Revista M&T - Ed.223 - Maio 2018
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Treinamento

Base sólida para o sucesso

O reaquecimento da atividade na construção, que todos aguardam para breve, abre oportunidades para cursos e treinamentos especializados, presenciais e à distância
Por Santelmo Camilo

 

As ondas de demissões vividas pelo setor de construção criaram uma lacuna de operadores capacitados em empreiteiras, construtoras, locadoras e demais empresas usuárias de equipamentos. Em decorrência, muitos profissionais demitidos investiram em um negócio próprio, tornaram-se empresários ou se engajaram em outra atividade. Evidentemente, isso pode gerar um problema, pois, com o esperado reaquecimento do setor da construção nos próximos anos, podemos enfrentar – uma vez mais – um risco de déficit de pessoas qualificadas e treinadas para a atividade com máquinas, em diferentes níveis hierárquicos, desde a operação até o planejamento e o gerenciamento.

Mas esse fato também configura uma oportunidade. O cenário abre espaço para profissionais e consultorias terceirizadas, que acenam com a promessa de uma visão mais abrangente sobre o que é necessário ser feito para a construtora ou locadora se tornar mais eficiente. “Além de fornecer treinamento e qualificação profissional, é preciso fazer uma análise da gestão em sua totalidade”, explic


 

As ondas de demissões vividas pelo setor de construção criaram uma lacuna de operadores capacitados em empreiteiras, construtoras, locadoras e demais empresas usuárias de equipamentos. Em decorrência, muitos profissionais demitidos investiram em um negócio próprio, tornaram-se empresários ou se engajaram em outra atividade. Evidentemente, isso pode gerar um problema, pois, com o esperado reaquecimento do setor da construção nos próximos anos, podemos enfrentar – uma vez mais – um risco de déficit de pessoas qualificadas e treinadas para a atividade com máquinas, em diferentes níveis hierárquicos, desde a operação até o planejamento e o gerenciamento.

Mas esse fato também configura uma oportunidade. O cenário abre espaço para profissionais e consultorias terceirizadas, que acenam com a promessa de uma visão mais abrangente sobre o que é necessário ser feito para a construtora ou locadora se tornar mais eficiente. “Além de fornecer treinamento e qualificação profissional, é preciso fazer uma análise da gestão em sua totalidade”, explica Wilson de Mello Jr., diretor da consultoria Criando Excelência Operacional Empresarial (CEOE). “Durante o período de crise, as empresas se viram obrigadas a dispensar profissionais competentes e bem-capacitados que tinham salários elevados, o que convenhamos é um processo traumático de perda para uma corporação, pois compromete a qualidade das operações. Outras, por sua vez, mantiveram pessoas com salários menores, porém sem a mesma qualificação necessária.”

Instituto Opus já formou 6.500 profissionais de 500 empresas em diversos cursos oferecidos nas últimas duas décadas

O paradoxo é só aparente. Nessa linha de raciocínio, o mercado atual dispõe de boa oferta de profissionais qualificados, ao menos temporariamente. Contudo, de acordo com as observações de Mello Jr., eles já começaram a ser absorvidos nos primeiros meses de retomada de atividade da construção, submetendo-se a remuneração mais baixa do que a que recebiam em épocas de mercado em alta. Além disso, com o avanço da terceirização (como o leitor confere em reportagem nesta edição), alguns também estão abrindo microempresas individuais e sendo contratados como pessoas jurídicas.

Este fato nos revela que, a partir de agora, o mercado vai precisar se adaptar a essa nova realidade nas relações de trabalho e da reconfiguração do setor. Tendo isso em vista, imagina-se que os novos contratos, quando vierem, tendem a ser fatiados entre empreiteiras de médio e pequeno porte, o que naturalmente irá requerer maior investimento em qualificação e treinamento de mão de obra, fator prioritário para quem quer participar de grandes contratos com sucesso. Assim como ocorre com a tecnologia.

Mecanização e treinamento podem ajudar a melhorar a cultura de prevenção de acidentes no mercado brasileiro de construção

DEFICIÊNCIAS

Por falar nisso, em relação à mão de obra brasileira os especialistas são unânimes em apontar como um dos principais gargalos o parco conhecimento que o operador nacional tem sobre a máquina, inapto a extrair toda a produtividade trazida em ritmo de cruzeiro pelo acréscimo contínuo de novas tecnologias.

