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Revista M&T - Ed.204 - Agosto 2016
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Implementos Rodoviários

Um novo patamar

Acumulando perdas em 2016, nem mesmo o bom momento do agronegócio deve afastar a indústria de implementos rodoviários da maior crise da sua história no país.
Por Luciana Duarte

Com o perdão do trocadilho, foi-se o tempo em que o agronegócio era a salvação da lavoura para a cadeia de fornecedores de implementos rodoviários. Neste ano, o Brasil vai colher 210,5 milhões de toneladas, segundo projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas esse volume não deve impactar positivamente – como já ocorreu no passado – nos resultados desse mercado. O principal motivo é a falta de recursos financeiros das empresas e o elevado número de máquinas e veículos parados, resultados diretos da queda abrupta na economia.

De fato, sem poder tirar um bom proveito da melhor safra de todos os tempos, o setor projeta o pior ano de sua série histórica. “Nossa estimativa era vender 56,6 mil unidades em 2016, o menor patamar já registrado na história do segmento, desde que as estatísticas começaram a ser feitas pela entidade”, posiciona Mario Rinaldi, diretor executivo da Anfir (Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários).

Na avaliação do executivo, considerando os volumes de licenciamentos desde 2014, a perda acumulada em dois anos será de 103 mil unidades. Entre janeiro e maio deste ano, as vendas de equipamentos no mercado interno já encolheram 30,6%, em comparação ao ano passado. Os volumes atuais beiram a 26 mil unidades comercializadas. Ou seja, trata-se da maior queda nas vendas já registrada pelo setor. “Com ociosidade crescente, a queda acentuada no setor revela a situação crítica das empresas, que já em 2015 passaram por um ano de retração forte”, pondera Rinaldi.

De acordo com as estatísticas divulgadas pela Anfir, até maio a maior queda nas vendas aconteceu na linha leve, de carrocerias sobre chassis. A redução nos negócios chegou a 38,8%, caindo para apenas 15,9 mil equipamentos. Já a demanda por implementos da linha pesada encolheu 12,8%, para 10,4 mil unidades.

Apesar de as exportações expandirem 35,4% no período, tal volume de implementos comercializados ainda não compensa a retração no mercado interno. Assim, a Anfir confirma que o primeiro semestre está praticamente perdido para o setor. “Para recuperar as perdas registradas até aqui seria preciso comercializar 50,3 mil implementos rodoviários em sete meses, uma meta impossível com a econ


Com o perdão do trocadilho, foi-se o tempo em que o agronegócio era a salvação da lavoura para a cadeia de fornecedores de implementos rodoviários. Neste ano, o Brasil vai colher 210,5 milhões de toneladas, segundo projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas esse volume não deve impactar positivamente – como já ocorreu no passado – nos resultados desse mercado. O principal motivo é a falta de recursos financeiros das empresas e o elevado número de máquinas e veículos parados, resultados diretos da queda abrupta na economia.

De fato, sem poder tirar um bom proveito da melhor safra de todos os tempos, o setor projeta o pior ano de sua série histórica. “Nossa estimativa era vender 56,6 mil unidades em 2016, o menor patamar já registrado na história do segmento, desde que as estatísticas começaram a ser feitas pela entidade”, posiciona Mario Rinaldi, diretor executivo da Anfir (Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários).

Na avaliação do executivo, considerando os volumes de licenciamentos desde 2014, a perda acumulada em dois anos será de 103 mil unidades. Entre janeiro e maio deste ano, as vendas de equipamentos no mercado interno já encolheram 30,6%, em comparação ao ano passado. Os volumes atuais beiram a 26 mil unidades comercializadas. Ou seja, trata-se da maior queda nas vendas já registrada pelo setor. “Com ociosidade crescente, a queda acentuada no setor revela a situação crítica das empresas, que já em 2015 passaram por um ano de retração forte”, pondera Rinaldi.

De acordo com as estatísticas divulgadas pela Anfir, até maio a maior queda nas vendas aconteceu na linha leve, de carrocerias sobre chassis. A redução nos negócios chegou a 38,8%, caindo para apenas 15,9 mil equipamentos. Já a demanda por implementos da linha pesada encolheu 12,8%, para 10,4 mil unidades.

Apesar de as exportações expandirem 35,4% no período, tal volume de implementos comercializados ainda não compensa a retração no mercado interno. Assim, a Anfir confirma que o primeiro semestre está praticamente perdido para o setor. “Para recuperar as perdas registradas até aqui seria preciso comercializar 50,3 mil implementos rodoviários em sete meses, uma meta impossível com a economia enfraquecida como está”, lamenta o dirigente.

