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Revista M&T - Ed.179 - Maio 2014
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Segurança

Todo cuidado é pouco

Ainda sem regulamentação no país, operação de guindastes deve considerar pontos cruciais de segurança, como máquina, material, método e mão de obra, dentre outros
Por Camila Waddington

Em termos de segurança, se há uma área que requer maior atenção e sistematização no setor da construção é a de içamento de cargas, especialmente as operações envolvendo guindastes. Tanto que aumenta o clamor por um acompanhamento mais formal da área, incluindo monitoramento de aspectos como qualificação, regulamentação e tecnologia.

A preocupação começa pela falta de informação. Atualmente, em todo o mundo, os únicos dados disponíveis sobre acidentes com esses equipamentos são fornecidos pela Occupational Safety and Health Association (OSHA), agência federal que regula a segurança nos canteiros de obras dos Estados Unidos.

O mais recente relatório da associação organiza informações da última década, apontando uma média de 502 mortes por ano, causadas por 479 ocorrências envolvendo guindastes em obras estadunidenses. As causas dos incidentes são variadas, porém em mais de 90% dos casos ocorreu algum tipo de falha humana nas fases de projeto, manutenção e/ou operação dos equipamentos. E isso é tudo que se sabe sobre o assunto.

No Brasil, a situação é ainda mais crítica, pois não há dados compilados ou mesmo normas específicas para a operação de guindastes. Aliás, apesar de abordar alguns aspectos na NR-18 (“Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção”) e NR-35 (“Trabalho em Altura”), a Legislação brasileira de segurança do trabalho trata especificamente do assunto em uma única norma, a NR-11 (“Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais”), que estabelece indiscriminadamente os cuidados necessários para, por exemplo, operação de empilhadeiras e guindastes. “Mas deveríamos ter anexos específicos para cada tipo de operação”, sublinha Cosmo Palasio, especialista em segurança do trabalho e diretor do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp).

Para ele, a situação curiosamente reflete a conhecida dificuldade de se planejar e cumprir prazos no país, algo que afeta diretamente a segurança operacional em situações complexas como içamento de cargas. Já Fernando Mattos, consultor da FCM Engenharia Mecânica, acresce que – para ser segura – a operação de guindastes deve impreterivelmente obedecer a quatro pontos cruciais: máqu


Em termos de segurança, se há uma área que requer maior atenção e sistematização no setor da construção é a de içamento de cargas, especialmente as operações envolvendo guindastes. Tanto que aumenta o clamor por um acompanhamento mais formal da área, incluindo monitoramento de aspectos como qualificação, regulamentação e tecnologia.

A preocupação começa pela falta de informação. Atualmente, em todo o mundo, os únicos dados disponíveis sobre acidentes com esses equipamentos são fornecidos pela Occupational Safety and Health Association (OSHA), agência federal que regula a segurança nos canteiros de obras dos Estados Unidos.

O mais recente relatório da associação organiza informações da última década, apontando uma média de 502 mortes por ano, causadas por 479 ocorrências envolvendo guindastes em obras estadunidenses. As causas dos incidentes são variadas, porém em mais de 90% dos casos ocorreu algum tipo de falha humana nas fases de projeto, manutenção e/ou operação dos equipamentos. E isso é tudo que se sabe sobre o assunto.

No Brasil, a situação é ainda mais crítica, pois não há dados compilados ou mesmo normas específicas para a operação de guindastes. Aliás, apesar de abordar alguns aspectos na NR-18 (“Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção”) e NR-35 (“Trabalho em Altura”), a Legislação brasileira de segurança do trabalho trata especificamente do assunto em uma única norma, a NR-11 (“Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais”), que estabelece indiscriminadamente os cuidados necessários para, por exemplo, operação de empilhadeiras e guindastes. “Mas deveríamos ter anexos específicos para cada tipo de operação”, sublinha Cosmo Palasio, especialista em segurança do trabalho e diretor do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp).

Para ele, a situação curiosamente reflete a conhecida dificuldade de se planejar e cumprir prazos no país, algo que afeta diretamente a segurança operacional em situações complexas como içamento de cargas. Já Fernando Mattos, consultor da FCM Engenharia Mecânica, acresce que – para ser segura – a operação de guindastes deve impreterivelmente obedecer a quatro pontos cruciais: máquina, mão de obra, material (carga) e método. “Esse conjunto resume o Diagrama de Ishikawa, que avalia causas e efeitos de incidentes”, explica o especialista, referindo-se à ferramenta gráfica de qualidade criada em 1943 pelo professor Kaoru Ishikawa, da Universidade de Tóquio.

MÁQUINA

Especificamente sobre a máquina, é necessário equalizar ainda dois aspectos essenciais de adequação. O primeiro, como destaca o consultor, é o correto dimensionamento do equipamento, avaliando sua estrita conformação à capacidade requerida para a operação. “Nesse sentido, sobrar máquina é quase tão ruim quanto faltar”, resume Mattos.

