Revista M&T - Ed.224 - Junho 2018
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Locação

A difícil volta por cima

Setor de locação de máquinas e equipamentos já emite sinais de melhora, embora o fluxo de trabalho ainda não esteja ocorrendo da forma esperada e também necessária
Por Santelmo Camilo

O setor de locação de equipamentos da Linha Amarela apresentou sinais de recuperação no primeiro semestre de 2018. Embora a retomada ainda não esteja condizente com o esperado e muitos contratos sejam de curto prazo, alguns representantes do setor de locação entrevistados pela Revista M&T relatam uma melhora sensível nos negócios em relação a 2017. A sensação é que, se no ano passado as locadoras estavam estagnadas e quase sem trabalho, agora já começam ao menos a faturar algo.

Para José Antônio Spinassé, diretor da Luna Locações e Transportes e também diretor da Associação Paulista dos Empreiteiros e Locadores de Máquinas de Terraplenagem e Ar Comprimido (Apelmat), no ano passado as empresas de São Paulo trabalharam com aproximadamente de 25% a 30% da frota, com essa estimativa se elevando para uma média de 40% atualmente. “Entre as locadoras de Linha Amarela, contudo, nenhuma ainda chegou a 50% no setor da construção”, estima. “Pode ser que as prestadoras de serviço para o agronegócio estejam com percentual mais alto, mas estão estabele


O setor de locação de equipamentos da Linha Amarela apresentou sinais de recuperação no primeiro semestre de 2018. Embora a retomada ainda não esteja condizente com o esperado e muitos contratos sejam de curto prazo, alguns representantes do setor de locação entrevistados pela Revista M&T relatam uma melhora sensível nos negócios em relação a 2017. A sensação é que, se no ano passado as locadoras estavam estagnadas e quase sem trabalho, agora já começam ao menos a faturar algo.

Para José Antônio Spinassé, diretor da Luna Locações e Transportes e também diretor da Associação Paulista dos Empreiteiros e Locadores de Máquinas de Terraplenagem e Ar Comprimido (Apelmat), no ano passado as empresas de São Paulo trabalharam com aproximadamente de 25% a 30% da frota, com essa estimativa se elevando para uma média de 40% atualmente. “Entre as locadoras de Linha Amarela, contudo, nenhuma ainda chegou a 50% no setor da construção”, estima. “Pode ser que as prestadoras de serviço para o agronegócio estejam com percentual mais alto, mas estão estabelecidas em cidades mais afastadas da capital.”

Locadoras estão faturando o mínimo necessário para manter-se no mercado, diz diretor da Apelmat

De acordo com ele, o locador ainda está tentando fazer seu negócio sobreviver, enquanto não há uma retomada mais consistente. Assim, as frotas estão sendo alugadas, por exemplo, para trabalhar em obras de infraestrutura de saneamento – como córregos em fase de canalização ou desassoreamento – ou obras da iniciativa privada, como escavações para construção predial, reformas e construções pequenas. Além disso, estão sendo realizadas algumas obras rodoviárias no interior de São Paulo.

Em outras palavras, Spinassé se arrisca a dizer que as empresas de locação estão faturando o mínimo necessário para manter-se sem apertos. “Se essas obras continuarem e forem mantidas as atuais porcentagens de trabalho, o mercado de locação certamente caminhará para uma retomada gradual”, avalia. “Nosso anseio é que o crescimento seja sustentável e a tendência de recuperação da economia se mantenha sem retrocessos nos próximos anos.”

SOBREVIVÊNCIA

O dirigente torce para que haja uma melhora na quantidade de trabalho que, ao menos, dê condições para que as locadoras mantenham os equipamentos que restaram na frota, ao invés de os venderem por valores muito baixos, como infelizmente tem sido praticado. “A venda dos ativos tem sido uma saída para as locadoras e empreiteiras reduzirem o endividamento com instituições financeiras e continuarem sobrevivendo no mercado”, comenta.

