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Revista M&T - Ed.122 - Março 2009
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Sustentabilidade

A contribuição do setor para o meio ambiente

Na nova ordem mundial, a eficiência de uma empresa já não se mede apenas pelo resultado financeiro, mas também pelo compromisso social e ambiental. E a cartilha da sustentabilidade passa a ditar regras na execução das obras e na gestão dos equipamentos

Quando o aquecimento global começou a ser debatido pela sociedade, o assunto parecia meio distante do cotidiano do cidadão comum. Em menos de três décadas, entretanto, as mudanças climáticas no planeta superaram as previsões mais alarmistas de então, colocando em risco a vida sobre a Terra. Seguindo o atual ritmo de emissão de poluentes, até o final deste século estima-se que a temperatura média do planeta deverá aumentar até 3ºC, por conta do agravamento do efeito estufa, com todo o impacto que esse aquecimento poderá causar em termos de redução da calota polar e elevação do nível do mar.

Diante desse cenário, preservar o meio ambiente tornou- se uma questão de sobrevivência para o homem e já não se concebe mais a ausência desse tipo de preocupação em um ambiente empresarial responsável. “Buscar uma operação sustentável não implica custo, pois esse conceito está relacionado à maior eficiência e eliminação de desperdícios”, afirma Sonia Loureiro, do Instituto Ethos e coordenadora do grupo brasileiro integrante da GRI (Global Reporting Initiative), uma rede internacional de especialistas que se dedica a elaborar protocolos e indicadores para a aferição da sustentabilidade de uma empresa ou operação.

Na visão de Sonia, o sucesso de uma empresa não está relacionado apenas ao seu desempenho financeiro, mas também ao seu compromisso social e ambiental. Esse conceito, aliás, já amplamente difundido no mercado, estabelece a cadeia de agentes envolvidos e/ ou afetados pela atividade de uma companhia, que os norte-americanos convencionaram chamar de stakeholders. Na nova ordem empresarial, o investidor continua desempenhando um papel central, mas não é o único agente a se considerar na hora de medir o desempenho da corporação. Há de se considerar também os funcionários, seus familiares, assim como os clientes, fornecedores e toda a comunidade estabelecida em torno daquela operação.

Além de operar em um ambiente regulado por legislação (leis trabalhistas, ambientais, Código de Defesa do Consumidor e outros), as empresas precisam cumprir normas específicas relacionadas às respectivas atividades ou à lógica do negócio (ISO, NBR etc.) e muitas já se submetem espontaneamente a determinados códigos de boa conduta. Nessa categoria estão os indicadores de responsabilidade social do Instituto Ethos e


Quando o aquecimento global começou a ser debatido pela sociedade, o assunto parecia meio distante do cotidiano do cidadão comum. Em menos de três décadas, entretanto, as mudanças climáticas no planeta superaram as previsões mais alarmistas de então, colocando em risco a vida sobre a Terra. Seguindo o atual ritmo de emissão de poluentes, até o final deste século estima-se que a temperatura média do planeta deverá aumentar até 3ºC, por conta do agravamento do efeito estufa, com todo o impacto que esse aquecimento poderá causar em termos de redução da calota polar e elevação do nível do mar.

Diante desse cenário, preservar o meio ambiente tornou- se uma questão de sobrevivência para o homem e já não se concebe mais a ausência desse tipo de preocupação em um ambiente empresarial responsável. “Buscar uma operação sustentável não implica custo, pois esse conceito está relacionado à maior eficiência e eliminação de desperdícios”, afirma Sonia Loureiro, do Instituto Ethos e coordenadora do grupo brasileiro integrante da GRI (Global Reporting Initiative), uma rede internacional de especialistas que se dedica a elaborar protocolos e indicadores para a aferição da sustentabilidade de uma empresa ou operação.

Na visão de Sonia, o sucesso de uma empresa não está relacionado apenas ao seu desempenho financeiro, mas também ao seu compromisso social e ambiental. Esse conceito, aliás, já amplamente difundido no mercado, estabelece a cadeia de agentes envolvidos e/ ou afetados pela atividade de uma companhia, que os norte-americanos convencionaram chamar de stakeholders. Na nova ordem empresarial, o investidor continua desempenhando um papel central, mas não é o único agente a se considerar na hora de medir o desempenho da corporação. Há de se considerar também os funcionários, seus familiares, assim como os clientes, fornecedores e toda a comunidade estabelecida em torno daquela operação.

Além de operar em um ambiente regulado por legislação (leis trabalhistas, ambientais, Código de Defesa do Consumidor e outros), as empresas precisam cumprir normas específicas relacionadas às respectivas atividades ou à lógica do negócio (ISO, NBR etc.) e muitas já se submetem espontaneamente a determinados códigos de boa conduta. Nessa categoria estão os indicadores de responsabilidade social do Instituto Ethos e as regras de governança estabelecidas pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), por exemplo. “Sustentabilidade agrega valor à operação de uma empresa e torna-se um fator cada vez mais determinante para acesso a linhas de financiamento”, explica Sonia.

