Revista M&T - Ed.146 - Maio 2011
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Obra Industrial

Comperj finaliza a maior terraplenagem da história

Após movimentar 95 milhões de m³ de terra, estabelecendo um novo recorde em obras de terraplenagem no Brasil, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro inicia a megaoperação de montagem das unidades de refino

A construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) marca a retomada dos investimentos da Petrobras no aumento do seu parque de refino de petróleo pesado. O empreendimento, previsto para ser construído em três fases, terá capacidade para processar 330 mil barris/dia de petróleo quando estiver operando a plena capacidade, a partir de 2018. Com a conclusão recente da terraplenagem do terreno, conforme constatou a reportagem da M&T em visita ao local, as atenções se concentram agora na execução das estruturas das unidades de refino, o que exige a intensa montagem de tubulações e a superação de desafios adicionais, como a falta de mão-de-obra qualificada para esse tipo de serviço.

O Comperj ocupa um terreno de 45 km², dos quais cerca de 11 km² foram destinados às áreas industriais – unidades de refino – a serem implantadas em duas etapas, além da terceira fase destinada à instalação de empresas parceiras no polo petroquímico. Das inúmeras instalações industriais em fase de construção, o destaque fica com a Unidade de Destilação Atmosférica à Vácuo (UDAV), que se encontra


A construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) marca a retomada dos investimentos da Petrobras no aumento do seu parque de refino de petróleo pesado. O empreendimento, previsto para ser construído em três fases, terá capacidade para processar 330 mil barris/dia de petróleo quando estiver operando a plena capacidade, a partir de 2018. Com a conclusão recente da terraplenagem do terreno, conforme constatou a reportagem da M&T em visita ao local, as atenções se concentram agora na execução das estruturas das unidades de refino, o que exige a intensa montagem de tubulações e a superação de desafios adicionais, como a falta de mão-de-obra qualificada para esse tipo de serviço.

O Comperj ocupa um terreno de 45 km², dos quais cerca de 11 km² foram destinados às áreas industriais – unidades de refino – a serem implantadas em duas etapas, além da terceira fase destinada à instalação de empresas parceiras no polo petroquímico. Das inúmeras instalações industriais em fase de construção, o destaque fica com a Unidade de Destilação Atmosférica à Vácuo (UDAV), que se encontra em estágio mais adiantado de execução e exigirá investimentos de R$ 1,15 bilhão. Somando todos os projetos abarcados pelo Comperj, os investimentos totais deverão superar a faixa de R$ 8 bilhões.

Diante desse volume de investimentos e dos trabalhos envolvidos, a implantação do complexo foi dividida em vários lotes, cada um deles sob responsabilidade de um consórcio construtor. A terraplenagem, por exemplo, orçada em R$ 820 milhões, foi realizada pelo consórcio composto pelas construtoras Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão. Essa fase conferiu ao Comperj o recorde de maior movimentação de terra em obras de terraplenagem no Brasil, superando a marca registrada na construção da hidrelétrica de Itaipu, que movimentou 81 milhões de m³ de terra.

“O serviço envolveu a escavação de 55 milhões de m³ de terra e o aterro de outros 40 milhões de m³, totalizando 95 milhões de m³ de terra movimentada”, diz João Veloso, gerente setorial de construção e montagem de infraestrutura da Petrobras. Ele ressalta que, no pico das obras, a terraplenagem mobilizou cerca de 900 equipamentos pesados e 3 mil operários em quatro frentes de trabalho. A frota de caminhões para o transporte de materiais, composta por mais de 290 unidades, contou com a presença desde os modelos menores, com caçamba de 13 m³, até os fora-de-estrada de maior porte.

Remoção de solo mole
Como o Comperj fica instalado em região de vales, seu terreno se caracteriza pela presença de lençóis freáticos em cota elevada do solo, o que poderia comprometer a sustentação das estruturas construídas. “Por esse motivo, realizamos 55 km lineares de drenagens profundas para o rebaixamento dos lençóis freáticos”, diz Veloso. O serviço envolveu a utilização de duas técnicas: a de drenos verticais, com o emprego de geotexteis, e as drenagens de fundo de talvegues.

