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Revista M&T - Ed.140 - Outubro 2010
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Infraestutura

Evento mostra Brasil que quer ser vitrine e não vidraça

Forum da Sobratema discute como o País pode pavimentar a estrada do desenvolvimento criando legados concretos para a população

A primeira edição do Sobratema Fórum Brasil Infraestrutura funcionou como um termômetro da economia brasileira. Com o tema “Os caminhos da Infraestrutura no Brasil na visão de importantes especialistas da economia e da construção, o evento reuniu cerca de 600 participantes, entre executivos e profissionais de segmentos envolvidos na expansão do País. Oito palestrantes de alto nível mapearam os potenciais projetos em andamento nos próximos anos e indicaram os desafios que devem pautar os mercados envolvidos com o crescimento brasileiro. O formato do fórum,  palestras entremeadas de coffee breaks, favoreceu o networking entre os participantes.

O evento foi aberto pelo presidente da Sobratema, Mário Humberto Marques, com o resumo da pesquisa realizada pela consultoria CriActive. O levantamento, realizado durante seis meses, listou os principais investimentos na área de infraestrutura previstos para o Brasil até 2016. Os dados colhidos apontaram 9.550 obras em andamento e/ou previstas, com destaque para a construção de hidrelétricas na Região Norte e obras ativas da ár


A primeira edição do Sobratema Fórum Brasil Infraestrutura funcionou como um termômetro da economia brasileira. Com o tema “Os caminhos da Infraestrutura no Brasil na visão de importantes especialistas da economia e da construção, o evento reuniu cerca de 600 participantes, entre executivos e profissionais de segmentos envolvidos na expansão do País. Oito palestrantes de alto nível mapearam os potenciais projetos em andamento nos próximos anos e indicaram os desafios que devem pautar os mercados envolvidos com o crescimento brasileiro. O formato do fórum,  palestras entremeadas de coffee breaks, favoreceu o networking entre os participantes.

O evento foi aberto pelo presidente da Sobratema, Mário Humberto Marques, com o resumo da pesquisa realizada pela consultoria CriActive. O levantamento, realizado durante seis meses, listou os principais investimentos na área de infraestrutura previstos para o Brasil até 2016. Os dados colhidos apontaram 9.550 obras em andamento e/ou previstas, com destaque para a construção de hidrelétricas na Região Norte e obras ativas da área de óleo & gás e petroquímica no Sudeste, particularmente no Rio de Janeiro.

Além da pesquisa, o presidente da Sobratema destacou a relação entre investimento em infraestrutura e Produto Interno Bruto, cruzamento que funciona como fator de medição do quanto um país consolida a base para seu crescimento. “As nações desenvolvidas apresentam uma relação de investimentos por volta de 7% do PIB em obras de infraestrutura”, destaca Marques. No Brasil, os números sempre foram menores. Somente na década de 1970 o Brasil investiu 5,6%, época do chamado Milagre Econômico. Depois de chegar a um nível mínimo de 1,8% em 1994 e subir para 3,8% em 2009, o País pode estar perto de uma retomada, avalia o executivo. “Há uma estimativa de que o Brasil atinja o índice recorde de 6,15% em 2010”.

Marques ressaltou que os dois grandes eventos esportivos previstos (Copa e Olimpíadas) são vetores da recuperação de atrasos históricos em obras de mobilidade urbana. Dos R$ 61,8 bilhões estimados para esse segmento, a expansão dos metrôs nas grandes cidades responde por metade do valor. Tais eventos vão muito além da construção das arenas esportivas, que, aliás, já somam investimentos de R$ 8,2 bilhões, um total que cresceu 14% desde março deste ano”, ressalta o executivo.

A relação de investimentos arrolados pelo presidente da Sobratema impressionou o jornalista econômico Joelmir Betting, segundo palestrante do evento. Ele avalia que há um sufoco orçamentário do setor público na área de infraestrutura, além de um garrote tributário e de um arrocho monetário que torna o crédito bancário brasileiro o mais curto e mais caro do mundo. “O Brasil continua financiando o passado”, destacou o palestrante, fazendo um comentário detalhado do estudo da LCA Consultores, que explicou porque o País aparece em 17° lugar no ranking do G20 na área de infraestrutura de acordo com o Fórum Econômico Mundial (2009-10), realizado na Suíça.

Na escala do ranking, que vai de 1 a 7, a média brasileira foi de 3,4. Com esse valor, estamos abaixo do índice mundial de 4,1 e distante do topo da lista, ocupado pela França (6,6), Alemanha (6,5) e Estados Unidos (5,9). A matriz energética brasileira pontuou bem e o País ficou acima da média, com 5,2. Em compensação, a área de saneamento teve uma pontuação de 2,7 contra a média mundial de 3,9.

A área de transporte também não apresenta resultados bons, com pontuação de 2,6. O pior resultado é a cabotagem, com 0,9. “Temos arroz gaúcho chegando a Belém de caminhão”, frisa o jornalista.

Infraestrutura de transporte
Apesar de acreditar que há muita coisa para ser feita no Brasil, o palestrante Paulo de Tarso Vilela de Resende, da Fundação Dom Cabral, avalia que algumas áreas terão que ser priorizadas em transporte, inclusive com a participação ativa da iniciativa privada. Essas áreas incluem a restauração das rodovias, aumento da densidade ferroviária, principalmente nas fronteiras agrícolas, projetos de privatização de rodovias, portos e aeroportos, investimentos crescentes em mobilidade urbana e inversões para acesso de redes de telecomunicações, casadas com aumento da capacidade das redes de transmissão de dados.

