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Revista M&T - Ed.68 - Dez/Jan 2002
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Entrevista

Sacando e rebatendo ideias e conceitos

"A Sobratema é uma associação sem fins lucrativos, voltada para a difusão do conhecimento. Tudo deve girar em torno desse eixo, desse centro"

Por Wilson Bigarelli

Jadar Fraga dos Santos

Jader Fraga dos Santos, depois de oito anos, volta à presidência da Sobratema, entidade que criou em 1988 com um grupo de profissionais da área de manutenção. Engenheiro mecânico e superintendente técnico da Constran, Jader vinha atuando como diretor técnico, embora reconheça ter mantido no período um certo distanciamento da entidade que dirigiu nas duas primeiras gestões. "Foi muito saudável. Atendendo às expectativas dos companheiros que me elegeram, volto com muitas ideias e conceitos novos para cada um dos programas da Sobratema".

Nessa entrevista, ele fala do processo acelerado de mudanças que vem ocorrendo no mundo, da evolução tecnológica e da necessidade de se investir em conhecimento. Jader também traça um perfil do novo profissional da área, e define a Sobratema como uma entidade prestadora de serviços. Tenista nas horas vagas e entusiasta de festas e confraternizações, o presidente eleito para o biênio 2002/2003 cultiva um estilo marcado pelo otimismo e o bom humor. "O trabalho para mim é algo envolvente e lúdico, que me deixa feliz".

Revista M&T - Você, que foi um dos fundadores e presidente nas duas primeiras gestões, vem atuando como diretor técnico nos últimos oito anos. Qual é a sua maior motivação hoje para assumir a presidência da Sobratema?

Jader - Na verdade, eu até me afastei um pouco, porque tinha ficado muito tempo na presidência e para dar vazão a novas ideias. Achei que o resultado foi muito bom. Agora, acho que chegou o momento, e os associados concordaram, que voltasse alguém que estivesse um pouco afastado para insuflar novas ideias que não tivessem influenciadas pelo status quo ou pelo processo que ali ocorria. Isso é muito saudável. Como dizia Montaigne, para se ver a montanha, é preciso estar na planície e


Por Wilson Bigarelli

Jadar Fraga dos Santos

Jader Fraga dos Santos, depois de oito anos, volta à presidência da Sobratema, entidade que criou em 1988 com um grupo de profissionais da área de manutenção. Engenheiro mecânico e superintendente técnico da Constran, Jader vinha atuando como diretor técnico, embora reconheça ter mantido no período um certo distanciamento da entidade que dirigiu nas duas primeiras gestões. "Foi muito saudável. Atendendo às expectativas dos companheiros que me elegeram, volto com muitas ideias e conceitos novos para cada um dos programas da Sobratema".

Nessa entrevista, ele fala do processo acelerado de mudanças que vem ocorrendo no mundo, da evolução tecnológica e da necessidade de se investir em conhecimento. Jader também traça um perfil do novo profissional da área, e define a Sobratema como uma entidade prestadora de serviços. Tenista nas horas vagas e entusiasta de festas e confraternizações, o presidente eleito para o biênio 2002/2003 cultiva um estilo marcado pelo otimismo e o bom humor. "O trabalho para mim é algo envolvente e lúdico, que me deixa feliz".

Revista M&T - Você, que foi um dos fundadores e presidente nas duas primeiras gestões, vem atuando como diretor técnico nos últimos oito anos. Qual é a sua maior motivação hoje para assumir a presidência da Sobratema?

Jader - Na verdade, eu até me afastei um pouco, porque tinha ficado muito tempo na presidência e para dar vazão a novas ideias. Achei que o resultado foi muito bom. Agora, acho que chegou o momento, e os associados concordaram, que voltasse alguém que estivesse um pouco afastado para insuflar novas ideias que não tivessem influenciadas pelo status quo ou pelo processo que ali ocorria. Isso é muito saudável. Como dizia Montaigne, para se ver a montanha, é preciso estar na planície e viceversa. Assim como que quem entende de rei é povo e quem entende de povo é rei. Eu só sai do palco e fiquei um pouco na platéia.

Revista M&T-Basicamente, o que você irá propor em sua nova gestão?

Jader -Eu estou com muitas ideias diferentes, que vou colocar para a diretoria. Se concordarem, vamos implementálas, senão vamos corrigilas de forma adequada. Para cada área e programa da Sobratema, eu tenho um conceito novo. Pode parecer paradoxal, mas a ideia é mudar tudo para continuar como era antes.