Setor de rental esboça sinais de recuperação em algumas regiões do país

No período de vacas magras, essa grande oferta de máquinas no mercado de usados encontrou pouca procura por parte de investidores, fazendo muitos locadores derrubarem os preços para valores abaixo da média, considerados “aviltantes” na avaliação de especialistas do setor.

Devido à escassez de trabalho, a desvalorização caiu para níveis tão críticos que uma retroescavadeira com cerca de três anos e pouco uso chegou a ser vendida por 25% do seu valor nominal, já considerados os cálculos de depreciação. Ou seja, a máquina zero, que havia sido adquirida por R$ 400 mil reais e se depreciou com os anos, está avaliada em R$ 210 mil pela tabela, mas hoje pode ser encontrada por R$ 60 mil. “O desespero pela sobrevivência favoreceu investidores oportunistas, que oferecem condições de compra a preços muito baixos, mas que atendem à emergência do vendedor”, conjectura Spinassé, explicando que esses investidores normalmente pagam à vista e adquirem a máquina em bom estado.

E não foi só na Linha Amarela que isso ocorreu. Segundo José Antônio Souza de Miranda Carvalho, presidente do Sindileq/MG (Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos, Máquinas, Ferramentas e Serviços Afins do Estado de Minas Gerais), as locadoras de máquinas de portes diversos – de serras manuais e marteletes a andaimes e elevadores de obras – também reduziram seus estoques, abrindo um novo cenário no segmento.

De acordo com ele, uma locadora de Belo Horizonte, por exemplo, já adquiriu duas concorrentes. “Existem locadoras capitalizadas, sem dívidas nem despesas com aluguéis, funcionando com estrutura enxuta, de olho nessa tendência do mercado”, observa Carvalho. “Elas não só fazem especulação no preço dos equipamentos usados, como compram ativos de concorrentes e adquirem empesas com frota operando em 25% a 30%”.

Na análise de Eurimilson Daniel, diretor da Escad Rental e membro da diretoria da Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações Representantes dos Locadores de Equipamentos, Máquinas e Ferramentas (Analoc), além de vice-presidente da Sobratema, até aqui a recuperação ainda não sustenta as empresas de locação que, embora tenham algum trabalho, continuam a operar no vermelho. Para ele, fatores como depreciação de equipamentos, reposição de frota, manutenção preditiva e rentabilidade ainda estão fora dos cálculos. “No aspecto de gestão financeira, as empresas já enxugaram todos os custos possíveis, mas ainda estão trabalhando o mínimo para sobreviver”, avalia. “O perfil da frota utilizada é de equipamentos urbanos, por períodos menores, já que a falta dos investimentos em infraestrutura dificulta obras de longo prazo e que demandem máquinas mais pesadas.”

Para Daniel, a retomada está diretamente atrelada ao cenário político e à credibilidade de o país atrair investimentos. Nesse sentido, há poucas chances de retomar as obras ainda neste ano, sendo necessárias decisões legislativas para garantir a retomada em 2019. “Muito se fala em melhora da economia brasileira, mas a retomada ainda está muito lenta para nosso setor operacional de Linha Amarela”, lamenta. “Na indústria, já se observa uma recuperação, mas não teremos mais juros subsidiados, haverá maior pulverização nas vendas com menos concentração e os preços ainda não registraram aumentos importantes.”

Para locadores, vitalidade do setor está diretamente atrelada à capacidade de o país atrair novos investimentos

EXPECTATIVA

A visão sobre a locação na Linha Amarela também é manifestada com cautela em Minas Gerais. Desde o início do ano, esse mercado tem se recuperado de forma gradual no estado, especialmente na atividade de construção, que vem apresentando maior quantidade de consultas e fechando contratos de curto prazo. Já os segmentos industrial e de pavimentação, dois grandes propulsores do faturamento da Linha Amarela no estado, ainda apresentam dificuldades em voltar a crescer.

