Completando bodas de prata neste ano, a Sobratema possui uma trajetória de sucesso marcada por sucessivas decisões estratégicas, tomadas em momentos críticos do cenário político-econômico do país desde o final da década de 1980. No momento de sua fundação, a realidade para a maior parte da frota nacional de equipamentos fora de estrada era extremamente delicada, para não dizer ingrata: além da falta de informação, a avançada média de idade das máquinas exigia um trabalho dobrado dos especialistas para mantê-las ativas e produtivas.
À época, a dificuldade encontrada na manutenção dos equipamentos fazia com que boa parte dos problemas fosse resolvida somente após o aparecimento do erro, formando um cenário que, aos poucos, estimulou a reunião de profissionais de engenharia que resultaria na criação de um círculo de discussões acerca das técnicas de manutenção e tecnologias de máquinas. Enfim, no dia 12 de setembro de 1988 nascia a Sociedade Brasileira de Tecnologia para Manutenção (Sobratema), com objetivos claros no sentido de troca de informações, difusão de conhecimento tecnológico
Completando bodas de prata neste ano, a Sobratema possui uma trajetória de sucesso marcada por sucessivas decisões estratégicas, tomadas em momentos críticos do cenário político-econômico do país desde o final da década de 1980. No momento de sua fundação, a realidade para a maior parte da frota nacional de equipamentos fora de estrada era extremamente delicada, para não dizer ingrata: além da falta de informação, a avançada média de idade das máquinas exigia um trabalho dobrado dos especialistas para mantê-las ativas e produtivas.
À época, a dificuldade encontrada na manutenção dos equipamentos fazia com que boa parte dos problemas fosse resolvida somente após o aparecimento do erro, formando um cenário que, aos poucos, estimulou a reunião de profissionais de engenharia que resultaria na criação de um círculo de discussões acerca das técnicas de manutenção e tecnologias de máquinas. Enfim, no dia 12 de setembro de 1988 nascia a Sociedade Brasileira de Tecnologia para Manutenção (Sobratema), com objetivos claros no sentido de troca de informações, difusão de conhecimento tecnológico e promoção de networking, conceitos basilares que até hoje norteiam a atuação da entidade.
De fato, na época em que a Sobratema foi criada, o cenário era um dos mais desafiadores. Em outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição, estabelecendo novos parâmetros socioeconômicos que ainda hoje norteiam os destinos do país. À medida que se reinventava em termos políticos, o país também sofria com uma série de planos econômicos fracassados, com o consequente sucateamento da indústria nacional.
Ao lado de um alto índice de desemprego nas cidades, queda contínua do PIB e inflação desenfreada, não sem razão muitos economistas e jornalistas passaram a se referir ao período como “Década Perdida”, tanto para o Brasil como para os demais países latino-americanos, todos emergindo de ditaduras militares e em colapso econômico. Para o leitor ter uma ideia do problema, a inflação acumulada no Brasil em 1988 quase chegou aos 1.000% ao ano, obrigando uma adoção contínua de medidas paliativas para afastar a ameaça real e persistente de crise aguda e dissolução interna.
ORIGENS
Naquele final de década, os engenheiros Jader Fraga dos Santos e Nelson Costábile trabalhavam na Constran e viviam na pele esse cenário de dificuldades. Um ano antes da fundação da Sobratema, ambos participaram de algumas reuniões preliminares visando à criação de uma associação que abrangesse a manutenção de equipamentos para toda a indústria. “Em poucos meses, percebemos que precisávamos de um grupo de discussão mais focado na manutenção de equipamentos de construção”, relembra Jader. “Daí surgiu a Sobratema.”
Após essa primeira decisão, o movimento seguinte foi convidar gestores de frota e manutenção das raras construtoras brasileiras em atividade. O objetivo era claro: formar um grupo de profissionais das empresas que detinham as melhores práticas de manutenção no país, disseminando esse conhecimento para todo o mercado de profissionais. “E o estatuto da recém-fundada Sobratema estabelecia que os sócios-fundadores seriam os profissionais que aderissem ao corpo diretivo no primeiro ano após a fundação”, complementa Costábile.
