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Revista M&T - Ed.236 - Agosto 2019
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Cenário

Por uma agenda da competitividade

Com um novo ciclo de concessões no horizonte, setor de bens de capital pode finalmente recuperar o fôlego no país, mas ainda clama por reformas e produtividade
Por Marcelo Januário (Editor)

Após anos de retração, o mercado de máquinas e equipamentos da Linha Amarela aguarda ansiosamente a retomada das obras de infraestrutura para alavancar as vendas, que até ensaiaram um avanço no ano passado, chegando a 13 mil unidades, mas ainda longe do potencial – e da necessidade – do país. E, agora, as expectativas são ainda maiores com a aproximação de um novo ciclo de concessões no horizonte.

Já era hora, tendo em vista a importância do setor, o que mais exporta na indústria brasileira de transformação, com 15% das vendas externas de manufaturados. Com um parque industrial robusto, incluindo plantas das maiores marcas globais do setor, o Brasil envia máquinas para mais de 150 países, sendo a única fonte no Hemisfério Sul de um amplo leque de soluções, desde tratores de esteiras e retroescavadeiras até usinas de asfalto, exportando mais de 40% da produção, em média.

Em 2016, o setor representou 5,1% do PIB, a mesma participação da agropecuária, com um faturamento de 606 bilhões de reais, ou 22% da receita total da indústria de transformação. “Este setor é responsável por alavancar os demais setores produtivos”, atesta João Marchesan, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). “Afinal, também consome 24% do valor demandado em matérias-primas, 25% da compra de energia elétrica e combustíveis demandados pela indústria e mais de 25% do aço produzido no país.”

É uma participação expressiva, mas que depende diretamente das obras para se manter. Por isso, o dirigente acredita que a recuperação só virá com mais força se o país investir em infraestrutura um valor acima dos atuais 15% do PIB, ainda assim muito abaixo da média mundial, atualmente em torno de 25%. “Temos tudo por fazer, com um potencial tão grande quant


Após anos de retração, o mercado de máquinas e equipamentos da Linha Amarela aguarda ansiosamente a retomada das obras de infraestrutura para alavancar as vendas, que até ensaiaram um avanço no ano passado, chegando a 13 mil unidades, mas ainda longe do potencial – e da necessidade – do país. E, agora, as expectativas são ainda maiores com a aproximação de um novo ciclo de concessões no horizonte.

Já era hora, tendo em vista a importância do setor, o que mais exporta na indústria brasileira de transformação, com 15% das vendas externas de manufaturados. Com um parque industrial robusto, incluindo plantas das maiores marcas globais do setor, o Brasil envia máquinas para mais de 150 países, sendo a única fonte no Hemisfério Sul de um amplo leque de soluções, desde tratores de esteiras e retroescavadeiras até usinas de asfalto, exportando mais de 40% da produção, em média.

Em 2016, o setor representou 5,1% do PIB, a mesma participação da agropecuária, com um faturamento de 606 bilhões de reais, ou 22% da receita total da indústria de transformação. “Este setor é responsável por alavancar os demais setores produtivos”, atesta João Marchesan, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). “Afinal, também consome 24% do valor demandado em matérias-primas, 25% da compra de energia elétrica e combustíveis demandados pela indústria e mais de 25% do aço produzido no país.”

É uma participação expressiva, mas que depende diretamente das obras para se manter. Por isso, o dirigente acredita que a recuperação só virá com mais força se o país investir em infraestrutura um valor acima dos atuais 15% do PIB, ainda assim muito abaixo da média mundial, atualmente em torno de 25%. “Temos tudo por fazer, com um potencial tão grande quanto qualquer outro país”, avalia Marchesan. “Mas para isso precisamos de reformas, eliminando o manicômio tributário para reduzir o custo das nossas indústrias e nos tornarmos mais competitivos, com uma agenda de medidas que traga segurança jurídica a quem produz, levando à retomada dos investimentos e ao crescimento.”

Até porque o setor sentiu na carne os anos seguidos de queda. Em um movimento vertiginoso, entre 2013 e 2017 a demanda retrocedeu mais de 70%, saindo de 30 mil para 7 mil unidades vendidas. E, hoje, o país segue consumindo pouca máquina. “Quando achávamos que estávamos no fundo do poço, tinha um alçapão”, lamenta-se Alexandre Bernardes, presidente da CSMR (Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias), revelando que a ociosidade atual da indústria é de quase 63%, considerando-se a capacidade instalada de 60 mil máquinas. “Evidentemente, pior que isso não podia ficar e, aos poucos, começou a melhorar. Mas o setor precisa de obras, de investimentos em infraestrutura, que o Brasil se mexa”, impacienta-se Bernardes.

