Revista M&T - Ed.287 - Setembro 2024
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ESPECIAL ESG

A revolução da sustentabilidade

Respondendo aos crescentes desafios do século XXI, conceito de responsabilidade socioambiental e corporativa torna-se crucial para a sobrevivência das empresas

Por Norwil Veloso, com colaboração de Marcelo Januário

Nesta edição comemorativa de 35 anos, a Revista M&T aborda um tema que vem transformando a fundo as estratégias do setor de máquinas para construção e mineração, modificando desde projetos de engenharia e processos produtivos até as operações em campo, passando pelo descarte em fim de vida útil e a reciclagem dos ativos.

Irreversível, toda essa revolução foi deflagrada por um conceito que nem é tão novo, mas que recentemente ganhou força para mover as estruturas do setor em âmbito global. É claro que estamos falando da agenda ESG, que muita gente no setor ainda não compreende em toda a sua extensão, o que motiva uma explanação mais focada na área de máquinas móveis.

Em termos conceituais, a sigla ESG (Environmental, Social and Gov


Por Norwil Veloso, com colaboração de Marcelo Januário

Nesta edição comemorativa de 35 anos, a Revista M&T aborda um tema que vem transformando a fundo as estratégias do setor de máquinas para construção e mineração, modificando desde projetos de engenharia e processos produtivos até as operações em campo, passando pelo descarte em fim de vida útil e a reciclagem dos ativos.

Irreversível, toda essa revolução foi deflagrada por um conceito que nem é tão novo, mas que recentemente ganhou força para mover as estruturas do setor em âmbito global. É claro que estamos falando da agenda ESG, que muita gente no setor ainda não compreende em toda a sua extensão, o que motiva uma explanação mais focada na área de máquinas móveis.

Em termos conceituais, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance, em inglês) se refere a um conjunto de boas práticas a serem desenvolvidas por entidades públicas ou privadas com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade.

Na prática, trata-se de uma forma de mostrar responsabilidade e comprometimento com a sociedade, induzir boas práticas de gestão corporativa e trazer resultados para as empresas que apresentam bons níveis nessas atividades, cada vez mais críticas em uma conjuntura de mudanças climáticas, crises geopolíticas e disrupturas tecnológicas.


Baseado em responsabilidade e comprometimento, o conceito ESG
ganhou força para mover as estruturas do setor em âmbito global

DESENVOLVIMENTO

O processo de desenvolvimento do ESG se iniciou nos anos 70, quando foram feitos os primeiros investimentos com esse enfoque. Porém, a sigla ESG – que se tornaria um atestado da responsabilidade das empresas em termos de gestão – começou a tomar forma somente a partir de 2004, quando foi divulgado um documento chamado Who cares wins (“quem se importa, vence”, em inglês), endossado por 20 instituições financeiras convidadas pela ONU a apresentar diretrizes sobre como integrar as questões ambientais, sociais e de governança em suas análises de investimento.

O relatório mostrou que as empresas que se preocupavam com esses valores traziam benefícios para a sociedade e agregavam valor aos negócios. Em 2007, surgiram os primeiros green bonds, títulos para captação de recursos para melhoria ambiental. Anos depois, em 2015, os líderes mundiais ratificaram o Acordo de Paris, com o objetivo de garantir zero emissões líquidas de carbono no mundo até 2050.

Em 2019, o Business Roundtable, grupo empresarial que reúne os líderes das principais empresas norte-americanas, divulgou uma carta rompendo com a ideia de que os negócios existem apenas para dar retorno aos acionistas. Essa postura foi reforçada no mercado financeiro por Larry Fink, diretor executivo da Black Rock, a maior gestora de fundos do mundo, ao anunciar em 2020 que as empresas deveriam assumir compromissos com a sustentabilidade, o que passaria a ser um critério para avaliação de investimentos.