Prédios verdes

Essa preocupação já permeia a administração de empresas de praticamente todos os setores da economia e, na construção civil, provocou uma rápida mudança no mercado imobiliário. Edifícios com o selo green building, certificados de acordo com normas internacionais como a LEED ou Aqua, converteram-se na aposta de incorporadoras como a Gafisa, Setin, WTorre, Tishman Speyer e outras. “Há três anos tínhamos apenas um projeto desse tipo no Brasil e hoje contamos com 105, entre os entregues ou em construção, o que nos coloca em quarto lugar no mundo em número de edificações Green buildind, atrás apenas dos Estados Unidos, Canadá e China”, afirma Roberto de Souza, diretor da consultoria CTE, especializada em sustentabilidade e gestão de empreendimentos imobiliários.

Segundo ele, a concepção de empreendimentos do tipo green building começa na aquisição do terreno, analisando sua localização e os possíveis impactos ambientais, sociais e urbanos. “Um empreendimento residencial de alto luxo e de grandes proporções pode gerar muitos empregos na região, como porteiros, seguranças, domésticas e outros, o que exige uma análise da disponibilidade de transporte público.” A análise dos acessos também é importante, determinando as medidas compensatórias a serem adotadas, como o alargamento de vias públicas e a implantação de áreas verdes.

Vencida essa etapa, as incorporadoras partem para o projeto do empreendimento dentro do conceito de máxima eficiência energética e hídrica. A adoção do reuso de água e de tecnologias que proporcionam economia no consumo de energia e de demais recursos naturais figura entre as soluções adotadas nesses edifícios verdes. “Elas investem nesses projetos, mas valorizam o produto imobiliário, seja pela redução dos custos de condomínio ou pelo aumento no preço do metro quadrado na hora de vender ou locar esses imóveis”, pondera Souza.

De acordo com o especialista, a certificação contempla um elenco de ações, cuja adoção irá determinar o
nível do selo obtido em diferentes escalas, desde o simples “certified” (atendimento a requisitos básicos), até os selos “silver”, “gold” e “platinum” (atendimento a todos os requisitos). Com isso, as construtoras agregam valor ao imóvel. Para Souza, entretanto, iniciativas desse tipo não devem ficar restritas apenas a empreendimentos de alto padrão e são perfeitamente compatíveis com projetos de habitação popular. Afinal, para atender o déficit habitacional do País, soluções de sustentabilidade podem contribuir com a maior eficiência no uso de materiais e recursos naturais, reduzindo o custo do imóvel e da obra

Manutenção responsável

A cartilha para certificação de um projeto green building contempla ainda uma série de ações a serem adotadas na organização do canteiro e durante a construção. A lista inclui desde a lavagem das bicas das autobetoneiras e das rodas dos caminhões que saem da obra, com a implantação de caixas de decantação para o tratamento dessa água, até o uso de tintas à base de água e de madeira com certificação de procedência. Ela também contempla a coleta seletiva de lixo e dos resíduos da obra, bem como o reaproveitamento dos entulhos gerados – como sobras de argamassa, concreto e gesso acartonado – entre outras iniciativas.

Enfim, são procedimentos adotados por qualquer construtora com um mínimo de responsabilidade ambiental e que são reproduzidos até mesmo em grandes obras de infraestrutura. Seja porque adotam uma política de respeito ao meio ambiente ou porque essa preocupação é uma exigência do contratante da obra – algo recorrente em tempos de rigorosas leis para o licenciamento ambiental tal de um projeto – as empreiteiras de obras públicas já incorporaram diversos procedimentos relacionados à execução do serviço e à manutenção dos equipamentos usados.

Nessa área, aliás, as ações envolvem desde os cuidados com a lubrificação da frota, mobilizando comboios vedados e dotados de sistemas pressurizados para a transferência de óleos e graxas, até a prevenção contra vazamentos e contaminações. Os locais destinados à lavagem dos equipamentos são dotados de sistemas para a captação dessa água, assim como os postos fixos de abastecimento de combustível e as áreas de armazenamento de lubrificantes, que contam com barreiras para a proteção contra vazamentos. Com isso, numa grande obra de infraestrutura chega a ser comum a instalação de uma estação de tratamento de água junto à área de equipamentos.

Gestão de resíduos

Os cuidados ambientais durante a manutenção da frota se estendem à gestão dos resíduos e seu descarte responsável. Nessa linha se inclui a destinação de pneus, óleos e filtros usados, entre outros produtos, atividade na qual as construtoras podem contar com o apoio dos respectivos fornecedores. Afinal, assim como os fabricantes de pneus são obrigados por lei a recolher o produto usado para sua correta destinação, o mesmo é feito em relação aos filtros pelos distribuidores das grandes marcas de equipamentos.