A história está registrada na edição de junho/julho de 1991 da revista “Engenharia Civil”, na qual Jader explicava que “as reuniões preliminares à constituição da Associação foram realizadas em 1987, em São Bernardo do Campo, ocasião em que fui convidado a fazer parte do grupo. Como verifiquei que a tendência dos participantes era para a manutenção industrial, procurei de certa forma liderar o movimento e fazer com que essa tendência caminhasse para a manutenção automotiva, de equipamentos pesados ligados à mineração e à construção pesada”.
Jader, que viria a ser presidente da nova associação por três gestões, dizia ainda que “foi então constituída a primeira diretoria, na qual fui indicado como conselheiro. Posteriormente assumi o cargo de diretor de comunicação, quando, após conseguirmos a adesão como sócios-fundadores de 18 empresas, lançamos definitivamente a Sobratema em setembro de 1988, em cerimônia no Hotel Maksoud, em São Paulo”.
Além dos dois engenheiros, integravam o grupo fundador os profissionais Carlos Fugazzola Pimenta (Azevedo & Travassos), Mário Sussumu Hamaoka (Camargo Corrêa), Afonso Mamede (CBPO) e Gilberto Leal Costa (Odebrecht), entre outros. Juan Manuel Altstadt e Orlando Beck também integraram o grupo de pioneiros, representando fabricantes de equipamentos. Em seguida, se juntariam ao grupo outros executivos de fabricantes internacionais, como Permínio Amorim (Sandvik), Roque Reis (Case), César Schmidt (Liebherr), Sérgio Palazzo (Vermeer), Gino Cucchiari (Fiat Allis) e outros.
Posteriormente, essa mistura de profissionais com origens distintas no mercado se consolidaria como uma marca registrada da entidade, ou seja, uma associação que reúne usuários, fabricantes, fornecedores de peças e serviços e locadores de equipamentos. Desde o início até hoje, essa continua sendo a filosofia da Sobratema.
FILOSOFIA
Atual presidente da Sobratema, Afonso Mamede lembra-se do ponto inicial da entidade no Maksoud e resume sua fundação com uma máxima bem conhecida: “a necessidade faz o homem”. As discussões, ele recorda, eram inicialmente focadas na manutenção de equipamentos, mas meses depois evoluíram para tratar de máquinas como um todo. Em seguida, entraram em pauta questões sobre a cadeia de peças & serviços e locação. Tal processo desenvolveu-se junto à entidade, sem jamais parar de evoluir. “Com a criação da revista Grandes Construções, em 2009, começamos a abordar todo o construbusiness, algo que posteriormente foi consolidado durante a Feira Construction Expo 2013”, reforça Mamede.
Pimenta, que foi presidente da Sobratema nas gestões 1994/1995 e 1996/1997, destaca outro aspecto importante no momento de criação da instituição. “Os engenheiros deixaram de lado a concorrência entre as empresas onde trabalhavam para focar no objetivo comum da troca de conhecimento em prol da manutenção mais eficiente”, enfatiza. Sobre isso, a própria trajetória do executivo é exemplar, pois em 1988 acumulava a responsabilidade por manutenção e administração de frotas na construtora Azevedo & Travassos, sendo que sua maior dificuldade era justamente manter os equipamentos funcionando, ao mesmo tempo em que buscava maior produtividade e um custo operacional o mais razoável possível.
Na prática, o maior desafio do engenheiro era conjugar essa demanda com as limitações de importação. Com isso, os custos dos fabricantes eram altos tanto para a venda de equipamentos novos como na reposição de peças e serviços de assistência técnica. “Sem alternativas, só nos restava desenvolver soluções ‘caseiras’”, frisa Pimenta. “Locação não existia e os processos essenciais, como terraplanagem, usavam métodos menos eficientes, com motoscraper e trator de esteiras, no lugar de escavadeiras hidráulicas, para ficarmos em um único exemplo.”