Naquele mesmo ano, o Fórum Econômico Mundial lançou em Davos um guia de métricas baseado nos valores de ESG, prática reforçada no encontro seguinte, em janeiro de 2021.

CONCEITO

Basicamente, a agenda ESG está assentada sobre três pilares, começando pelo Ambiental (Environment), que se refere aos impactos diretos ou indiretos das atividades das empresas sobre o meio ambiente e as consequências para os demais seres vivos. Como exemplos disso, pode-se citar o aquecimento global e a pegada de carbono, mas também investimento em energias renováveis, geração de resíduos sólidos e emissões de gases de efeito estufa e de poluentes.

Além de mitigar os efeitos negativos, espera-se que as empresas se proponham a preservar e, se necessário, restaurar seus ecossistemas. Alguns dos principais benefícios ambientais da política ESG incluem redução dos impactos atrelados às mudanças climáticas, diminuição de desmatamentos e regeneração de recursos naturais.

O pilar Social (Social) se refere às interferências da organização nas comunidades e entre colaboradores, investidores, fornecedores e governos. Contempla, entre outras ações, projetos de desenvolvimento local para redução de desigualdades sociais e econômicas, proteção de dados e privacidade, valorização da saúde e segurança do trabalho, medidas para evitar a discriminação e o assédio, iniciativas voltadas para o bem-estar da sociedade e dos funcionários.

Como benefícios sociais, pode-se citar o desenvolvimento das comunidades do entorno, inclusão e diversidade no ambiente de trabalho e incentivo à progressão feminina.


Incorporada às ações das empresas, estratégia busca equilibrar interesses financeiros e posturas
relativas a meio ambiente, sociedade e ética nos negócios, mostrando responsabilidade e
comprometimento com consumidores, colaboradores e fornecedores

Já Governança (Governance) se refere à gestão corporativa, ou seja, sobre como a empresa é administrada por seus gestores e diretores, buscando atender simultaneamente aos interesses de funcionários, acionistas e clientes. Abrange aspectos como composição (organograma) do corpo diretivo e do conselho de administração, políticas de compliance e transparência, respeito à legislação e normas vigentes, combate à corrupção e relação com entidades governamentais.

Entre outros, os benefícios da governança incluem identificação e mitigação dos riscos socioambientais, maior competitividade devido à eficiência, perenidade e fortalecimento da marca no mercado.

Como ações relevantes no dia a dia das organizações, pode-se citar a busca de energia limpa e renovável e a redução dos níveis de emissão de CO2, do consumo de energia e da geração de resíduos, assim como o monitoramento do clima organizacional. Em seu conjunto, essas ações internas das organizações foram seguidas pelos consumidores, que passaram a optar por produtos e serviços de empresas que adotam os compromissos da agenda ESG.

IMPLANTAÇÃO

Evidentemente, isso aumentou a importância de uma comunicação transparente e confiável com os stakeholders, baseada em projetos que contribuam para resolver questões sociais e ambientais, avalizando o papel da empresa como agente social.


Ações internas das organizações foram seguidas pelos consumidores,
que passaram a optar por produtos e serviços de empresas
que adotam os compromissos da agenda ESG

A implantação compreende algumas etapas básicas, começando por “Referências”, na qual se busca conhecimento em fontes internacionais sobre as possibilidades de redução dos impactos negativos e de aumento dos positivos, enquanto se verifica como operam as empresas com programas já estabelecidos (benchmarking), acompanhando os processos e os resultados dessas experiências.

A seguir, na etapa “Estratégia” são definidos os temas mais relevantes para a empresa e seus stakeholders, assim como a forma de abordagem e o processo de evolução. Nessa etapa, pode-se usar ferramentas como PDCA (Plan / Do / Check / Act), 5W2H (Who / What / Where / When / Why / How / How Much) e análise SWOT (Strengths / Weaknesses / Opportunities / Threats) para relacionar as estratégias e sua forma de aplicação.