Devido à falta de escolaridade, uma quantidade significativa desses profissionais simplesmente não assimila o que o equipamento é capaz de realizar, sequer interpretar alguns sinais esquemáticos mais básicos ou mesmo estabelecer um raciocínio lógico baseado em mensagens emitidas pelo sistema eletrônico do equipamento. Além desse aspecto humano, há falhas críticas, ainda, no planejamento dos treinamentos, os quais muitas vezes utilizam normas incorretas ou adotam metodologias inadequadas de conteúdo programático e de carga horária e reciclagem.

Nesse ponto, as críticas são comuns. Como corrobora Jacques Chovghi Iazdi, instrutor especialista em equipamentos de acesso da Escola da Movimentação, que cita o fato de empresas contratarem treinamentos sem antes estabelecer critérios de validação de instrutores, o que pode colocar o treinamento em risco. “Com relação a plataformas aéreas, as empresas oferecem apenas uma familiarização do equipamento”, adverte. “Esse treinamento interno é superficial e não oferece informações consistentes e precisas aos operadores, como capacidade de carga, ângulo de atuação, gradeabilidade de subida e descida e utilização de telescópico.”

Segundo Iazdi, o mercado brasileiro de construção precisa melhorar a cultura de prevenção de acidentes. Para tanto, como ele advoga, o país tem de ampliar a mecanização das frentes de trabalho em obras ou serviços, como ocorre nos países desenvolvidos. “Muitas empresas gastam elevados valores com locação ou aquisição de máquinas, mas investem pouco na capacitação de profissionais”, critica.

Em tal contexto, torna-se complexo atribuir a responsabilidade do conhecimento exclusivamente aos operadores, que muitas vezes se limitam a assimilar informações exclusivamente dos manuais de operação, que são precisos e bem-elaborados, mas insuficientes. “A Escola da Movimentação auxilia as organizações a definir esses critérios, utilizando as normas técnicas e regulamentadoras, definindo escopo técnico dos treinamentos, carga horária para capacitação e reciclagem, dentre outros aspectos importantes”, garante.

Além da prática, a Escola da Movimentação aborda teoria operacional por meio de uma plataforma digital

SOLUÇÕES

A Escola da Movimentação não está sozinha. Há esforços setoriais no país que têm tentado superar este desafio. O Instituto Opus de Capacitação Profissional, por exemplo, é uma referência em treinamentos no universo de máquinas e equipamentos pesados, já tendo treinado e certificado – em quase duas décadas de atuação – mais de 6.500 profissionais de 500 empresas, em cursos de formação de rigger, supervisor de rigging e de gestão de ativos, dentre outros.

Um dos segredos para obter este feito está na metodologia adotada. Segundo Renato Grampa, diretor do Instituto Opus, de acordo com a finalidade do curso, cria-se uma continuidade entre teoria e prática. “Há cursos como o de Formação de Rigger, em que os exercícios são executados na própria sala de aula”, diz ele. “Contudo, o Opus também forma operadores utilizando equipamentos no campo de treinamento e recorrendo ao uso de simuladores.”

Levando em conta o nível de complexidade das operações, o conteúdo tende a ser consistente e amplo, como ocorre no Curso de Gestão de Ativos, por exemplo, que aborda tópicos como gestão de equipamentos, custos, gerenciamento de manutenção, lubrificação e oficinas.

Curso de rigger do Instituto Opus é um dos mais tradicionais do país

Por sua vez, o Curso de Supervisor de Rigging dá ênfase a temas como operação com guindastes móveis (tipos, modelos e recursos), amarrações (cabos de aço, correntes e cintas), sistemas de medidas, conversão de unidades, tabelas de cargas, fatores de risco, carga bruta, plano de rigging (leitura e aplicação) e acidentes (análise e prevenção). “A ideia é fornecer uma visão muito abrangente e sólida da atividade”, resume Grampa.

Há alguns anos, os cursos de ensino à distância (EAD) também já fazem parte da realidade dos usuários de equipamentos no Brasil. A Escola da Movimentação, por exemplo, é uma divisão da Rigging Brasil que oferece treinamentos para a capacitação de profissionais destinados à operação de equipamentos de movimentação de cargas. Os cursos EAD, especificamente, são destinados aos profissionais que desejam obter ou reciclar conhecimentos para operação de equipamentos.