Em texto publicado na edição nº 117 da revista M&T, de 2008, Gilberto Leal Costa destacou outro caso exemplar sobre as adversidades encontradas na manutenção de equipamentos no final da década de 1980. “Lembro-me de uma discussão em que alguém expôs que tinha colocado um motor no dinamômetro e, devido ao excesso de carga programada, o aparelho de medição explodiu”, recorda. “Hoje, sabemos que isso ocorreu por falta de informação técnica.”
De acordo com Mário Hamaoka, na época diretor de equipamentos da Camargo Corrêa, um caso como este não era isolado. Segundo ele, havia pouca comunicação entre os empreiteiros das diferentes empresas e a principal carência era justamente a troca de informações sobre o funcionamento dos equipamentos, manutenção, novas tecnologias e outros assuntos relacionados ao setor. “Felizmente, a Sobratema veio suprir essa ausência”, diz.
EVOLUÇÃO
Ainda incipientes, as primeiras atividades da entidade aconteciam em uma sala na Constran, em um espaço cedido por Jader. Também foram realizadas reuniões no Bar Senzalinha, que ainda hoje funciona na Praça Panamericana, em São Paulo. Tais encontros eram uma espécie de simpósio, acompanhados por chopp, frango a passarinho, salgados Elma Chips e uísque Teacher’s, no limite que permitia a restrita verba então disponível. Meses depois, a profícua troca de informações motivou a criação de um veículo de informações. Foi desse modo que, em 1989 nasceu a revista M&T, uma contribuição editorial dos integrantes da diretoria da associação, como contará o capítulo que se inicia na pág. 46.
Após reunir os profissionais das construtoras, a Sobratema começou a receber os executivos de fabricantes de equipamentos. Isso se tornou mais acentuado com a chegada do governo de Fernando Collor de Mello, primeiro presidente civil eleito após a ditadura e cuja proposta inicial recaía sobre a abertura de mercado. Para a Sobratema, o fato representou a possibilidade de agregar novos associados, permitindo que os usuários de equipamentos ampliassem o nível da discussão sobre fornecimento de máquinas, peças e serviços. As decisões, até então tomadas com base no relacionamento de cada gestor de equipamentos com os representantes de fabricantes, ganharam um caráter de cotejo técnico e analítico, racionalizando a relação business to business.
O trabalho foi significativamente ampliado quando Jader convidou um universo de aproximadamente 2,5 mil contatos de construtoras, fabricantes e fornecedores de componentes para juntar-se à Sobratema. O resultado foi o ingresso de um grupo de profissionais que representava várias etapas da cadeia de insumos, inclusive provedores de pneus, mangueiras, sistemas hidráulicos, fluidos e outros segmentos. “A entrada dos fornecedores de componentes, por exemplo, permitiu tratar de gerenciamento de recursos no âmbito da manutenção”, explica o executivo. “Quando os trouxemos para um ciclo de debates, passamos a discutir em outro nível as qualidades dos produtos. Assim, o ambiente de troca de ideias permitiu que questionássemos vários fatores, gerando melhorias nos componentes que afetaram todos os envolvidos.”
A ação descrita por Jader foi o estopim para a chegada de outros profissionais de construtoras, incluindo a Queiroz Galvão e a OAS. Como consequência, a Sobratema ganhou um corpo diretivo formado por mais fabricantes, entre os quais representantes da Case, Fiat Allis, Caterpillar e Dynapac. Orlando Beck, então executivo da Tamrock (marca que atualmente pertence à Sandvik), faz parte desse grupo. Junto a Juan Manuel Altstadt, ele foi o primeiro representante de fabricante a integrar o grupo. “Nós proferíamos palestras e cursos de manutenção”, relembra. “Com o mercado fechado para importações, falávamos rasteiramente sobre as tecnologias mais avançadas utilizadas no exterior.”
FORTALECIMENTO
Com a abertura, o cenário se alterou. De acordo com Beck, os anos de 1991 e 1992 ficaram marcados pela mudança de atuação dos fabricantes de equipamentos no Brasil. Diferentemente do período anterior – quando eram beneficiados principalmente os players com planta industrial local –, as tecnologias importadas e com tributo reduzido passaram a se mostrar mais atrativas economicamente.