Na etapa "Estratégia", são definidos os temas mais relevantes
para a empresa e seus stakeholders, assim como a forma
de abordagem e o processo de evolução

Por sua vez, o “Mapeamento de riscos e oportunidades” refere-se a cada tema estratégico, com definição de processos e metas, buscando sinergias e inovações. Em seguida, o “Plano de ação” envolve estratégias e metas de curto e médio prazo para cada assunto, com avaliação das modificações internas necessárias.

É bom frisar que nessa etapa não existe uma abordagem padrão, pois é preciso definir a estrutura de dados em função das necessidades específicas da organização.

Na “Execução”, prevê-se inclusive a formação de um conselho responsável por planejar, executar e analisar todos os processos de ESG em andamento na empresa. Já o “Acompanhamento” mede a evolução de cada item da estratégia, monitorando o desempenho das metas ESG, avaliando os resultados das práticas implantadas e ajustando os procedimentos e métricas em função dos resultados.

Por fim, a “Comunicação”, dirige-se ao público interno e externo, selecionando as informações que devem ser divulgadas sobre os resultados obtidos.

AVALIAÇÃO

Aos poucos, as empresas vêm incrementando o interesse por boas práticas tanto devido à própria conscientização como pela maior pressão dos investidores. Atualmente, deixar de seguir as diretrizes ESG pode afetar diretamente a avaliação de investimentos e até mesmo comprometer a imagem da empresa.

Contudo, ainda não há uma forma ubíqua de atestar uma empresa como “ESG”. Sem uma entidade certificadora estabelecida, a saída tem sido recorrer à avaliação (rating) de agências e entidades sem fins lucrativos que desenvolvem análises e atribuem pontos com base em informações da mídia, relatórios de gestão, índices da bolsa e ONGs, além de outros dados básicos e específicos. Um dos sistemas de ranking mais utilizados no mundo é o “MSCI ESG Score”, que analisa o risco com base em 10 categorias ambientais, sociais e de governança.

Algumas das vantagens da chancela ESG compreendem redução de custos devido à melhor administração, melhoria da reputação da empresa, fidelização de clientes, segurança para os investidores, linhas de crédito especiais e aumento da competitividade (devido ao uso de novas tecnologias e métodos de gestão e operação). Em geral, as empresas bem-avaliadas nas métricas possuem marcas mais fortes, retêm os melhores profissionais, atraem mais investimentos e geram relações mais sólidas com as comunidades e stakeholders, tornando-se menos sujeitas a problemas jurídicos e fraudes.

A avaliação (rating) em ESG é feita por agências
e entidades sem fins lucrativos, que desenvolvem
análises e atribuem pontos às empresas

Uma ferramenta importante de divulgação das informações sobre a organização são os “Relatórios de Sustentabilidade”, frequentemente auditados por órgãos independentes para conferir maior credibilidade aos dados. Esses documentos contêm informações sobre a atuação da empresa em favor do meio ambiente e da sociedade, além de considerar medidas que permitam qualificar a governança.

Evidentemente, o investidor que escolhe um fundo ESG procura parceiros com um modelo sustentável comprovado e que traga melhorias com segurança, mas sem perda da rentabilidade. Também é preciso manter-se atento ao chamado greenwashing, ou seja, à circulação de alegações falsas ou enganosas sobre o desempenho ambiental da empresa, mostrando uma imagem melhor que a real. A credibilidade do índice pode ser bastante afetada numa situação dessas.

BIM E ESG

Muitas empresas ficam em dúvida quanto à aplicabilidade das metas, mas já há caminhos bem-estruturados nesse sentido. Em termos de tecnologia, a conjunção das metodologias BIM (Building Information Modeling) e ESG têm como objetivo comum promover práticas sustentáveis e socialmente responsáveis ao longo do ciclo de vida dos produtos e empreendimentos, desde os estudos de viabilidade até a operação.

