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Revista M&T - Ed.220 - Fevereiro 2018
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Entrevista

ALESSANDRO COLUCCI

“A mineração no Brasil precisa ser mais inteligente

Gerente de recursos minerais da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK – Deutsche-Brasilianische Industrie und Handelskammer), o executivo Alessandro Colucci é formado em administração de empresas pela Universität zu Köln, com especialização na cadeira de Estudos Regionais da América Latina.

Após a graduação, Colucci trabalhou em uma consultoria de inovação em São Paulo, a Innovation Seed, focada exclusivamente em temas de inovação em negócios, ajudando a desenvolver diversos workshops na área. Depois, voltou para a Alemanha e atuou em várias empresas, até chegar à federação alemã de engenharia, a VDMA (Verband Deutscher Maschinen- und Anlagenbau), a maior associação industrial da Europa, com sede em Frankfurt. Lá, trabalhou na câmara setorial de máquinas e materiais de construção, passando depois de alguns anos a acompanhar a mineração na América Latina, quando integrou um grupo de trabalho com empresas que fornecem equipamentos para este setor, ajudando a abrir as portas para a tecnologia alemã.

Ao tomar conhecimento que a AHK buscava abrir um centro de competência sobre mineração no Brasil, Colucci retornou ao país há exatos dois anos para juntar-se ao projeto financiado pelo Ministério da Economia e Energia Alemão (Bundesministerium für Wirtschaft und Energie). “Até então, a Câmara não tinha contatos com o mundo da mineração, de modo que esse projeto representou uma ampliação de seus serviços e conhecimentos, passando a oferecer mais uma faceta do mercado aos seus associados”, diz ele. “Mas a verdade é que o ‘vírus’ brasileiro nunca me deixou.”

Acompanhe os principais trechos.

Como a AHK atua?

Temos uma rede internacional com Centros de Competências em seis países. A primeira onda incluiu Canadá e Chile, que já entraram no sétimo ano de atividades. Na segunda, foram fundados Centros na Austrália e África do Sul, que responde por outros países naquela região. Por fim, a terceira onda incluiu Peru e Brasil.

Quais atividades promovem no Brasil?

Fundamos um grupo de trabalho – o Grupo de Intercâmbio de Experiências – formado por associadas que têm algum vínculo com a mineração, mas que também é aberto para representantes de governos,


Gerente de recursos minerais da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK – Deutsche-Brasilianische Industrie und Handelskammer), o executivo Alessandro Colucci é formado em administração de empresas pela Universität zu Köln, com especialização na cadeira de Estudos Regionais da América Latina.

Após a graduação, Colucci trabalhou em uma consultoria de inovação em São Paulo, a Innovation Seed, focada exclusivamente em temas de inovação em negócios, ajudando a desenvolver diversos workshops na área. Depois, voltou para a Alemanha e atuou em várias empresas, até chegar à federação alemã de engenharia, a VDMA (Verband Deutscher Maschinen- und Anlagenbau), a maior associação industrial da Europa, com sede em Frankfurt. Lá, trabalhou na câmara setorial de máquinas e materiais de construção, passando depois de alguns anos a acompanhar a mineração na América Latina, quando integrou um grupo de trabalho com empresas que fornecem equipamentos para este setor, ajudando a abrir as portas para a tecnologia alemã.

Ao tomar conhecimento que a AHK buscava abrir um centro de competência sobre mineração no Brasil, Colucci retornou ao país há exatos dois anos para juntar-se ao projeto financiado pelo Ministério da Economia e Energia Alemão (Bundesministerium für Wirtschaft und Energie). “Até então, a Câmara não tinha contatos com o mundo da mineração, de modo que esse projeto representou uma ampliação de seus serviços e conhecimentos, passando a oferecer mais uma faceta do mercado aos seus associados”, diz ele. “Mas a verdade é que o ‘vírus’ brasileiro nunca me deixou.”

Acompanhe os principais trechos.

Como a AHK atua?

