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Revista M&T - Ed.149 - Agosto 2011
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Reciclagem de Resíduos

A viabilidade do negócio em debate

Apesar das inquestionáveis vantagens proporcionadas pelo reaproveitamento de resíduos da construção e demolição, o avanço desse processo passa pela viabilidade econômica das usinas de processamento

Nos últimos anos, a reciclagem de resíduos da construção e demolição (RCD) vem ganhando cada vez mais destaque no setor e já se consolidou como uma prática usual em projetos de grande visibilidade nacional, como a reforma e reconstrução das arenas esportivas para a Copa do Mundo de 2014. Com a aprovação da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, o reaproveitamento desse material ganha um impulso legal, já que os municípios brasileiros deverão estabelecer um plano de gestão desses resíduos, fiscalizando sua disposição de forma regular e estimulando sua reciclagem.

Fora da visibilidade dos refletores, entretanto, a questão ainda é tratada de forma “exótica” no âmbito das reformas domiciliares e das pequenas obras, que são os maiores geradores de entulho no setor da construção. Todos os profissionais do setor são unânimes em apontar a reciclagem de RCD como um negócio em desenvolvimento, mas para que a iniciativa se torne uma realidade, ela precisa se apoiar nos três pilares da sustentabilidade: precisa ser ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável.

Nesse ponto reside o problema já que, se ninguém questiona os benefícios da iniciativa, seu principal entrave está na viabilidade econômica sob a ótica dos investidores em projetos de reciclagem. Para o empresário Artur Granato, da Nortec, especialista no assunto, o nó da questão está no controle da qualidade do material em sua origem. “Na maioria das reformas domiciliares e pequenas construções, o entulho é gerado com alto índice de contaminação, o que acaba inviabilizando seu reaproveitamento.”

Gargalo na triagem

Na opinião do empresário, a solução passaria pela adoção de taxas de coleta diferenciadas, de acordo com a qualidade do entulho gerado, o que requer maior fiscalização por parte do poder público. Afinal, nada adiante o município impor normas para a coleta de RCD (Lei da Caçamba), se não exercer uma fiscalização sobre a correta destinação final desse material. “Nesse cenário, a triagem do material ainda constitui o principal gargalo nas usinas de reciclagem.”

Granato explica que o serviço ainda é realizado de forma manual


Nos últimos anos, a reciclagem de resíduos da construção e demolição (RCD) vem ganhando cada vez mais destaque no setor e já se consolidou como uma prática usual em projetos de grande visibilidade nacional, como a reforma e reconstrução das arenas esportivas para a Copa do Mundo de 2014. Com a aprovação da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, o reaproveitamento desse material ganha um impulso legal, já que os municípios brasileiros deverão estabelecer um plano de gestão desses resíduos, fiscalizando sua disposição de forma regular e estimulando sua reciclagem.

Fora da visibilidade dos refletores, entretanto, a questão ainda é tratada de forma “exótica” no âmbito das reformas domiciliares e das pequenas obras, que são os maiores geradores de entulho no setor da construção. Todos os profissionais do setor são unânimes em apontar a reciclagem de RCD como um negócio em desenvolvimento, mas para que a iniciativa se torne uma realidade, ela precisa se apoiar nos três pilares da sustentabilidade: precisa ser ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável.

Nesse ponto reside o problema já que, se ninguém questiona os benefícios da iniciativa, seu principal entrave está na viabilidade econômica sob a ótica dos investidores em projetos de reciclagem. Para o empresário Artur Granato, da Nortec, especialista no assunto, o nó da questão está no controle da qualidade do material em sua origem. “Na maioria das reformas domiciliares e pequenas construções, o entulho é gerado com alto índice de contaminação, o que acaba inviabilizando seu reaproveitamento.”

Gargalo na triagem

Na opinião do empresário, a solução passaria pela adoção de taxas de coleta diferenciadas, de acordo com a qualidade do entulho gerado, o que requer maior fiscalização por parte do poder público. Afinal, nada adiante o município impor normas para a coleta de RCD (Lei da Caçamba), se não exercer uma fiscalização sobre a correta destinação final desse material. “Nesse cenário, a triagem do material ainda constitui o principal gargalo nas usinas de reciclagem.”

Granato explica que o serviço ainda é realizado de forma manual na maioria das usinas em operação no país, devido a sua função social na absorção intensiva de mão de obra não qualificada (catadores). “Podemos observar uma tendência para a mecanização nessa etapa do processo, com a implantação de correias que otimizem o trabalho dos catadores na remoção de materiais contaminantes”, ele completa.

Para Gilberto Meirelles, presidente da Abrecon (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição), a solução para o problema requer muita informação para se vencer preconceitos estabelecidos no mercado, ainda resistente em consumir reciclados de RCD. Ele ressalta que, mesmo produzindo agregados e artefatos pré-moldados – como tijolos, blocos etc. – a um custo entre 30% e 50% inferior ao uso de materiais naturais (areia e brita), esse produtos ainda encontram resistência junto a potenciais clientes finais. “Existe empenho por parte de muitas prefeituras e construtoras, mas a realidade ainda é diferente do discurso na maioria dos casos.”

Radiografia do setor

A própria Abrecon foi fundada em janeiro de 2010, reunindo 21 usinas de reciclagem, para estimular esse mercado. Segundo um levantamento da entidade, o país conta atualmente com cerca de 120 unidades do gênero em operação ou em fase de implantação, concentradas em sua maioria nas regiões metropolitanas de São Paulo, de Belo Horizonte, Curitiba e no Norte paulista. Considerando as ações isoladas de algumas construtoras, que adquiriram equipamentos de britagem para seus projetos, a Abrecon contabiliza atualmente em torno de 300 iniciativas voltadas à reciclagem de entulhos.