A integração entre as ações BIM e ESG é importante para assegurar eficiência, segurança e sustentabilidade às atividades. Dentre seus recursos, a ferramenta BIM é usada para incorporar soluções de energia renovável e otimizar a eficiência energética.

Na execução de projetos rodoviários, por exemplo, a tecnologia permite analisar as alternativas de traçado levando em conta a topografia, as características locais e os materiais utilizados, escolhendo materiais e práticas construtivas mais eficientes e sustentáveis, o que ajuda a reduzir o impacto ambiental e propicia maior acessibilidade e segurança ao usuário.

A integração BIM-ESG também favorece a estrutura de transporte, por meio da otimização dos percursos e da logística decorrente da modelagem, assim como da análise das alternativas, otimizando as rotas em termos de distâncias e emissões, reduzindo custos e melhorando a sustentabilidade. Ou seja, as práticas ESG, principalmente as ambientais, permitem utilizar de modo mais adequado os recursos, reduzir o consumo e minimizar o desperdício e os impactos ambientais.

Como essas vantagens permanecem por todo o ciclo de vida do produto, é importante dar atenção à modelagem desde a fase de projeto, para que o desempenho do ativo seja otimizado e se prolongue por toda a sua vida útil. Os modelos são utilizados para o cálculo e redução da pegada de carbono, enquanto as práticas sociais atendem às necessidades do entorno das operações.

O monitoramento em tempo real vem sendo utilizado cada vez mais pelas empresas na gestão de seus ativos. Um bom exemplo é a utilização do BIM para monitoramento do tráfego e emissões nas rodovias, antecipando e evitando problemas, reduzindo custos e possibilitando projeções e modelos que permitam avaliar a eficácia das ações antes de sua implementação, aumentando a eficiência operacional.

RENTAL E ESG

A economia circular se destaca entre as estratégias desenvolvidas após o Acordo de Paris para reduzir a pegada de carbono da economia e das empresas, pois busca minimizar o impacto ambiental por meio de uma utilização mais eficiente de materiais e produtos. O conceito se baseia em sete princípios, chamados de “7Rs”: Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reparar, Remodelar, Recuperar e Reciclar.

No setor da construção, o rental materializa essa filosofia ao organizar a operação dos equipamentos de forma mais eficaz e contribuir para a redução das emissões e do impacto ambiental, como aponta a pesquisa “Carbon Footprint of Construction Equipment”, realizada pelas empresas SGS Search, CE Delft e Climate Neutral Group sob encomenda da ERA (European Rental Association).

O estudo investiga o impacto da locação de equipamentos de construção na pegada de carbono, medida durante as três fases do ciclo de vida das máquinas: “Produção”, que vai desde a extração de matérias-primas até a entrega do produto acabado; “Utilização”, que abrange o funcionamento da máquina e o transporte para os locais de trabalho; e “Fim de Vida”, que corresponde à desmontagem e tratamento dos resíduos.

Para medir a pegada de carbono é necessário realizar um inventário de todos os materiais e tipos de energia utilizados, avaliando os impactos em cada fase. No estudo, todavia, foi considerado apenas o “Potencial de Aquecimento Global” (PAG), medido em kg de equivalentes de CO2(CO2eq). No primeiro período, as “Avaliações do Ciclo de Vida” (ACV) indicam que a utilização de combustível fóssil tem maior impacto na pegada de carbono.

O rental entra em campo nas fases de projeto, produção, transporte e uso dos equipamentos, operando com um modelo circular de negócios, reduzindo as emissões ao gerenciar a “Taxa de Utilização”, minimizando o equipamento ocioso e otimizando a reutilização e a reciclagem dos materiais. Para determinar como o equipamento é utilizado, o estudo recolheu dados de 20 empresas, definindo os parâmetros mais relevantes para cada tipo de equipamento e testando os que influenciam a utilização.

