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Revista M&T - Ed.213 - Junho 2017
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Agronegócio

Terceirização entra em campo

Mais centrados na competitividade do negócio, produtores brasileiros privilegiam plantio, colheita, pulverização e transporte, delegando a manutenção para os dealers
Por Santelmo Camilo

Se um caminhão, com prazo no limite para embarcar a carga no porto, quebrar a 200 km do seu destino, o transportador corre o risco de fazer o navio exceder o tempo de permanência no cais. Essa situação gera multas e problemas contratuais, penalizando a empresa proprietária do caminhão, além de comprometer a confiabilidade do serviço prestado. Para evitar essas adversidades, Frank Henrique Saragoça da Silva, proprietário da Transmaz Transportes, prefere terceirizar a manutenção de toda sua frota de caminhões, transferindo para a concessionária essa responsabilidade.

Assim, qualquer intervenção de manutenção é realizada pelo dealer por meio de contratos de manutenção preventiva. “Nosso foco é transportar a carga com eficiência e dentro dos prazos estabelecidos”, diz ele. “A manutenção é o negócio da concessionária, que tem estrutura, peças, profissionais especializados e ferramental apropriado para esse serviço.”

A empresa presta serviços para usinas de açúcar e fábricas de fertilizantes na região de Ribeirão Preto (SP), transportando cargas para exportação com uma frota de aproximadamente 41 caminhões. Cada veículo realiza entre dez e 12 viagens por mês. “As usinas de açúcar fazem a programação dos contêineres e, em seguida, o carregamento dos veículos”, conta Silva. “Com o embarque programado, o prazo de entrega do contêiner no porto começa a correr e o caminhão não pode falhar.”

Esse exemplo ilustra bem como as empresas do setor agrícola estão cada vez mais decididas pela terceirização dos serviços de manutenção. O setor está aquecido e as propriedades rurais vivem um momento de ascensão produtiva, na qual a mecanização na lavoura vem se tornando uma aliada indispensável para alavancar a competitividade do país no cenário internacional.

TENDÊNCIA

E a manutenção é um pilar estratégico para a prosperidade da lavoura. Para o leitor ter uma ideia, Silva, da Transmaz, é atendido pelo dealer da Scania em Ribeirão Preto – a Escandinávia Veículos –, concessionária com ao menos cinco mecânicos distribuídos pelas usinas de açúcar da região. “Das usinas regionais que operam com frota de caminhões da marca, cerca de 70% utilizam manutenção terceirizada”, revela Lucas Rangel


Se um caminhão, com prazo no limite para embarcar a carga no porto, quebrar a 200 km do seu destino, o transportador corre o risco de fazer o navio exceder o tempo de permanência no cais. Essa situação gera multas e problemas contratuais, penalizando a empresa proprietária do caminhão, além de comprometer a confiabilidade do serviço prestado. Para evitar essas adversidades, Frank Henrique Saragoça da Silva, proprietário da Transmaz Transportes, prefere terceirizar a manutenção de toda sua frota de caminhões, transferindo para a concessionária essa responsabilidade.

Assim, qualquer intervenção de manutenção é realizada pelo dealer por meio de contratos de manutenção preventiva. “Nosso foco é transportar a carga com eficiência e dentro dos prazos estabelecidos”, diz ele. “A manutenção é o negócio da concessionária, que tem estrutura, peças, profissionais especializados e ferramental apropriado para esse serviço.”

A empresa presta serviços para usinas de açúcar e fábricas de fertilizantes na região de Ribeirão Preto (SP), transportando cargas para exportação com uma frota de aproximadamente 41 caminhões. Cada veículo realiza entre dez e 12 viagens por mês. “As usinas de açúcar fazem a programação dos contêineres e, em seguida, o carregamento dos veículos”, conta Silva. “Com o embarque programado, o prazo de entrega do contêiner no porto começa a correr e o caminhão não pode falhar.”

Esse exemplo ilustra bem como as empresas do setor agrícola estão cada vez mais decididas pela terceirização dos serviços de manutenção. O setor está aquecido e as propriedades rurais vivem um momento de ascensão produtiva, na qual a mecanização na lavoura vem se tornando uma aliada indispensável para alavancar a competitividade do país no cenário internacional.