Obviamente, uma máquina menor do que o necessário é um fator mais sério de acidentes, pois não suporta a carga. Mas, por outro lado, uma máquina com capacidade sobressalente pesa mais, comprometendo sua acomodação no local de trabalho. “Na China, ocorreu um acidente porque o guindaste treliçado era grande demais”, exemplifica. “Na ocasião, a máquina sequer estava içando carga, mas tinha chovido e o solo perdeu capacidade de suporte, fazendo com que o guindaste afundasse no momento da translação, tombando em seguida.”

O segundo aspecto diz respeito à condição estrutural do equipamento. Mattos explica que utilizar um guindaste com capacidade cinco vezes superior à indicada para a carga é inútil se o equipamento não receber manutenção adequada, ou mesmo se estiver sofrendo reparos não autorizados e intervenções imprudentes. “Essa, infelizmente, é a falha que mais tenho visto nos canteiros brasileiros”, frisa Mattos. “Geralmente, a máquina tem as especificações corretas, mas não é nada incomum que não esteja com a manutenção em dia.”

A ressalva aplica-se, sobretudo, a guindastes abaixo de 500 t, pois acima disso a falta de manutenção não constitui um problema corriqueiro, uma vez que nessa classe de equipamentos de maior porte a frota brasileira é relativamente nova.

MANUTENÇÃO

Para o diretor da Cunzolo, Marcos Cunzolo, é indispensável realizar a manutenção preventiva por hora trabalhada, sempre seguindo o manual do fabricante. Em paralelo, o operador precisa realizar check-list diário, englobando limpeza, vistoria de luzes, freios, cabos de aço, ganchos, polias, vazamentos e outros itens obrigatórios. “Os guindastes incorporam sensores que, em caso de sobrecarga na operação, emitem sinais sonoros e visuais”, descreve Cunzolo. “Esses sensores raramente falham e, dentre as medidas tomadas automaticamente, a mais drástica é travar o equipamento quando ele chega a 70% da capacidade de içamento – no sistema europeu – ou a 85% da capacidade – no sistema norte-americano.”

O diretor lembra ainda que o operador deve calibrar os sensores, cruzando as informações com o plano de rigging antes de iniciar a operação. Os preceitos básicos desse item, diga-se, merecem um capítulo à parte.

SENSORES

Em guindastes, ao lado dos sensores de nível, os sensores de monitoramento de carga são os mais críticos e importantes para a segurança operacional. Grosso modo, existem três tipos: de ângulo, de comprimento e de carga. Os respectivos parâmetros são cruzados na central eletrônica do guindaste, onde é feito o cálculo das condições de trabalho para o içamento. Caso algum dos sensores não esteja corretamente instalado ou envie informações conflitantes ao sistema, os parâmetros de içamento podem resultar em total equívoco, gerando sério risco de acidente.

Claro que, nos guindastes mais sofisticados e modernos, a periculosidade é bem menor, pois os alertas são emitidos a cada anomalia identificada no sistema, permitindo que sejam executadas apenas operações de segurança. Dependendo da gravidade do alerta, o equipamento trava automaticamente até que se corrija o problema. O conjunto eletrônico dos guindastes mais avançados emite códigos de erro, indicando exatamente o local que deve ser avaliado. Para detectar plenamente o problema, os profissionais devem consultar nos manuais do equipamento o significado do código informado.

Visando à necessária redundância, tais códigos de erro também são emitidos por outros sensores instalados no guindaste. Em modelos acima de 250 t – e como opcional para guindastes de menor capacidade –, até mesmo as patolas são vigiadas por transdutores (componentes para a medida da pressão invasiva), que transformam a informação de pressão hidráulica em sinal elétrico e informam o peso suportado em cada patola. Existe ainda um controle similar do nivelamento do guindaste quando patolado. Essas informações são visualizadas em um painel eletrônico de comando, instalado na parte externa do equipamento e que, por isso, deve ser mantido vedado e protegido de intempéries.

Assim como os demais painéis de comando da máquina, o controle das patolas é interligado às unidades centrais ou processadores de informação. Alguns guindastes, aliás, possuem diversas unidades e oferecem a opção de intercâmbio. Ou seja, se um código de erro aponta determinada falha no sistema eletrônico de içamento, é possível substituir o processador de informação por outro que está temporariamente inativo, recolocando rapidamente o equipamento em condição segura de operação.

MÃO DE OBRA

Uma coisa é certa: o alto nível de informações geradas na operação de guindastes demonstra claramente que não se trata de um processo que possa ser realizado por leigos. Nesse sentido, o operador é peça-chave no assunto. Tanto que, em qualquer acidente, o fator humano é, no mínimo, corresponsável pelo ocorrido, pois a lei garante poder de veto caso o operador não se sinta confortável com a operação planejada. Entretanto, frequentemente essa autonomia tende a ser limitada pelas regras corporativas, que – direta ou indiretamente – podem restringir o poder decisório do operador. “Mas essa questão é ainda mais ampla”, adverte Paulo Oscar Auler Neto, vice-presidente da Sobratema. “Afinal, também precisam ser capacitados os supervisores, ajudantes e demais envolvidos nas operações.”

