Como qualquer setor produtivo, a indústria de asfalto também busca desenvolver tecnologias que agreguem sustentabilidade a seus produtos e processos, combinando redução dos impactos ambientais com manutenção do desempenho e ganhos econômicos.
E esses esforços já rendem resultados, como o reaproveitamento do RAP (do inglês Reclaimed Asphalt Pavement, ou Pavimento Asfáltico Recuperado), que após ser retirado dos pavimentos é processado e reinserido em novas misturas. Relativamente conhecido no Brasil – embora ainda pouco utilizado –, esse reaproveitamento de material deve ganhar impulso com a recente publicação de uma resolução do DNIT (Departamento Nacional de Infraestutura de Transportes) que exige o uso do RAP, além de uma norma relacionada à sua aplicação (v. Box).
Outra opção potencialmente sustentável no quesito ambiental – e ainda menos usual no país –
Como qualquer setor produtivo, a indústria de asfalto também busca desenvolver tecnologias que agreguem sustentabilidade a seus produtos e processos, combinando redução dos impactos ambientais com manutenção do desempenho e ganhos econômicos.
E esses esforços já rendem resultados, como o reaproveitamento do RAP (do inglês Reclaimed Asphalt Pavement, ou Pavimento Asfáltico Recuperado), que após ser retirado dos pavimentos é processado e reinserido em novas misturas. Relativamente conhecido no Brasil – embora ainda pouco utilizado –, esse reaproveitamento de material deve ganhar impulso com a recente publicação de uma resolução do DNIT (Departamento Nacional de Infraestutura de Transportes) que exige o uso do RAP, além de uma norma relacionada à sua aplicação (v. Box).
Outra opção potencialmente sustentável no quesito ambiental – e ainda menos usual no país – é o chamado ‘asfalto morno’ (ou WMA, da sigla em inglês para Warm Mix Asphalt), que sai das usinas a temperaturas inferiores às do ‘asfalto quente’, podendo ser obtido por processos físicos e químicos.
Uma das modalidades do asfalto morno é a espuma de asfalto, que resulta da reação entre o CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo) e água injetada a alta pressão, que expande o volume e reduz a viscosidade, proporcionando maior aderência aos agregados. Isso permite reduzir a temperatura de secagem e aquecimento. “Para uma mistura na qual os agregados precisariam estar a 150oC, é possível reduzir para uns 115oC”, exemplifica Ivan Reginatto, gerente comercial da Ammann. “Como os agregados compõem a parte amplamente majoritária, toda a mistura tem sua temperatura reduzida.”
Essa redução da temperatura proporciona benefícios como menor consumo de combustível e redução de emissão de CO2 e de fumos, que prejudicam o ambiente de trabalho. Na Ammann, as usinas atualmente disponibilizadas no Brasil são preparadas para receber o sistema de produção de espuma, embora ainda como opcional. “Também é possível fazer um retrofit em equipamentos mais antigos, para a introdução desse sistema”, ressalta Reginatto.
As linhas de usinas da Ciber também saem de fábrica preparadas para receber o que Marcelo Zubaran, gestor de marketing da empresa, chama de ‘kit espuma’, composto por câmara de expansão (na qual o CAP entra em contato com a água), bomba d’água e softwares, entre outros itens. “A configuração das usinas para a produção de espuma de asfalto é feita no sistema plug and play, sendo que até o software já vem pronto para também trabalhar com o kit espuma”, diz.
Mesmo com os agregados menos aquecidos, comparativamente à mistura a quente, a espuma de asfalto não perde propriedades de aderência e coesão, assegura Zubaran. Além de gerar vantagens econômicas e ambientais, a tecnologia proporciona melhores condições de trabalho para os profissionais, que podem trabalhar com um material que aquece menos o ambiente operacional. “A espuma pode ser usada tanto na recuperação quanto em um pavimento novo”, ele ressalta.
Ao reduzirem a temperatura, usinas de asfalto morno trazem ganhos ambientais e operacionais
CONHECIMENTO
Mas a espumação não é a única forma de produção de mistura morna de asfalto, pois também é possível utilizar aditivos do tipo surfactante que, de acordo com Zubaran, da Ciber, baixam a tensão superficial do CAP, melhorando assim a adesividade aos agregados. Segundo ele, “experiências realizadas em outros mercados – especialmente na Europa – mostram resultados muito positivos na combinação desses dois tipos de produção de mistura morna, ou seja, espumação e aditivos”.
