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Estatais estrangeiras gastam R$ 120 bi no setor de infraestrutura do Brasil

Em cinco anos, mais de R$ 120 bilhões foram gastos por companhias internacionais em aquisições, fusões ou pagamento de outorgas

Valor Econômico

18/06/2019 11h00

O desenho do setor de infraestrutura no Brasil tem ganhado novo contorno, com a maior presença de estatais estrangeiras em concessões, parcerias público-privadas (PPPs) e obras.

Em cinco anos, mais de R$ 120 bilhões foram gastos por companhias internacionais em aquisições, fusões ou pagamento de outorgas.

Esse movimento vai crescer. Boa parte dos investimentos é liderada por estatais chinesas, mas elas estão longe de ser as únicas nesse processo. Companhias cujos acionistas relevantes são os governos da Espanha, França, Itália, Alemanha e Colômbia reforçam seu posicionamento no mercado brasileiro de infraestrutura, o maior da América Latina.

Os investimentos são vistos, principalmente, em energia elétrica, óleo e gás, mas o setor de transporte, com destaque para aeroportos e ferrovias, também atrai o interesse dessas estatais.

Na área de distribuição de energia, cerca de um terço do mercado está nas mãos delas. Em geração de energia, detêm pouco mais de 20 mil MW (cerca de 1,5 v

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O desenho do setor de infraestrutura no Brasil tem ganhado novo contorno, com a maior presença de estatais estrangeiras em concessões, parcerias público-privadas (PPPs) e obras.

Em cinco anos, mais de R$ 120 bilhões foram gastos por companhias internacionais em aquisições, fusões ou pagamento de outorgas.

Esse movimento vai crescer. Boa parte dos investimentos é liderada por estatais chinesas, mas elas estão longe de ser as únicas nesse processo. Companhias cujos acionistas relevantes são os governos da Espanha, França, Itália, Alemanha e Colômbia reforçam seu posicionamento no mercado brasileiro de infraestrutura, o maior da América Latina.

Os investimentos são vistos, principalmente, em energia elétrica, óleo e gás, mas o setor de transporte, com destaque para aeroportos e ferrovias, também atrai o interesse dessas estatais.

Na área de distribuição de energia, cerca de um terço do mercado está nas mãos delas. Em geração de energia, detêm pouco mais de 20 mil MW (cerca de 1,5 vez a capacidade da hidrelétrica de Itaipu, uma das três maiores do mundo).

Nos aeroportos, três dos dez maiores terminais (Confins, Recife e Porto Alegre) têm participação acionária desse grupo de companhias. Em ferrovias, estatais chinesas e russas estudam investimentos em segmento em que os atuais operadores são empresas privadas nacionais (Rumo, MRS, Vale).

O resultado é reflexo de seis fatores: crise fiscal; desdobramentos da Operação Lava-Jato, que reduziu o poder de fogo de grandes grupos nacionais e eliminou a barreira de ingresso de empresas internacionais no Brasil; escassez de negócios em países cujo mercado de obras está maduro; taxa de retorno de empreendimentos no Brasil em um momento de liquidez internacional; declínio de estatais brasileiras, que endividadas têm vendido ativos e reduzido presença na economia com 200 milhões de consumidores; e, transição para uma economia de baixo carbono, que destaca o Brasil, líder em agricultura e energia renovável.

Para o ex-ministro da Fazenda e atual diretor da Faap Rubens Ricupero, diferentemente do Brasil, que nunca implementou um modelo de internacionalização de suas empresas, alguns países, com destaque para a China, adotaram uma estratégia de longo prazo de fazer empresas ganharem mercados externos para fomentar a competitividade delas, facilitando acesso a financiamentos e garantias.

Na década de 70, o setor público e as estatais investiam 5% do PIB no Brasil. Hoje esse percentual caiu drasticamente.

"O mercado de infraestrutura passou por grandes transformações, com estatais endividadas, grupos privados com dificuldades e a política de financiamento do BNDES com subsídios para projetos com taxas de retorno abaixo do previsto colocada em xeque. Esse vácuo vem sendo preenchido com diversos atores, entre eles estatais estrangeiras em segmentos estratégicos", afirma Ricupero.

Esse movimento deverá se intensificar nos próximos meses, diante de negócios que poderão movimentar mais de R$ 100 bilhões, sendo uma fatia provavelmente adquirida por essas estatais estrangeiras, que deverão reforçar sua presença no mercado brasileiro. Em óleo e gás, a Petrobras deverá se desfazer de mais ativos em gás natural e deverá vender 50% de participação em refinarias e sua fatia majoritária na BR Distribuidora. Em energia elétrica, o governo estuda privatizar a Eletrobras.

Em transportes, deverão ser transferidos à iniciativa privada novas linhas férreas, com investimentos de mais de R$ 30 bilhões, terminais portuários e aeroportos, como Congonhas e Santos Dumont, e a participação da estatal Infraero em terminais como Galeão, Guarulhos e Viracopos.