ALTERNATIVAS

Para entender como o país pode se “mexer”, é conveniente analisar as alternativas disponíveis para aumentar a vitalidade da economia. Para a Abimaq, o país precisa atacar com urgência alguns pontos que tiram a sua competitividade, como a disponibilidade – e o custo – do capital. “Hoje, não falta dinheiro, mas ele é caro”, comenta o presidente executivo da Abimaq, José Velloso. “Trabalhando com capital de giro intensivo, o comprador quer um financiamento de longo prazo que seja compatível com o retorno do investimento e a depreciação da máquina.”

Com 22% da receita da indústria, setor de bens de capital alavanca os demais

Ao lado da necessidade de reestruturação tarifária, o dirigente também aponta para o custo de insumos, que não é competitivo. “O aço, por exemplo, é de 30% a 40% mais caro aqui do que lá fora”, sublinha. “Também precisamos eliminar os impostos não recuperáveis na cadeia produtiva, o que pode ser corrigido com a reforma tributária.”

Outro desafio, diz ele, é reverter a posição do governo, que vê bens de capital como insumo e não como produto final. “É nossa tarefa de reverter essa visão, para desonerar a produção”, diz Velloso, para quem não será possível voltar a crescer sem as reformas. “O Estado precisa ser reestruturado, sair do cangote do empresário, diminuir a carga tributária, aprovar a reforma, desonerar a folha, aumentar a eficiência, seguir com as privatizações... Para nós, esses temas são como música nos ouvidos.”

Se obtiver sucesso nesta autêntica “sinfonia”, o país certamente voltará a crescer, aposta Velloso, mas não neste ano. “A agenda é muito pesada para um primeiro ano”, afirma. “Por isso, temos uma previsão moderada de +7% em relação ao ano passado, quando um crescimento equivalente a esse foi quase todo obtido em cima da exportação.”

PRODUTIVIDADE

Realizar todas essas tarefas citadas por Velloso já traria um alívio considerável, mas ainda não fecha a conta. Isso devido a outro problema estrutural preocupante: a produtividade (medida pela relação PIB/hora trabalhada) não avança no país, configurando mais um entrave a ser resolvido. “Vencido o problema fiscal, o país só vai voltar a crescer de forma relevante se der um salto de produtividade”, sublinha Daniel Martins, diretor da Roland Berger Strategy Consultants.

Para a Abimaq, elevada carga tributária e custo de insumos afetam a competitividade do país

Enquanto países como EUA, Coreia do Sul e mesmo China veem a produtividade de sua população crescer, o Brasil segue estagnado, evidenciando que, apesar dos esforços, as políticas na área não deram certo nos últimos anos. “A qualificação da mão de obra está ligada à educação, mas no Brasil isso não aconteceu, pois o crescimento dos anos de estudo não se traduziu em avanço da produtividade”, ressalta Caio Megale, secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia.

Para entender o que faltou, o secretário levanta hipóteses como a crise fiscal, que piorou o quadro, mas também os gastos correntes, que subiram tanto a ponto de comprometer os investimentos. E isso também impactou a infraestrutura, na qual não se investiu sequer a depreciação do capital nos últimos anos.

“Estamos andando para trás em infraestrutura”, ele admite. Outro componente é a (baixa) qualidade da educação formal e técnica, inclusive nas empresas, além do próprio funcionamento do mercado, com seus monopólios. “Isso impede que as forças de mercado funcionem, gerando diferenças competitivas muito grandes, com concentração em mercados-chave para a produtividade”, delineia Megale, apontando ainda aspectos prejudiciais como o excesso de burocracia (red tape) e a complexidade das leis.

Aliás, o ranking mais recente sobre regulamentação global da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostra o Brasil em último lugar em complexidade regulatória. Nesse quadro, a Legislação precisa favorecer mais a produtividade, reduzindo o excesso de intervenções governamentais. “É claro que isso gera um ambiente complicado de negócios”, pondera o secretário. “Por isso, os eixos propostos incluem simplificação e digitalização, para tentar resolver problemas de curto prazo e fortalecer o diálogo entre o setor público e o privado.”

Baixa das tarifas pode ter efeito inócuo na renda e no emprego, diz consultor

Isso também inclui superar a barafunda de normas, como a NR-12, por exemplo. “Com o volume de itens [a cumprir], é mais caro ter a máquina do que não ter”, dispara Megale, questionando de quebra a conectividade no país. “De quê adianta uma máquina moderna repleta de sensores, mas sem sinal de internet?”, ele pergunta. “Sem isso, a máquina não vai ter retorno, contrai dívidas e se endivida, piorando assim a situação ao se comprar uma máquina.”