O especialista observa um interesse crescente pela tecnologia de espuma de asfalto, porém em um ritmo ainda abaixo das usinas que permitem o aproveitamento do RAP. Segundo ele, o principal empecilho para uma maior demanda é técnico. “A capacidade de espumação depende muito de cada CAP, alguns espumam mais, outros menos”, explica Zubaran. “Para trabalharem mais com espuma de asfalto, os usuários precisam conhecer melhor esses detalhes.”
Configuração das usinas para a produção de espuma de asfalto pode ser feita no sistema plug and play
Em países como EUA e Austrália e, em menor escala, na Europa, o uso da espuma de asfalto já é intenso, principalmente como complemento à utilização de RAP, como relata Marcelo Ritter, coordenador de marketing e vendas da Ammann.
No Brasil, ele pondera, seu uso ainda é inibido por fatores como uma visão empresarial de curto prazo, que reduz o interesse por uma tecnologia que, embora proporcione retorno expressivo a médio e longo prazos, também exige um investimento adicional – equivalente a uns 6% do custo da usina – na aquisição do implemento. “Mas também falta conhecimento sobre ela”, concorda Ritter.
Na Marini, as usinas podem igualmente ser construídas de forma a receber os implementos necessários à produção de espuma de asfalto. “Porém, não destacamos essa solução em nosso portfólio, pois ainda não há demanda por ela no Brasil”, ressalta José Edson Bezerra, gerente de vendas da Bomag Marini no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.
Impulsionado por vantagens ambientais, uso de RAP deve se acelerar no Brasil
Para ele, o uso deve expandir-se futuramente, até pelas vantagens ambientais que proporciona. Mas não apenas por isso. “A espuma também minimiza o envelhecimento do ligante, viabiliza o transporte de massa asfáltica a distâncias maiores pelo menor risco de resfriamento e permite o ensacamento da mistura”, complementa Bezerra.
REAPROVEITAMENTO
Uma forma já mais usual de agregar sustentabilidade à pavimentação asfáltica é o reaproveitamento do RAP, que pode ser feito de duas formas. Em uma delas, in situ (no local), o material é aplicado a frio para compor camadas estruturais do pavimento. Também é possível realizar o reaproveitamento a quente em usinas, que nesse caso devem receber complementos como silo dosador e sistema de pesagem.
As usinas da Ammann são preparadas de fábrica para permitir a conexão do acessório e o uso de RAP. “Em âmbito global, temos equipamentos que permitem usar até 100% de RAP, mas isso requer um sistema de pré-aquecimento do agregado reciclado”, destaca Ritter. “No Brasil, a demanda ainda está restrita a equipamentos que permitem usar no máximo 40% de RAP, mas que não exigem a secagem prévia dos agregados.”
De acordo com Zubaran, todavia, a secagem prévia proporciona outra vantagem, além do reúso de percentuais maiores de agregado reciclado. “A usinagem a quente com reciclados permite reduzir a quantidade de CAP, pois já há um pouco dele no material reciclado”, ele observa, destacando que as usinas da Ciber saem prontas para receber o RAP.
Sob a marca Wirtgen, a Ciber também disponibiliza recicladoras que, além de realizarem a reciclagem in loco dos pavimentos, permitem a adição da espuma asfáltica e outros ligantes, que melhoram as propriedades do material. “Podem ainda ser utilizados outros aditivos, como cal, cimento e emulsão asfáltica”, detalha Zubaran.
Para Bezerra, da Bomag Marini, o uso de RAP deve se acelerar no Brasil, especialmente após a publicação da nova norma do DNIT. “Essa tecnologia proporciona uma vantagem econômica relevante, pois um índice de 95% em média da mistura asfáltica pode ser recuperado na forma de RAP”, justifica.
MISTURA DE SOLO
Outra tecnologia disponibilizada no portfólio da Marini são as usinas misturadoras de solo. Diferentemente das usinas de asfalto, esses equipamentos não aquecem os materiais, mas promovem a homogeneização das misturas utilizadas nas bases. Como destaca Bezerra, são soluções interessantes para obras como solos de barragens – que não podem ser muito porosos – ou pistas de aeroportos, que têm várias camadas, cada uma com características específicas. “A usina de solo permite preparar uma base relativamente arenosa ou argilosa, inclusive com a adição de outros materiais, como cimento”, exemplifica.
