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Revista M&T - Ed.180 - Junho 2014
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Autobetoneiras

Garantindo o traço do concreto

Com demanda em queda nos últimos anos, mercado nacional de autobetoneiras assiste a um aumento nas reformas estruturais para estender a vida útil dos equipamentos
Por Camila Waddington

Na Europa e em vários outros mercados do mundo, as autobetoneiras têm a função única de transportar o concreto produzido em centrais misturadoras. No Brasil, diversamente, principalmente devido a questões tributárias (confira quadro na pág. 46) esses equipamentos têm a dupla função de transportar e, simultaneamente, misturar o concreto durante o trajeto.

Isso torna as autobetoneiras cruciais aos processos de concretagem, além de explicar porque o país consome cerca de duas mil unidades de máquinas novas anualmente. Mas essa cultura também torna a frota nacional menos efetiva, com os equipamentos chegando apenas à metade da vida útil prevista, em comparação aos mesmos modelos utilizados no exterior.

Mas isso tende a mudar. Mesmo sem modificar a função das autobetoneiras – ou seja, continuam a misturar o concreto durante o transporte –, a expectativa de vida útil já vem se alterando, conforme evidenciam números da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir).

REFORMA

O cenário é efetivamente complexo. Em 2013, como destacado acima, foram consumidas duas mil unidades dessas máquinas. Apesar de significativo, esse volume foi 12% menor que a quantidade consumida em 2012, que por sua vez já havia recuado10% em relação a 2011. “Ou seja, as vendas de autobetoneiras estão reduzindo ano após ano”, avalia Ricardo Lessa, diretor-presidente da Schwing-Stetter. “Mas isso não significa que o mercado está transportando menos concreto, e sim que aumentou, e muito, o volume de reforma dos equipamentos com mais de cinco anos de uso.”

Evidentemente, esse contexto impacta nos resultados da indústria nacional, que atualmente teria uma capacidade produtiva de até 3,5 mil unidades por mês. “Como consequência, a renovação de frota nesse mercado é cada vez menor, com as empresas prolongando a vida útil das máquinas antigas”, diz o executivo. “As vendas de betoneiras novas ficam restritas ao crescente mercado de concreto industrializado e sua expansão natural de frota.”

Segundo Lessa, não há qualquer fonte oficial que monitore e dimensione o volume de autobetoneiras vendidas no país. Mas o diretor cita uma composição de dados de mercado e associações ligada


Na Europa e em vários outros mercados do mundo, as autobetoneiras têm a função única de transportar o concreto produzido em centrais misturadoras. No Brasil, diversamente, principalmente devido a questões tributárias (confira quadro na pág. 46) esses equipamentos têm a dupla função de transportar e, simultaneamente, misturar o concreto durante o trajeto.

Isso torna as autobetoneiras cruciais aos processos de concretagem, além de explicar porque o país consome cerca de duas mil unidades de máquinas novas anualmente. Mas essa cultura também torna a frota nacional menos efetiva, com os equipamentos chegando apenas à metade da vida útil prevista, em comparação aos mesmos modelos utilizados no exterior.

Mas isso tende a mudar. Mesmo sem modificar a função das autobetoneiras – ou seja, continuam a misturar o concreto durante o transporte –, a expectativa de vida útil já vem se alterando, conforme evidenciam números da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir).

REFORMA

O cenário é efetivamente complexo. Em 2013, como destacado acima, foram consumidas duas mil unidades dessas máquinas. Apesar de significativo, esse volume foi 12% menor que a quantidade consumida em 2012, que por sua vez já havia recuado10% em relação a 2011. “Ou seja, as vendas de autobetoneiras estão reduzindo ano após ano”, avalia Ricardo Lessa, diretor-presidente da Schwing-Stetter. “Mas isso não significa que o mercado está transportando menos concreto, e sim que aumentou, e muito, o volume de reforma dos equipamentos com mais de cinco anos de uso.”