Mattos, da FCM, lembra que nas décadas de 80 e 90 houve um avanço significativo na qualificação, mas a débil atividade da construção no período gradativamente desinteressou novos especialistas em içamento e outras operações técnicas. “Com isso, os operadores mais antigos tendem a ser muito bons, mas apresentam certa dificuldade de lidar com a eletrônica embarcada nos guindastes atuais”, afirma. “Por outro lado, não temos novos operadores que sejam plenamente preparados para atender ao volume necessário hoje em dia.”

Segundo ele, atualmente um dos programas de qualificação mais sérios do setor é o do Instituto Opus, que recentemente estabeleceu uma parceria com a Associação Brasileira de Ensaios Não-Destrutivos e Inspeção (Abendi) para o desenvolvimento de normas para certificação e registro de profissionais que atuam na elaboração, supervisão e execução de içamento e movimentação de carga.

Com base em dados da OSHA, o diretor do Instituto Opus, Wilson de Mello Jr., cita que 96% dos acidentes com guindastes ocorridos nos EUA em 2008 envolveram algum tipo de falha humana. Novamente, como não há dados compilados aqui, a percepção dos especialistas é de que no Brasil as causas de acidentes não são diferentes. “Mas não é só o operador do guindaste que precisa de qualificação”, reforça Mello. “Afinal, o içamento de carga envolve homens de área (como ajudantes, amarradores e auxiliares), sinaleiros (que orientam o operador durante o içamento), supervisores de rigging ou de movimentação (responsáveis pela aplicação do plano de rigging) e o próprio rigger, que precisa ter mais conhecimento que os demais, pois seleciona o equipamento, planeja a operação e calcula as amarrações.”

Como deve conhecer todas essas funções, alguns requisitos são essenciais na seleção do operador. O primeiro é o nível de instrução. “Para aferir a segurança operacional no dia a dia, o operador de guindaste deve ser capaz de realizar alguns cálculos básicos, sem a ajuda de instrumentos externos”, pontua Mello. Outras qualidades necessárias ao operador, segundo ele, incluem capacidade de resolução de problemas, controle de processos complexos, memória visual, relação espacial e psicomotricidade, que é a relação entre os processos cerebrais e afetivos com o ato motor. “Ou seja, a capacidade de desenvolver atividades que exijam coordenação motora refinada”, explica o diretor do Instituto Opus.

Inspeção dos equipamentos é essencial

Em guindastes de qualquer porte, é altamente recomendada uma avaliação técnica minuciosa. Realizada por especialista, a inspeção deve abordar todos os componentes estruturais, mecânicos, elétricos e eletrônicos do equipamento. Para realizá-la, o gestor de frota pode contratar serviços diretamente com o fabricante ou, se preferir, internalizar o serviço. Nesse caso, é imprescindível a disponibilidade de um técnico especializado para avaliar diversos detalhes, como os listados abaixo:

Integridade estrutural do sistema de monitoramento de carga e proteção contra sobrecarga;

Verificação e limpeza dos sensores e das vedações dos componentes eletrônicos e conectores;

Confiabilidade das informações e alertas emitidos pelos sensores, que atestem os parâmetros de operação;

Calibração dos sensores espalhados por toda a máquina;

Avaliação dos cabos de comunicação para verificar se estão em boas condições e atendem às indicações do fabricante;

Avaliação dos conjuntos hidráulicos equipados com transdutores de pressão. Se não estiverem em plenas condições, é necessário intervir no sistema hidráulico ou sensor para que as informações eletrônicas não sejam deturpadas.

Conheça os principais sensores de guindastes

SENSOR DE ÂNGULO - Sua principal função é controlar o ângulo de lança, assegurando a confiabilidade do cálculo da carga içada. Pode ainda integrar acessórios como cavalete TY, giro ou direção;

SENSOR DE COMPRIMENTO - Informa o comprimento de lança ou outro acessório, permitindo que o guindaste monitore adequadamente a operação, de acordo com condições de vento, carga, contrapeso e ângulo da lança;

SENSOR DE CARGA - Avalia a capacidade de carga do guindaste, relacionando-a às informações emitidas pelos sensores de ângulo e de comprimento;

ANEMÔMETRO - Indica as condições do vento, que podem comprometer a segurança do içamento;

SENSORES LIMITADORES DE MOVIMENTO - Limitam movimentos indevidos, que podem colocar a operação em risco, como subida excessiva do gancho de carga ou posicionamento incorreto da lança.

 

 

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