Ainda no que tange à digitalização, Megale afirma que a distância das organizações maiores para micro, pequenas e médias empresas é muito grande no Brasil, na verdade uma das maiores do mundo. “Esse gap também existe nos países mais ricos, mas é menor, mais homogêneo”, compara. “No Brasil, as menores não chegam a 30-40% da produtividade das grandes, apesar de comporem a grande massa de emprego no país.”
Segundo ele, ações de “lean manufacturing”, como mudanças simples no layout, já trazem resultados em relação a esse gap de produtividade no setor industrial.

“O investimento se paga em três ou quatro meses, mas as empresas não fazem, sequer cogitam”, ele afirma, pontuando que, paradoxalmente, a inovação só prospera se houver condições de contorno para que isso aconteça, mas as condições de contorno dependem da adequação da mão de obra qualificada. “No Brasil, as empresas não têm gente qualificada sequer para ler o resultado da operação em um iPad”, desabafa.

No Brasil, o crescimento dos anos de estudo não se traduziu em avanço da produtividade

Por tudo isso, a aguardada virada no ambiente de negócios tem sido um verdadeiro calvário no país. “Destravar a economia não é uma tarefa de curto prazo, pois é uma questão mais complexa, que exige inclusive a reforma da estrutura do gasto público, que vem crescendo sistematicamente e pressiona todos os outros aspectos da produtividade”, finaliza o secretário. / MJ

ABERTURA PRECISA SER GRADUAL, DEFENDE CONSULTOR

Integrando a agenda de reformas, a abertura comercial é vista pelo governo como uma opção para a criação de emprego e renda, pois o país segue relativamente fechado, o que contribui para a estagnação da produtividade. “Mas, no setor de bens de capital, não há consenso sobre isso, pois os efeitos com a baixa das tarifas podem ser inócuos”, comenta o diretor da Roland Berger Strategy Consultants, Daniel Martins. “Como o setor é pulverizado, empresas e regiões podem ser impactadas negativamente no curto prazo.”

Segundo ele, uma redução pura e simples nas tarifas não vai gerar os benefícios esperados, de modo que a abertura deve ser feita com cuidado, sem subestimar os riscos. “Diz-se que o impacto da redução de tarifa de importação é repassado diretamente ao custo do produto, mas uma análise básica nega isso”, ressalta. “O investimento no produto é composto por outros fatores, de modo que impacto do ponto de vista de custo não é tão alto.”

Para o consultor, é inevitável considerar questões estruturais relacionadas ao custo Brasil, incluindo juros sobre capital de giro, custo dos insumos, tributos não-recuperáveis, logística, encargos sociais, burocracia e outros componentes que trazem dificuldades à competitividade. “Comparativamente, o setor de bens de capital já é mais aberto que outros, com maior volume no comércio exterior, regimes especiais e reduções tarifárias”, diz. “Assim, uma discussão tributária e de custos de financiamento também precisa ser feita, até porque o spread no Brasil é o mais alto do mundo.”

O país também precisa posicionar-se na 4ª Revolução Industrial, diz o diretor, principalmente em relação aos “trade-offs” (custos de oportunidade), por exemplo, que não seriam viabilizados pela importação. “O Brasil precisa entender qual vai ser seu posicionamento neste novo paradigma de inovação”, diz. “O mundo está mudando muito rápido e se posicionar apenas na cadeia de valor nas indústrias onde sempre foi forte (como as commodities) não vai resolver.”

O consultor lembra que todos os países que fazem uma “política industrial inteligente” têm obtido sucesso. É o caso da Coreia do Sul, diz ele, que fez uma combinação de abertura comercial com medidas para o desenvolvimento local de empresas exportadoras. “É óbvio que a abertura comercial pode trazer uma série de benefícios, porém o país não tem feito uma política industrial coerente”, avalia Martins. “Construir uma agenda de competitividade não passa apenas por reduzir tarifas de importação, mas por muito mais que isso. É preciso mudar, mas sem deixar desmoronar, fazendo um contrabalanço para justificar a redução de tarifa.”

Saiba mais:

Abimaq: www.abimaq.org.br
CSMR: www.camaras.org.br/site.aspx/Home-CSMR
Ministério da Economia: www.economia.gov.br
Roland Berger: www.rolandberger.com

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