TENDÊNCIA

E a manutenção é um pilar estratégico para a prosperidade da lavoura. Para o leitor ter uma ideia, Silva, da Transmaz, é atendido pelo dealer da Scania em Ribeirão Preto – a Escandinávia Veículos –, concessionária com ao menos cinco mecânicos distribuídos pelas usinas de açúcar da região. “Das usinas regionais que operam com frota de caminhões da marca, cerca de 70% utilizam manutenção terceirizada”, revela Lucas Rangel Bueno, gerente de assistência técnica da Escandinávia Veículos.

De acordo com ele, o foco da manutenção é a frota confinada, ou seja, os caminhões que trabalham no transporte interno das usinas. “Algumas propriedades possuem cerca de 60 caminhões em operação, mas disponibilizamos mecânicos para campo a partir de quantidades menores, como 20 ou 25 veículos”, salienta Bueno. “Isso facilita a vida na lavoura, porque o cliente prefere que o caminhão permaneça na usina para intervenções de manutenção, ao invés de ser deslocado para a concessionária.”

A manutenção terceirizada é uma tendência crescente no agronegócio, na visão do gerente de peças e serviços da Scania Brasil, Pietro Nistico Neto. Para ele, a prosperidade nesse mercado cada vez mais exige que os produtores se concentrem na agilidade necessária para plantio, colheita, pulverização e transporte, aplicando essa expertise como um diferencial para o negócio. “Há casos onde o cliente procura o dealer apenas para oferecer suporte em algumas situações, mas há outros nos quais prefere que a manutenção seja 100% terceirizada”, ressalta Neto.

Normalmente, com o envelhecimento da máquina, o próprio usuário adquire um nível de conhecimento para realizar a manutenção de sua frota no local de operação, ficando para o concessionário apenas as intervenções que requeiram conhecimento e ferramentas específicos.

ESCALAS

Conforme o porte da empresa, a manutenção de colheitadeiras, tratores, semeadoras, pulverizadores e colhedoras, dentre outros equipamentos agrícolas, é terceirizada em diferentes escalas.

Para entender como isso acontece, é preciso subdividir o mercado agrícola em dois segmentos: de grãos, dominado por empresas de diferenciados portes, proprietárias de latifúndios que vão de poucos hectares de milho a milhares de hectares de grãos diversificados, e de cana-de-açúcar, controlado por grandes players.

Com estrutura geralmente limitada de oficina, as propriedades pequenas e médias optam por fazer a manutenção por meio das concessionárias. “Já as empresas de maior porte recorrem à concessionária apenas para adquirir peças e executar alguns serviços mais específicos, pois preferem fazer a manutenção internamente”, explica Gregory Riordan, gerente de produto PA&C (Precision Agriculture and Construction) da CNH Industrial para a América Latina. “As colhedoras de cana, por exemplo, precisam ser desmontadas uma vez por ano para manutenção, porque a cana é um produto altamente abrasivo. As usinas preferem fazer esse trabalho internamente, adequando-o ao período de entressafra, de dezembro a abril.”

Normalmente, as propriedades agrícolas realizam manutenções superficiais e têm suas equipes para atender casos mais simples, como pneus furados, parafusos soltos, fusíveis queimados e demais operações de baixa complexidade, mas que ajudam a máquina a voltar mais rapidamente ao trabalho. Na medida em que o nível de dificuldade vai aumentando, o apoio das ferramentas e do conhecimento técnico das concessionárias torna-se crucial.

O gerente de serviços da New Holland Agriculture, Claudimir Orlando, confirma essa observação. “Os trabalhos que requerem dispositivos eletrônicos, ferramental e mão de obra especializada continuam contando com o suporte da rede de concessionários na própria fazenda ou nas lojas”, explica, acrescentando que os diagnósticos eletrônicos e as grandes revisões devem ser realizados sempre pela rede de concessionários, para garantir que a máquina não falhe durante o período de utilização.

Já Maurício de Menezes, supervisor de pós-venda da John Deere, lembra que o cliente muitas vezes avalia apenas o custo por hora cobrado por um concessionário autorizado. Mas a conta que precisa ser feita recai sobre o tempo total que um técnico precisa para resolver o problema. “O especialista será mais rápido e vai garantir menor tempo de máquina parada”, argumenta. “Também é importante salientar que as peças originais instaladas pelo técnico autorizado têm garantia contra defeitos de instalação e fabricação, deixando o cliente mais tranquilo.”