Evidentemente, esse contexto impacta nos resultados da indústria nacional, que atualmente teria uma capacidade produtiva de até 3,5 mil unidades por mês. “Como consequência, a renovação de frota nesse mercado é cada vez menor, com as empresas prolongando a vida útil das máquinas antigas”, diz o executivo. “As vendas de betoneiras novas ficam restritas ao crescente mercado de concreto industrializado e sua expansão natural de frota.”

Segundo Lessa, não há qualquer fonte oficial que monitore e dimensione o volume de autobetoneiras vendidas no país. Mas o diretor cita uma composição de dados de mercado e associações ligadas ao setor cimenteiro para concluir que o Brasil produziu algo entre 53 e 55 milhões de metros cúbicos de concreto industrializado no ano passado. E, na maior parte, esse montante foi transportado por autobetoneiras. “Considerando que cada equipamento transporta uma média de 350 m³/mês, podemos concluir que o país opera aproximadamente 12 mil unidades de autobetoneiras, cuja distribuição – que também não é oficialmente mapeada – está majoritariamente concentrada (65%) nas regiões industrializadas do Sul e Sudeste, ficando outros 25% nos principais centros do Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, projeta Lessa. “O restante está nos interiores de cada região.”

Já a conta da Zoomlion – outro player tradicional do setor – é um pouco diferente. Segundo Marcelo Antonelli, CEO da empresa no Brasil, em 2013 devem ter sido comercializadas 2.560 autobetoneiras (560 acima da conta da Schwing-Stetter, mas ainda assim em retração), além de estimar uma frota total de 15 mil unidades em operação no país. “Desse montante, aproximadamente 51% estão no Sudeste”, pontua.

Expandindo a perspectiva desse mercado, a Putzmeister – também atuante de peso no segmento – enxerga pouco crescimento na venda de autobetoneiras novas na última década, acrescentando que 8,4 mil equipamentos devem ter sido comercializados desde 2010 no mercado nacional. “No nosso caso, os maiores negócios estão em estados como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, com forte participação das capitais”, diz Rodrigo Satiro, diretor de vendas da empresa no Brasil.

MODELOS

A despeito da dessemelhança nos volumes, os três fabricantes reunidos nesta reportagem concordam sobre as classes de autobetoneiras mais vendidas no Brasil. O grosso do mercado está na categoria de 7 a 10 m³, sendo que os modelos de 8 m³ são os preferidos. Na Schwing-Stetter, que produz modelos de 7, 8 e 10 m³, as máquinas de 8 m³ representam 80% da produção e das vendas, como explica Lessa. “Esse porte de equipamento é montado sobre caminhão 6x4 ou 8x4 com motor de 280 cv”, descreve.

Nos últimos meses, explana o executivo, a procura pelos balões de 10 m³ vem aumentando. São produtos montados sobre caminhões 8x4, cujo motor deve ter potência mínima de 330 cv. “Produzidas no Brasil, nossas autobetoneiras seguem as mesmas exigências das fabricadas no exterior, sendo que o início da fabricação se dá com o controle completo sobre a qualidade do material recebido pelos fornecedores locais, para só então liberar os processos de solda com certificação anual do SLV Duisburg”, diz ele, referindo-se ao maior instituto de treinamento da Alemanha (o Schweisstechnische Lehr und Versuchsanstalt).

Além de descrever parte do processo produtivo da fabricante alemã, Lessa conta que, após a fabricação e montagem, as autobetoneiras são forçadas em teste com carga de água, simulando o funcionamento do equipamento em campo. “Isso elimina possibilidades de vazamento hidráulico”, diz ele, completando que a Schwing-Stetter tem capacidade de produzir entre 600 e 800 autobetoneiras ao ano no Brasil.