A empresa fornece cursos para operadores de cestos aéreos, manipuladores telescópicos e plataformas de trabalho aéreo dos tipos unipessoal, mastro, aranha, tesoura, articulada e telescópica. Veterano na atividade, Iazdi explica que os treinamentos são divididos em duas partes: teórica e prática. A teoria é realizada por meio de uma plataforma digital, acessada no horário que o aluno dispuser, com possibilidade de acesso 24 horas por dia e sete dias por semana, dentro do período de contratação do treinamento.

Projetos como a Universidade Schwing desenvolvem competências para operação com bombas de concreto

VALOR

Já a parte prática é realizada com o equipamento selecionado para capacitação, sendo que o instrutor utiliza um aplicativo específico (desenvolvido pela própria Escola da Movimentação) para avaliar não só a operação do equipamento, mas também outros conceitos, como avaliação de riscos, utilização de EPI’s, inspeção de pré-uso etc. “Dessa maneira é possível oferecer um novo formato de capacitação ao setor, mais ágil, competitivo, com redução de custos e alto valor agregado”, assegura. “A contratação desse formato de treinamento oferece aos contratantes a destinação do investimento em cursos eficazes, agregando muito valor e conhecimento aos participantes.”

Com isso, como acentua o especialista, torna-se possível auxiliar na avaliação técnica dos operadores, verificando os gaps de cada um deles e elaborando treinamentos personalizados para corrigir vícios e obter maior controle nas operações. De acordo com Iazdi, algumas empresas contratam esse serviço para fazer avaliação dos operadores com provas on-line, à distância, de modo a verificar o nível de conhecimento dos colaboradores. “O resultado tem chamado atenção, pois muitas pessoas sequer conhecem características básicas de segurança dos equipamentos”, afirma.

Mello Jr., da CEOE, se diz totalmente favorável ao treinamento à distância, mas “apenas quando este é exclusivamente aplicado ao conhecimento teórico sobre o equipamento”, na etapa preliminar que antecede a parte intermediária no simulador de operações ou o treinamento em campo. “Trata-se de uma parte introdutória, para se verificar se a pessoa tem aptidão e conhecimento mínimo para trabalhar com equipamento, mas o EAD não pode substituir o aprendizado em simulador ou a parte prática em campo”, avisa.

A reciclagem é outro ponto a ser considerado. Afinal, mesmo uma pessoa experiente adquire vários vícios de operação e, por isso, deve fazer reciclagem após determinado período, de acordo com a evolução das normas regulamentadoras, inclusive para se habilitar a operar modelos diferentes de equipamento. “Essa reciclagem deve ser ministrada por pessoas preparadas”, acresce Iazdi, reforçando que o ensino a distância tem por objetivo “oferecer um processo de aprendizagem completo, dinâmico e eficiente por intermédio de recursos tecnológicos, apresentando ao aluno conceitos importantes e essenciais para execução das atividades”. “Ao longo de todo o curso e por meio da tutoria do instrutor, o EAD oferece auxílio para montar o plano de estudos, acompanhar a evolução e sanar as possíveis dúvidas que surgirem durante o treinamento”, delineia. “Do mesmo modo, a elevada capacitação técnica dos professores e a interação com os alunos também oferecem uma excelente oportunidade para discussões e trocas de experiências.”

OBJETIVOS

Também as opções oferecidas pelas fabricantes de equipamentos vêm se multiplicando nos últimos anos. A Schwing-Stetter é uma delas, mas propõe uma diferenciação entre os objetivos de cursos e treinamentos. Para a fabricante alemã, cursos possuem “exclusivamente cunho teórico e didático, sem a necessidade da prática em simuladores ou em campo”.

Já os treinamentos são ações presenciais, realizados na fábrica da empresa com uso do simulador, ou em local estabelecido pelo cliente, que deve disponibilizar o equipamento. Os treinamentos seguem um calendário de datas pré-agendadas nas instalações da fábrica, localizada em Mairiporã (SP).

Por meio de uma plataforma denominada Universidade Schwing, desenvolvida em parceria com a INEX Tecnologia Educacional, a fabricante disponibiliza, por exemplo, o curso on-line “Procedimentos de segurança na operação de bombas para concreto”, no qual o profissional aprende sete etapas para um trabalho seguro de operação de bomba de concreto. O conteúdo inclui tópicos como verificação, posicionamento e limpeza do equipamento, deslocamento até a obra e preparação e realização do serviço de bombeamento.