Um dos maiores grupos de construção no mundo, a chinesa CCCC tem investido na diversificação de seus mercados além da Ásia. Um passo foi a aquisição de uma empresa na Austrália para participar de obras naquele país.

Há cerca de três anos, a companhia ingressou no Brasil ao comprar 80% da Concremat, se tornando o primeiro investimento chinês na área. A ideia foi usar o conhecimento da empresa no mercado brasileiro, com foco em obras tocadas por empresas privadas.

O objetivo é participar do desenho do projeto à entrega dele. A receita, que no ano passado foi de R$ 550 milhões, deve pular para R$ 900 milhões. As principais obras tocadas são de um terminal portuário no Maranhão, empreendimento sob responsabilidade de sua controladora, e um gasoduto que vai abastecer o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

"Com a crise fiscal, não acreditamos em obras públicas, estamos querendo olhar as obras privadas e estamos estudando projetos para atuar em concessões e PPPs. O foco é logística de carga, como porto, pontes e ferrovias, onde o conhecimento do grupo na China é um diferencial", diz Mauro Viegas, presidente da Concremat.

O Brasil atraiu a CCCC pelas oportunidades de investimentos. Além do conhecimento técnico em grandes obras, os chineses aportam outro trunfo: capital. "Ferrovias e portos são projetos com receita atrelada a câmbio, e o financiamento em dólar passa a ser relevante", diz o executivo. A empresa conta com bancos chineses como parceiros que podem oferecer linhas de capital.

Responsável por cerca de 12% da receita do grupo, o Brasil é o maior mercado da China Three Gorges Corporation – CTG, fora da China. Os 200 milhões de consumidores e a matriz de energia, calcada em hidrelétricas e renováveis como eólica e solar, atraíram o interesse.

Desde 2013, foram investidos R$ 23 bilhões no Brasil, principalmente em aquisições, com o grupo possuindo hoje pouco mais de 8 GW de capacidade, atrás da francesa Engie, com cerca de 10 GW, cujo maior acionista é o governo da França, com 25% de participação. No radar, estão hidrelétricas e, em um segundo momento, usinas eólicas e solares. A eventual privatização da Eletrobras será acompanhada.

O presidente da CTG Brasil, Li Yinsheng, diz que o Brasil tem grande base de consumidores e um consumo per capita ainda baixo. Apesar de a companhia ser controlada pelo governo chinês, ele afirma que "somos uma empresa, fazemos negócios e temos independência para tocar os projetos". A abertura de capital das operações no Brasil pode ser estudada no médio prazo, assim como a atração de um investidor estratégico. "São opções que podemos analisar, mas não no curto prazo."

O avanço das estatais chinesas não é fenômeno brasileiro. Relatório da Comissão Europeia de março aponta que o investimento chinês na União Europeia era incipiente até 2008, mas depois começou a ganhar velocidade e densidade. Em 2009, atingiu US$ 2,5 bilhões.

Em 2017, foram US$ 33 bilhões. Desde 2000, mais de 60% dos investimentos têm sido feitos por estatais chinesas, com destaque para área de logística e concessões públicas. A Comissão abriu investigação sobre a aquisição da Pirelli pela chinesa CNRC para avaliar se o investimento continha subsídios do governo.

A redução da participação das grandes construtoras brasileiras no mercado nacional e o ingresso de novos "players", pelo processo de desinvestimento da Petrobras e outras oportunidades, terão impacto sobre o mercado de bens de capital e engenharia da América Latina e África, onde o Brasil detém relevante presença.

A troca de cadeiras e a perda de poder das grandes construtoras podem gerar impactos além do Brasil. Segundo estudo da LCA Consultores, o Brasil é vice-líder na exportação de serviços de engenharia, com 18% de participação, atrás apenas da Espanha, com 30%, entre os países com atuação na América Latina.

O reforço da presença dessas estatais estrangeiras deverá reforçar a relevância da regulação e da atuação das agências reguladoras, aponta Sergio Lazzarini, professor do Insper e estudioso das estatais.

"O Brasil não tem poupança privada ou pública para investir, essas estatais ganham espaço e isso não é ruim. A questão é regulação e concorrência", diz. Há duas semanas, o projeto de lei 52/2013 que trata de aperfeiçoamento regulatório das agências reguladoras foi aprovado no Senado, e as mudanças estão em análise para sanção na Câmara. O texto final rejeitou a permissão que havia sido aberta pelos deputados para indicações políticas em empresas estatais.

O projeto contém medidas para garantir autonomia e transparência para as agências reguladoras, bem como estabelecer meios para evitar a interferência da iniciativa privada no setor regulado. "A independência e reforço das agências reguladoras são pontos nevrálgicos da abertura do setor de infraestrutura", diz Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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