Observe-se que, como forma de responder aos desafios da economia circular, as empresas cada vez mais estão fornecendo “Máquinas como Serviço”. Devido à forma como se organiza, a indústria do rental pode exercer uma forte influência na fase de utilização dos produtos. Inclusive, no futuro o impacto do carbono pode desempenhar um papel importante na decisão entre comprar ou alugar uma máquina.

PEGADA DE CARBONO

A pegada de carbono foi calculada com o método “LCA” (Life Cycle Assessment) para produção, consumo de energia, transporte e descarte do equipamento.

Buscou-se determinar a quantidade que pode ser evitada pela locação, questionando os motivos que levariam o usuário a alugar (em vez de comprar) um equipamento, assim como a quantidade efetivamente evitada de emissões ligadas à produção. Quando as máquinas atingem o fim da vida, são vendidas – e as empresas de rental perdem o rastro desses ativos.

Por isso, a CE Delft construiu uma “Calculadora da Pegada de Carbono” na qual os efeitos dos diferentes parâmetros foram combinados para determinar as emissões durante o tempo de vida em diferentes cenários, evidenciando as situações em que a locação é a melhor alternativa para se utilizar um equipamento de construção em termos de impacto ambiental e emissões. A comparação dos casos teóricos com a utilização real indicou os benefícios gerados.

Um dos resultados obtidos pela SGS Search foram as análises de “Sensibilidade” das ACVs, que permitiram avaliar o impacto na pegada de carbono por meio da substituição de materiais primários (como aço e plástico) por secundários ou reciclados.

O parâmetro “Intensidade” é definido pelas horas de utilização por ano e pelo número total de anos de uso. Para reduzir a pegada de carbono do equipamento, pode-se manter a máquina em operação durante mais tempo (aumentando a vida) ou usá-la de forma mais intensiva (elevando a taxa de utilização).

Por sua vez, o “Consumo” é definido pela quantidade de combustível ou de energia consumida por hora de trabalho. A fase de utilização, por exemplo, é mais dominante em geradores, escavadeiras e carregadeiras. Já o “Transporte” é o parâmetro mais complexo, pois depende do fator de carga, distância até o local de trabalho, tipo de veículo e combustível utilizado.


Os parâmetros que influenciam o impacto
do CO2 durante o ciclo de vida do equipamento

Por meio da otimização da logística, evita-se ao máximo o transporte desnecessário, reduzindo as emissões através do transporte combinado de vários produtos, o que aumenta o fator de carga, evita viagens em vazio e encurta a distância total. Também é importante selecionar o tamanho certo de caminhão, pois veículos grandes têm impacto menor que os pequenos (por tonelada de peso transportado) somente quando a capacidade total de carga for efetivamente utilizada.

CENÁRIOS

O portfólio das locadoras pode ser dividido nas categorias de terraplenagem, manuseio de materiais, energia, acesso e ferramentas. Outro enfoque é a diferença nas especificações de consumo e dimensão, que demonstram o efeito de cada cenário de utilização na pegada total.

Uma miniescavadeira de 2,5 t a diesel, por exemplo, mostra um cenário ineficiente quando se utiliza um veículo maior para transporte, com menos horas de utilização e vida mais longa. O impacto em atividades de escavação leve seria menor se o empreiteiro locasse a máquina e a compartilhasse com outros clientes.

Em grupos geradores de 60 kVA, o transporte previu a utilização de um veículo maior e uma distância ligeiramente superior. A taxa de utilização foi mais baixa e a vida útil, mais longa. Com um consumo ligeiramente pior, a pegada foi mais elevada, o que demonstra a importância de máquinas eficientes. Como back-up, um gerador próprio poderia ser substituído por um compartilhado, poupando emissões.

Em plataformas elevatórias elétricas com alcance de 8 a 12 m, a pegada foi maior porque a distância de transporte também foi maior, houve mais deslocamentos ao local de trabalho e o produto foi vendido ao final de seu ciclo de vida, sem reciclagem. Mais uma vez, o impacto seria reduzido se o empreiteiro alugasse um equipamento que pudesse ser usado por outros clientes.