Revista M&T - Que mudanças os associados podem esperar na Sobratema em relação às gestões anteriores?

Jader -A Sobratema, é uma entidade, uma associação, sem fins lucrativos, voltada para a difusão do conhecimento. Dentro desse enfoque, dessa visão, é que nós vamos trabalhar. Tudo vai girar em torno desse eixo, desse centro. Lógico que haverá uma diferença de estilo de trabalho, mas o estilo é o homem e os homens não são iguais.

Revista M&T - Parece que, além de candidato a médico, em sua juventude você também foi músico. Nesse sentido, qual o tom, o ritmo, que você espera imprimir em sua gestão frente à Sobratema?

Jader -Na verdade, eu toquei pistão quando era moleque em Cachoeira do Itapemirim. A Sobratema é uma entidade fundamentalmente voltada à divulgação do conhecimento. Como disse recentemente Thurow (LesterThurow, economista e consultor norteamericano), três empresas distintas, a Microsoft, que apostou em conhecimento, a Intel apostou em fabricação do produto, e a Cisco em serviços. Todas são altamente bem sucedidas. Agora, cada uma escolheu seu estilo de trabalhar, segundo os seus talentos. Da mesma forma vem a Sobratema fazendo e devemos continuar.

Revista M&T - E qual a melhor forma para divulgar esse conhecimento?

Jader -Da maneira como estamos fazendo, através de uma feira, uma revista, um seminário e através de programas como o Opus, que é um programa de treinamento e formação de operadores. Nós queremos dialogar com todos aqueles que estão de alguma forma envolvidos com equipamentos. Veja que nós já estamos atuando junto a operadores, engenheiros, estudantes (no Programa Ferramenta), inclusive levando esse pessoal para o exterior para conhecer obras. Essa é a razão de ser da Sobratema.

Revista M&T - Você já disse há alguns anos que a Sobratema deveria crescer em serviços. Então, além dessa missão institucional de divulgação do conhecimento, quais os serviços que ela efetivamente presta hoje e que ela poderá prestar?

Jader - Veja, o próprio treinamento e formação de operadores é um serviço. Também acho que elaborar uma revista está muito mais no campo de serviços do que de um produto qualquer, como uma geladeira, por exemplo. É uma maneira pela qual você passa conhecimento, é serviço. A M&T Expo também é serviço. Tudo que nós fazemos hoje é serviço, mesmo porque no mundo de hoje qualquer atividade que não seja serviço, em razão da escala e o investimento necessário, se torna inviável.

Revista M&T - O programa de certificação que imagino seja uma coisa muito importante para você pessoalmente, pois foi o primeiro a ser lançado pela Sobratema, ainda não está muito difundido na área de construção. Do mesmo modo, o Opus, que fechou o ano com resultados notáveis, ainda está restrito ao segmento de guindastes. O que falta para as construtoras investirem em fornecedores qualificados pela Sobratema e de adotarem o treinamento sistemático de seus operadores de máquinas?

Jader - Veja que a ABEF (associação das empresas de engenharia de fundações) já solicitou cursos para seus operadores, assim como a Abratt, que reúne empresas com equipamentos de tecnologia não destrutiva. Hoje no Canadá, a maior demanda por treinamento é por retroescavadeira. Eles também começaram com guindastes, porque provocavam acidentes mais sérios, depois foram passando por outros tipos de máquinas. E hoje a máquina que tem maior procura é a retroescavadeira, porque é uma máquina que fundamentalmente exerce atividade urbana, onde opera junto a veículos e transeuntes. É uma questão de necessidade de momento.

Revista M&T - E de priorizar esse ou aquele problema...?

Jader -Sim. O mesmo ocorre com a manutenção de uma empresa. Quando essa área está péssima, você está preocupado com o motor, transmissão, turbina, bombas hidráulicas, etc. A medida que sua manutenção melhora, você vai ver que está preocupado com o banco do operador e a cabina que não está dando o conforto necessário e comprometendo a produtividade. Ou seja, você resolve um problema e aparece outro. Sempre haverá um problema mais importante. O Canadá não está mais preocupado com o operador de guindaste, pois já assumiu que o operador de guindaste tem que ser alguém treinado e certificado para operação de guindastes.

Revista M&T - Em treze anos de existência da Sobratema, ocorreram muitas mudanças no setor. Houve, por exemplo, uma grande migração de obras do setor público para o privado e as margens de lucro estão cada vez mais estreitas. As empresas também passaram por um processo de enxugamento e ganharam força tendências como a terceirização. Qual o desafio atual: reduzir custos?