Temos uma rede internacional com Centros de Competências em seis países. A primeira onda incluiu Canadá e Chile, que já entraram no sétimo ano de atividades. Na segunda, foram fundados Centros na Austrália e África do Sul, que responde por outros países naquela região. Por fim, a terceira onda incluiu Peru e Brasil.

Quais atividades promovem no Brasil?

Fundamos um grupo de trabalho – o Grupo de Intercâmbio de Experiências – formado por associadas que têm algum vínculo com a mineração, mas que também é aberto para representantes de governos, universidades e, naturalmente, mineradoras. O grupo é bem heterogêneo e, por isso, muito vivo. Convidamos mineradoras a apresentar novos projetos, associados para falar de seus produtos etc. As pautas são muito variadas. Mas o ponto alto é a Conferência Brasil-Alemanha de Mineração, que acontece em Belo Horizonte uma vez por ano. No ano passado, tivemos a segunda edição do evento, com 200 participantes.

O objetivo é ser um provedor de informações para a indústria e contribuir para uma política de fornecimento sustentável de minérios para a economia alemã. Ficar, como se diz, “ligado” no mercado, em seus projetos e oportunidades, ajudando os importadores alemães a encontrar fornecedores. Na prática, também ajudamos os exportadores de equipamentos de mineração da Alemanha a entrar neste mercado. Em resumo, a Câmara é um intermediador de contatos entre a mineração brasileira e a indústria alemã.

Em relação à pesquisa, quais temas são trabalhados?

Apoiamos as instituições de pesquisa na Alemanha que desenvolvem projetos bilaterais com instituições brasileiras. Nesse momento, muitos projetos em andamento envolvem o tema das terras raras. Trata-se de um tema fascinante e, ao mesmo tempo, muito estranho, pois não são “terras” nem “raras”. De fato, as terras raras existem em muitos países, mas quem domina este mercado é a China, com mais de 90% da produção global. No auge do boom econômico, a indústria alemã começou a ficar preocupada com os picos de preços dessas commodities. Aliás, esse foi um dos motivos pelos quais o governo alemão resolveu fundar os Centros de Competência, para fortalecer o laço econômico com outros países que são considerados provedores confiáveis e sustentáveis. E o Brasil, que possui a segunda reserva mundial de terras raras, é um desses países.

Aliás, há riscos de escassez de minérios?

Quando houve a alta de preços, o governo alemão reagiu de várias maneiras. Como disse antes, uma consequência desta “crise” foi a fundação dos Centros de Competência. Outra foi a criação da DERA (Deutsche Rohstoffagentur), a Agência Alemã para Recursos Minerais. Esse organismo desenvolve estudos que trazem avaliações de “áreas de risco” dos minerais. Eles usam uma simbologia muito simples, com sinais em verde, amarelo e vermelho, sendo que este último indica alto risco de concentração em poucas mãos, seja de países ou empresas. São minérios considerados críticos, como o estanho e o tântalo. Mas essa criticidade de minérios é relativa, pois muda de ano a ano. Então, não diria “escassez”, mas sim “concentração”.

Como enfrentar essa situação?

A tecnologia avança e os mercados financeiros também reagem rapidamente a esses contextos. Quando surge um “bottleneck” (gargalo), a indústria se mexe para trocar um elemento por outro. De modo que sempre ocorrem esses movimentos de substituição e redução no uso do material. O teor de terras raras utilizadas em lâmpadas LED, por exemplo, vem diminuindo. E isso também pode ocorrer com o lítio, que todos apontam como o minério do futuro devido ao avanço da mobilidade elétrica. Ou seja, o mercado respira.

Isso abre oportunidades?

A mineração brasileira tem chances muito boas de posicionar-se como um parceiro da indústria alemã, provendo minérios que não são de risco e não vêm de regiões de conflito. O país possui jazidas interessantes destes minérios citados. Após a África Oriental, o Brasil possui a segunda maior reserva de tântalo do mundo, além de 90% das reservas de nióbio. No futuro, isso vai ser muito importante.

Qual é a posição da mineração brasileira em termos de tecnologia?