Como a utilização das máquinas pode ter um impacto expressivo, é importante que se busque acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. Ao ajustar o tipo de combustível e o consumo, os usuários podem aferir o potencial de redução de emissões oferecido por novos combustíveis.

Em um futuro em que os insumos tendem a se tornar mais escassos, também fica clara a importância da reciclagem dos materiais das máquinas no final do ciclo de vida. A correta utilização e eliminação desses materiais pode reduzir significativamente a pegada de carbono.


Análise da pegada de carbono abrange os impactos durante o
tempo de vida completo do produto, o chamado “do berço ao túmulo”

Além disso, o potencial de eficiência energética pode ser melhorado ao se reduzir os custos com combustível e eletricidade por meio da telemática, de projetos mais eficientes e da otimização da logística e do transporte, oferecidos por modelos circulares de negócio.

O relatório da pesquisa conclui que o rental contribui efetivamente para a redução das emissões ao permitir que o cliente escolha a melhor máquina para a tarefa, com garantia de que seja utilizada da melhor maneira e, portanto, apresente consumo mais eficiente por hora. Atualmente, as locadoras também já podem utilizar biocombustíveis, o que reduz significativamente a pegada de carbono. Além disso, o rental pode assegurar uma manutenção adequada dos produtos, o que leva a um desempenho mais duradouro.

A avaliação mostra ainda que um transporte ineficiente conduz a uma pegada de carbono muito mais elevada. Os equipamentos elétricos têm impacto mais proeminente justamente na produção e no transporte, por apresentarem taxas de utilização mais baixas que os movidos a diesel. Por outro lado, quando o consumo de combustível é retirado da equação (com a mudança para energia renovável, por exemplo), outros componentes começam a pesar mais na pegada de carbono.

ENERGIA E ESG

No que tange ao uso de energia, a revista Power Progress recentemente questionou vários fabricantes sobre o uso de fontes alternativas de combustível, buscando aferir o modelo mais promissor para os próximos anos. “No futuro, a MAN utilizará motores de combustão de hidrogênio e combustíveis regenerativos, além de sistemas completos de propulsão elétrica para atender aos seus requisitos”, disse Mikael Lindner, chefe da MAN Engines.

Especialista da Scania, Jakob Tarna concorda que o sistema precisa ‘desfossilizar’. “A Scania vê os benefícios climáticos e ambientais da expansão dos biocombustíveis e veículos elétricos acionados por energia verde nos próximos três a cinco anos”, comenta. A evolução das baterias também já permite que os equipamentos trabalhem por períodos mais longos. “Os tempos de carga estão diminuindo e a estrutura está melhor, tornando mais viável o uso de equipamentos elétricos”, avalia Lee Padget, gerente de produto da Takeuchi-US.

Já a John Deere vê os combustíveis renováveis – incluindo etanol, biodiesel e diesel renovável (HVO – óleo vegetal hidrotratado) – como soluções capazes de reduzir as emissões de maquinários pesados. “Estamos otimizando nossa linha de motores para obter maior adaptabilidade para combustíveis renováveis”, afirma um porta-voz da empresa.

Para Kevin Bennett, vice-presidente sênior de engenharia da AGCO, o biodiesel e o diesel renovável têm a vantagem se serem produzidos a partir de matérias-primas “verdes” em vez de petróleo. “Ambos os combustíveis geram reduções impactantes nas emissões e, quando misturados corretamente, são substitutos quase imediatos do diesel fóssil”, declara.

Uma das principais vantagens do HVO é que pode ser usado sem qualquer alteração no motor. “A produção de HVO já está disponível e pode ser ampliada rapidamente”, informa Markus Schwaderlapp, vice-presidente sênior de desenvolvimento de produtos da Deutz. “Em termos de custo, a diferença é mínima, pois os motores movidos a HVO emitem 90% a menos CO2 e custam apenas 10% a mais.”