Além disso, as construtoras e mineradoras tomaram conhecimento da produtividade propiciada pelas tecnologias inovadoras, tornando-se rapidamente adeptas de soluções importadas. “Muitos fabricantes desativaram suas instalações locais e passaram a ser somente importadores de equipamentos, estabelecendo uma rede de distribuição e pós-vendas para atender às demandas em campo”, resume Beck, citando os exemplos das empresas Ingersoll Rand e Tamrok. Com isso, os efeitos no mercado foram imediatos. Ao passo que as importações cresciam, a frota das empresas se renovava e as métricas de produtividade ganhavam maior importância nas planilhas de custos dos usuários.
Associado da Sobratema desde a primeira chamada para pessoas físicas, Silvimar Fernandes Reis também se associou pela construtora na qual trabalhava tempos depois. Segundo ele, o setor de equipamentos se fortaleceu no novo cenário e, simultaneamente, se profissionalizou com o surgimento da Sobratema. “Com a abertura de mercado no governo Collor, as ações da entidade ganharam força, permitindo que o nivelamento técnico chegasse aos mais altos níveis mundiais”, avalia.
MÃO DE OBRA
O fato é que todos os associados da Sobratema daquela época concordam que a possibilidade de importar tecnologias foi um divisor de águas para o setor. Mas o processo também teria seus efeitos colaterais, como a redução da mão de obra qualificada disponível, um gargalo até hoje presente no mercado nacional. Além disso, sem fábricas locais, perdeu-se o domínio das tecnologias aplicadas no campo. Para agravar o quadro, o Brasil não tinha grandes obras em andamento, limitando a empregabilidade de engenheiros.
Como resultado, muitos recém-formados debandaram para o setor financeiro ou outros segmentos, nos quais podiam aplicar a capacidade de cálculo e de desenvolvimento de projeto. Como muitos se recordam, foi o período do “engenheiro que virou suco”, um conhecido estabelecimento em São Paulo criado por um engenheiro sem trabalho na área.
No final dos anos 1990, o déficit de mão de obra qualificada já era uma realidade apontada pelos mentores da Sobratema. Motivado por tal contexto, o “Programa Ferramenta” nasceu justamente com o intuito de atrair estudantes de engenharia e mostrar-lhes a construção civil na prática. “Agendávamos palestras nas faculdades e levávamos os alunos para vivenciar os canteiros de obras”, recorda Beck. “Chegamos a levar 15 pessoas para conhecer empresas de engenharia na Europa, proporcionando a primeira viagem internacional para a maioria e a oportunidade de avaliar o que havia de mais moderno em termos de tecnologia de construção no mundo.”
Líder operacional do programa, o executivo ainda guarda documentos originais como o folder de apresentação, intitulado “Ferramenta: um programa de apoio ao estudante das áreas técnicas”. O texto do material destacava o objetivo de “coordenar as atividades de integração Escola/Aluno/Empresa no sentido de facilitar aos estudantes das áreas técnicas o acesso às ferramentas necessárias para fazer de sua inserção no mercado de trabalho, o ponto de partida para uma possível carreira de sucesso”.
E a intenção colheu frutos. Em 29 de julho de 1999, a Fundação Armando Álvares Penteado, por meio de sua Faculdade de Engenharia (Fefaap), endereçou ao Ferramenta um documento propondo apoio às iniciativas. Um dos destaques era a criação de um concurso que premiaria os projetos de tecnologia aplicados em mineração e construção. “O Programa Ferramenta é uma das melhores ideias que temos conhecimento no sentido de unir os interesses das empresas, estudantes e das escolas de engenharia”, dizia o documento, assinado pelo vice-diretor da Fefaap na época, Felix Saverio Majorana.
A história da Sobratema continuou com outros programas que, assim como o Ferramenta, tinham o objetivo de difundir o conhecimento na engenharia. Recentemente, inclusive, essa missão extrapolou as atividades acerca da manutenção e gestão de equipamentos para alcançar todo o universo da construção civil e da mineração, como contará o capítulo que começa na pág. 36 Mas isso aconteceu gradativamente, em um movimento sempre balizado na troca de conhecimentos gerada a partir daquela primavera de 1988.
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