Ainda não está na ponta do desenvolvimento. Países como Austrália, Chile e Canadá possuem um nível maior de automação. Aqui, muitas minas ainda podem ser aprimoradas. Além disso, a mineração subterrânea quase não recebe atenção no Brasil. Posto isso, há exemplos como o projeto S11D da Vale, uma mina “truckless” (sem caminhões) com pouquíssima presença de poeira, impacto ambiental mínimo, processo de beneficiamento sem desperdício de água (graças à qualidade do minério de ferro extraído na região), transporte por ferrovia etc. Assim, o “footprint” (pegada) daquela mina, no sentido de emissão de CO2, é bastante baixo. É um exemplo de tecnologia avançada, que exige uma coordenação entre as equipes que fazem o trabalho de explosão do material e o escoamento. E a modernização das máquinas também exige o avanço dos sistemas de planejamento em TI. Ou seja, exige logística e integração de sistemas, do ponto de vista de informática, muito mais elaboradas.

Como as empresas alemãs receberam as recentes mudanças nas regras do setor?

É difícil relatar, mas sinto que o clima mudou. Entre a Exposibram de 2015 e a de 2017, por exemplo, percebeu-se um cenário mais positivo. Antes, imperava um clima de depressão e, depois, já se falava de novos projetos, circulavam ideias. Claro que muitos ainda estão segurando os projetos, esperando pelo resultado das eleições. Mas o fundo do poço já foi tocado e a esperança é de que, a partir 2019, as coisas voltem a andar.

Já é possível sentir uma retomada?

A alta nos preços incentiva investimentos no país. Assim, temos visto projetos de pequeno e médio porte, que estão sendo discutidos e exigem baixo investimento de capital. Abre-se a mina, implanta-se uma pequena planta de beneficiamento e começa-se a vender minério.

Com o “cashflow” (fluxo de caixa) gerado, é possível investir em ampliação. Esses são os projetos que vejo hoje, muitas vezes com capital australiano ou canadense por trás. Isso acontece com manganês, ouro, cobre, fosfato e mesmo minério de ferro. Vejo mais por esta linha do que [a possibilidade de] megaprojetos, que levarão muitos anos para retornar.

Como as tecnologias digitais vão transformar o setor?

Em nossa mais recente conferência, tivemos um bloco sobre a aplicação da Indústria 4.0 na mineração, na qual trouxemos alguns exemplos de automação da Alemanha. Aliás, esse conceito foi cunhado lá, oriundo da indústria de produção contínua. Mas tem de se adaptado para o mundo da mineração, que por vezes apresenta interregnos de produção. Contudo, na chamada Mineração 4.0, os sistemas ciber-humanos também preveem uma interface entre o ser humano, o produto e as máquinas.

Como vê o futuro da mineração no Brasil?

Em relação a investimentos, as previsões são bastante pessimistas. Creio que isso esteja relacionado a dois fatores de insegurança: um deles refere-se à demorada tramitação para a reforma do código mineral – que está finalmente chegando a um fim – e o outro é a situação política do país. Tudo isso em um cenário que vê uma recuperação nítida da economia global e um aumento dos preços de muitos minérios. Mas o Brasil é um país com um dos maiores potenciais do mundo em mineração. Conta com todos os requisitos para crescer fortemente, mas é importante que a atividade seja inteligente, com baixo impacto ambiental e social, pois o mundo vai observar cada vez mais a chamada “licença social” da mineração.

Pode dar algum exemplo?

Em 2021, entrará em vigor na Europa a nova legislação sobre importação de minérios. Isso afetará compradoras de produtos como tungstênio, tântalo e ouro, que precisarão comprovar de onde provêm os minérios, garantindo que as fontes não usam o dinheiro para, por exemplo, financiar guerras civis e conflitos, não desrespeitam os diretos humanos, não empregam trabalho escravo ou infantil etc.

Essa fiscalização da sociedade com o que acontece na mineração é um caminho que vai ser ampliado. E o Brasil tem tudo a ganhar nesse tipo de competição, em relação a países que não podem cumprir com tais exigências.

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