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Revista M&T - Ed.145 - Abril 2011
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"Segurança não é custo, é investimento"

O engenheiro mecânico Fernando Cézar de Mattos, professor de Engenharia e Qualidade em cursos de pós-graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), acredita que os empresários brasileiros devem analisar os custos com segurança e qualidade na operação de guindastes como um investimento lucrativo para os negócios. “O custo de um equipamento de R$ 1 milhão é insignificante em comparação com os investimentos numa grande obra de engenharia, mas sua indisponibilidade pode gerar atrasos no cronograma dessa obra, sem contar os riscos de acidentes caso o equipamento não esteja apto a trabalhar de acordo com o seu projeto inicial”, diz ele.

Especialista em projeto e fabricação de máquinas, equipamentos e estruturas, Mattos é diretor e responsável técnico da Fernando Mattos Engenharia (FCM), que presta serviços tecnológicos especializados com foco na análise de falhas, investigação de acidentes, avaliação e restituição de integridade de equipamentos, consultoria em cálculos, desenvolvimento e execução de procedimentos de manutenção corretiva. Nesta entrevista, o empresário detalha os procedimentos que ajudam a estender a vida útil desses equipamentos com segurança e maior eficiência nas operações de elevação de cargas.

M&T – Qual a sua avaliação da frota de guindastes em operação no Brasil?

Fernando Cézar de Mattos – Até 2009, a frota era preponderantemente muito antiga, com mais de 20 anos de vida útil em cerca de 90% dos equipamentos. Entretanto, diante da escassez de equipamentos de movimentação de cargas para atender à demanda das obras em execução, muitas unidades foram importadas desde então. Eu estimo que pelo menos 300 guindastes tenham chegando ao país, já contabilizando os modelos adquiridos em 2010. Esse incremento é responsável pela modernização da nossa frota e já representa cerca de 25% do total de guindastes em operação no Brasil.

M&T – Em relação aos modelos mais antigos, qual a situação dessa frota?

Mattos – Já me deparei com casos em que as empresas abusaram muito desses guindastes ao longo dos anos, pois mesmo sendo caracterizados pela robustez de projeto e construção, esses equipamentos não resis


O engenheiro mecânico Fernando Cézar de Mattos, professor de Engenharia e Qualidade em cursos de pós-graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), acredita que os empresários brasileiros devem analisar os custos com segurança e qualidade na operação de guindastes como um investimento lucrativo para os negócios. “O custo de um equipamento de R$ 1 milhão é insignificante em comparação com os investimentos numa grande obra de engenharia, mas sua indisponibilidade pode gerar atrasos no cronograma dessa obra, sem contar os riscos de acidentes caso o equipamento não esteja apto a trabalhar de acordo com o seu projeto inicial”, diz ele.

Especialista em projeto e fabricação de máquinas, equipamentos e estruturas, Mattos é diretor e responsável técnico da Fernando Mattos Engenharia (FCM), que presta serviços tecnológicos especializados com foco na análise de falhas, investigação de acidentes, avaliação e restituição de integridade de equipamentos, consultoria em cálculos, desenvolvimento e execução de procedimentos de manutenção corretiva. Nesta entrevista, o empresário detalha os procedimentos que ajudam a estender a vida útil desses equipamentos com segurança e maior eficiência nas operações de elevação de cargas.

M&T – Qual a sua avaliação da frota de guindastes em operação no Brasil?

Fernando Cézar de Mattos – Até 2009, a frota era preponderantemente muito antiga, com mais de 20 anos de vida útil em cerca de 90% dos equipamentos. Entretanto, diante da escassez de equipamentos de movimentação de cargas para atender à demanda das obras em execução, muitas unidades foram importadas desde então. Eu estimo que pelo menos 300 guindastes tenham chegando ao país, já contabilizando os modelos adquiridos em 2010. Esse incremento é responsável pela modernização da nossa frota e já representa cerca de 25% do total de guindastes em operação no Brasil.

M&T – Em relação aos modelos mais antigos, qual a situação dessa frota?