Jader - A mudança é muito grande. Voltando a Thurow, quando Thomas Alva Edson inventou a lâmpada, ela custava em valores atualizados US$ 1 500 e hoje pode ser encontrada em qualquer supermercado por 33 cents. Houve uma mutação violenta e as coisas continuam mudando muito rapidamente. Os custos estão mudando. E a maneira de você reduzir custos é através da introdução de novas tecnologias e aumento de produtividadenão há outro caminho. Por isso, quando se fala em terceirização, eu cuido em não tratar como um modismo. Se a terceirização aumenta a sua produtividade ou lhe qualifica melhor tecnologicamente, muito bem. Se não faz isso, eu tenho dúvidas. A empresa é uma equação, onde voce tem numerador e denominador. Se você cortar custos, você está mexendo só no numerador.

Revista M&T - Foi nesse contexto, que o homem da área de manutenção virou gerente de equipamentos?

Jader - Não é possível se imaginar o mundo mais de forma estática o que se fazia há treze anos atrás, não vale mais. As máquinas hoje são feitas para voce trocar peças. É preciso saber diagnosticar e trocar a peça. Antigamente, você tinha que diagnosticar e recuperar a peça, pois às vezes nem havia recursos para você conseguir uma peça nova. Hoje você tem internet, as courier, transporte e uma logística toda complexa em que você rapidamente pode obter a peça, sabendo onde tem, quanto custa e que vai chega amanhã de manhã.

Revista M&T - Então, mudou o perfil do profissional necessário para a função?

Jader - Aquele homem habilidoso, que era capaz de pegar uma peça danificada e levava três, quatro dias e conseguia recuperála, não tem o mesmo sentido anterior. Serve a habilidade dele em fazer um diagnóstico rápido e correto do que tem a máquina. Saber localizar no catálogo a peça e, através de um processo, saber onde tem a peça, quanto custa e quanto tempo chega. Mas isso tudo não fica mais caro?. Sim, talvez mais caro que a solução anterior, mas a produtividade é muito maior. Caro talvez o reparo em si, mas não na hora em que for computado quanto a máquina produziu a mais, quanto tempo menos a máquina ficou parada e quanto se ganhou na produção maior.

Revista M&T - O status desse profissional, ou seja, a sua importância no processo, aumentou ou diminuiu? Antes, esse homem de manutenção era mais importante ou hoje ele tornouse ainda mais fundamental em obras com margens bem estreitas?

Jader - Eu diria o seguinte: antes se exigia um determinado nível de habilidades que hoje não são mais necessárias. Por exemplo, um engenheiro de manutenção, em uma obra no interior, tinha que ter noções de metalurgia para consertar uma peça, e para fazer o próprio diagnóstico. 0 tipo de conhecimentos necessários era diferente. Hoje, até a importação às vezes é mais rápida do que você consertara sua peça. Mudou a habilidade necessária. Então, se aquele engenheiro à antiga percebeu a mudança, se atualizou e se colocou no tempo e no espaço, ele continua tão importante quanto era antes, porque manutenção hoje continua sendo importante. Nos moldes de antigamente, manutenção era só cuidar da máquina, quebrou, você intervém. Já faz tempo que o termo manutenção é muito mais abrangente.

Revista M&T - Em relação à evolução de equipamentos, você acha que houve um grande salto.

Jader - Sem dúvida. As máquinas hoje são muito mais seguras, mais produtivas, com autodiagnóstico. As peças que maiscomumente provocariam falhas no equipamento estão maisacessíveis. A abertura das importações também foi positiva e éalgo, a meu ver, irreversível. O que o Brasil tem que fazer é sepreparar para essa abertura, porque o que continua valendo é o conhecimento.

Revista M&T - Você acredita que os principais fabricantes estejam disponibilizando equipamentos compatíveis com a realidade brasileira e latinoamericana de um modo geral? Não há muitas vezes incompatibilidade entre as novas tecnologias e, por exemplo,o nível de instrução dos operadores?