Resende argumenta que o Brasil é a nova fronteira mundial de investimentos em infraestrutura e há uma tendência de se chegar a um consenso entre as demandas da área ambiental e as necessidades da engenharia. “As instâncias de controle, como o Tribunal de Contas da União, também podem ser grandes aliadas, ao fiscalizar de forma inteligente o andamento das obras”, diz.

Complementando o tom de realismo pautado por Resende, o presidente da Volvo, Yoshio Kawakami, trouxe a visão da indústria para o debate no fórum. Utilizando informações de uma pesquisa encomendada pela montadora, ele comparou o desempenho do Brasil e de outros países que formam o bloco econômico conhecido como Bric, com os países desenvolvidos.

Na avaliação do executivo, os países do Bric são uma aposta fiel na balança dos investimentos mundiais em infraestrutura. “O mundo sem o Bric cresce menos. No Brasil e na Índia, a média de investimentos é superior ao crescimento do PIB”, argumenta. O mercado de equipamentos segue recuperando-se da crise financeira, segundo ele, e quase metade do mundo chama-se China. A queda no mercado europeu e norteamericano, inclusive, já compromete a estrutura de fornecimentos globais na avaliação de Kawakami. “Muitos fabricantes de componentes estão deixando de existir e há a realocação de mão-de-obra qualificada em direção a países onde a infraestrutura cresce acima da média”, destaca.

Potência do Pré-sal
A visão de que uma nova geopolítica econômica favorece os países do Bric foi confirmada por Mauro Yuji Hayashi, gerente de Planejamento da Petrobras/E&P-Pré-sal. O especialista explicou como a nova fronteira de produção de petróleo, representada pelo pré-sal, pode catapultar a Petrobras ao topo das empresas petrolíferas mundiais. “A produção nacional, antes focada no pós-sal, agora ganha o incremento do pré-sal, que mostrou-se ser um acerto desde as primeiras explorações” diz ele. Enquanto a taxa de sucesso esperada nas perfurações de novos poços da área do pré-sal era estimada em 30%, os índices reais chegaram a 80%.

Só para efeito de comparação: antes do pré-sal, o Brasil tinha um volume recuperável de petróleo em torno de 27 bilhões de barris num espaço de tempo de 56 anos. Desse total, 13 bilhões teriam sido recuperados em mais de cinco décadas e outros 14 bilhões seriam de reservas. Somente em quatro áreas do pré-sal, o volume recuperável é de 16 bilhões de barris, superior a tudo o que foi produzido no País em 56 anos. E mais: 21 bilhões de barris recuperáveis foram apontados na área do pré-sal em quatro anos, enquanto o País levou 56 anos para atingir um volume recuperável de 27 bilhões de barris.

Além de reforçar a auto-suficiência em produção de petróleo, atingida em 2006, as novas reservas podem permitir a manutenção do crescimento do Brasil para as próximas décadas. O cenário também coloca o País num outro patamar. “Nós reunimos condições positivas, como grandes reservas, alta tecnologia, base industrial diversificada, grande mercado consumidor e estabilidade institucional e jurídica”, avalia Hayashi.

O otimismo do pré-sal foi contrabalançado pela avaliação do vice-presidente do Sinaenco, Leon Claudio Myssior. O executivo chamou a atenção para o fato de os eventos esportivos de grande porte poderem transformar o Brasil numa vitrine ou numa vidraça, dependendo de como o País vai se organizar. Segundo ele, o Sinaenco traçou um quadro realista do desafio brasileiro, indicando que, apesar do tempo já desperdiçado, o foco maior não deve ser os eventos em si, mas o legado que as cidades podem herdar após a Copa e as Olimpíadas.

Dois outros palestrantes agregaram sua experiência de décadas ao fórum da Sobratema. Um deles é o ex-prefeito de São Paulo e atual diretor Administrativo da Eletrobrás, Miguel Colasuonno. Economista de formação, ele ressaltou que a evolução na engenharia tem permitido construir grandes usinas sem afetar o meioambiente. “Há uma procura de produção de energia de forma racional e o Brasil caminha para uma matriz energética diversificada e destacada”, explica.

O arquiteto Siegbert Zanettini reforçou a avaliação racional colocada pelo ex-prefeito de São Paulo. Para ele, o Brasil precisa de um projeto de País, que passa pelo aproveitamento mais inteligente dos recursos. Um exemplo é a construção de edifícios de estacionamentos sobre o solo, o que evita o bloqueio da drenagem das águas pluviais. “A proliferação de garagens subterrâneas, com o consequente bota-fora do entulho indesejável em áreas ou vizinhanças das cidades, não pode ser estimulada”, avalia.

Um caso concreto das idéias do arquiteto foi a construção do Cenpes, centro de pesquisa da Petrobras no Rio de Janeiro. Com projeto de montagem industrial, o canteiro de obras praticamente transformou-se numa fábrica. A racionalização do uso da água, com aproveitamento da chuva, e a redução de energia, favorecendo a iluminação natural, deram ao projeto seu aspecto sustentável. O uso de resíduos reciclados também foi estimulado, transformando os aportes em infraestrutura do Brasil numa vitrine. E não numa vidraça.

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