ENTRESSAFRA

Em qualquer equipamento agrícola, a manutenção preventiva geralmente é feita antes da safra, pois as janelas de plantio e colheita são muito curtas e a máquina não pode quebrar no meio da safra, com risco de causar prejuízos vultosos aos agricultores.

Em determinadas regiões brasileiras, o plantio e a colheita acontecem na mesma época do ano, dependendo a todo instante dos equipamentos. “O plantio e a colheita da soja no Sul são realizados no período das chuvas e tudo deve ser feito num curto espaço de tempo”, exemplifica Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSIA) da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). “Diferentes culturas de grãos são desenvolvidas, além da pulverização e adubação que devem ser realizadas durante todo o ciclo.”

Por isso, as concessionárias buscam marcar presença nas principais praças de plantio. “O pós-venda é vital para a operação e o agricultor sempre avalia o pacote completo de máquina, peças e serviços autorizados”, comenta Bastos. “Geralmente, as grandes marcas realizam estudos para implantar unidades em pontos estratégicos, que cubram toda a área de atendimento.”

De acordo com ele, é fundamental contar com o apoio dos dealers, especialmente em equipamentos com tecnologia embarcada. “Antes, os serviços eram basicamente de metalurgia e engenharia mecânica, mas hoje foram acrescentados recursos como telemetria e monitoramento remoto, de modo que os equipamentos não podem mais receber manutenção de quem não é especializado”, adverte Bastos.

Menezes, da John Deere, acrescenta que a tecnologia é aliada para garantir eficiência na hora de produzir. Embora o usuário veja os dispositivos eletrônicos como algo complexo, já no início percebe que esses recursos ajudam e muito, principalmente porque os equipamentos são muito intuitivos na operação, executando as tarefas com mais precisão.

O que nem sempre se percebe é que a tecnologia também agrega valor à manutenção, por possibilitar a resolução de qualquer tipo de problema, o mais rápido possível. Hoje, os equipamentos dos principais fabricantes possuem sistemas capazes de fazer diagnóstico remoto de problemas que requerem intervenção, possibilitando ajustes de configuração e planejamento de manutenção pelo dealer e pelo proprietário do equipamento. “O cliente precisa observar a manutenção como investimento e não como custo”, diz Riordan, da CNHi. “Por isso, os dados técnicos são essenciais, podendo ser utilizados de maneira útil e sempre em benefício da produtividade.”

TERCEIRIZAÇÃO DA OPERAÇÃO AINDA É INEXPRESSIVA NA LAVOURA

Ao contrário do que acontece na construção, a terceirização do uso de maquinário ainda não é uma realidade no setor agrícola. Devido às curtas janelas de operação de plantio e colheita, a cultura dos grãos praticamente ocorre na mesma época nas regiões produtivas e os proprietários rurais não podem depender de frota terceirizada. “Se houvesse frotas de máquinas agrícolas para serem locadas, elas ficariam todas empregadas durante as janelas de operação, correndo o risco de algum agricultor procurar, não encontrar e atrasar o plantio ou a colheita”, opina Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSIA), da Abimaq. “Se perder o período das chuvas, por exemplo, o agricultor terá prejuízos imensuráveis, perdendo até financiamento do governo.”

Para ele, a terceirização só faria sentido se essas janelas de operação durassem mais tempo. Por sua vez, o gerente de serviços da New Holland Agriculture, Claudimir Orlando, observa que até existem equipamentos agrícolas terceirizados, mas nada muito expressivo. “Todas as atividades rurais seguem um calendário natural. Há época especifica para plantar, tratar, colher e armazenar, com janelas de plantio cada vez mais curtas, umidade do solo em épocas apropriadas, dia de umidade relativa e ausência de vento ideal para pulverizar, além de umidade do grão ideal para colher”, diz ele. “Esses fatores exigem que as máquinas estejam à disposição no momento certo, sendo que essa disponibilidade pode significar a diferença entre lucro e prejuízo na atividade.”

O supervisor de pós-venda da John Deere, Maurício Menezes, contextualiza melhor esse raciocínio. Para ele, a terceirização da operação ainda é tímida porque os grandes produtores são mais focados no mercado e na comercialização das commodities, com menos enfoque na produção. “Por isso, eles tendem a usar frota terceirizada, já que possuem menor know how da gestão desses processos dentro da sua cadeia de produção”, avalia. “Mas entendo que ainda não há uma cultura da terceirização da operação rural no Brasil em parte por não termos um número suficiente de empresas para atender à demanda.”

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