Uso de combustíveis alternativos como o HVO é uma
das apostas para a descarbonização de máquinas

Na área de sistemas de energia, inclusive, o HVO deve se tornar o combustível preferido nos próximos cinco anos, até porque já está pronto para uso. “Cerca de 80% dos motores MTU já foram aprovados para operação com HVO”, diz um porta-voz da Rolls-Royce, destacando que, além da redução do CO2, o HVO apresenta redução de mais de 40% de material particulado e de até 8% na emissão de óxido de nitrogênio.

FUTURO

Isto posto, a questão atual é como produzir e disponibilizar grandes quantidades de HVO. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a produção global de HVO em 2024 será de 13 bilhões de litros, tendendo a aumentar.

Contudo, para Friedrich Baumann, membro do conselho executivo da MAN Truck & Bus, os veículos elétricos atenderão à maioria das necessidades no futuro. “Continuaremos a focar em veículos elétricos a bateria, que apresentam vantagens em termos de eficiência energética e custos operacionais e de energia”, revela. “Mas os caminhões com motores de combustão de hidrogênio também serão uma alternativa para aplicações especiais.”

Líder da área de tecnologia de caminhões da Daimler, Andreas Gorbach acredita que a descarbonização dos veículos comerciais dependerá de duas tecnologias: baterias e acionamentos baseados em hidrogênio. “Embora o custo inicial da infraestrutura elétrica seja baixo, o custo de atualização da rede é bastante elevado”, ele atesta. “Em contraste, à medida que a procura aumenta, o custo relativo da infraestrutura de hidrogênio diminui.”

Já a Rolls-Royce vê uma tendência de uso do hidrogênio em operações estacionárias em terra, enquanto o metanol deve prevalecer no transporte marítimo. “Mas esses combustíveis alternativos só contribuirão para a proteção do clima se forem produzidos com recursos provenientes de fontes renováveis”, adverte a fabricante.


A agenda ESG no Brasil

Embora ainda não tenha a mesma relevância que na Europa, o conceito de ESG vem ganhando adeptos entre os gestores no Brasil. O mercado já pressiona pela adoção de práticas como diversidade e inclusão, compliance, ética e integridade nas relações e atividades relacionadas com o meio ambiente.

Além disso, a Bolsa de Valores (B3) brasileira já conta com diversos índices que agrupam as empresas que aplicam boas práticas de sustentabilidade, mantêm um posicionamento assertivo sobre questões sociais e investem em ações de governança corporativa.

Uma das iniciativas pioneiras na América Latina foi a criação do “Índice de Sustentabilidade Empresarial” (ISE B3), operado pela Bolsa e apoiado nos pilares de eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. Atualmente, a iniciativa conta com um cadastro de 48 empresas, que podem ser analisadas em função desses pilares.

Para que uma empresa ou entidade seja incluída, é necessário aderir ao Pacto Global estabelecido pela ONU, aceitar investimentos estrangeiros e, ainda, não fazer parte de setores como tabagista, carvoeiro ou armamentista.


Índice da B3 foi uma das iniciativas pioneiras em ESG na América Latina

Outros indicadores ESG da B3 incluem índices de Carbono Eficiente (ICO2), B&P Dow Jones (DJSI), Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC), Governança Corporativa Trade (IGCT), Governança Corporativa Novo Mercado (IGC-NM) e Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG).

A B3 opera ainda com três fundos negociáveis em Bolsa (ETFs), que têm relação direta com a sustentabilidade: ECO011 (atrelado ao ICO2), GOVE11 (atrelado ao IGCT) e ISUS11 (atrelado ao ISE).


Saiba mais:

AGCO: www.agcocorp.com
ERA: erarental.org
Deutz: www.deutz.com
John Deere: www.deere.com
MAN: www.man.eu
Power Progress: www.powerprogress.com
Rolls-Royce: www.mtu-solutions.com
Scania: https://scania.com
Takeuchi: www.takeuchiglobal.com

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