Segundo Meirelles, cerca de 70% das usinas de reciclagem existentes atualmente estão concentradas na região Sudeste do país, sendo que 80% delas são operadas pelo poder público (prefeituras) ou em regime de concessão para a iniciativa privada. Apenas os 20% restantes correspondem a projetos privados estruturados em sua origem. “Em geral, essas unidades fixas trabalham com uma capacidade instalada de 3.000 t/mês de material reciclado, suficiente para atendimento a um município com 300 mil habitantes.”

Mas o especialista vislumbra espaço para a expansão dessas usinas. Afinal, ele ressalta que se o descarte de RCD implica um custo de R$ 15 por tonelada – para sua disposição regular em áreas controladas – seu reaproveitamento em agregado reciclado pode resultar em produtos com preço na faixa de R$ 10 a R$ 25 por tonelada – dependendo da qualidade do material – bem abaixo do custo de aquisição de areia e brita naturais. “Com a incorporação de um custo de R$ 8 no processo de reciclagem, é possível produzir um agregado de alta qualidade”, completa Granato.

Políticas de estímulo

Para Miguel Porto Neto, do escritório Porto & Associados, que presta consultoria em projetos de reciclagem de RCD, a instalação das usinas deve se basear em um criterioso estudo de viabilidade, antes dos investimentos na aquisição de maquinário para britagem e reciclagem. “As oportunidades existem, mas exigem uma avaliação do mercado de geração e de consumo em sua área de atuação.”

Como exemplo, o especialista cita que apenas as regiões da Grande São Paulo e da Baixada Santista geram anualmente mais de 7,7 milhão t de entulhos da construção e demolição, o que representa a movimentação de 5.800 caçambas/dia. A questão, segundo ele, é avaliar a qualidade do material gerado, os investimentos necessários para processamento da parcela reaproveitável e o mercado consumidor disponível. “Algumas obras públicas e privadas procuram os recicladores, mas o consumo ainda é pequeno para a viabilização desse mercado”, completa Meirelles, da Abrecon.

Mesmo assim, o especialista demonstra confiança na consolidação do setor. “O que falta são políticas públicas que estimulem o gerador a descartar esse material de forma legal e o consumidor a optar pelos agregados e artefatos reciclados”, afirma Meirelles. Ele ressalta que mesmo considerando aspectos de normatização, que vetam a reutilização desse material para fins estruturais (lajes, pilares etc.), sua aplicação em funções menos importantes (como aterros, base e sub-base de pavimento, artefatos pré-moldados e cascalhamento de pistas) contribui para a economia no consumo de recursos naturais como a areia e brita.

Tecnologias de britagem

Artur Granato, da Nortec, vai mais adiante ao afirmar que, apesar das restrições impostas pelas normas, os reciclados de RCD podem ser reutilizados em aplicações estruturais (veja entrevista na pág. 94). “As normas são restritivas porque não há um controle sobre a qualidade desse material na origem, mas desde que ele seja ensaiado e submetido a um rigoroso controle tecnológico, pode sim ser reutilizado como laje, pilar e outras funções estruturais.” Como exemplo, o especialista cita países onde a reciclagem de RCD é mais evoluída, nos quais as concreteiras chegam a utilizar “de 30% a 40º% desse material na produção de nova massa de concreto”.

O especialista destaca que a evolução na tecnologia de britagem tem contribuído para a maior eficiência no processamento desse material. “Atualmente, dispomos de diversos tipos de usinas de britagem, fixas, semimóveis ou móveis, sendo que estas últimas podem se deslocar sobre rodas, esteiras ou carretas.” Diante dessa diversidade, ele explica que o usuário pode optar por uma instalação completa, envolvendo estágios de classificação para a produção de finos, ou apenas por um britador para a produção primária (de mandíbulas) ou um estágio mais avançado de britagem (cone).

Seja qual for a opção do usuário, Granato defende que a britagem do RCD seja adotada em toda e qualquer obra, mesmo quando não houver um projeto para reaproveitamento desse material. Além dessa prática reduzir o custo de transporte do entulho demolido, ele ressalta o ganho ambiental proporcionado pela iniciativa. “Com isso, os locais onde esses materiais são depositados deixarão de ser bota-foras para se transformar verdadeiramente em áreas de empréstimo, para que as gerações futuras decidam uma melhor aplicação para eles”, conclui o especialista.

A eficiência do projeto em questão

Apesar da maioria das usinas de reciclagem de RCD existentes no país ser controlada pelo poder público, o especialista Miguel Porto Neto, do escritório Porto & Associados, que presta consultoria em projetos nessa área, avalia que a evolução do setor deverá passar por operações privadas, seja em regime de concessão ou de parceria público-privada (PPP). Ele formulou essa opinião desde que atuou no projeto Município Verde Azul, entre 2009 e 2010, criado pelo Estado de São Paulo para estimular a formação de consórcios municipais para a instalação de unidades de reciclagem comuns às cidades abarcadas.

Na avaliação de Porto Neto, a maioria desses consórcios não saiu do papel justamente pela dificuldade de conciliar os interesses do prefeito de uma cidade com o do município vizinho, muitas vezes pertencentes a partidos políticos diferentes e com agendas de prioridades distintas. “Além disso, numa usina desse porte, se um equipamento quebrar, o conserto deverá ser contratado por licitação pública, um processo longo e que certamente comprometerá a eficiência da operação.”

Mesmo nos casos de sucesso, que envolvem municípios que conseguiram implantar suas usinas de reciclagem, o especialista aponta problemas para o modelo baseado na gestão pública. “Como essas urinas apresentam retorno em longo prazo, muitos prefeitos estão sendo questionados no Tribunal de Contas em um processo meramente político e sem embasamento nas métricas do projeto”, ele conclui.

 

 

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