemas de automação otimizam troca de marcas, manobras e velocidade, reduzindo o consumo de combustível e as emissões do veículo. “Dirigir um veículo comercial pesado em uma área urbana residencial, com ruas estreitas e usuários vulneráveis, exige muita segurança, mesmo quando a velocidade do veículo não ultrapassa o ritmo normal de caminhada de uma pessoa”, ressalta Carl Johan Almqvist, diretor de segurança de tráfego e produtos da Volvo Trucks.
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