Mattos – Já me deparei com casos em que as empresas abusaram muito desses guindastes ao longo dos anos, pois mesmo sendo caracterizados pela robustez de projeto e construção, esses equipamentos não resistem a montagens incorretas, manuseio inadequado e à ausência de planos de manutenção corretiva e preventiva. Esse descuido acelera o desgaste dos materiais dos equipamentos, sem contar as adaptações que ocorrem nas obras, as quais vão diminuindo sua capacidade e vida útil. Além disso, os padrões de exigência e qualidade de soldagem mudaram muito nos últimos 40 anos e é preciso adequar as máquinas do passado aos critérios atuais para que elas possam continuar operando com segurança. Os reparos improvisados acabam aumentando os problemas existentes e impõem mais risco à operação do equipamento. As improvisações de obra mais rotineiras envolvem o uso indiscriminado de maçarico para auxiliar montagens ou desmontagens e para a realização de furos, quando eles deveriam ser usinados, além das soldas de má qualidade, sem nenhuma análise dos materiais unidos, o que com o tempo resultam em trincas na estrutura do guindaste.

M&T – Como a fadiga de materiais, relacionada à frequência de uso, interfere nesse processo de deterioração?

Mattos – Os guindastes são projetados para trabalhar por um longo período, mediante um planejamento cuidadoso da operação e precauções relacionadas às atividades rotineiras de um canteiro de obra. A fadiga dos materiais é um processo comum a todo equipamento e envolve uma série de fatores, como o peso da carga, a força do vento, a intensidade e frequência do uso, entre outros. Esses fatores ocasionam o enfraquecimento diário dos materiais e essa progressão, em ritmo lento, torna-se insustentável em um determinado momento, resultando na quebra daquele elemento estrutural. Esse fenômeno é denominado “fadiga de alto ciclo” e todas as máquinas são projetadas levando-se em conta tal fenômeno.

M&T – Esse fenômeno pode ser evitado?

Mattos – Há uma série de técnicas que, se não evitam esse progressivo desgaste dos materiais, ajudam a prorrogar consideravelmente a vida dos componentes, fazendo com que o equipamento trabalhe com eficiência por um período superior ao projetado. Em termos de engenharia mecânica, existem hoje várias tecnologias capazes de alongar a vida útil dos equipamentos e seus componentes, com recursos que vão desde os lubrificantes de alto desempenho até novos materiais e tratamentos mais resistentes ao desgaste, corrosão e fadiga. As normas internacionais, por exemplo, estabelecem um período de 10 anos como vida útil para guindastes de torre ou móveis e de 20 anos para os de outros tipos, mas também prevêem a extensão desse período mediante intervenções, reformas do equipamento, substituição de componentes e refazendo soldas estruturais, de modo que eles possam ser submetidos a outros períodos de 10 anos de uso.

M&T – As empresas não tiveram esses cuidados no passado?

Mattos – Os guindastes mais antigos trabalhavam 20 ou 30 anos em serviço pesado sem acompanhamento sistemático, sem registros de manutenção ou intervenções realmente preventivas. No Brasil, durante muito tempo apenas se trocavam os itens quebrados ostensivamente, sendo que o ideal é tratarmos destas máquinas da mesma maneira que cuidamos dos nossos carros de passeio, agindo preventivamente sobre os problemas antes que eles provoquem a falha ou parada do veículo. É claro que o trabalho se torna mais difícil e oneroso quando temos que reformar um guindaste antigo com diversos elementos em más condições e cheio de adaptações feitas sem critério em detrimento a um modelo com manutenção adequada, respeitando as condições pré-estabelecidas em projeto.

M&T – Nesse cenário, qual a importância dos ensaios feitos nos guindastes?

Mattos – Em geral, um mecânico experiente verifica o equipamento a olho nu e, após esse julgamento, ele o libera para operação no canteiro de obra. Entretanto, esse profissional não tem condições de detectar problemas mais complexos ou que estejam em um estágio inicial, ainda não visível. É justamente aí que os ensaios nos dão uma avaliação mais precisa do equipamento, com dados suficientes para analisar se o processo de fadiga dos materiais está instalado de acordo com o previsto no projeto ou mais acelerado, indicando assim eventuais necessidades de intervenção. Um problema característico de nosso mercado é a inexistência de um histórico completo do equipamento, reunindo informações básicas tais como as obras e período de tempo em que ele trabalhou, as cargas que movimentou em termos de intensidade e frequência, as falhas que apresentou e as intervenções corretivas que sofreu. Se o guindaste foi utilizado de forma mais intensa, com aplicações mais severas e esforços superiores ao projetado, esse processo de fadiga estará em um nível mais acelerado. E, nesse caso, os ensaios nos darão subsídios para encontrar falhas e avaliar os reais efeitos dessas operações ao longo do tempo.

M&T – Qual a frequência ideal para a realização dos ensaios?