Em cada um desses temas, o operador tem acesso a todas as normas regulamentadoras e informações necessárias para a realização da atividade. Dentre os materiais complementares em vídeo-aula, há um check-list dos procedimentos a serem realizados antes de o equipamento sair para a obra, além de um material com informações sobre a estabilização da bomba antes do início da operação. “Também há instruções para a lubrificação da tubulação antes da entrada do concreto e identificar se o concreto apresenta condições de ser bombeável”, descreve a empresa.

Segundo a Schwing, em muitas situações utiliza-se a bomba estacionária sem o mastro, o que aumenta a importância de se fornecer instruções para a correta montagem da tubulação na obra. Por fim, o operador também aprende a diferenciar os diversos tipos de bombas, sendo orientado a manejar determinado modelo apenas quando já estiver familiarizado com a tecnologia. “Os materiais complementares são obtidos por meio de download pelas pessoas que adquirem o curso”, informa a empresa.

CONFIRA O CONTEÚDO DE FORMAÇÃO DE RIGGER

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

  • Tecnologia de guindastes de acordo com sua geração e atuação no Brasil
  • Tipos, modelos e aplicabilidade de guindastes
  • Terminologia em português e inglês aplicada em movimentação de cargas
  • Interpretação e leitura de tabelas de cargas
  • Cálculos, dimensionamento e soluções nas amarrações, incluindo cabos de aço, eslingas, acessórios
  • Composição da carga bruta e fatores de segurança pertinentes
  • Fatores determinantes em operações com mais de um guindaste
  • Cálculos aplicáveis para força na sapata e efeito do vento
  • Elaboração de plano de rigging

Fonte: Instituto Opus de Capacitação Profissional

Centro da Crane Care conta com recursos avançados de treinamento e qualificação profissional

MANITOWOC ABRE CENTRO DE TREINAMENTO EM SP

O novo centro de treinamento da Crane Care está situado em Santana de Parnaíba, região metropolitana de São Paulo e importante centro logístico da América Latina. Equipado com modernos simuladores, o espaço permite a prática de diferentes procedimentos nos sistemas operacionais de guindastes mais usados na América Latina, como EPIC, Canbus e CCS (Crane Control System). “Como não podemos levar os simuladores até as instalações do cliente, temos de usar os guindastes que eles fornecem durante treinamentos no local, o que não é ideal, porque os guindastes precisam sair de operação e, com isso, os proprietários perdem dinheiro”, afirma Keith Opperman, gerente de treinamento da Manitowoc. “O novo centro de treinamento resolve esse problema e ainda acaba com o risco de danificar os guindastes.”

TREINAMENTO EM NANUTENÇÃO É PRECÁRIO, DIZ CONSULTOR

Para o consultor da Sobratema, Norwil Veloso, o treinamento de profissionais de manutenção também constitui um desafio que o país precisa enfrentar. Segundo ele, embora a preocupação com a qualificação de operadores seja relevante, a qualificação das equipes de manutenção continua em segundo plano. “Os dealers dispõem de material didático e estrutura de treinamento para atender aos clientes, em programação normal ou customizada, mas a procura por este tipo de treinamento ainda é baixa, tanto que o mercado oferece poucos cursos fora dos dealers e do SENAI”, diz ele.

Mercado nacional ainda carece de iniciativas na formação de técnicos em manutenção

De acordo com Veloso, que também é membro do Conselho Editorial da Revista M&T, a situação é agravada pela complexidade crescente dos equipamentos, particularmente em relação ao diagnóstico de defeitos por via eletrônica, exigindo uma qualificação cada vez maior da mão de obra. “O operador P21 (Paraíba, 21 anos) está desaparecendo, mas parece que o pessoal P21 de manutenção vai durar muito mais”, compara. “Isso para não falar da lubrificação, em que o pessoal, em sua maioria, é composto por serventes que ‘levam jeito’. Assim, a área continua sendo considerada de menor importância, a ‘melosa’.”

 

 

 

 

Saiba mais:

CEOE: www.ceoe.com.br

Escola da Movimentação: www.escoladamovimentacao.com.br

Instituto Opus de Capacitação Profissional: sobratema.org.br/Opus

Schwing-Stetter: www.schwingstetter.com.br

Sobratema: www.sobratema.org.br

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