A Zoomlion também produz localmente suas autobetoneiras, em uma unidade fabril recém-inaugurada na cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo. Lá, a empresa produz equipamentos de 8 e de 10 m³. Segundo Antonelli, os modelos menores respondem por 85% das vendas, enquanto os maiores são encomendados para operações de maior distância de percurso. “Para o mercado brasileiro, realizamos algumas modificações em relação ao modelo produzido na China”, diz ele. “Uma delas foi aumentar a rigidez do chassi e, com isso, ganhar mais robustez para trafegar sobre o pavimento de baixa qualidade das rodovias nacionais.”

Outra mudança pontual, como destaca o CEO, foi a redução do peso total do equipamento para contrabalançar o concreto de baixo slump (mais duro e barato) encontrado no mercado nacional.

A Putzmeister, por sua vez, oferece para o mercado local autobetoneiras com balões de 8 e 9 m³, ambas acopladas a caminhões traçados 6x4 e 8x4, com motores de 280 cv. “Essas classes de equipamentos são as mais adequadas para obras em centros urbanos, pois não possuem restrição de tráfego em função do peso e ainda oferecem flexibilidade na distribuição das quantidades de concreto transportado”, diz Satiro.

Segundo ele, devido justamente às restrições de tráfego no mercado brasileiro, o peso do conjunto caminhão, implemento e carga é o fator mais importante a ser considerado. Por isso, os fabricantes trabalham para oferecer conjuntos cada vez mais leves. Isso também representa redução de consumo de combustível e menor custo com manutenção, características que também começam a pautar os mercados europeu e norte-americano. “A Putzmeister utiliza chapas de aço antidesgaste Hardox de 3,5 mm na estrutura do balão”, descreve. “Elas são usadas no lugar das chapas tradicionais de 4,5 mm, uma mudança que diminuiu em 18% o peso do nosso equipamento.”

A empresa possui uma unidade fabril de bombas para concreto em Atibaia, também no interior de São Paulo. Embora ainda não fabrique autobetoneiras nessa fábrica, já há planos concretos para iniciar essa linha de produção em breve, como revela Satiro.

OPERACIONAL

Retomando o ponto inicial, as autobetoneiras têm importância redobrada nas concretagens brasileiras, uma vez que em muitas operações também misturam o concreto. Por causa disso, nunca é demais enfatizar os cuidados especiais de operação e manutenção a serem tomados para se obter o traço desejado para a mistura.

O primeiro é lavar o balão da betoneira antes do carregamento. Depois, é preciso tomar o cuidado de não deixar a água utilizada na lavagem depositar-se no balão, pois isso irá interferir diretamente no traço do concreto. “Sempre que o caminhão chega à usina, o motorista é obrigado a lavar o balão da betoneira e parte da água de lastro resultante desse processo permanece no equipamento, prejudicando o traço do concreto que será depositado ali posteriormente”, enfatiza Antonelli.

Aliás, em relação à qualidade do traço do concreto, Antonelli cita uma extensa lista de causas prejudiciais, embora no topo permaneçam as falhas ligadas à eficiência da autobetoneira, a começar pela qualidade das facas de mistura. “Pensando nisso, a Zoomlion desenvolveu a faca dos misturadores de suas betoneiras em formato de T, de modo que o concreto seja sempre puxado para o fundo do balão, potencializando a mistura”, diz ele. Em outros modelos, como explica o executivo, há revestimentos de vergalhão para a faca. “Conforme o uso, esse material de desgaste sofre muito”, afirma o executivo. “Mas não é incomum encontrarmos autobetoneiras circulando com esses revestimentos pela metade, o que significa que o concreto não está sendo misturado durante o transporte.”

Nos procedimentos operacionais incorretos listados por Antonelli, o cálculo de enchimento do balão da betoneira também aparece com destaque. Segundo ele, a média dos equipamentos do mercado é específica para enchimento de 55% a 59% do espaço total do balão. Isso significa que os equipamentos entre 7 e 10 m³ de capacidade possuem, na verdade, um espaço interno com quase o dobro desse volume, sendo que a parte vazia deve necessariamente existir para que o tombo do concreto ocorra eficientemente dentro da betoneira. “Respeitar o limite de carga de acordo com o volume nominal do equipamento também influencia na qualidade do concreto”, diz ele.