Mattos – As verificações devem obedecer a uma periodicidade estabelecida pelas normas técnicas. Algumas inspeções visuais devem ser feitas diariamente pelo operador da máquina para detectar alguma anomalia. Outras inspeções devem ocorrer semanalmente, além das mensais que ficam a cargo do supervisor daquele equipamento. Há também um nível de verificação mais profunda que deve ser feita anualmente, recomendado tanto nas normas técnicas europeias como nas norte-americanas. Após 10 anos de uso, o guindaste deve ser submetido anualmente a uma série de verificações, já que decorreu um tempo suficiente para que esses danos por fadiga tenham se tornado maiores e potencialmente mais perigosos. Na eventualidade dessas etapas não terem sido efetuadas, existem normas internacionais, como a ISO 12482, que determina a inspeção após 10 anos de vida útil, para os guindastes de torre ou móveis, e 20 anos para os demais tipos. Nesse caso, o equipamento é submetido a uma verificação total após sua completa desmontagem. Essa norma estabelece a possibilidade de algumas revalidações subsequentes, podendo estender a vida útil para até 60 anos.

M&T – Mas 60 anos não é um período muito longo para a utilização de um guindaste?

Mattos – Devemos entender o guindaste como um equipamento que tem um custo para uma determinada capacidade de movimentação de carga. Então, um guindaste antigo, com condições de segurança e devidamente modernizado, pode executar o serviço da mesma maneira que um equipamento novo. Além disso, essa família de equipamentos não se caracteriza por grandes evoluções tecnológicas ao longo do tempo. Suas estruturas e mecanismos ainda são muito parecidos e o progresso acabou se concentrando na parte de acionamentos, comandos e monitoramento, progressos que podem ser incorporados a equipamentos mais antigos.

M&T – E como está essa situação no Brasil atualmente?

Mattos – Essas práticas dificilmente fizeram parte da rotina de nossas empresas. Por esse motivo, o ideal é que se faça essa verificação pelo menos após os primeiros 20 anos de uso do equipamento, como prevê a NR-18. A partir desse período de vida, o equipamento deve ser submetido a um controle das cargas que movimenta nas obras em que será mobilizado. Também nesse sentido, a NR-18 pede que seja feito uma certificação de integridade estrutural a cada dois anos, o que já auxilia o proprietário do guindaste a prestar maior atenção ao seu patrimônio.

M&T – Qual a contribuição das falhas operacionais na aceleração desse processo de fadiga dos materiais?

Mattos – As más práticas operacionais também colocam em risco o guindaste e o agravante, nessa área, é a escassez de profissionais capacitados para esse tipo de serviço. O desconhecimento por parte da maioria dos operadores dos conceitos de Física aplicados a esses equipamentos, notadamente os princípios do equilíbrio e da alavanca, são o maior problema, e isto se deve ao nível educacional limitado e à pequena oferta de treinamento especializado. Além disso, há que se destacar a influência de problemas atmosféricos na operação, como, por exemplo, a ação dos ventos na dinâmica de movimentação dos guindastes, empurrando as cargas, aumentando os raios de operação e excitando vibrações de ressonância no equipamento. Pela complexidade de algumas situações, há uma série de práticas operacionais que podem – e devem – ser ensinadas nos cursos de operadores de guindastes de forma a atenuar todos os riscos conhecidos,  habituando os operadores a seguir os procedimentos corretos. O Instituto Opus tem realizado um interessante trabalho nesse sentido, mas ainda há muito a ser feito.

M&T – Como o senhor vislumbra o futuro desse segmento?

Mattos – A tendência, em termos de desenvolvimento, aponta para uma redução de peso e de tamanho dos guindastes, com base em projetos mais eficientes, que otimizarão os custos com montagem e transporte. As empresas também começaram a levar em consideração as certificações de qualidade, segurança e meio ambiente, entretanto, o grande problema é que essa profissionalização se deve principalmente à legislação vigente no país, pois a maioria dos empresários ainda não tem a consciência que investimentos em segurança e qualidade  resultam em ganhos de custos e de produtividade. Uma máquina produtiva não causa malefícios à obra, ao cronograma, além de não impor riscos à vida de ninguém. Infelizmente ainda domina o pensamento de que o custo de uma máquina é insignificante perante os investimentos em um grande projeto de infraestrutura, apesar de essa mesma máquina poder impactar a produção caso apresente problemas de disponibilidade, ou até mesmo venha a comprometer o lucro da obra caso ela ocasione acidentes mais importantes, o que por si só já justificaria uma atenção redobrada sobre estes assuntos. Felizmente temos observado progressos na evolução desses pensamentos, o que aumentará a importância das atividades de planejamento e engenharia no contexto da gestão de equipamentos.

 

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