Essa peculiaridade do terreno, responsável pela intensa presença de solo mole, impôs um desafio adicional à movimentação dos equipamentos de terraplenagem. “As escavadeiras e caminhões de menor porte foram essenciais nessa etapa, pois os equipamentos maiores atolariam nesses trechos”, avalia o especialista. Ao todo, a obra envolveu o tratamento de 2,6 milhões de m³ de solo mole, disposto em camadas médias de 7 m a 8 m e atingindo profundidade máxima de 12 m.

As camadas menores de solo mole foram retiradas com o uso de escavadeiras, enquanto as de grande profundidade requereram a aplicação de geodreno com geogrelha. Essa operação envolveu a cobertura do terreno com uma camada de areia, preparando a área para que perfuratrizes executassem a malha de furos, normalmente com espaçamento de 1 a 2 m. Em seguida, um equipamento apropriado instalou os geodrenos em cada um desses furos para a posterior cobertura da área com geogrelha.

A última etapa do processo consistiu na aplicação de uma camada de brita sobre o terreno, pelo período de seis meses, para o escoamento da umidade do solo por sobrecarga. Para ilustrar as dimensões do projeto, Veloso diz que o serviço dessa fase demandou a utilização de 2 milhões de m³ de areia e 100 mil m³ de brita.

Obras nas Unidades de Refino
Com o fim da terraplenagem, as primeiras instalações de refino começaram a ser construídas, entre elas a Unidade de Destilação Atmosférica à Vácuo (UDAV), que conta com mais de 50% das obras civis realizadas. Dimensionada para processar 150 mil barris/dia, ela permitirá que a Petrobras realize a separação do óleo cru para utilização no processo de refino, gerando materiais como gás liquefeito de petróleo (GLP), nafta, querosene, diesel, gasóleos leves, médios e pesados, resíduos atmosféricos e a vácuo. As obras estão sob responsabilidade do consórcio formado pela Skanska, Promon e Engevix.

Composta por fornos e torres atmosféricas à vácuo, a UDAV deverá conter ainda cerca de 3.250 t de tubulações suportadas por estruturas de pré-moldado de concreto (pipe-racks). Além dessas linhas de dutos, que abastecem a unidade com o óleo cru e possibilitam o escoamento da sua produção, o sistema envolverá ainda a instalação de válvulas e conexões. A montagem dos tubos está prevista para iniciar ainda no segundo semestre deste ano, tão logo as estruturas de sustentação dos pipe-racks sejam concluídas.

Nessa etapa de montagem dos pipe-racks, em fase de execução, o consórcio construtor está mobilizando diversos guindastes de variados portes. Apenas o içamento dos pilares de concreto, com 28 m de comprimento, vem demandando a utilização simultânea de um guindaste de 150 t e de outro de 70 t, empregados no levantamento e verticalização das peças. Após essa etapa da obra, tais equipamentos cederão lugar para guindastes de maior porte, com capacidade para 750 t de carga, que serão utilizados na montagem das chaminés dos fornos e das torres atmosféricas à vácuo.

Desafios logísticos
De acordo com a divisão de Engenharia da Petrobras – vale a explicação de que esse departamento é responsável pelas obras e presta constas à divisão de Abastecimento da companhia, a responsável pela operação futura do Comperj – essa etapa exigirá um contingente de mão-de-obra qualificada, principalmente na área de montagem eletromecânica, que poderá impor um gargalo à continuidade das obras. Segundo André Rangel, gerente de construção e montagem da Unidade de Hidrotratamento de Destilados Médios e da Unidade de Hidrotramento de Querosene de Aviação – duas das três HDT’s que vão compor o Comperj – esse quadro se deve à escassez de mão-de-obra especializada na região.