De acordo com Eduardo Zwetkoff Eustáquio, diretor da Lokmax Logística e Equipamentos, o ano continuará sendo de instabilidade e incertezas, mantendo a volatilidade de faturamento que as empresas de locação têm vivenciado nos últimos anos. Nesse sentido, o locador mineiro também compartilha a visão dos paulistas Spinassé e Daniel no que tange à realidade desafiadora do mercado, reiterando que ainda não se percebe uma reação significativa. “Está sendo necessário muito esforço por parte dos empresários para manter os negócios, mas acreditamos que o pior já passou”, analisa. “A tendência agora é de melhora.”

Para Luiz Fernando de Pinho Almeida, presidente do Sindileq/BA (Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos, Máquinas, Ferramentas e Serviços Afins do Estado da Bahia), a realidade é semelhante em sua região. Embora não existam dados oficiais, Almeida calcula que mais de 40% das empresas locadoras baianas de Linha Amarela sucumbiram à crise. No país, estima-se que a baixa chegou a 20%. Em tal contexto, ele lembra que muitos locadores viram as reservas de capital minguar por falta de obras. “O que restou foram dívidas nos bancos e inadimplência de nossos contratantes”, afirma.

Menos mal que o setor já esboça sinais de uma discreta recuperação na região. A locação de Linha Amarela, diz Almeida, apresentou sinais nítidos de melhora no estado no primeiro semestre. De acordo com ele, no momento ainda predominam pequenas obras em contratos de curto e médio prazo, com serviços complementares de final de governo e implantação de parques eólicos.

Mas já há mais consultas, contatos e cotações, o que tem gerado motivação. “Estamos a caminho de uma recuperação, de reagir e tornar o setor de locação, que já foi responsável pela compra de 50% da Linha Amarela, voltar a ser um gigante”, comenta. “Em um primeiro momento, o setor deve ser impulsionado por novos empreendimentos e obras, mas isso só ocorrerá quando a economia destravar, os investidores se animarem e ficarem mais confiantes.”

Como se vê, entre todos os entrevistados há consenso de que a pior fase já passou, deixando os locadores mais resistentes e aptos a enfrentar desafios. Os empresários, diz Almeida, agora estão mais maduros, com visão de futuro e prudentes com os riscos. “Daqui para frente, é importante trabalhar com uma eficiente gestão de caixa e de custos, simplificando o máximo possível o negócio e enxergando oportunidades de mercado, lembrando sempre de cativar os clientes através da qualidade no atendimento”, conclui.

Novo perfil da locação brasileira requer foco em gestão, segmentação de mercado e manutenção dos ativos

MUDANÇA DE PERFIL

Para otimizar a prestação do serviço e evitar maus contratantes, as empresas de locação de máquinas e equipamentos vêm se esforçando para moldar um novo perfil no setor. Confira algumas recomendações:

  • Gestão empresarial: os locadores devem ter mais controle da informação financeira, gestão de caixa, maior visão tributária, operacional e logística. A qualidade (do produto, da equipe e da informação) entrou na pauta dos resultados.
  • Perfil técnico-operacional das frotas: cada locador deve se atentar ao seu perfil de cliente e investir nessa direção. Hoje, o Brasil possui espaço para a diversificação da linha dentro de um mesmo segmento. O perfil técnico-operacional passa por inovação, renovação de frota e monitoramento remoto.
  • Gestão da manutenção: é preciso manter a frota sempre com a manutenção em dia, contando com técnicos qualificados. Será necessário melhorar o controle, capacitar mão de obra e aperfeiçoar a operação, gerando profissionais mais qualificados.

Saiba mais:

Apelmat: apelmat.org.br

Escad: escad.com.br

Lokmax: www.lokmax.com.br

Luna: www.lunatransportes.com.br

Sindileq/BA: www.sindlocba.com.br

Sindileq/MG: www.sintralmg.com.br

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