Como já há algum tempo não há obras desse gênero no Brasil, a demanda por usinas misturadoras de solo vem diminuindo no país. “Em outros países, contudo, são muito utilizadas em obras com pavimentos de 25 cm ou bem mais que isso, dos quais apenas uns 5 cm têm CAP”, descreve Bezerra. “O restante é solo preparado e homogeneizado, algo que não se consegue fazer com uma motoniveladora, por exemplo.”
Nova resolução exige uso de RAP em obras de rodovias federais
Publicada no dia 9 de julho, a Resolução nº 14, do DNIT, torna obrigatório o reaproveitamento do RAP em obras de restauração, adequação de capacidade e ampliação de rodovias federais. “O reaproveitamento do RAP ainda é muito restrito no Brasil, basicamente nas concessionárias”, observa Luiz Guilherme Rodrigues de Mello, diretor de planejamento e pesquisa do órgão. “Mas proporciona ganhos relevantes, tanto ambientais quanto econômicos.”
Resolução nº 14do DNIT torna obrigatório o reaproveitamento do RAP em obras de rodovias federais
Desde 2005, ele recorda, o DNIT já trabalha com uma norma relacionada ao uso do RAP. Agora, juntamente com a nova resolução, a autarquia também publicou a Norma 033/2021, que atualiza esse documento, acentuando o controle de qualidade do RAP: “Talvez esse seja o aspecto mais importante para a manutenção do desempenho de um pavimento que reaproveita material reciclado”, ressalta Mello.
No entanto, a nova norma não trata de asfalto morno. Mas o DNIT, informa o diretor, já autorizou obras que utilizaram essa tecnologia, mantendo-se aberto a propostas que considerem seu uso, seja através de espuma de asfalto ou com aditivos. “O asfalto morno também pode minimizar impactos ambientais, proporcionando vantagens econômicas”, comenta Mello.
Tecnologia traz vantagens econômicas, ambientais e operacionais
Desde 2007, a empresa de pavimentação Fremix utiliza uma usina da marca Wirtgen para reciclar materiais com o uso de espuma de asfalto. Segundo Valmir Bonfim, CEO da Fremix, trata-se de um processo a frio – os agregados não são aquecidos – feito com baixo teor de ligante, resultando em uma ligação ‘não-contínua’ (diferentemente do processo a quente, no qual CAP e agregados aquecidos, com alto teor de betume, resultam em uma ligação contínua). “Esse processo a frio permite reciclar tanto RAP quanto RCD (Resíduo da Construção e Demolição), sem a necessidade de aquecimentos dos materiais pétreos”, observa.
Com alta produtividade, plantas possibilitam a estocagem de material reciclado para uso posterior
O especialista considera a tecnologia promissora não apenas pelos benefícios ambientais e econômicos, mas ainda pela alta produtividade, em torno de 200 ton/h. “Sua aplicação possibilita a estocagem de material reciclado para uso posterior”, acrescenta o executivo, que está lançando o livro ‘Pavimento Sustentável’ (Exceção Editorial) sobre espuma de asfalto e outros temas relacionados.
Por sua vez, a concessionária CCR já utilizou processos de reciclagem do RAP com usinas e recicladoras que possibilitam a utilização de asfalto espumado. “Podemos destacar a praticidade durante a utilização do equipamento, aproveitamento do RAP em até 50%, facilidade de instalação e manutenção e melhor qualidade do material produzido”, sublinha Denysson Canesso, gerente de engenharia da CCR Engelog. “Mas também há algumas desvantagens, relacionadas ao valor de aquisição e aos custos operacionais do equipamento.”
Segundo ele, usinas que integram RAP às misturas – sem o uso da espuma – também vêm sendo aproveitadas em projetos da CCR. E esse uso de reciclados, lembra Canesso, pode ser feito tanto com usinas gravimétricas – que realizam o peneiramento e o controle por peso dos agregados –, quanto com volumétricas, nas quais o controle é feito por volume.
“Do ponto de vista técnico, não há limitações para o uso desse tipo de usina de asfalto gravimétrica, uma vez que o produto final apresenta maior qualidade”, pontua. “Mas, do ponto de vista econômico-financeiro, pode haver alguma restrição relacionada ao valor de aquisição.”
Saiba mais:
Ammann: www.ammann.com/pt-br
Bomag Marini: http://bomagmarini.com.br
CCR Engelog: www.grupoccr.com.br
Ciber: www.wirtgen-group.com/pt-ao/empresa/ciber
DNIT: www.gov.br/dnit
Fremix: http://fremix.com.br
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