“Como a instalação do Comperj envolve diversas obras simultâneas, nossa demanda aqueceu o mercado de construção civil da região, onde encontrar mão-de-obra qualificada já é um desafio e tanto”, diz ele. Rangel destaca ainda a dificuldade em administrar toda a logística para aquisição de insumos e equipamentos e seu transporte até o canteiro. Nesse ponto, ele salienta que a construção de um arco rodoviário de 20 km, em torno do complexo petroquímico, foi planejada para sanar esse problema logístico.

A implantação de duas HDTs (Unidades de Hidrotratamento) está prevista para ser concluída em três anos e, segundo Rangel, o cumprimento desse prazo dependerá do sincronismo entre a área de engenharia da Petrobras e o consórcio construtor formado pela Iesa, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia, com foco em planejamentos precisos e no uso de tecnologias que permitam encurtar o cronograma da obras. Nesse último quesito, ele destaca a realização de fundação por meio de estacas de hélice contínua. “Essa tecnologia apresenta grande produtividade, superando nosso planejamento do número de estacas cravadas por dia.” Nos empreendimentos em questão está prevista a cravação de mais de 18 mil m lineares de estacas.

Outras unidades
As obras das HDT’s também consumirão mais de 18 mil m³ de concreto – incluindo pré-fabricados e pisos – além de 1.700 t de aço para armação, 925 t de estruturas metálicas e quase 1.500 t de tubulações, válvulas e conexões. “A montagem das estruturas exigirá diversos equipamentos de grande porte, com destaque para os guindastes sobre esteiras e sobre pneus de 250 t a 1.000 t de capacidade de içamento e para as plataformas elevatórias com lança telescópica e alcance vertical de até 36 m”, prevê Rangel. Ele também vislumbra a aplicação de plataformas elétricas de 37 m, para o içamento de até 12 profissionais no cesto ou de 1 t de carga nos trabalhos em alturas elevadas.

Assim como a UDAV e as HDT’s, outras unidades de refino também se encontram em construção no complexo, embora em estágio menos avançado. A Unidade de Recuperação de Enxofre (URE) e a Unidade de Hidrocraqueamento Catalítico (HCC), por exemplo, ainda estão em fase de fundação, sendo que essa última utilizará o  método de estaca por hélice contínua. “As obras da URE deverão consumir 630 t de tubulações, 22 mil m³ de concreto e 1.780 t de estruturas metálicas, com o emprego de caminhões guindautos, plataformas elevatórias, empilhadeiras e guindastes de até 440 t na montagem das estruturas”, informa a divisão de Engenharia da Petrobras.

Já a HCC, que deverá mobilizar os equipamentos para a montagem das estruturas a partir do último trimestre deste ano, consumirá algo em torno de 22 mil m³ de concreto, 3.600 t de tubulações e 330 t de estruturas metálicas destinadas, principalmente, à cobertura da edificação. É possível antever, porém, que a movimentação desses materiais deverá contar com guindastes de até 450 t de capacidade, segundo a Petrobras.

A terraplenagem e os empreendimentos relatados na reportagem – incluindo ainda a construção de uma Unidade de Coqueamento Retardado (UCR) e de mais uma Unidade de Hidrotratamento (HDT) – compreendem a primeira fase de obras do Comperj, que colocam em plena operação a Refinaria I. A segunda fase de implantação do complexo envolve a constituição do Pólo Petroquímico, onde serão oferecidas parcerias para empresas petrolíferas interessadas (veja quadro na pág. 36). A terceira e última fase diz respeito à construção da Refinaria II, com capacidade de processamento de petróleo idêntica à da Refinaria I, ou seja, de 165 mil barris/dia.

 

Braskem participa do Comperj
O conselho de administração da petroquímica Braskem, empresa controlada pelo grupo Odebrecht, aprovou a participação da empresa no Comperj, mas ainda sem definição completa do formato dessa presença. Segundo Paulo Roberto Costa, diretor de abastecimento da Petrobras, a Braskem será a dona da central petroquímica de matérias-primas, além das unidades de polietileno e polipropileno, e, provavelmente, da unidade de butadieno. A central de matérias-primas produzirá 1,1 milhão de t de eteno.

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