Na área de lubrificantes, empresas especializadas recolhem o material para o seu re-refino e novo aproveitamento. O desenvolvimento da tecnologia de pavimentação já incorporou o uso de pneus descartados para a produção de asfalto – o denominado asfalto borracha, que além do benefício ambiental proporciona maior durabilidade ao pavimento – e agora avança para o aproveitamento de areia de fundição, outro produto de difícil destinação e altamente poluente, para o mesmo propósito. A Associação Brasileira de Fundição (ABF) já estuda a criação de uma norma para reuso desse produto – que encontra aplicação na produção de moldes em geral – principalmente na confecção de concreto asfáltico.

Outras ações começam a se disseminar no setor e prometem mudar, em curto espaço de tempo, o perfil de como se executa um projeto de infraestrutura no Brasil. Entre elas está a proposta do governo de São Paulo de exigir que qualquer madeira usada em obras no estado tenha certificação de procedência. A medida, anunciada em março, se estenderia tanto para as construções contratadas pelo poder público como para os empreendimentos privados.

Na linha do bom aproveitamento dos recursos naturais, um exemplo simples e contundente vem da empresa Roca, especializada em serviços de fundações. Para realizar essa atividade, ela mobiliza uma frota de perfuratrizes e percebeu que o reuso de água poderia incorporar ganhos de custo e sustentabilidade em determinados tipos de serviços. Guilherme Petrella, diretor da empresa, explica que a execução de estaca-raiz consome muita água durante a escavação e esse material, que antes se perdia na natureza, pode ser reaproveitado com a instalação de um sistema de canaletas para sua captação. “A perfuração de uma estaca de 15 a 20 m consome cerca de 10.000 l de água e, com esse procedimento, conseguimos reutilizá-la mais duas vezes”, diz ele.

Crédito de carbono

Apesar dos avanços no setor, a construção civil ainda precisa percorrer um longo caminho quando
o assunto são os projetos de sustentabilidade ligados ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), estabelecido pelo Protocolo de Kioto. Marco Antônio Fujihara, diretor da consultoria Key Associados, explica que desde a criação desse instrumento de crédito a projetos “limpos”, o board da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou 1.495 propostas em todo o mundo, das quais nenhuma relacionada ao setor de construção. “A maioria dos projetos de crédito de carbono se relaciona ao setor de energia, pois nessa área é mais fácil aferir os ganhos quando se substitui uma geração térmica a carvão pelo uso de recursos renováveis e não poluentes”, diz ele.

Para o especialista, o acesso do setor a projetos de crédito de carbono deve se relacionar também a ações voltadas à eficiência energética, como a substituição de equipamentos antigos por modelos mais novos, dotados de motor menos poluente, movido a biocombustível. Ele sabe o que diz, já que sua empresa presta consultoria a projetos de sustentabilidade e crédito de carbono.

Os conceitos de MDL e crédito de carbono se baseiam no fato de que a humanidade precisa reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE), mas que nem todos os países podem contribuir na mesma proporção. Dessa forma, os investidores de países industrializados, onde um projeto “limpo” pode ser inviável devido ao impacto na economia local ou aos custos de implantação, “compram”esses créditos de carbono no mercado para financiar sua implantação nos países em desenvolvimento. “Em resumo, trata-se de um dispositivo em que o mercado faz essa compensação, motivo pelo qual os projetos precisam ter credibilidade e passar pelo crivo de instituições isentas, inclusive a ONU.”

Fujihara lista, entre os projetos aprovados, a geração de energia a partir de biomassa – como o uso de bagaço de cana ou casca de arroz – e de gás metano gerado em aterros sanitários. “Qualquer projeto que comprove a redução de emissão de GEE pode se submeter a esse mecanismo, mas o importante é que ele disponha de dispositivos para o acompanhamento constante dessa diminuição.” Nessa linha, a construção de metrôs também pode se enquadrar às regras do MDL, assim como a implantação de um corredor segregado de ônibus movidos a biocombustível, segmento no qual há um projeto aprovado na Colômbia.

Ele estima que esse mercado tenha saltado de um total de 1 bilhão de euros, em 2004, para cerca de 116 bilhões de euros movimentados em projetos de crédito de carbono no ano passado. O Brasil ocupa o terceiro lugar em volume de projetos aprovados (154), superado apenas pela China (474) e Índia (405). “Os chineses souberam se aproveitar do fato de sua matriz energética ser à base de carvão, bastando substituir essas usinas por projetos limpos, mas nós também temos muitas oportunidades nessa área, inclusive com nossa experiência em biocombustíveis”, conclui o especialista.

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