RECOMENDAÇÕES

Outro ponto de atenção na utilização das betoneiras é o respeito às rotações por minuto exigidas para o implemento. Geralmente, elas são programadas para tomar força do motor e girar entre 14 e 18 rpm. “Aumentar essa velocidade não irá melhorar a mistura do concreto. Pelo contrário, vai piorar e ainda comprometer a viabilidade mecânica do equipamento”, explica ele.

Lessa, da Schwing-Stetter, também cita uma série de recomendações. Antes de detalhá-las, o executivo lembra que a operação da autobetoneira é sensivelmente diferente de operações com outros veículos logísticos de carga. Isso porque o material transportado e agitado é o concreto, que é perecível – ou seja, com tempo de vencimento curto – e possui peso específico bastante alto. “Além disso, a carga transportada sempre está em movimento, de um lado para o outro do balão, o que exige que o motorista tenha muito cuidado na condução, principalmente nas curvas”, recomenda.

Quanto ao giro do tambor, necessário para garantir a homogeneidade do concreto, Lessa adverte que não basta aumentá-lo para melhorar a mistura. “Nesse caso, a recomendação é que o operador – principalmente nos carregamentos em centrais dosadoras – deve homogeneizar a carga antes de sua aplicação ou descarga”, sublinha. Adicionalmente, nesse processo o operador costuma subir na escada de inspeção para avaliar visualmente a mistura, uma prática que implica em alto risco de acidente, adverte o especialista.

A limpeza interna do tambor e a avaliação constante da qualidade das hélices de mistura são outros pontos críticos. Segundo Lessa, um tambor com hélice desgastada (ou com concreto aderido em sua superfície interna) prejudica diretamente a agitação da mistura.

RECURSOS

Atualmente, os fabricantes de autobetoneiras trabalham forte para oferecer equipamentos cada vez mais robustos e – ao mesmo tempo – leves. Mas outros recursos, como os sistemas de rastreamento, por exemplo, que são capazes de avaliar o traço do concreto durante o transporte e até mesmo as condições operacionais do veículo, ainda não são disponibilizados no Brasil. No entanto, os fabricantes não excluem essa possibilidade no curto prazo, tendo em vista as incursões nessas tecnologias de suas matrizes no exterior.

E o mesmo acontece com outras tecnologias. No caso da Schwing-Stetter, a ênfase recai sobre as autobetoneiras montadas com bombas estacionarias. O intuito dessa solução é distribuir o concreto – com o uso de tubulação rígida ou flexível – através de mastros ou correias articuladas, facilitando a aplicação em pequenas e médias construções que consumam, no máximo, 24 m³ de concreto. “Ou seja, é uma tecnologia específica para uma carga da betoneira com bomba de concreto e mais dois abastecimentos de 8 m³”, finaliza Lessa.

Tributação tem peso decisivo no segmento

A maioria das usinas de concreto comercializadas no Brasil é do tipo dosadora, o que exige que a mistura seja feita nas próprias autobetoneiras. Em grande parte, a responsável por isso é a política tributária do país, uma vez que as concreteiras recolhem impostos como prestadoras de serviço e, por isso, a Receita Federal entende que elas não podem fornecer um material acabado, já misturado e pronto para ser aplicado numa construção.

Nesse caso, é preciso que a empresa altere o ramo de atividade para produtora de material industrializado e, consequentemente, passe a recolher o Imposto Sobre Produto Industrializado (IPI). Quando o concreto é fornecido em regiões urbanas, há ainda a incidência de ICMS e do PIS/Confins, o que eleva a carga tributária a patamares bem consideráveis. Muitas vezes, tal acúmulo de tributos resulta justamente na opção pelas usinas dosadoras, nas quais o processo é isento do arcabouço tributário – mas requer dupla função dos equipamentos.

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