Com a queda abrupta na economia, o setor sente a inadimplência bater à porta. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) favoreceu o setor ao estender medidas para o refinanciamento de dívidas dentro do PSI (Programa de Sustentação do Investimento). O refinanciamento tem custo de TJLP (Taxas de Juros de Longo Prazo) atualmente em 7,5% ao ano, acrescido de 1,6% de remuneração do BNDES e até 6% de remuneração do agente financeiro. “Os empresários estão com dificuldades para honrar seus compromissos”, explica Rinaldi. “Por isso, essa medida veio em boa hora e pode evitar um colapso no setor.”

REALIDADE

Evidentemente, as fabricantes corroboram a percepção. Segundo Geraldo Santa Catharina, diretor financeiro da Randon Implementos e Participações, o agronegócio é um setor primário importante, mas há uma ociosidade em torno de 40% de caminhões parados, o que impede o empresário de investir na renovação dos implementos. “Mesmo diante da safra recorde de mais de 200 toneladas este ano, a indústria de implementos rodoviários sente os reflexos da economia em desaceleração”, afirma o executivo. “Na ponta desse iceberg há uma crise de confiança, que impede os empresários de investir.”

Com a cadeia de suprimentos e potenciais compradores onerados, uma das medidas que – para Catharina – poderiam melhorar os resultados seria uma atuação firme do governo no controle da inflação e na redução da taxa de juros. “Seria um bom início, mas com uma frota de equipamentos parada, o setor colocou o pé no freio nas compras”, ressalta.

E as consequências não tardaram. Em relatório, a empresa informa que foi necessário parar linhas de produção, além de promover emendas em feriados prolongados e reajustes nos quadros. “Os ajustes realizados em 2015 mostram melhora dos resultados operacionais e redução de despesas e endividamento”, observa o executivo. Nos primeiros três meses do ano, o Grupo registrou crescimento de 5,4% na comparação com igual período em 2015, atingindo 734,6 milhões de reais. Deste total, 376,7 milhões de reais foram provenientes do segmento de implementos e veículos especiais.

Uma política mais agressiva de vendas também permitiu à empresa remar contra maré. As vendas do segmento de implementos subiram 11,6% no primeiro trimestre, para 2,3 mil unidades. Apesar disso, a Randon afirma que a competição continua agressiva em algumas famílias, ao passo que as modalidades de financiamentos – que passaram a utilizar juros do Finame TJLP – reduziram ainda mais o fôlego do setor.

FUNDO DO POÇO

Para Daniel Rossetti, superintendente da Rossetti Implementos, a crise político-econômica e a redução dos investimentos em infraestrutura vêm travando o país desde 2011. “Esses problemas levaram a indústria ao fundo do poço”, lastima o executivo. “A compra antecipada de equipamentos, em razão da taxa de juros favorável praticada no passado, hoje se reflete na ociosidade do setor. Poucos empresários querem investir na renovação da frota.”

Para evitar uma queda superior a 10% nas vendas previstas para este ano, Rossetti busca construir uma nova carteira de clientes no mercado externo. Mas, segundo ele, isso não é algo simples de realizar, até em função da ausência da marca em alguns mercados, que no passado foram “esquecidos” com a baixa do dólar. “Nos últimos anos, perdemos competitividade na América Latina, mas com o dólar acima de 3 dólares, é possível voltar ao cenário externo”, projeta Rossetti, que hoje exporta apenas 10% do total produzido.

Bitrens e rodotrens têm avanço interrompido

De acordo com a indústria de implementos rodoviários, a demanda pré-crise vinha em ritmo acelerado para produtos como bitrens e rodotrens. A demanda crescente por equipamentos do gênero também foi favorecida após as montadoras de caminhões iniciarem a oferta de cavalos mecânicos mais potentes. “Os transportadores perceberam que veículos mais potentes podem transportar mais cargas, reduzindo custos com pedágios e promovendo um uso otimizado da composição para quase todas as aplicações”, explica Sandro Adolfo Trentin, diretor de tecnologia e inovação da Randon.

Segundo o executivo, uma das principais vantagens do rodotrem é possuir a mesma característica técnica e dimensional da caixa de carga, porém oferecendo maior durabilidade de pneus, por ter uma suspensão de tandem duplo com maior distanciamento entre si. “Já o maior benefício do bitrem é a estabilidade no transporte, pois além de possuir uma conexão a menos que o rodotrem, suas conexões são do “tipo B” (quinta roda e pino-rei), que aumentam a estabilidade ao receberem carga positiva”, comenta.

Ele explica ainda que soluções como o bi-trem e o rodo-trem não exigem grandes investimentos. No entanto, a compra antecipada desse tipo de produto fez com que, mesmo com a safra em alta, os investimentos não saíssem do papel. “Esse tipo de equipamento sofre com uma deterioração mais rápida, mas esse não é o Calcanhar de Aquiles do negócio”, pontua. “Foi a renovação de frotas estimulada por linhas de crédito no passado que, atualmente, impede uma reação mais forte do segmento.”

 

 

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