Jader - Não é função do fabricante globalizar o usuário. Ele faz um equipamento para aqueles que mais compram emais utilizam. O Terceiro Mundo é o que menos compra. Então certamente esse equipamentonão está sendo feito para nós. Dá para imaginar, daqui a trinta anos, você contar com algum funcionário analfabeto? E hoje há analfabetos operando máquinas. Os fabricantes estão empenhados em fazer máquinas mais sofisticadas, mais produtivas e mais seguras. Se um país quiser utilizar aquelas máquinas e se beneficiar daquela tecnologia de uma forma adequada, ele tem que correr com a cultura, com o conhecimento e a educação de sua população. O operador precisa não só saber como a máquina funciona, mas ter um conhecimento básico escolar e uma noção clara de qual é o nível de responsabilidade dele quando ele opera a máquina.

Revista M&T - Então, os velhos operadores, que aprenderam na prática, por tentativa e erro, estão com os dias contados...?

Jader -Ele precisa saber fazer contas, ler e interpretar textos. Ele terá de estudar. Compre um equipamento novo e tente ler o manual. É bem mais fácil se houver alguém do seu lado que possua um equipamento similar e possa dizer em quatro, cinco minutos, como ele funciona, ou mesmo uma escola como o Opus. Eu mesmo comprei recentemente um receiver de últimageração que veio com um controle remoto inteligente que é capaz de controlar sozinho todos os outros equipamentos do ambiente, independente da marca. Eu tenho seis outros, cada umcom seu controle remoto e para mim seria ótimo ter um só. Eusigo as instruções no manual, mas não consigo programálo paracontrolar os outros equipamentos. Eu tenho certeza que não entendi o manual de instruções e também que o passoapassopressupõe que eu deva saber alguma coisa que eu não sei.

Revista M&T - No fim do ano passado, na festa deconfraternização da Sobratema, você disse em determinado momento que, se dependesse de você, eventos como aquele se repetirão sempre. O que significa isso?

Jader - Acho que a festa também tem um valor muito importantena aproximação das pessoas, quebrando uma série de barreiras, delimites, e é importante para resolver algumas diferenças que parecem insolúveis no diadia do trabalho. A Sobratema é uma associação multiclassista, nós temosfabricantes, distribuidores,prestadores de serviço e usuários. E às vezes, no dia-dia você tem estremecimentos e alguma relação às vezes mais tensa que, na festa, some, desaparece.

Revista M&T Há sempreuma forma de se chegar aoentendimento, e, em u tima instância, de ser feliz,apesar das adversidades ...

Jader - Infeliz da pessoa quevai para o trabalho e não estáfeliz. O. local de trabalho, ondevocê passa oito, dez, doze horas por dia de sua vida, tem que complementar sua vida com satisfação. Como em uma festa, o trabalho também me diverte, independente das tensões que estão relacionadas a ele. Eunão consigo me imaginar exercendo qualquer função de mauhumor, de cara amarrada.

Revista M&T - Você, que joga tênis regularmente, como você vê o Gustavo Kuerten que, depois de atingir o topo, passou a sofrer seguidos reveses no final do ano. Para não falar da atuação pífia do futebol, até há pouco o melhor do mundo, nas eliminatórias da Copa do Mundo. Você acha que brasileiros e latinos de um modo geral, tem alguma dificuldade em lidar com o sucesso? Você não acha que a nossa estima ainda é muito baixa?

Jader - Na verdade, o brasileiro pelo seu modo de ser, tem extraordinária capacidade de rir de tudo, inclusive de si próprio. Sabemos superar adversidades com bom humor. Não entendo que isso seja sintoma de uma autoestima baixa. O que ocorreu com o Guga foi um problema psicológico circunstancial. Eu vou à quadra às vezes até para esquecer os problemas, mas existem momentos em que, por esse ou aquela problema, você não consegue se concentrar o suficiente e o seu desempenho na quadra cai. O Guga é um exemplo para o povo brasileiro: é uma pessoa simples, continua simples até hoje, tem um carisma enorme é o filho que todo mundo gostaria de ter. E seu estilo é agressivo e de muito risco a hora em que a bola começa entrar, ninguém segura.

Revista M&T - O Brasil em geral, em sua opinião, passa por um bom momento?

Jader -Acho que está melhorando. Já passamos pelo pior. O ano 2002 com certeza vai ser melhor que o anterior. Independente de uma certa turbulência internacional, por conta de conflitos que só beneficiam mais os agentes da guerra. A paz também às vezes é nervosa. Eu acredito em um certo equilíbrio e que o Brasil tem condições de conquistar novos espaços. Podese criticar o nosso presidente em alguns aspectos, mas de outro lado devese enumerar um monte de elogios a ele. Ele vem tendo mais acertos do que erros e isso vai se traduzir em crescimento.


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